“Apresento-me como um contador de casos, que se limita a passar aos leitores os fatos e momentos pitorescos que ocorreram entre as eras de Chico Landi e Emerson Fittipaldi.”
Assim se define o ex-piloto Bird Clemente, em seu livro “Entre Ases e Reis de Interlagos”. Paulistano, nascido em 1937, iniciou sua carreira nas pistas em 1959 nas Mil Milhas, pilotando um DKW em dupla com o amigo Ciro Cayres. Um ano antes tentou participar da mesma prova. No entanto o carro escolhido — um Fiat — quebrou e ele nem teve a oportunidade de pilota-lo.
Foi piloto das famosas equipes DKW-Vemag e Willys nos anos 1960 e Ford nos 1970. Correu também de Opala, com o qual bateu um recorde de velocidade em 1970: 232 quilômetros por hora. Ao longo de 15 anos, construiu uma carreira vitoriosa e é considerado um dos maiores pilotos brasileiros de todos os tempos.
E na estreia de sua nova seção “Roda de Amigos” o Portal Maxicar não poderia ter feito melhor escolha, o que muito nos orgulha! E convidou para entrevista-lo um verdadeiro time de peso: amigos e admiradores que amam e conhecem a fundo o automobilismo brasileiro.
ALEXANDER GROMOW – Historiador e preservador da história do Fusca, escritor. Ex-presidente do Fusca Clube do Brasil. Colunista do Portal Maxicar – São Paulo, SP
Caro Bird, o seu excelente livro certamente operou o milagre de refrescar a memória de muitos sobre a sua pessoa, também permitiu que uma geração de jovens que não teve a sorte de acompanhar as suas peripécias no automobilismo romântico onde você merecidamente reinou, dentro e fora das pistas passasse a admirá-lo. E agora, olhando o mundo atual, onde você se enquadra em relação aos amantes do automobilismo de hoje, algum plano pela frente?
BIRD CLEMENTE – Caro Alexander, tive muita sorte de ter convivido com os gênios que fizeram a história do automobilismo, e desfrutei o máximo que o destino me ofereceu, me tornei o contador de histórias dos meus carros e da minha gente, o que faço com prazer e obrigação, comparando os inesquecíveis anos dourados com os tempos atuais, assunto interessante e pitoresco, pois os carros de corrida antecipam os desenvolvimentos tecnológicos. Sou um contador de histórias. Estou ficando cada vez mais ocupado com isto.
Destaques dos classificados
ARNALDO KELLER – Jornalista automobilístico e escritor – São Paulo, SP
Bird, a moçada de hoje cresceu numa época em que praticamente só temos no Brasil carros com tração dianteira, portanto, poucos conhecem a técnica e o prazer de se fazer uma curva de lado, num bom power-slide, com um tração traseira. Por favor, nos descreva essa técnica que você tanto domina, e o prazer da manobra.
BIRD CLEMENTE – Caro Arnaldo, antes de existirem os pneus Slick, largos, chapados e com a borracha pastosa, o trabalho dos pilotos era guiar, guiar e guiar… O envolvimento com o carro era muito maior, e as tendências de traseira ou dianteira eram amplificadas, os carros escorregavam, os pilotos se destacavam e andar de lado a 180 ou 200 kph era necessário. Power-slide era um privilegio uma glória de poucos, hoje se tornou um erro do piloto, mas cada vez que acontece é um espetáculo que todos querem ver porem, a tecnologia não permite mais. Era uma luta de mão limpa. Você estava só dentro do carro e não existia a telemetria que revela a privacidade da coragem, habilidade e disposição para se arriscar de cada um. Que saudades…
FLÁVIO PINHEIRO – Militar da reserva, consultor, profissional da indústria offshore e administrador do site www.nobresdogrid.com.br
O Sr. participava de corridas longas, em que pilotava por mais de duas ou três horas, em carros sem os “confortos” de hoje em dia como direção hidráulica, camisetas com sistema de refrigeração e outros. O Sr. ou algum outro piloto fazia algum tipo de preparação física e/ou alimentar para poder aguentar o esforço e o desgaste que a pilotagem exigia ou era “na habilidade nata” (que no seu caso era algo fora do comum)?
BIRD CLEMENTE – Caro Flavio, o mundo era diferente, atualmente não dispenso meu telefone sem fio, controle remoto da TV, meu carro automático com ar refrigerado e trio elétrico, tudo mudou… Os carros de corrida nem se fale. As pessoas faziam quase tudo com as mãos, não havia tantos equipamentos. Hoje para qualquer atividade esportiva, a concorrência é muito maior e a preparação mental e física é fundamental, mas eu prefiro a minha época. Tomara que os pilotos da geração atual quando tiverem a minha idade cheguem a mesma conclusão, este será o sinal que eles também foram felizes.
KIKO MALZONI – Empresário e antigomobilista. Filho de Rino Malzoni – Rio de Janeiro, RJ
Caro Bird, gostaria de saber sua opinião sobre o episódio do G.P de Cingapura de 2008, com o acidente proposital de Nelsinho Piquet, da equipe Renault, e saber se nos anos 60 isso seria possível de acontecer.
PS.: Tive muito prazer de estar com você no encontro do Blue Cloud, em Caxambu-MG, no ano passado!
BIRD CLEMENTE – Caro Kiko, tive prazer em revê-lo no Blue Cloud, e sentir por seu intermédio o reflexo saudoso da amizade e admiração que tive pelo Rino.
As pessoas inteligentes e poderosas, às vezes se tornam desastradas nos relacionamentos humanos achando que estão acima de tudo e de todos, e na contra partida não se dão conta que o prejudicado e ofendido, não necessariamente, não precisa também ser poderoso. Ninguém pode viver sem ter em quem confiar, e o poder de fogo dos mais próximos é sempre mal avaliado. Sempre estive convencido por analogia, que na chegada do novato e predestinado Schumacher na Benneton, o Briatore certamente não deve ter se comportado bem com o supervalorizado tri campeão Piquet, então provavelmente já deve existir motivos antigos que podem estar somados. Declarada e sabida a forma com que o Nelsinho foi tratado, e ainda conhecendo o despreocupado desprendimento do Nelsão em fazer a cuidadosa manutenção do que os outros acham ou estão pensando, o Briatore avaliou muito mal as conseqüências de suas desastradas atitudes, e deu no que deu…
No esporte de uma forma geral, todos querem driblar e tirar vantagens dos regulamentos. A vontade de vencer não resiste, e deslizes ocorrem. Perdemos um campeonato mundial no JP do Japão com o Senna, quando o Prost protegido pelo Presidente Balestre da FIA, engavetou roda com roda com o Airton, segurou no freio, fez os dois carros pararem sem perigo algum, o Senna ganhou a corrida, mas foi desclassificado e o campeonato foi roubado descaradamente diante de todo mundo. Neste ano, Massa perdeu o campeonato mundial, que o Timo Glock piorando o tempo da ultima volta em imorais mais de 40 segundos e deu no ultimo momento de mão beijada o titulo para o Hamilton. Não vi ninguém se indignar o suficiente para ao menos desmascarar estes fatos que nos prejudicaram tanto. Na cultura do futebol é comum um jogador de prestigio cavar uma falta, ou um pênalti enganando o juiz diante de todos e da imprensa, sai rindo e ainda é elogiado como experiente catimbador. A Argentina ganhou uma Copa do Mundo com um gol feito PELAS MANOS DE DIOS conforme declarou o Maradona. E ai como fica…
JOSÉ REZENDE MAHAR – Jornalista especializado em automóveis e advogado – Rio de Janeiro, RJ
Dos carros que você pilotou ao longo de sua carreira, qual foi o mais gostoso de pilotar, qual foi o mais traiçoeiro e qual deixou mais saudades?
BIRD CLEMENTE – Caro Mahar, o mais gostoso de pilotar foi a Berlinette, por mais que eu fizesse, ela sempre pedia mais, acho que ficou sendo a minha cara, e por isto me deixa com saudades, tanto que está na capa do meu livro. O DKW das Mil Milhas de 1961 descia a reta de Interlagos no rabo dos Corvettes a 200kph, era um foguete, facílimo de guiar, sendo o melhor carro daquele momento, foi para todos nós da Equipe Vemag a grata compensação do trabalho de toda a Equipe. Era o melhor carro daquela época.
O mais ameaçador foi sem duvida uma Masseratti Corvette que corri os 500Km de Interlagos em dupla com o saudoso Rio Negro. Este carro era uma verdadeira cadeira elétrica, mas valeu a pena, foi uma experiência legal.
LUIZ SALOMÃO – Designer de profissão e jornalista multimídia por opção, apaixonado por automobilísmo. Responsável pelo blog “Saloma do Blog” – São Paulo, SP
Bird, vocês — e quando digo vocês, porque aí envolve outros pilotos — tiveram uma “amante” uruguaia que deu muito trabalho, na década de 60. Era feia que dói, mas dava trabalho, tinha uma traseira rebaixada e se achava a rainha do pedaço. Mas, você terminou com esse namoro e deu uma aula, como sempre, como se vira o jogo em território adversário. Você se lembra dela? Da prova que travou um duelo memorável? Só digo que o nome era, de uma “Flor…
BIRD CLEMENTE – Olá Saloma, acho que você esta falando do Dina Panhard do Pipo Castro, conhecida como Flor del Campo. Tentando correr atrás do tempo deste carro em Rivera no Uruguai, sofri um acidente ficando desacordado por mais de uma hora. Eu nem ia correr nesta prova, fui com o Chico Landi e o Greco dar assistência ao gaúcho Planela que guiava muito bem, mas o Greco, num treino antes da corrida me fez montar no Gordini brabo esperando algum milagre, mas fui longe demais, e meu anjo da guarda não deu conta e lá fui eu parar no hospital pela única vez na minha carreira. Na primeira vitória de El Pinar o grande adversário era o Mini Cooper de Vitor Polie e na segunda foi a Alfa GTA de Jiujo Lepro. Foram vitórias inesquecíveis e muito reconhecidas.
PAUL WILLIAM GREGSON – Diretor do Clube do Ford V8 do Brasil, mantenedor do site www.museumaverick.com.br. Escritor – São Paulo, SP
Como foi pilotar o recém lançado Ford Maverick e ainda por cima vencer com ele?
BIRD CLEMENTE – Ola Paul, a minha participação com o Maverick ocorreu na primeira corrida após seu lançamento, e não houve tempo para melhor preparação, enquanto os opalas, nossos principais adversários estavam mais desenvolvidos, mas com muita sorte e apoiados pelo motorzão consegui junto com meu irmão vencer às 25 horas, os 500km e as Mil Milhas, guiar o Veoitão Ford foi uma glória era o Mustang brasileiro e meu carro particular era um Mach 1, o numero que eu calçava. Não poderia encerrar minha carreira de forma melhor.
PAULO ROBERTO PERALTA – Editor do site especializado em automobilismo www.bandeiraquadriculada.com.br – São Paulo, SP
Bird, você assumiu seu lugar na Equipe Vemag no lugar do Christian Heins, um piloto extremamente técnico e rápido. Você o conhecia? Como foi assumir essa responsabilidade, ou nem dava tempo de se preocupar com isso?
BIRD CLEMENTE – Caro Peralta, sempre tive um relacionamento muito bom com o Bino, ele era o ídolo de todos nós, imitado até na camisa vermelha Lacoste que ele usava. O Wilsinho batizou seu primeiro filho, Christian, em homenagem ao Bino. Ele foi por duas vezes meu predestinado antecessor, nas duas grandes oportunidades e maiores saltos da minha carreira. O primeiro quando num desentendimento com Jorge Lettry o chefão na Vemag, ele abandonou em pleno treino, e em minha opinião o melhor carro para as Mil Milhas de 1959, e eu o substitui na equipe, o que consolidou a primeira fase da minha carreira na Vemag. Na segunda vez por ocasião de sua morte em Le Mans, fui convidado por Luiz Antonio Greco, a participar da Equipe Willys, quando me tornei o primeiro brasileiro a receber um salário exclusivamente para guiar um carro de corrida. Fui predestinado e sempre graças ao meu anjo da guarda, substitui por duas vezes o piloto mais competente e prestigiado do Brasil, herdando respectivamente os melhores carros daquela época.
PAULO TREVISAN – Empresário, ex-piloto e proprietário do Museu do Automobilismo Brasileiro – Passo Fundo – RS
Bird Clemente, qual foi a influência e o que o motor DKW com preparação Mitter da Alemanha agregou aos motores da equipe Vemag?
BIRD CLEMENTE – Caro Trevisan, o pesado sedan 4 portas que a Vemag fabricou no Brasil, não tinha a menor tradição em competição, mas foi o instrumento que os brasileiros dispuseram para construir o primeiro carro de corrida. Apesar de tudo, foi uma honra ter participado deste grupo fantástico. Gravitava em torno dele os apaixonados que foram os pioneiros daquela fase da história do automóvel e do automobilismo no Brasil. Por intermédio do Eugenio Martins e da Diretoria da Serva Ribeiro, que na ocasião era o maior revendedor Vemag no Brasil, surgiu um motor preparado na Alemanha por Mitter, que foi a única referencia que tivemos na solidão daquele departamento de competição, que certamente trazia valiosas informações, porem os 110cv, que nós conseguimos, não eram um plágio do Mitter, mas uma somatória de muita competência, trabalho conjunto ao berro constante do dinamômetro que media os motores de corrida. Quando eu falo daqueles tempos e daquela gente, me emociono de ter trabalhado com eles, e acho que posso simbolizar todos, e te transmitir também em nome deles o agradecimento pelo resgate da nossa memória imortalizada, em especial pelo Formula Junior e o Carcará.
P.S.: Não se esqueça o que eu te disse: O teu trabalho é de interesse nacional e tão importante para a nossa história, que sobreviverá a todos nós e será a grande herança que você deixará para a memória do automobilismo brasileiro.
PORTUGA TAVARES – Editor de textos do programa Auto Esporte, colaborador de revistas especializadas. Escritor. São Paulo – SP
Bird, você é conhecido pela audácia de andar de lado, há quem diga que era mais importante limpar as janelas que o seu parabrisa, porque você usaria mais, tem também as histórias de acelerar mesmo em nevoeiro fechado. De onde veio essa coragem e vontade de levar o acelerador além do limite natural? Qual foi a primeira prova em que você ousou dessas maneiras e quais os comentários pós-corrida?
BIRD CLEMENTE – Caro Portuga, como já disse a Berlinette foi o carro mais fantástico para pilotar. Apesar da alta performance ela tinha mais aerodinâmica do que motor. Se na malandragem um adversário com motor mais potente desse uma tiradinha de pé numa subida ou numa curva estratégica e conseguisse te engavetar, na retomada o prejuízo era enorme, sendo assim era preciso muito preparo e treino, do que nós dispúnhamos sem limites de recursos e tempo. Mesmo com coragem e habilidade o aprendizado não tinha fim, ela escorregava sem perder tempo, contrariando as teorias dos sabichões, e imortalizaram o nosso trabalho. Aquelas derrapagens exageradas, como a da foto da capa do meu livro, são do momento em que tínhamos que fazer duas trocas de marcha ao longo da curva e o carro atravessava na fração de segundo do ponto morto, geralmente o braço esquerdo no volante e o direito na alavanca de cambio. Guiar uma Berlinette era um privilégio… Uma glória… Que saudades…
Nos longos dias e noites dos treinos da Vemag, gastando um caminhão de pneus, nós convivíamos com as madrugadas nevoentas de Interlagos, e nós éramos os únicos que tínhamos a oportunidade de treinar na cotidiana neblina. Existe muita história que virou lenda, mas na verdade era muita coragem e treino.
ROBERTO NASSER – Advogado, jornalista especializado e curador do Museu do Automóvel de Brasília – Brasília – DF
Bird, em seu livro — publicação generosa para com seus companheiros de época e para os leitores, brindados com tantas informações preciosas — você faz duas colocações corajosas relativamente ao automobilismo brasileiro em relação ao panorama mundial. Primeiro, vendo uma preliminar das 24 Horas de Le Mans, você diz que os pilotos estrangeiros nada têm a ensinar aos daqui. Que os locais andavam muito bem e fariam bonito se fossem para a Europa; outra, que você entendeu de não ir – apesar de meios próprios e curriculum que, com certeza, captaria patrocinadores. Suas avaliações foram corretas. Creio que a enorme quantidade de brasileiros bem sucedidos, fez o que você prenunciou: em matéria de pilotagem mais ensinaram que aprenderam. Entretanto, quando olhamos o automobilismo brasileiro de hoje, vemos que, na verdade, a categoria mais festejada, a Stock Car, é, no meu entender, a Fórmula 171 – ao vender imagem que não é. E que a categoria que instiga disputa de marcas não é de automóveis, mas de caminhões.
No seu entender o que nos falta para voltar ao tempo do investimento das marcas em automobilismo e para o desenvolvimento de pilotos e tecnologia nacional em corridas?
BIRD CLEMENTE – Caro Nasser, o principal palco do automobilismo mundial sempre foi a Europa, e a nossa referencia era do Chico Landi, Ciro Cayres, Eugenio Martins, Christian Heins alem de outros que andaram por lá e traziam informações que nos inibiam daqueles sonhos. Na época da Equipe Willys, o grupo era pretensioso e muito forte, porem Europa era um devaneio, e assim nós vivíamos, eram só sonhos. Conforme conto no meu livro no capitulo Os Brasileiros Rumo a Europa, acho que eu era uma das bolas da vez, e naquela viajem do grupo eu, Wilsinho, Greco, Luizinho, Marivaldo e Chico Landi, quando num lugar estratégico contemplávamos a competência dos pilotos no grande premio da França em Rouan, fiquei decepcionado, pois esperava ser surpreendido, mas quando constatei uma medíocre mesmice do nosso cotidiano. Como aqui, existiam alguns mais brilhantes, mas nada que me surpreendesse e fiz um desabafo talvez exagerado para o momento, e fui criticado, mas o precoce campeonato mundial do Emerson, e o desdobramento depois dele, me tornaram o arauto dos pilotos brasileiros. Da turma da Willys, somente eu e o Carol não fomos correr na Europa, acho que o meu momento já havia passado, e sempre fui comodista e muito ligado a minha família, mas valeu… Fiz a minha parte.
A montanha de dinheiro que precisa alimentar o automobilismo custeia aquele supervalorizado segundo que transmite em tempo real a imagem e informações do satélite para todo o Planeta, é pago por mega interessados patrocinadores e manda quem paga a conta. O automobilismo certamente é o evento mais elitizado no esporte mundial, e para custear tudo isto, fica na base do quase vale tudo, alguns pensam que enganam e outros fingem que acreditam. Foi-se o tempo dos anos dourados do automobilismo tupiniquim que praticávamos no Brasil, quando a preferência pelo nosso esporte não tinha os heróis da Formula l, que polarizam a atenção e a mídia, e o nosso povo só dispunha da gente, o que nos tornava tão interessantes e inesquecíveis, porem, as coisas mudaram, e tornaram mais atraentes, categorias como a Formula Truck, Stock Car e é inexplicável o desinteresse por outros eventos de grande valor para o nosso automobilismo.
ROMEU NARDINI – Comerciante, apaixonado por automóveis, grande entusiasta dos carros antigos e diretor do Clube MP Lafer – Brasil.
Bird, um grupo relativamente grande de pessoas (eu diria, fanáticos) está resgatando pilotos e carros de corridas antigos. Isso tem feito com que a história do automobilismo brasileiro possa ser contada, pelos próprios integrantes dessa fase tão importante das nossas corridas. Sabemos que a sua colaboração tem sido enorme, nesse sentido. O que representa esse movimento, para você e os outros pilotos da época?
BIRD CLEMENTE – Ola Romeu, após a morte de Roberto Lee o primeiro, eu sucedi Og Pozzoli na presidência do Veteran Car Club, e colaborei com o antigomobilismo no Brasil cumprindo o meu mandato. Foi muito prazeroso e constatei o perfil daqueles proprietários de carros antigos, concluindo que a grande maioria deles no desdobramento da vida dispondo de capacidade financeira resgata as frustrações dos carros impossíveis na infância ou juventude. Os primeiros carros nacionais se tornam cada dia mais atraente e desejado alavancando o movimento do antigomobilismo. Quase todas as marcas algum dia foram um carro de corrida, e o traço vocacional do movimento busca na história pitoresca de cada um e encontra os pilotos protagonistas daquela época, o que faz que privilegiados como eu, sejam atualmente mais prestigiados e reconhecidos. Outro fator importante são os internautas, dentre eles, aqueles que pilotam os blogs e sites e repotenciam ainda mais esta luz que ilumina e valoriza os anos dourados, quando o mundo andava mais devagar e tudo era mais pitoresco.
VICENTE VON DER SCHULENBURG (MUCA) – Empresário. Pesquisador e apaixonado por temas ligados a automóveis e automobilismo. Rio de Janeiro – RJ
Bird, eu era menino na década de 60 e meu pai me levava ao Autódromo do Rio, então um local distante com pontes de madeira e estradas de terra no caminho. Eu queria saber algumas coisas sobre os sentimentos vividos naquela época, hoje considerada romântica. Qual e a verdadeira história dos MK I? Uns dizem que veio só a carroceria dos Alpine A 110, e aqui receberam um chassis de Interlagos. Outros dizem que os carros vieram completos. Como foi a maravilhosa dobradinha nas Mil Milhas, com os dois Mk I?
BIRD CLEMENTE – Caro Vicente, quantas boas lembranças das corridas dos amigos e companheiros do Rio de Janeiro. Não sou do tempo da Gávea, mas curti muito o circuito da Barra, que saudades… Foram construídos 3 protótipos de Alpines A110, sucessor do A 108, que no Brasil foi o Interlagos. Um azul marinho com interior vermelho foi para o entusiasmado presidente Pierce, e os outros dois para o departamento de competição, este carro tinha o motor R8, que na versão esportiva desenvolvia quase o dobro da potencia do antigo, e equipava o projeto M, que se desdobrou no Corcel, quando a Ford absorveu a Willys. E Mark era a grife da Ford nos carros de corrida, e assim o nosso Alpinão como era chamado, foi maquiado e se transvestiu no Mark 1 para promover a venda do Corcel que era equipado com aquele motor que futuramente também estaria nos Del Rey e Escort.
Com estes dois carros e o Bino, que era o Mark II se encerraram as atividades da Equipe Willys Ford, e como você disse, foi maravilhosa a dobradinha nas Mil Milhas com os dois Mark l. Poucos dias depois eu vivi a minha maior lembrança como piloto quando incorporei a grande zebra vencendo de baixo de forte chuva os pilotos da Equipe Palma em Jacarepaguá, na Prova Almirante Tamandaré. Foi à corrida da minha vida. Eu precisava muito daquela vitória naquele momento. Cheguei à frente de duas Lótus 47 três Porsches, sendo um o 911 de 6 cilindros, alem das fantásticas Alfas GTA.
Organização e edição: Fernando Barenco
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