Autoclásica 2014 – Hipódromo de San Isidro – Buenos Aires, Argentina
‘La gran fiesta porteña’
600 automóveis, 300 motocicletas, 50 mil pessoas: alguns números do mega evento este ano
[dropcap]N[/dropcap]ão exageram os organizadores da Autoclásica quando afirmam que “é única na América do Sul pela quantidade, qualidade, variedade e singularidade dos veículos expostos”. No Brasil, nenhum evento reúne todas essas qualidades ao mesmo tempo. Os brasileiros que lá comparecem anualmente, ou pela primeira vez — como nós do Portal Maxicar — ficam admirados pela organização, que é na verdade bastante simples, sem segredos. Mas o fato é que tudo funciona a contento, desde a venda ingressos, passando pela divisão do espaço entre os diversos setores, pela praça de alimentação… Nós que estivemos lá como imprensa, sentimos a qualidade da organização durante a cerimônia de premiação. Os fotógrafos ficaram reunidos à esquerda do recinto da cerimônia, ao lado do público. Todos permaneceram em seus devidos lugares, sem atropelos e com muita civilidade, permitindo que todos que estivessem ali fizessem o seu trabalho da melhor maneira possível. Bem diferente do que acontece nos grandes encontros de antigomobilismo no Brasil.
Anualmente, a Autoclasica acontece nos jardins do Hipódromo de San Isidro, que é uma espécie de distrito de Buenos Aires. Um belíssimo espaço de 9 hectares. A partir do Centro da Capital Federal, o jeito mais econômico (e divertido) de se chegar lá é de trem que parte da Estação Retiro e cujo bilhete custa míseros 6 pesos ida e volta — o equivalente a R$ 1,20. A viagem dura cerca de 40 minutos com paradas em 8 estações dos subúrbios de Buenos Aires, antes de chegar a San Isidro. Detalhe: algumas vezes viaja-se de graça, já que nem sempre há um bilheteiro para receber o seu ticket. Você pode ir também de ônibus ou de taxi, que lá também tem preços baratos: a corrida custa 200 pesos, ou R$ 40,00.
Muitos brasileiros
O número de brasileiros que encontramos não apenas no evento, mas também em Buenos Aires foi bastante grande. Ao chegarmos ao Hipódromo no primeiro dia de evento, sexta-feira, 10 de outubro, encontramos um grupo de antigomobilistas daqui, alguns que acabávamos de conhecer, outros já velhos amigos. Lá dentro se ouvia com frequencia grupos de pessoas falando português.
Fanáticos por motocicletas
Destaques dos classificados
Ducati, DKW, Harley Davidson, Honda, Iso, BMW, Kawasaki, Indian… Quer mais? Zundap, Guilera, AJS, Bultaco, Douglas, Guzzi, Triumph, Simplex, Yamaha, Zanella… Pudemos constatar ‘in loco’ o quanto os argentinos são apaixonados por motocicletas e outros veículos de duas rodas. O setor dedicado a elas — com cerca de 300 exemplares — estava sempre bastante movimentado. A clássica nacional Puma também esteve representada em um stand. Essas motocicletas foram muito populares na Argentina nas décadas de 1950 e 60. O Club Norton teve seu stand premiado como o melhor do evento entre as motos.
Mas a grande sensação entre as motocicletas ficou por conta da raríssima marca inglesa Brough Superior representada com todo destaque na Autoclásica 2014 com 4 exemplares. A expressão “Superior” em seu nome vem do fato delas serem muito superiores em sofisticação e desempenho em comparação às demais marcas de sua época. Numa propaganda de 1924 seus fabricantes afirmavam que se tratava de “O Rolls Royce entre as motocicletas”. O slogan gerou inicialmente a ira e um processo por parte dos dirigentes da Rolls, que depois voltaram atrás ao constatarem a excepcional qualidade das Brough. Elas foram fabricadas somente entre 1921 e 1940, quando a fábrica foi bombardeada durante a II Guerra Mundial. Sua produção nunca mais foi retomada.
Os centenários
Um setor reuniu somente automóveis fabricados há mais de 100 anos, a maioria em excelente estado de conservação de marcas dos primórdios da indústria automobilística mundial e já extintas, como o Laponette Tandem 1911, um pequeno francês com carroceria quase toda em vime e configuração 1+1, ou seja: o único passageiro vai sentado atrás do motorista, como nos pequenos aviões daquela época. O Talbot 1904 foi o veículo mais antigo que identificamos. Mas gostamos mesmo do trator Case 36 HP movido a vapor. Em pleno funcionamento, foi possível observa-lo sendo alimentado com lenha para fornecer energia para sua caldeira. Fabricado nos Estados Unidos em 1911 o modelo não é o primeiro com a marca Case. A empresa foi fundada em 1842 e um dos de seus fundadores foi o inventor da colheitadeira mecânica.
Carros argentinos
Um stand dedicado a modelos de fabricação nacional, exibia três exemplares do IAME Justicialista, um automóvel de desenho bastante controverso (consta que foi inspirado no Chevrolet 1951), fabricado pela estatal Industrias Aeronáuticas y Mecánicas del Estado, entre 1953 e 1955, em pleno Governo Perón. Foram fabricados apenas 157 unidades. Um dos primeiros automóveis com carroceria em plástico e fibra de vidro.
Clubes & monomarcas
Como é tradição na Autoclásica, havia muitos stands de clubes e de monomarcas. O Club de Automóviles Sport homenageou o Mercedes Benz 300 SL Gullwing, o mítico modelo “Asa de Gaivota”, que está completando 60 anos. Este clube recebeu o prêmio de melhor stand de autos.
No stand do Classic Car Club de Montevideo – Uruguai, um raro Karmann Ghia 1957, com carroceria da primeira geração que tem, entre outras diferenças, lanterna traseira retangular, faróis menores e posicionados de modo diferente e abertura dianteira de ar coberta somente por dois frisos horizontais. Realmente uma graça de carro.
Uma graça também o Renault Dalphine 1963 argentino caracterizado como viatura da polícia. A exemplo do que aconteceu no Brasil, o Dalphine/Gordini também foi fabricado sob licença na Argentina. Aqui pela Willys Overland; lá pela IKA (Industrias Kaiser Argentinas).
Os 80 anos do Traction Avant também não passaram em branco no espaço do Citroën Club Buenos Aires. Além de nosso velho conhecido 11 Légéré, um 11 Normale Cabriolet fabricado em 1938. Beleza de tirar o fôlego! Quem gosta de Jaguar também teve muito o que apreciar… O mesmo pode se dizer de outras marcas famosas de esportivos: Ferrari, Triumph, Alfa Romeo, MG, Porsche…
Homenagem à Maserati
O Centenário da Maserati foi o grande mote da Autoclasica 2014. A marca italiana de superesportivos foi representada por diversos modelos raros, encabeçados pelos bólidos 250 F 1956 que foi pilotado por José Froilan Gonzalez e pelo 4 CLT 1949, pilotado por ninguém menos que Juan Manuel Fangio. Dentre os modelos de rua, 3500 GT 1959, Seabring 1964, Khansin GT 1976, Bora Conversível 1973… todos modelos exclusivíssimos com menos de 500 unidades produzidas cada.
Americanos também
A essa altura você deve ter notado que a grande maioria dos automóveis citados até agora é de origem Européia. Não é por acaso, já que os argentinos sempre foram mais ligados aos modelos do “velho mundo”. Mas havia diversos modelos americanos também. O Mustang, por exemplo, foi outro modelo homenageado, já que está comemorando seu 40º aniversário. Então, havia lá 40 exemplares das mais diversas fases, desde os primeiros Hardtop dos anos 1960, até os mais sofisticados modelos fabricados atualmente, passando pelas versões dos anos 1970 e 80, quanto perdeu bastante de sua identidade original.
Havia ainda stands do Clube do Ford V8, Clube Amigos del Ford A, e um diorama em tamanho natural retratando uma típica oficina e posto de combustíveis do início do século passado.
Um SP2 da Argentina
No stand do DKW Club da Argentina, encontramos modelos Auto Union mais antigos, como o Wanderer W24 1939 e modelos DKW argentinos — caso do Fissore, que lá é completamente diferente do nosso — e do simpático Furgão Schnellaster, fabricado na Europa.
Havia ainda dois DKWs brasileiros: uma Vemaguet 1966 com placas de Limeira – SP e um Belcar 1967 com placas de Campinas – SP. Foram os únicos automóveis licenciados no Brasil que vimos por lá. Infelizmente não conseguimos localizar seus proprietários para sabermos maiores detalhes da viagem.
Mas conhecemos o argentino Maximiliano Nessis, morador da cidade de Rosário. Apaixonado por esportivos brasileiros, ele mantém muito bem preservado um SP2 1975, que adquiriu lá mesmo na Argentina há 17 anos. Tem na garagem também um Puma GTS 1978 e espera agora conseguir comprar um Bianco, mas nos disse que é quase impossível encontrar algum daquele lado da fronteira.
Ônibus ornamentados
Uma das coisas que mais nos chamou a atenção no evento foi a coleção de ônibus antigos, fabricados entre os anos 1940 e 70. Verdadeiras obras de arte multicoloridas, lembram bastante os coletivos e caminhões do Paquistão. O grau de detalhamento é realmente incrível, com muitos adereços, cromados, pinturas personalizadas filetadas a mão, letras decorativas e até reproduções artísticas de fotos. Eles eram fabricados a partir da cabine e chassi originais de caminhão. O responsável pelo espaço nos explicou que naquela época era comum os ônibus circularem assim e cada empresa tinha seu padrão próprio de cores e desenhos. Se a tradição tivesse se mantido, as ruas seriam bem mais alegres e coloridas.
Remolino Vs Bugatti
Pela primeira vez durante a Autoclásica aconteceram paralelas ao evento diversas provas clássicas do turfe nacional Argentino no Hipódromo de San Isidro, uma parceria com o Club de Automóviles Clásicos, organizador da Autoclásica. O público presente pôde assistir a primeira edição do Autoclásica Cup, prêmio especialmente criado e nomeado em homenagem a aliança entre as entidades.
Uma prova especial e inédita foi o desafio entre um automóvel e um puro sangue. De um lado uma baratinha Bugatti 1926, do outro Remolino, um cavalo puro sangue. No final deu Bugatti, por “uma roda de vantagem”… As provas hípicas aconteceram durante o sábado, dia 11.
Provas dinâmicas
As chamadas provas dinâmicas estiveram entre as grandes atrações do evento este ano. Nas alamedas de San Isidro foi montado um mini circuito para que clássicos em várias categorias pudessem fazer suas exibições: veteranos, motocicletas, Ferraris, motocicletas + sidecars, monopostos anos 1950, 60 e 70, Mustangs, Morgans… Enfim, o público pode se deliciar vendo ‘em ação’ veículos das mais diversas épocas e estilos, que davam diversas voltas na pista, em altas velocidades.
O grandes vencedores
A cerimônia de premiação aconteceu na tarde de domingo, 12 de outubro. A comissão julgadora teve grande trabalho para escolher os veículos vencedores, divididos em 38 categorias, com 1º e 2º colocados: 30 motocicletas, 44 automóveis e uma embarcação (sim, na Autoclásica havia também exposição de barcos!).
Na categoria “Motocicletas Veteranas” a eleita foi a Peugeot 350cc bi-cilíndrica fabricada em 1906 e em pleno funcionamento. Já o prêmio “Best of Show” das duas rodas foi para a Brough Superior SS100 1928.
Entre os automóveis destacamos como ganhadores do primeiro prêmio:
– Artesania argentina: Réplica do Mercedes Benz Fórmula 1 1954. Com carroceria em alumínio, reproduz o bólido do piloto argentino Juan Manuel Fangio naquele ano.
– Indústria argentina, origem americana: Chevy Coupê SS 1970. Este modelo está para os argentinos, como o Opala está para o brasileiros.
– Veteranos: Zust 1908. Marca italiana que existiu apenas entre 1905 e 1917.
– Post Vintage Americano: DeSoto Air Flow 1934. Modelo da Divisão Chrysler à frente do seu tempo, por suas linhas extremamente aerodinâmicas.
– Post Guerra Europeus Grand Série: Austin 16 Saloon 2,2 OHV 1947. O primeiro lançamento da Austin após a II Guerra Mundial. Possui um sistema hidráulico de elevação em cada uma das rodas, que dispensa o uso do macaco.
Presente à cerimônia de premiação, o presidente da Federação Brasileira de Veículos Antigos — FBVA — Roberto Suga, que prestou uma homenagem ao Club de Automoviles Clásicos de La República Argentina. Em seu breve discurso, Suga lembrou o quanto o antigomobilismo é avançado naquele país e afirmou a que a Autoclásica é um ótimo exemplo para os Brasileiros de como organizar um evento desse porte.
VEJA ABAIXO A LISTA COMPLETA DOS PREMIADOS E
ACESSE O ALBUM ESPECIAL DA CERIMÔNIA DE PREMIAÇÃO
The Best of Show
A comissão julgadora elegeu um raríssimo Voisin C28 Chancellerie Berline de Voyage 1936 (foto do início da reportagem) como o melhor veículo da edição 2014 da Autoclásica. O luxuoso automóvel de 6 cilindros de 3500 cc foi fabricado na França. Trata-se de uma criação de Gabriel Voisin, um construtor de aviões entre 1904 e 1919 e que a partir do final da I Guerra Mundial passou a se dedicar à fabricação de automóveis do mais alto requinte. Confira diversas fotos do “The Best of Show” no álbum especial.
Texto: Fernando Barenco
Fotos e edição: Fátima Barenco e Fernando Barenco
ABERTURA EXPOSIÇÃO MOMENTOS
PROVAS DINÂMICAS PREMIAÇÃO BEST OF SHOW
[box type=”shadow” align=”aligncenter” ]VEÍCULOS PREMIADOS
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