Atitude
Reciclando idéias:
a arte de reinventar sucata
Reciclagem: palavra da moda. Tema fundamental para o nosso futuro, que já se incorporou à vida das pessoas em todo o mundo. Mas o empresário Wagner Nascimento decidiu ir mais longe e trazer a prática — com muita arte e criatividade — literalmente para o dia-a dia de sua empresa, como veremos mais a diante.
A GFN – Limpeza Urbana e Reciclagem está localizada em Barroso-MG, cidade que abriga grandes fabricantes de cimento — entre elas o Houcin e a Tupi — e que por isso orgulhosamente tem como slogan “A cidade que ajuda a construir o Brasil”. A GFN é responsável não apenas pela coleta dos resíduos industriais dessas empresas, mas também de todo o lixo doméstico do município.
Depois de ler esses dois primeiros parágrafos, você já deve estar se perguntando: “Mas o que uma reportagem a respeito de reciclagem de lixo está fazendo um portal especializado em automóveis antigos?”. Então vamos explicar.
Conhecemos Wagner Nascimento em nossas andanças por Minas Gerais, nas coberturas jornalísticas de encontros de carros antigos em Barbacena e São João Del Rei. Antigomobilista, ele gosta de pesos pesados e sempre leva aos eventos seus dois verdadeiros gigantes da indústria de caminhões: o primeiro um International KB6 1948 (apesar de placa de licença do ano 1943).
O segundo é um incrível guincho militar americano, fabricado em 1940 e da pouco conhecida marca Ward LaFrance, de origem americana, apesar do nome. Wagner o comprou há alguns anos do Exército Brasileiro, em Juiz de Fora. Foi lá que o caminhão recebeu o apelido de “Carcará”. Com tração 6X6, o Ward mantém-se totalmente funcional. Possui freio a ar e cabine com estrutura inteiramente de madeira, recoberta por chapas de aço. Somente o motor foi substituído pelo de Mercedes-Benz 19-32.
— Esse Ward serviu na II Guerra Mundial. Com seu término, o governo dos Estados Unidos mandou muitos veículos militares de presente para o Brasil. Ele prestou serviço por muitos anos no 17º Batalhão Logístico (B Log) antes de eu compra-lo. — nos contou Wagner.
Voltando à reciclagem, outro antigomobilista mineiro, Cláudio Campos, nos sugeriu que fossemos conhecer a empresa de Wagner, um espaço temático, todo decorado a partir de peças de automóveis. Fomos conferir! Imaginávamos encontrar aquele ambiente típico de uma firma do ramo, com montanhas de lixo e um batalhão de pessoas fazendo o trabalho de separação: lixo orgânico para um lado, vidro para o outro, plástico para o outro… Mas ficamos surpreendidos com a limpeza do agradável ambiente: não havia sequer um pedacinho de papel jogado no chão.
Destaques dos classificados
Dando às boas vindas, um simpático boneco feito a partir de peças de transmissão e engrenagens. No alto de uma laje, outro boneco bem semelhante, “conduz” um antigo trator DeSoto, produzido em 1951. No grande portão de correr, hélices, coroas de bicicleta, amortecedores, molas e engrenagens. A caixa de correio é a escultura de um caminhãozinho, em cuja “caçamba” o carteiro deposita a correspondência diária.
Dando acesso à sala de reuniões, uma escada de ferro toda ornada com peças variadas. Lá dentro, uma grande mesa com tampo de vidro, cuja estrutura foi inteiramente montada a partir de velhas árvores de manivelas (virabrequins) aproveitadas dos mais diversos motores de automóveis. Tudo cuidadosamente soldado. Virabrequins também fazem o papel de vigas da varanda da construção de dois pavimentos.
No fundo do terreno, dois caramanchões. O primeiro é uma espécie de sala de descanso, com uma mezinha central, confeccionada a partir de um eixo central e uma grande engrenagem. Os diversos banquinhos que a cercam, se intercalam: uns fabricados a partir de engrenagens e outros a partir de velhos latões de leite.
O segundo caramanchão tem como coluna central um grande diferencial de caminhão, que dá toda a sustentação à construção. Na parte central do diferencial, um oratório abriga a imagem de Nossa Senhora.
Para onde quer se olhe, lá estão elas, as peças de veículos! Mas o ponto alto fica por conta de um verdadeiro monumento, criado não a partir de algumas peças de veículos, mas de um veículo inteiro! Condenado ao ferro velho, o caminhão Chevrolet Brasil foi salvo e serviu de estrutura para o escritório suspenso da GFN. Sobre sua carroceria basculante foi erguida a pequena edificação, cujo acesso se dá através de uma escada em caracol. O material empregado você já pode imaginar… Acertou! Peças usadas. A partir de um eixo central, os degraus são rodas de ferro e o corrimão reúne os mais diversos itens do mundo automotivo.
Toda a criação e fabricação fica por conta do próprio Wagner, que em muitos finais de semana permanece na empresa dando asas à imaginação e colocando mãos a obra.
— É uma verdadeira terapia. Uma forma de relaxamento. Comecei há alguns anos e não parei mais. — confidenciou Wagner.
No momento o misto de empresário e artista plástico está trabalhando no projeto de uma águia de asas abertas, com cerca de 2 metros de altura. Pelo jeito essa “brincadeira” está ficando cada vez mais sofisticada!
Texto e fotos: Fernando Barenco
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