Com o avanço da tecnologia, a obsolescência programada com prazos cada vez mais curtos e a alteração da relação homem-carro é possível que em pouco tempo já não se tenha mais exemplares colecionáveis. A responsabilidade dos que mantém carros de coleção hoje em dia se torna maior, pois deles depende a manutenção dos exemplares realmente colecionáveis de hoje no futuro.
Assistido o programa VRUM de 13 de setembro de 2009 fixei minha atenção aos incríveis carros conceito que estão saindo das pranchetas…
Desculpem-me sou de outros tempos, hoje já não existem nem pranchetas, nem réguas T, nem canetas de nanquim, nem compassos, tampouco esquadros ou transferidores, tudo é feito em modernos programas de computador – adeus aos “blue-prints” (tipo de cópias heliográficas) testemunhas de projetos que eram usados no passado. Tudo fica em memórias de computadores e logo poderão ser “ilegíveis”, já nas próximas mudanças de sistema operacional destes computadores e de seus programas – perder-se-ão no “limbo-cibernético”…
Ao ver a matéria comecei a “ruminar com meus botões”, coisa antiga também, pois hoje o jeito é “ruminar com o meu velcro”… Desta “ruminação” surgiu uma sucessão de idéias que eu gostaria de dividir com todos os antigomobilistas de raiz, a quem coloco as perguntas abaixo.
Será que no futuro ainda existirá “antigomobilismo” para estas coisas que estão surgindo ou os carros feitos com estas composições estranhas de materiais? Será que estes objetos rodantes não identificados durarão mais do que 50 anos para então virarem relíquias? Já estamos ultrapassando o limiar dos carros colecionáveis em potencial?
Estas perguntas assustadoras não querem calar… Hoje a gente sofre para conseguir peças para um Fusca de 50 anos, algumas têm que ser refeitas, mas os componentes e as dimensões são conhecidas ou mensuráveis. Mas com a eletrônica fortemente customizada por marca e totalmente integrada, será que existirão peças de reserva NOS (New Old Stock) daqui a 30 anos para um dos carros super modernos de hoje em dia?
O pior de tudo é a redução dos prazos aceitos para a obsolescência programada em toda a indústria, o que não deixa a automotiva de fora. Acho que estamos abaixo de 10 anos em alguns tipos de carros. Daqui um pouco virão carros com componentes realmente biodegradáveis. O que vai acontecer com estes componentes quando o carro atingir o limiar de validade da auto-decomposição?
Lembro da primeira ignição transistorizada que apareceu no Simca Tufão (com o símbolo de um transistor na lateral), tinha componentes discretos, não integrados, e dava até para trocar uma resistência, um tiristor ou transistor. Mas hoje há milhares de componentes em chips dedicados que não admitem nem pensar em conserto, tem que trocar e pior, a troca deveria ser feita por um componente específico da geração daquele carro (que pode mudar várias vezes dentro de um mesmo ano de um tipo de carro). É de se duvidar que nestas tecnologias hiper modernas haja espaço para as saudáveis gambiarras que deixam nossos antiguinhos felizes andando por nossas estradas.
Destaques dos classificados
Para dar uma de Herodes em relação a carros ainda colecionáveis no futuro, vários governos mundiais reagiram à presente crise mundial oferecendo a troca premiada de carros. Dava dó assistir à Deutsche Welle mostrando carros “ainda novinhos” na Alemanha serem desmantelados por conta do incentivo para troca por 0 km, mais ecológicos e mais econômicos. Nestas ações sucumbiram muitos dos que ainda poderiam virar carros de coleção no futuro!
Qual é o futuro do antigomobilismo? O que acontecerá com o plantel de carros de coleção sem a reposição de carros colecionáveis? Estamos no limiar de um tempo no qual o ocaso do antigomobilismo passa a ser previsível?
Outra pergunta que não quer calar: será que a tendência atual da indústria automotiva não mostra que está ocorrendo uma mudança conceitual e sentimental no relacionamento entre homens e automóveis? O elo outrora intocável de amor e cumplicidade inexplicável entre homem máquina estará sendo minado pelo moderno consumismo de nossos dias? Será que os carros estão a caminho de serem degradados para meros objetos descartáveis de uso com substituição feita de tal modo que não sobrem testemunhas de época para o futuro, mesmo porque não existirão mais condições técnicas que viabilizem a conservação de espécimes de coleção? Esta situação é preocupante para um antigomobilista de plantão como eu.
Estamos vendo que de um lado a indústria e de outro a sofreguidão por possuir novidades (que nem sempre são melhores) está fomentando a aceleração das trocas. Celulares, programas de computador, eletrodomésticos e carros… Uma tendência explosiva e definitivamente cruel que pode ser a pá de cal no antigomobilismo.
Será?
[box] Alexander Gromow – Ex-Presidente do Fusca Clube do Brasil. Autor do livro EU AMO FUSCA e compilador do livro EU AMO FUSCA II. Autor de artigos sobre o assunto publicados em boletins de clubes e na imprensa nacional e internacional. Participou do lançamento do Dia Nacional do Fusca e apresentou o projeto que motivou a aprovação do Dia Municipal do Fusca em São Paulo. Lançou o Dia Mundial do Fusca em Bad Camberg, na Alemanha. Historiador amador reconhecido a nível mundial e ativista de movimentos que visam à preservação do Fusca e de carros antigos em geral. Participou de vários programas de TV e rádio sobre o assunto.[/box]
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