A trajetória de um petropolitano pioneiro do automobilismo brasileiro
Filho primogênito do comerciante Mário Corrêa da Silva e Mathilde Meyer da Silva, Irineu Corrêa nasceu em Petrópolis (RJ) no dia 24 de janeiro de 1900. Eram em 8 irmãos. Estudou no Escola Gratuita São José, da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, dos frades Franciscanos. Quando os primeiros automóveis apareceram nas ruas de Petrópolis, apaixonou-se por essas máquinas maravilhosas.
Diz a lenda, não confirmada, que ainda aos 13 anos embarcou como clandestino em um navio para os EUA. Estava fascinado pelos automóveis e foi então para a terra onde eram produzidos aprender tudo sobre eles. Radicou-se na cidade de Trenton, na Filadélfia, e depois em Detroit, em Michigan, e logo, de aprendiz de mecânico tornou-se um excelente profissional, além de começar a atuar também como piloto. Participou de diversas corridas em pistas de uma milha, ovais de terra, onde obteve algumas vitórias, talvez tenha sido o primeiro brasileiro a vencer em terras estrangeiras. Também correu em pistas de meia milha, e obteve bons resultados.
Retornou ao Brasil com 20 anos e se instalou no Rio de Janeiro como mecânico profissional. Pouco depois casou-se com Dnª Zina Fayão e desse casamento nasceu uma filha. O automobilismo no Brasil era, nessa época, quase que restrito só aos Raids (Rallyes) de resistência, corridos entre cidades. Não havia patrocínio, apenas alguns “mecenas”, comerciantes, que ajudavam nas despesas, mas Irineu participava ativamente.
Em 13/05/1927 participou do “Circuito de Outono” em Porto Alegre (RS) e venceu a prova que atraiu um público de aproximadamente 12 mil pessoas. Sua participação deu caráter nacional à prova. Pilotando um Studebaker, após percorrer 146 Km (4 voltas) no tempo de 1h53m5s na velocidade média de 96,41 Km/h, o grande vencedor foi muito festejado pelo público e prestigiado pela imprensa.
No ano de 1929 venceu a primeira prova de Subida de Montanha na recém inaugurada (1928) Rio-Petropólis, estrada moderna, toda pavimentada em concreto. Depois seguiu para a Argentina onde o automobilismo estava num estágio mais avançado e participou, por exemplo, do “Grande Prêmio Nacional Argentino”, onde chegou em 2º lugar em 1929 e em 3º lugar em 1930.
Participou e venceu o “Grande Raid Buenos Aires-Rosário-Córdoba” em 1930, que teve a participação de alguns pilotos europeus, o que lhe rendeu muita popularidade no país vizinho.
Participou, em 1932, do “Prêmio Automóvel Club do Brasil”, de uma prova “Subida de Montanha” na estrada Rio-Petropólis, vencida por Hans Stuck num carro Mercedes-Benz SSKL. Nesse mesmo ano colaborou com o Automóvel Clube do Brasil na escolha do percurso para a primeira edição do “Grande Prêmio Cidade do Rio de Janeiro”, o famoso Circuito da Gávea, que aconteceria no ano seguinte, conhecido também como “O Trampolim do Diabo”.
Irineu Corrêa era um inovador na área mecânica. O problema era não deixa morrer o carro nas paradas de reabastecimento, então faz uma adaptação: levava um litro de óleo que ia injetando no carter durante a corrida por intermédio de um dispositivo desenvolvido por ele. Um recurso perigoso, mas tão bem sucedido, que foi copiado por todos os outros corredores.
Destaques dos classificados
Em 1933, para o Primeiro Grande Prêmio, preparou com capricho seu carro, nessa primeira prova o grande favorito era ele, sem dúvida, com experiência em corridas nos EUA, na Argentina e no Brasil, demonstrava excelente desempenho e na véspera durante os treinos, foi o piloto mais rápido, tornando-se o grande favorito de uma vitória brasileira. Correram 11 brasileiros, além de 4 argentinos e 1 uruguaio, que deram o teor de prova internacional, um total de 16 participantes. Mas na largada, a manga de eixo da suspensão (bengala) quebrou, eliminando-o da competição. Foi obrigado a parar, sob os aplausos da torcida. O vencedor, Manuel de Teffé, foi carregado em triunfo pelo público.
Em 1934, Irineu trabalhou em seu carro numa oficina no bairro Flamengo e nos fins de semana nas oficinas de uma concessionária Ford em Petrópolis, que atendia principalmente aos turistas com problemas. Auxiliado pelos engenheiros Henrique Cathiart e Silvio Barbosa Bentes, montou sua “baratinha 90”. Foi o grande vencedor dessa segunda prova do Circuito da Gávea com seu Ford, melhor preparado, enfrentando pilotos estrangeiros dotados de máquinas superiores como Alfa Romeo, Fiat e Bugatti, e mesmo largando em último lugar (por sorteio) foi recuperando posições. Na chegada, por ter derrotado volantes estrangeiros equipados com máquinas superiores, Irineu foi aplaudido pelo público, que, emocionado cantou o Hino Nacional. Correram 40 participantes: 16 argentinos e 1 italiano, além de 23 brasileiros.
Na edição de 1935 do Circuito, a bordo de um Ford V8 novo, muito bem preparado, ele, que tinha a simpatia do público e o reconhecimento dos outros pilotos, fez o seguinte comentário durante o sorteio das posições de largada:
— O perigo está em toda parte e em uma corrida de automóveis qualquer um pode morrer.
Na manhã de 2 de Junho de 1935, foi dada a largada na Rua Marques de São Vicente, esquina com a rua João Borges. Pouco depois, na Av. Visconde de Albuquerque, Teffé apareceu em primeiro e Irineu, tentando corrigir uma derrapagem de seu carro, subiu no meio fio numa curva em frente ao Jóquei Clube, chocando-se contra uma árvore. Ccaiu no canal dessa avenida, sendo retirado das ferragens já morto. Uma grande perda para o automobilismo brasileiro.
No “IV Grande Prêmio Cidade do Rio de Janeiro” (Circuito da Gávea de1936), nos treinos da véspera da corrida, o mesmo carro no qual Irineu perdera a vida no ano anterior e agora pilotado por Dante Palombo, chocou-se violentamente contra um poste causando a morte do piloto. Esse fato despertou o imaginário popular e quando em 1938 José Bernardo sofreu um acidente com o mesmo carro e escapou da morte, o veículo ganhou o apelido de “O assassino”.
Artigo gentilmente cedido por Paulo Roberto Peralta – bandeiraquadriculada.com.br
Uma homenagem do Portal Maxicar a esse pioneiro do automobilismo brasileiro, petropolitano como nós!
[box type=”shadow” ]Fontes de referência: “Irineu Corrêa, um corredor petropolitano” – Oazinguito Ferreira da Silveira Filho & Dóris Corrêa – Tribuna de Petrópolis, em 02/06/1985, p.2 Segundo Caderno Livros: Circuito da Gávea – Paulo Scali; Circuitos de rua – Paulo Scali; Levantando poeira – Gilberto Menegaz [/box]
CADASTRE SEU WHATSAPP PARA RECEBER.
Deixe seu comentário!