OG POZZOLI— E tudo começou com ele…
Ele pode sem dúvida ser considerado o “pai” de todos nós, antigomobilistas brasileiros. Sem nenhum exagero! Vindo de Natal-RN, chegou em São Paulo em 1956 a bordo de um Opel fabricado em 1937, o qual teve que vender por absoluta necessidade.
Seu primeiro carro de coleção veio meio por acaso e não foi comprado com essa finalidade: foi um Lincoln Continental 1948, que ele preserva com orgulho desde 1958, época em que a palavra “antigomobilismo” sequer ainda havia sido cunhada.
Sua magnífica coleção conta hoje com cerca de 180 automóveis restaurados e em perfeito estado. Sem contar os a restaurar. Impossível não usarmos os famosos “chavões” ou cairmos no lugar comum quando falamos dele. Então vamos lá:
Ele dispensa qualquer apresentação! Og Pozzoli é o nosso segundo entrevistado da seção Roda de Amigos.
EDUARDO PESSOA DE MELLO – Presidente do Auto Union DKW Club do Brasil. São Paulo, SP
Og, gostaria de saber o que você pensa sobre São Paulo ainda não ter um museu de autómoveis antigos, já que era o nosso sonho desde a sua gestão de presidente do Veteran Car Club do Brasil, há 40 anos atrás?
OG POZZOLI – É mais que lamentável, até hoje não ter um museu de automóveis em São Paulo. A indústria automobilística nacional nasceu e se firmou em São Paulo. Todos os países que possuem indústria automobilística, têm grandes museus que atraem turistas do mundo inteiro, pois o automóvel é um capítulo especial no século 20. Infelizmente os governantes de São Paulo só vêem os automóveis como fonte de arrecadação de dinheiro (impostos e multas).
HENRIQUE THIELMANN – Presidente da Federação Brasileira de Veículos Antigos. Juiz de Fora, MG
Destaques dos classificados
Prezado Og: como você analisa as diferenças entre o momento que você, junto com outros poucos colecionadores, resolveu dar um caráter formal ao hobby do automóvel, para os dias de hoje? Vou abusar e incluir: Qual a sua perspectiva para o nosso futuro? E, a proposta feita por mim, durante o Road Show das 1000 Miglia, continua de pé, quando estou só aguardando a sua decisão.
OG POZZOLI – Quando nós começamos o movimento de agrupar pessoas que gostavam de carros antigos, éramos um grupo diminuto: eu, Roberto Lee, Eduardo Matarazzo e Ângelo Martinelli Bonome tivemos naquele inicio outras pessoas em São Paulo que se juntaram ao nosso grupo, formando o núcleo inicial, mas se não os cito nominalmente é porque não foram persistentes, ou seja, abandonaram o “barco”, ou melhor dizendo, desceram do “ônibus” antes de chegarem ao destino, que era de se formar o mundo do automóvel antigo. Continuo sonhando com as 1000 milhas italianas e acho que deveremos fazer a versão brasileira com roteiros e traçados diferentes a cada ano:
1° – São Paulo, SP X Gramado, RS
2° – Rio de Janeiro, RJ x Salvador, BA
3° – Brasília, DF X Belém, PA
4° Belo Horizonte, MG X Campo Grande, MS
Será realmente fantástico se conseguirmos.
TIAGO SONGA – Diretor Regional da Federação Brasileira de Veículos Antigos. Editor da revista A Biela. Ribeirão Preto, SP
Caro Og, ninguém no Brasil tem mais autoridade para falar de avanços no antigomobilismo do que sua gloriosa pessoa. Og Pozzoli é um antigomobilista de todas as décadas desde os anos 50. Dentre os pioneiros, és o último dos moicanos. Assim eu pergunto: Qual período do antigomobilismo brasileiro foi melhor?
– Nos anos 60 – Quando tudo nada mais era que um grupo de amigos que trocava peças sem custo algum?
– Nos anos 70 – Com o surgimento dos primeiros clubes (com exeção dos Veterans do Rio de SP) e dos primeiros passeios?
– Nos anos 80 – com o surgimento das revistas especializadas e dos primeiros concursos de elegância?
– Nos anos 90 – com a abertura da importação e com a massificação do movimento motivada pela geração “Lindóia”?
– Nos anos 2000 – Com a era da internet, a facilidade de encontrar peças e a dificuldade cada vez maior de se encontrar profissionais artífices?
Qual época considera mais importante ou que deixou mais saudades?
OG POZZOLI – Não tenho condições de fazer uma análise daquela época com os dias de hoje. O principal fator é que todos nós tínhamos menos de 40 anos de idade e mais de 30. Estávamos todos em nossa capacidade máxima: física, intelectual e cultural, ou melhor dizendo, em linguagem automobilística, estávamos todos com os motores apenas “amaciando”. Quanto ao futuro, sou obrigado a repetir o Conselheiro Acácio (personagem de Eça de Queiroz): “O futuro a Deus pertence”. Meu caro Songa, dizia o poeta árabe Omar Kayan que quatro coisas não voltam mais:
A flecha que parte;
As águas que passam pelo moinho;
As palavras proferidas;
E a oportunidade perdida.
Aproveito a oportunidade para externar minha opinião e ponto de vista; cada década teve suas características e serviram para hoje termos este movimento que se espalhou pelo Brasil inteiro.
Na década de 50 não havia colecionadores no Brasil.
Nos anos 60, algumas pessoas isoladamente iniciaram suas coleções, disputando os carros antigos com os comerciantes de ferro velho (a turma do desmanche) que separavam os metais que compunham um automóvel para vende-los por quilo. As pessoas que gostavam de autos antigos começaram a se agrupar; em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Curitiba. Essas três capitais são as sementes. Roberto Lee e eu, passamos a nos encontrar e fazermos amigos nessas cidades, tudo em função dos automóveis que eram salvos do machado. Em 1968 surge o primeiro clube no Rio de Janeiro (VCCB). Sou o sócio número 1 e Roberto Lee era o sócio número 2, no mesmo ano surge o VCCB – São Paulo.
Na década de 70 vão surgindo outros clubes em várias cidades do Brasil, os poucos clubes espalhados se comunicam bastante, há visitas de um clube a outros clubes em estados diferentes, em passeios os sócios vão rodando com seus veículos antigos, começam os concursos de elegância em São Paulo (chácara Ford, Hípica Paulista – Hípica de Santa Amaro). Quando Brasília completou 15 anos em 1975 fiz uma exposição na estação rodoviária do DF com 16 automóveis de minha coleção a pedido do meu amigo e governador Dr. Elmo Serejo de Farias, durante todo o mês de abril daquele ano. O fato mais curioso daquela exposição, foi que espertalhões malandros fizeram, e venderam bilhetes de rifa para cada automóvel ali exposto.
Na década de 80, tem inicio os grandes Rallys internacionais de carros antigos, surge a “Confederação Internacional Del Cone Sur”, rally para Uruguai – Argentina – Chile – Paraguai – Natal/RN – Goiás Velho – Caminhos de Minas (cidades históricas). Surgem os encontros Sul Brasileiro, Nordeste, o Encontro Nacional (São Lourenço e Araxá – MG), Águas de São Pedro – SP e Lindóia e inúmeros encontros regionais.
Na década de 90 continua a expansão em todo Brasil, cria-se um grande comercio em torno dos carros antigos: oficinas especializadas, comerciantes, importadores de veículos e peças. O turismo aproveita o novo filão comercial, cultural e artístico.
Nos anos 2000 há encontros em várias cidades e estados, em datas coincidentes e já não e mais possível todos se conhecerem, a expansão do antigomobilismo passa a ser em escala geométrica.
Quanto a época que deixou mais saudades, para alguns colecionadores e não colecionadores foi a sua mocidade. O poeta Omar Kayan esqueceu de esclarecer a quinta frase. “A mocidade perdida”.
BOB SHARP – Jornalista especializado e consultor. Ex-piloto. São Paulo, SP
O ex-diretor de Engenharia (antes era chamada de Pesquisa e Desenvolvimento) da Volkswagen do Brasil disse certa vez que os motores refrigerados a ar ainda tinham lugar num mundo de combate às emissões pelo escapamento. O que acha da afirmação? Concorda que seria ótimo que os carros ditos “populares’ tivessem esse sistema de arrefecimento, pelas vantagens inerentes e conhecidas?
OG POZZOLI – Grande Bob,
Neste assunto eu sei que você é professor, com toda uma vida dedicada às pistas e motores.
Eu pude acompanhar a evolução do Fusca mexicano que tinha que atender às restrições de emissão maiores do que as vigentes no Brasil à época. A saída foi óbvia: o emprego de injeção eletrônica: no caso, Digifant da Bosch. O carro além de ter ficado dentro dos limites de poluição ganhou em elasticidade, potência e economia. Eu esperava que o Fusca Itamar viesse com um motor destes.
Agora a questão crucial do ser ou não ser: tudo depende de definir em que direção a empresa vai trabalhar. Há pouco tempo nós falamos sobre o motor AP, que na verdade é um motor desenvolvido pela AUDI a partir de um projeto Mercedes Benz e que foi parar na Volkswagen e de lá veio para o Brasil onde fincou pé e estabeleceu uma série evolutiva de motores – foi o canal para uma linha de investimentos.
Eu acredito que se a fábrica tivesse decidido apostar no motor Boxer ele teria um futuro muito bom e uma sobrevida interessante, mas isto implicaria em investimentos específicos para atender às condições ambientais. Mas, por enquanto parece que o motor Boxer foi para o arquivo morto.
Esquecendo por um instante o aspecto do tipo da refrigeração vamos dar uma olhada nos carros que usam motor Boxer hoje em dia e temos Porsche (que atingiu 16 cilindros refrigerados a ar no modelo 917 de competição) e Subaru, por exemplo, que apresentam rendimento e confiabilidade incríveis.
A refrigeração a ar pode limitar o tamanho final dos motores para uso em automóveis de passeio. No caso da VW o limite do motor Boxer foi o Tipo 4 lançado em 1972 que chegou a 2000 cm3 com 52 kW (71 PS; 70 bhp) especialmente desenvolvido para o mercado americano e que obteve um excelente sucesso nos Fuscas com câmbio automático e ar condicionado e também nas gerações avançadas de Kombis como a Syncro de tração nas quatro rodas. Mas dentro da nova tendência de automóveis mais ecológicos e até de híbridos motores 2000 cm3 são até um exagero se estivermos falando de carros pequenos. Acredito que, com o uso adequado da injeção eletrônica e os avanços nesta tecnologia o Tipo 4 ainda estaria “bombando” dentro dos limites de emissão de poluentes existentes, tanto é assim que a Auto Motor und Sport chegou a divulgar que o pequeno “Up” viria com motor Boxer…
ANTÔNIO CARVALHO LIRA – Colecionador. Recife-PE
Dr. Og, qual a sua opinião sobre a credibilidade da Placa Preta. Você a adota no seu acervo? E que recomendações faria para o aprimoramento no uso das referidas placas?
OG POZZOLI – Todos os países de primeiro mundo procuram preservar ao máximo seus valores culturais e tudo aquilo que fez parte de sua história.
As placas para colecionadores de veículos antigos não são nenhuma invenção de brasileiros. Inúmeros países, adotam este sistema e dão uma série especial de regalias a estes automóveis com o intuito de incentivar seus proprietários a mantê-los, enriquecendo portanto o acervo histórico e artístico do país, estados e cidades. Em meus automóveis de coleção, sempre que vou participar de rallys, passeios e encontros, vou de carros antigos com as nossas placas pretas. A minha recomendação é que os clubes e entidades que estão habilitados em conceder o certificado de originalidade, sejam criteriosos e justos na emissão do certificado de vistoria.
ANDRÉ VALENTE – Restaurador de automóveis antigos. Petrópolis, RJ
São famosos os seus divertidos e curiosos casos envolvendo a compra e restauração de automóveis. Conheço uma que envolve até uma receita de bolo de chocolate! O senhor pensa em escrever um livro de memórias com essas deliciosas histórias e mostrando também seu incrível acervo (se é que ainda não o fez)? Tenho certeza que seria fonte de inspiração para os antigomobilistas de todo o Brasil.
OG POZZOLI – Tem razão André. Cada automóvel tem uma história em sua vida, as compras dariam histórias para filmes ou novelas de TV. É minha intenção escrever um livro contando a história de cada carro, seria no estilo daquele filme “O Rolls Royce amarelo”.
MARIOZINHO ROCHA – Diretor Musical da Rede Globo de Televisão. Colecionador. Rio de Janeiro, RJ
Sinto um incrível despreparo dos funcionários do Detran do Rio de Janeiro para lidar com automóveis de coleção (placas pretas). Ou eles desconhecem o que diz a portaria especial do Denatran sobre o assunto ou, o que é pior, simplesmente a ignoram e tratam o automóvel como qualquer outro na hora de fazer a vistoria. O senhor tem conhecimento de como tem funcionado em outros estados brasileiros? O que fazer para preparar melhor os funcionários do Detran neste sentido?
OG POZZOLI – É uma pena que alguns DETRANS desconheçam totalmente a Portaria que criou a Placa Preta. Enquanto o CONTRAN sabiamente está querendo e estimulando que se preserve o patrimônio automobilístico nacional, muitos vistoriadores de alguns DETRANS por simples ignorância, se comportam como veterinários, clinicando em seres humanos. A minha sugestão é que os DETRANS preparassem alguns vistoriadores com cultura automobilística para os carros de placa preta. Um veterinário não pode exigir que um ser humano tenha a mesma resistência de um cavalo.
ELISA ASSINELLI DO NASCIMENTO – Empresária, colecionadora, Diretora Regional da Federação Brasileira de Veículos Antigos. Curitiba, PR
Querido Og, é notória a sua contribuição para a fundação dos primeiros clubes de automóveis antigos no Brasil, como o nosso CAAMP aqui de Curitiba. Mas a nova geração pouco sabe do que vocês eram capazes de fazer nos anos 70. Conte-nos sobre as atividades do Veteran Car Clube do Brasil de São Paulo, os concursos de elegância na chácara da Ford em Rudge Ramos que nunca mais se repetiram e deixaram saudades.
OG POZZOLI – Minha cara Elisa, a sua resposta já está dada em itens anteriores. Acho que os encontros bienais de Araxá, são verdadeiros concursos de elegância. Você quando criança participou deles juntos com seus pais.
JOÃO PEDRO GAZINEU – Estudante, especializado em carros antigos antigos com carrocerias especiais e de pequena produção. Petrópolis, RJ
É um prazer falar com você. Eu o conheço devido a pesquisas que faço sobre carros antigos e o admiro pela importância que tem no antigomobilismo.
A minha pergunta é sobre o misterioso destino de um raríssimo Du Pont Modelo E de 1927, produzido especialmente para exportação, carroceria Touring de 7 lugares fabricada pela Waterhouse ou pela Merrimac. Na década de 30 desfilava pelas ruas de Petrópolis e por volta de 1970 consta como propriedade de Ricardo Addad. Sua última aparição foi em uma exposição do Veteran Car Club do Rio de Janeiro, no Fashion Mall, em 1984. Você sabe o porquê de um carro tão importante para o antigomobilismo brasileiro não aparecer mais em nenhum evento?
OG POZZOLI – O Du Pont 1927, que o amigo se refere, consta que entrou no Brasil, na época com um diplomata da embaixada americana. Quando o Rio de Janeiro era a capital do Brasil, todo o governo Imperial e Republicano passava o verão em Petrópolis (ministros, embaixadores, grandes empresários, etc.) razão pela qual Petrópolis foi um grande celeiro de automóveis antigos. Conheci o carro ainda desmontado (inicio dos anos 70) era seu proprietário um rapaz que tinha um antiquário, Roberto, de quem adquiri no inicio dos anos 70 um cabriolet Packard 1936, com apenas 38.000 km. O carro estava compromissado comigo, e pedi ao Roberto que apenas montasse o carro, colocando as coisas no lugar, para eu saber se faltava muita coisa, cheguei mesmo a mandar fazer algumas peças que faltavam do carro. Posteriormente soube que o Ricardo Haddad comprou o Du Pont e o restaurou. Não sei informar do seu paradeiro atual.
RENATO BELLOTE – Advogado, fotografo especializado em automóveis, colunista especializado. Mantenedor do site “Garagem do Bellote”. São Paulo, SP
Na sua opinião, com tecnologia, maior produção e facilidade de compra, teremos algum carro atual que será colecionável no futuro?
OG POZZOLI – Acredito que os automóveis esportivos de pequena produção e os fora de série ainda serão colecionáveis.
ROBERTO NASSER – Curador do Museu do Automóvel de Brasília. Brasília-DF
Og, velho amigo, meu respeito e reverencia.
Você é o último dos moicanos, um dos iniciadores do Veteran Car Club do Rio de Janeiro – pioneira destas agremiações – e do lamentavelmente desaparecido VCC de S Paulo. Na prática, uma das mãos que ajudou a moldar a base do que depois veio a se chamar antigomobilismo brasileiro. É também o criador e mantenedor da reverencial Coleção Og Pozzoli, melhor síntese e reunião dos veículos que criaram a história do automóvel antigo no Brasil. A partir desta base de fato, e com a generosidade de sua experência. gostaria que você aconselhasse aos muitíssimos leitores do Portal Maxicar três aspectos:
Primeiro, com que tipo de carro um interessado deve iniciar-se neste hobby? Importado ? Nacional? Quanto mais antigo melhor? ou ao contrário? O Roberto Lee, seu companheiro na criação e sedimentação do antigomobilismo, dizia que deve-se fazer a restauração de um veículo de cada vez, estabelecendo o prazo de um ano entre começar e terminar.
Qual é a sua visão?
Segundo, fomos criadores e presidentes da Federação Brasileira de Veículos Antigos. Tempos românticos de implantação de conceitos jurídicos, filosofia, campanha de agregação, criação de um programa básico de eventos para evitar sobreposições. Na prática a organização de gentes em torno da idéia da preservação dos antigos.
Por razões que não vem ao caso, o que se nota hoje é que poucos clubes tem filosofia ou projetos, e talvez esta ociosidade programática provoque o surgimento de muitas vaidades e poucos resultados. Há uma projeção que 2/3 dos colecionadores de veículos antigos não pertençam a clubes ou agremiações. Àquele tempo conseguimos atrair multinacionais como patrocinadores dos encontros nacionais promovidos pela FBVA. Era reflexo de uma atividade nova, tentativamente organizada, exibindo um novo caminho para aplicação de verbas publicitárias. Hoje os encontros se fazem com pequenos aportes, exceto o bi-anual de Araxá promovido pelo VCC/MG. A situação chegou a tal ponto que o encontro de Juiz de Fora perdeu o patrocínio da Mercedes-Benz, que tem fábrica instalada na cidade. Com a sua visão, experiência e prática, como deve se comportar o dirigente de um clube para provocar o interesse em reunir interessados e somar esforços para dinamizar o antigomobilismo nacional? E mostrar que há junção de bons consumidores, formadores de opinião, em torno de eventos que atraem público capaz de consumir bens e serviços dos patrocinadores?
OG POZZOLI – Meu caro Roberto Nasser, agradeço os confetes, como dizia uma marchinha carnavalesca antiga: “Confete, pedacinho colorido de ilusão…” mas você também tem uma grande participação e contribuição ao antigomobilismo nacional. Respondendo devidamente a sua pergunta:
1 – Para começar uma coleção não importa se é automóvel nacional ou importado. O importante é começar. Os Fordinhos modelo A (1928 a 1931) são o curso primário de carros importados. Já dos carros nacionais o curso primário começa com os Fuscas e DKWs. Geralmente cada colecionador tem suas tendências próprias, alguns somente colecionam determinadas marcas, alguns somente autos ingleses, italianos, veículos militares, automóveis esportivos, caminhões, etc., uma questão muito pessoal. Há automóveis antigos e antigos, determinados modelos, determinados anos são mais raros e valiosos. Vamos fazer analogia com o vinho: quanto mais velho não que dizer que seja o melhor vinho. Os automóveis e os vinhos dependem da safra.
2 – Você na pergunta já deu a resposta certa: “Tempos românticos”, era o tempo dos 3 mosqueteiros “um por todos e todos por um”. O intuito era difundir a preservação do veiculo antigo para que eles não fossem destruídos e descaracterizados e para que mantivessem a sua dignidade. Não se visavam negócios e lucros pessoais, pensávamos sempre no coletivo. Martin Fierro grande poeta gaúcho-argentino dizia: “Procure sempre um líder e siga-o, não encontrando, torne-se um líder”. Temos que procurar novos lideres e lembrar a sabedoria popular: “uma andorinha só não faz verão”. Alguns patrocinadores que deveriam ser e não são, sofrem de miopia e não usam óculos.
LUÍS AUGUSTO MALTA – Médico Psiquiatra, colecionador e paixonado por automóveis.
Dr. Og, fico honrado pela oportunidade de poder lhe dirigir uma pergunta. O Sr. viveu bem a transição da época em que o antigomobilismo era feito por um pequeno grupo de entusiastas para a era da profissionalização do movimento. Se, por um lado, houve ganho em qualidade – e em quantidade – dos eventos e o nível das restaurações tenha aumentado muito, por outro perdeu-se muito aquele clima de confraria que pairava entre os antigomobilistas até o final dos anos 80, com muitos deles, inclusive, deixando de participar de eventos importantes. O Sr. vê isso como um perigo que pode desvirtuar a paixão por carros antigos e fazer dos encontros um grande “feirão”, ou apenas uma conseqüência natural do crescimento do movimento?
OG POZZOLI – O pequeno grupo inicial, em que todos se conheciam e trocavam figurinhas passou, como também passou a nossa mocidade, mudou o trânsito, aumentou muito o interesse, os encontros de carros antigos multiplicaram, temos os feirões, mas haverá sempre encontros especiais, novos colecionadores irão surgindo, alguns colecionadores irão selecionando os seus encontros e reuniões em que irão participar, haverá feirão, mega feirão, encontro de marcas, enfim, a vida não para. É claro que sempre sentirei saudades das reuniões e encontros com amigos de 40 anos atrás, mas não nos esqueçamos de que o principal fator é que tínhamos 40 anos a menos. Esse era o grande sucesso que nos deixa saudosistas. É que “as águas já passaram pelo moinho”.
Organização, edição e texto introdutório: Fernando Barenco
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