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Diagnóstico: um caso típico de “Antigomobilite”
“Virus da ferrugem nas veias”. A manjada expressão é tão usada pelos antigomobilistas de um modo geral, que já virou clichê. Mas nessas nossas andanças pelo mundo dos veículos antigos, cada vez mais nos convencemos de que essa doença existe mesmo e se manifesta aos poucos, sem que a vítima perceba. Mas como será que esse mal se chama? “Antigomobilite”?
Examinemos o caso clínico do barbacenense Cláudio Campos. Comerciante do ramo de farmácias, o vírus se manifestou nele pela primeira vez nos idos de 2004. Teria sido adquirido no dia-a-dia de seu ofício? Acreditamos que não, já que o mal é transmitido principalmente por pessoas contaminadas que se reúnem em eventos de autos antigos e não em farmácias. Apesar de circular “nas veias”, o vírus ataca na verdade o cérebro e o coração do paciente, que começa a manifestar o interesse na compra de seu primeiro automóvel antigo ou qualquer outra tranqueira do passado. No caso de Cláudio, ele de repente um dia chegou em casa e disse à esposa Adriana que iria comprar uma Rural. Ela achou estranho, mas nesses casos é melhor não contrariar…
O utilitário estava meio caidinho, como se pode ver nessa foto ao lado, tirada da janela do apartamento onde mora, no dia que a Rural chegou. Foi a primeira visão que a família teve da nova aquisição. O primeiro passeio aconteceu no mesmo dia. A filha mais velha, Ana Clara tinha apenas dois anos. Amanda, a caçula, hoje com sete, nem era nascida. A contaminação de Adriana e Ana Clara foi imediata.
V a g a r o s a m e n t e a Antigomobilite foi dando seus sinais. A segunda aquisição foi outra Rural Willys. Essa sim, impecável! Foi comprada em Petrópolis – RJ. Seu antigo proprietário já há possui por vários anos e a tratava “a pão-de-ló”. Substituiu a primeira, que depois foi vendida.
Mas a doença de Cláudio passou a ficar grave mesmo no dia em que ele conheceu de perto o Chevrolet Impala 1959, preto, do amigo de Barbacena Fausto Picinin. Apesar de ser um automóvel para restauração, Cláudio se apaixonou de imediato por suas linhas inconfundíveis e sua traseira “asa de gaivota”. Quis comprar o carro do amigo de qualquer maneira, mas diante da recusa, pôs na cabeça que iria ter um igual. Mas, como não é fácil encontrar o modelo a venda no Brasil, ele a princípio se contentou com um fabricado em 1962. Mas, na primeira oportunidade, ele ganhou a companhia do tão sonhado 1959. Um magnífico exemplar dourado com câmbio automático.
Mas como para quem é portador da terrível Antigomobilite nunca é possível ficar satisfeito, tempos depois o 1962 deu lugar a outro Chevrolet fabricado em 1959. Desta vez um Bel Air azul com teto branco. Comprado do amigo Jorge Levy, de Juiz de Fora-MG, esse carro tem uma história para lá de interessante: anteriormente, pertencia a um empresário de origem alemã já falecido. Pessoa de posses, ele comprou ao longo da vida diversos automóveis antigos, quase todos americanos, entre eles esse Bel Air. Anos depois, já idoso e doente, por alguma razão desconhecida, ele decidiu desmontar os carros dentro de sua própria garagem, retirando partes das latarias, motores, suspensões, interiores e acabamentos. Dizem que havia a ameaça de leilão dos automóveis e ele esperava assim que os carros não fossem levados embora, já que não podiam rodar. Com a sua morte em 2008, a família pôs a venda sete carros, incluindo esse. Todo o lote foi adquirido e remontado por um grupo de antigomobilistas da cidade.
Destaques dos classificados
Sonho realizado, com dois ícones na garagem, as aquisições continuaram, formando uma coleção para lá de eclética. O Fiat 147 1979 foi uma compra natural, já que seu pai possuía um quando ele era adolescente e com o qual aprendeu a dirigir. O “novo clássico” Uno 1.6 R 1994 é uma aposta no futuro, já que a cada dia os esportivos dessa época estão sendo mais bem vistos.
A última aquisição foi a Kombi Clipper bege 1995. Campos na verdade desejava um modelo mais antigo, “Corujinha”, de Luxo. Mas não podia deixar passar a oportunidade de comprar essa, que apesar de não ser muito antiga, está novíssima e com incríveis 5 mil quilômetros. Realmente um espanto, principalmente se pensarmos que se trata de um veículo destinado à labuta, o que em geral o obriga a rodar constantemente e sem maiores cuidados.
Mas não acabou, iniciou também uma coleção de bicicletas que já conta com 21 delas. Há inclusive uma rara holandesa Gazelle 1975, mas seu foco está voltado para as nacionais dos anos 1970 e 80, sobretudo as Monarks. Ficam todas penduradas no teto da recém construída “sede” da coleção. Miniaturas são mais de 200. E tem mais: há um ano Cláudio foi a São Paulo com a intenção de comprar uma Lambretta clássica. Comprou foi duas! Uma LD 1959 e uma LI 1969.
Há ainda um caso que mostra até onde vai a compulsão causada pelo virus: uma ocasião, fuçando a internet, Campos descobriu que iria haver um leilão de automóveis apreendidos. Entre os lotes encontrou um raro Fiat 147 da versão Rallye. Mas vamos deixar que ele mesmo conte:
— Eu não podia deixar escapar a oportunidade. Comprei sem ver de perto. Sabia que não deveria estar muito bom, já que paguei só R$ 200,00. Mas era um Rallye! Paguei R$ 100,00 de frete para prazer de Congonhas. Quando chegou aqui em Barbacena, o carro era um lixo! Na mesma hora chamei o dono do ferro velho. Quando viu o carro ele falou: “Mas você me tirou do meu serviço para me mostrar isso?”. Ofereci por R$ 500,00. Ele propôs só R$ 250. Pensei: “Quer saber? Melhor ter R$ 50,00 de prejuízo e me livrar logo disso.”
Tudo isso que contamos tem o apoio incondicional da esposa Adriana e das meninas, que hoje já têm sete e dez anos. Aliás, toda a família sempre acompanha Cláudio em suas participações nos eventos. Mas não se limitam a apenas acompanhar. É comum encontrar todos em mutirão dando aquele capricho no carro, sempre que chegam ao destino.
Você acredita que os Campos vão parar por aí? Nós não! É… pelo jeito a Antigomobilite pegou essa família mineira de vez!
Texto e fotos: Fernando Barenco
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