HISTÓRIA
O pioneirismo da Escola Mecânica Ford
[dropcap]A[/dropcap] qualidade da assistência técnica prestada aos clientes Ford foi sempre uma preocupação de seu fundador, Henry Ford, que preconizava: ”Sempre foi nossa crença de que o simples ato da venda de um veículo não completa nossa transação com o cliente. Pelo contrário, aí é que começam nossas obrigações para com ele…”
No Brasil, o treinamento de mecânicos iniciou-se praticamente com a instalação da Ford Motor Company,Exp.Inc., em 1919, na cidade de São Paulo.
Nessa época, não se dispunha de mecânicos de automóveis, principalmente no interior do país, onde a nomeação sempre crescente de “Agências Ford” (nome antigo do Distribuidor Ford) e consequente aumento do número de unidades vendidas exigia uma organização de serviço de primeira qualidade. Neste particular, foi de extrema importância o trabalho desenvolvido pelo “Inspetor de Serviço”.
Este profissional, devidamente treinado na fábrica, empreendia contínuas viagens pelo interior, visitando as Agências Ford, onde ministrava aulas aos mecânicos, organizava a oficina e seção de peças, visitava os proprietários de veículos Ford, inspecionava as unidades vendidas, resolvendo algum problema do cliente, etc. O Sr. Kristian Orberg, que foi Gerente Geral da Companhia de 1921 a 1953, disse que era comum nossos Inspetores de Serviço, quando visitavam alguma localidade, serem anunciados ao público no jornal da cidade, e os donos de carros ficavam satisfeitos em poderem entrar em contato e consultar uma pessoa vinda diretamente da Ford.
Mais tarde, à medida em que as estradas melhoravam, passaram a usar Escolas de Serviço Volantes, viajando por todo país. Tinham uma unidade no sul, outra no norte e outra para região central.
Por volta de 1926, grande parte dos agentes Ford já dispunham de oficina bem equipada, com a aquisição da Oficina-Modelo (Model Service Shop Kit), importada dos Estados Unidos. Estas oficinas eram constituídas de todo ferramental especial, ferramentas comuns, equipamentos em geral, inclusive para pintura.
Os carros escola eram sediados em São Paulo, Porto Alegre e Recife e construídos localmente sobre chassi Ford comercial (furgão), especialmente para acomodar todo o material necessário aos cursos, aparelhos de testes e de projeção e material didático. Além do equipamento normal para instrução, ainda transportava material extra para enfrentar as agruras das estradas, o qual se constituía de um macaco de manivela (realejo), cabo de aço para reboque, guincho manual, enxadão, machado, pá, correntes para as rodas e um par de pneus lameiros.
Destaques dos classificados
Antes do lançamento de produtos novos, era providenciada a instrução dos mecânicos nos novos componentes como, por exemplo, o novo motor V8, em 1932 e, mais tarde em 1939, a introdução do sistema de freio hidráulico.
Com o término da 2ª.Guerra Mundial e restabelecimento da atividades normais da Ford, os Carros-Escola, embora fossem do modelo 1940/41, ainda prestavam bons serviços, até que foram substituídos por outros mais modernos, da série F, totalmente equipados com ferramental novo, inclusive os novíssimos aparelhos de teste “Ford-Diagnosis Test Set” e “Ford Distributor Stroboscope” , e aparelhos portáteis para alinhamento de direção, projetores de filmes, etc.
Em 1951 novos Carros-Escola, montados em furgões F1, entraram em atividade sendo também introduzidos os Carros-Escolas para tratores.
Com a mudança da Ford para as novas instalações no Ipiranga, em 1953, a Escola de Serviço ocupou uma excelente área atendendo além de veículos da Ford americana os da Ford inglesa e alemã. Por essa época, já se ministrava também cursos especializados sobre eletricidade e transmissão automática e, juntamente com os Carros-Escola, já se treinava uma média de 2500 mecânicos/ano.
Com a introdução da indústria nacional foram introduzidos os novos Carros-Escola sobre chassi do F-350 e a partir de 1961, também Carros-Escola especializados em motor diesel.
Com o decorrer do tempo os Carros-Escolas passaram a atender o novos veículos lançados como Galaxie, Corcel, Maverick, etc.
Longe vão os dias em que os pioneiros Inspetores de Serviço percorriam com seus veículos as quase inexistentes estradas do interior. Hoje podem cruzar o país de ponta a ponta em estradas asfaltadas. Não é mais preciso usar correntes nas rodas, nem o enxadão ou cabo para reboque.
* Parte do artigo publicado originalmente pelo Clube do Ford V8, São Paulo.
04 de maio de 2011
[box type=”shadow” ]Restauração de um remanescente
Recentemente, o colecionador Paulo Roberto Renner — um apaixonado por Fords e autor deste artigo — concluiu a restauração de um Furgão Ford F1 que pertenceu à Escola Mecânica Ford. A “reestreia” do histórico veículo aconteceu recentemente, durante a comemoração dos 80 anos de fundação da tradicional Concessionária Ford Ribeiro Jung, de Porto Alegre-RS — a segunda mais antiga de todo o Brasil. Antes em estado deplorável, o Furgão voltou a exibir todas as suas características originais da época em que “prestava serviço”.
[/box]Texto: Paulo Roberto Renner
Fotos: arquivo pessoal do autor
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