Repórter Maxicar

Talento, entusiasmo e trabalho: receita de uma réplica Kübelwagen

Kubelwagen

Engenheiro aposentado projetou e construiu em casa o famoso Volkswagen do Exército Alemão na II Guerra Mundial

Kübelwagen, ou em tradução literal do alemão: “carro-balde”. Essa foi a resposta do exército nazista ao Jeep 4X4, fabricado pelas americanas Willys Overland e Ford, durante a Segunda Guerra Mundial. Leve, pesando apenas 715 quilos; com econômico e resistente motor traseiro refrigerado a ar de 1000 cc, resistindo tanto ao frio extremo da Europa quanto ao calor escaldante dos desertos; versátil e ágil em qualquer terreno, fosse na lama, fosse no asfalto, apesar de não contar com tração 4X4.

No alto, com os nazistas. Abaixo, à esquerda a linha de montagem. À direita o veículo no deserto


Um Kübelwagen partindo do zero

E foram justamente essas características que levaram o engenheiro civil aposentado Franklin Lenneberg a projetar e fabricar uma réplica do Kübelwagen na pequena oficina em sua própria casa em Petrópolis, Região Serrana do Rio de Janeiro. Apaixonado por veículos militares, Franklin é membro do Imperial Jeep Clube e proprietário de um Willys MB 1942.
— Costumo participar dos eventos com o pessoal do clube com meu Jeep. Mas suas características não me permitem fazer viagens mais longas. É um veículo que tem a velocidade limitada nas estradas. Além disso, acho muito sacrificado para um Jeep com mais de 70 anos fazer percursos maiores. Muitas das peças desse motor são difíceis de encontrar hoje em dia. Queria um veículo militar que fosse mais versátil e de fácil manutenção, que me permitisse viajar sem preocupações. Então me ocorreu criar a réplica do Kübelwagen, que nada mais é do que um Fusca.

Até então, Franklin não sabia muito sobre o veículo militar alemão. Já o havia visto na antiga série de TV “Combate” e também em filmes como o do “Indiana Jones”, estrelado por Harrison Ford. Decidiu então pesquisar sobre o assunto, principalmente na Internet. Além disso, ele conseguiu com um fabricante de buggies alguma literatura em alemão com desenhos de época. E foi apenas através dessas imagens que desenvolveu todo o projeto do Kübelwagen petropolitano. Todas as medidas e proporções foram calculadas somente através de escalas fotográficas.

Um Fusca 1967 doou seu chassi para projeto. Foi criada uma “gaiola” de tubos, que em seguida foi revestida pelas peças de aço, dando forma à réplica


Poucas referências

Não existe no Brasil nenhum Kübelwagen original. E no restante do mundo também é bastante raro, já que a maioria acabou destruída ainda durante a Segunda Guerra Mundial. No entanto, outro engenheiro brasileiro, Alexandre Penatti, de Itu-SP, iniciou a fabricação de réplicas em 2010. No Canadá, a empresa Kübelcar também produz réplicas em escala comercial.

O projeto de fabricação de Franklin durou exatos seis meses, tendo começado em fevereiro de 2011. O primeiro passo foi encontrar um “doador” de chassi e mecânica. O escolhido foi um Fusca 1967, que apesar de bastante judiado, estava com a motor e suspensão em ordem. Apesar das poucas ferramentas disponíveis, ele optou por fazer o veículo inteiramente em metal, sem peças em fibra de vidro. Tudo produzido alí mesmo, em sua casa. Até o tanque de gasolina foi fabricado por ele.

— Achei que seria uma incoerência fazer a réplica de um veículo da década de 1940 com partes de fibra de vidro, já que o material não era utilizado naquela época. — nos contou.

A riqueza de detalhes

Inicialmente foi montada uma estrutura tubular, que em seguida foi coberta com chapas de aço, seguindo os moldes do modelo original. Na impossibilidade de recriar os relevos das laterais e tampa traseira, já que seria necessária uma prensa industrial para estampar o aço, o engenheiro criou uma “ilusão de ótica” aplicando reguas de metal que foram rebitadas e depois acabadas com massa. O resultado ficou surpreendente. Lanternas, suportes, ganchos, e todos os demais detalhes, foram produzidos em sua pequena oficina. Apenas os paralamas, a pintura e a capotaria não foram executadas por Franklin.
— Faço questão de ressaltar a colaboração de José Tadeu Burger, meu caseiro há vários anos. Suas idéias e trabalho foram muito importantes para a construção do carro.

Burger e Franklin

Segundo ele, a maior dificuldade foi justamente conseguir reproduzir o veículo original com a maior fidelidade possível, sem ter acesso a um pronto. Um grande desafio foi a fabricação da lanterna traseira, que possui um sistema que permite dois usos: o normal e o “black-out”, usado para não chamar a atenção do inimigo no campo de batalha.
— Você olha a fotografia e por ali você não tem as medidas. Para fazer algo que funcione, é necessário fazer protótipos, num processo de tentativa e erro. — confidenciou.

O Kübelwagen de Franklin tem todos os detalhes do veículo projetado por Ferdinand Porsche para Hitler, entre eles parabrisa basculante, pneus militares, capota de lona com cortinas laterais utilizadas originalmente pelos nazistas para proteção contra o frio, estrados de madeira no assoalho, porta-malas com acesso pelo banco de trás, que é rebativel, farol auxiliar, sistema de freios de mão independentes para cada roda traseira, pá e botijão. Não faltaram nem mesmo as inscrições ao longo da carroceria. Na traseira se lê, em Alemão: “Achtung Lufteinlass freihalten” (mantenha a entrada de ar livre) e “Astand 100m” (distância de 100 metros). Nos paralamas a calibragem dos pneus e na porta esquerda informações relativas ao peso. Na porta direita, há um singelo coqueiro.
— No desenho original havia uma suástica dentro do coqueiro. Achei que não seria legal reproduzir. — se diverte Franklin.

A réplica pronta, que possui riqueza de detalhes. Na foto abaixo à esquerda, os dois estágios da lanterna


O Kübelwagen de Franklin Lenneberg foi concluido em agosto de 2011. Com poucos recursos, muito talento, grande entusiasmo e trabalho de sobra, o resultado você confere na Galeria de Imagens. Sorte de quem tiver a oportunidade vê-lo de perto nos encontros de automóveis antigos por esse Brasil afora!

Texto e fotos: Fernando Barenco

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