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Antigomobilismo, independente de modismos
Quem hoje curte automóveis antigos e busca algo interessante para comprar, em geral fica espantado com os valores praticados. É fácil encontrar alguns modelos custando mais caro que alguns zero quilômetro de luxo. É o preço que se paga pela moda! Isso mesmo, automóvel antigo está atualmente “na crista da onda” e reúne a cada dia um número maior de adeptos.
Mas nem sempre foi assim: nos anos 1980 os automóveis “velhos”, não tinham o menor valor e a maioria dos modelos — principalmente os nacionais das duas décadas anteriores — eram apenas trambolhos sem nenhum valor comercial. Somente os possuíam os mais pobres. Eram comprados não por opção, mas pela falta dela.
Foi justamente nesta época que o antigomobilismo deu seus primeiros passos. Fase em que começaram a ser fundados os primeiros clubes de autos antigos e a surgir nomes de pessoas do naipe de Roberto Lee, Roberto Nasser, Og Pozzoli, entre outros. Gente pioneira, que soube reconhecer o valor de automóveis que eram simplesmente abandonados pelas ruas, ou vendidos a peso nos ferros-velhos, mas que mereciam ter seu lugar na história.
Fomos conversar com um desses desbravadores. O contador Pedro Ladeira nasceu em Barbacena-MG e lá vive até hoje. Desde sempre apaixonado por automóveis e mantém hoje uma eclética coleção com 14 exemplares dos mais variados modelos e anos, nacionais e americanos.
— Já cheguei a ter 30, divididos em dois galpões. Agora decidi conservar somente os que cabem neste espaço. — nos contou ele, nessa reportegem realizada em sua garagem para lá de bem organizada.
Sua coleção começou com um FNM 2000 JK 1962 comprado em 1966 e que durante muitos anos foi seu automóvel de uso diário. Em 1982, foi inteiramente restaurado e hoje tem sempre destaque nos encontros de que participa, tendo sido inclusive premiado em Águas de Lindóia em 2009.
Em 1983, Ladeira comprou aquele que é o carro de maior valor histórico de seu acervo. O Ford A Phaeton 1928 participou da histórica “Primeira viagem de Fordinho São Paulo-Brasilia”, que reuniu cerca de 50 exemplares do modelo numa aventura que durou 4 dias e aconteceu em 1985. O objetivo era chamar a atenção das autoridades para a necessidade da criação de uma legislação específica para veículos históricos. Liderada por Roberto Nasser, esta viagem foi o embrião da portaria da Placa Preta e é considerada por muitos o ponta-pé inicial do movimento antigomobilista no Brasil.
— Faço parte do Clube do Fordinho de São Paulo e já viajei muito com esse carro: Brasília duas vezes, Curitiba, Porto Seguro, encontro do Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro. Ele nunca me deixou na mão. — nos contou Ladeira.
Destaques dos classificados
Aliás, ele é adepto da filosofia de que carro antigo tem rodar. Sempre que possível vai rodando, não importando a distância. De sua atual coleção, o único que não faz longas viagens é o Candango 1958.
— É um carro muito “travado” por causa da tração 4X4 e por isso só faço com ele viagens de no máximo 150 quilômetros. Mais do que isso fica muito cansativo.
Eleito o melhor utilitário nacional em Araxá 2006, é na verdade um erro chamá-lo de Candango, já que trata-se de um exemplar do ano de lançamento, quando o modelo ainda era denominado pela Vemag de DKW Jipe (com “i” mesmo), nome esse que em seguida teve que mudado, já que a Willys reclamou seus direitos pela exclusividade do nome Jeep. Com chassi número 154, o pertencente a Pedro é talvez o mais antigo em funcionamento.
Ainda da linha DKW-Vemag, Ladeira nos mostrou com orgulho seu Fissore 1964. Comprado em Vitória-ES em 1995, o carro é inteiramente original de fábrica, tendo recebido somente uma pintura nova.
— Carro antigo tem que ser mantido em perfeitas condições mecânicas. — afirmou Ladeira, enquanto girava a chave na ignição sem precisar sequer pisar no acelerador. Pegou de primeira!
Outro xodó da coleção é o Renault 1093. Para os menos avisados, trata-se de um Gordini. Mas não! Essa versão esportiva, saia de fábrica com sutis diferenças em relação ao modelo do qual se originou: rodas tala-larga, volante esportivo e painel com conta-giros e velocímetro que marca 180 km/h (mais irreal, impossível!). Mecanicamente tem o mesmo motor de 845 cm3 de cilindrada, porém com carburador de corpo duplo e outros melhoramentos para “apimentar” sua performance. Foi produzido somente em duas cores: vermelha e dourada.
Além desses, Pedro Ladeira tem atualmente em seu galpão um Chevrolet De Luxe Conversível 1951, um FNM 2150 1972, um Alfa Romeo 2300 1983 —de uso diário — e uma pick-up Sudebaker 1950, sendo esse o único veiculo modificado em sua coleção. O utilitário americano tem motor MWM a diesel, câmbio de 5 marchas, direção hidráulica e chassi ultra moderno.
— É uma pick-up street, com aparência de fábrica. Resolvi modificar porque preciso dela para rebocar a carreta. Mas mantenho guardados todos os componentes. Se precisar, ela volta a ficar 100% original.
Os demais automóveis encontram-se em restauração, distribuídos em oficinas de Barbacena, São João Del Rei e Juiz de Fora. A grande expectativa do colecionador no momento é o termino da restauração de um Buick Special Sedanet 1950, modelo que, segundo ele, é o único do Brasil.
Um dos fundadores da Sociedade do Carro Antigo de Barbacena, ainda na década de 1980, Pedro Ladeira falou sobre o excesso de encontros de automóveis antigos atualmente. Ele acredita que os antigomibilistas não estão tendo tempo hábil e nem mesmo condições financeiras para participar de tantos eventos simultâneos. E isso acaba trazendo o enfraquecimento dos encontros, que perdem a representatividade. Ele defende a união dos clubes em prol da regionalização dos encontros e também a criação de mais eventos monomarcas, a exemplo do Blue Clound, que reúne anualmente os proprietários da marca DKW.
Texto e Fotos: Fernando Barenco
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