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Billo – Um Fusca decorado à moda dos caminhões do Paquistão

Portador de uma arte única que é tradicional naquele país. Este artigo conta um pouco da história deste tipo de decoração e suas vertentes

Antes de entrar na história deste Fusca, vamos descobrir alguns segredos desta arte tão popular no Paquistão e que, como podemos ver, acabou sendo aplicada a um Fusca… Esta foto intrigante, que eu vi no Facebook, despertou a minha atenção e eu fui aprofundando a pesquisa até que consegui reunir material suficiente para este artigo.

Das margens do Oceano Índico, aos picos do Himalaia, as estradas do Paquistão, estão cheias de telas móveis, obras de arte ambulantes. A arte em caminhões é uma prática única de transformar os transportadores de carga em obras de arte e tem sido muito popular há muito tempo. Em todo o Paquistão, enormes somas de dinheiro, anos de experiência, e detalhes meticulosos trouxeram estas obras de arte para cada cidade, vila, e porto com acesso a uma estrada.

Este fenômeno encontra o extraordinário no ordinário e eleva a habilidade dos artesãos a uma forma de arte. Inclusive uma destas obras de arte foi exibida no Festival de Folclore do Instituto Smithsoniano em 2002.

Exemplo de caminhão decorado com um Buraq – o cavalo com cabeça de mulher que transportou Maomé numa visita ao céu.

A maioria dos caminhões que roda nas estradas no Paquistão está decorada de cima a baixo e até mesmo os tanques de combustível e rodas recebem tratamento de embelezamento. Os principais temas da decoração são ditados pela escolha dos proprietários para refletir a sua herança cultural, o seu gosto, imaginação, filiação política, etc.

Eles consistem em padrões geométricos e florais, paisagens, mesquitas (a mais popular é a mesquita Faisal com os seus minaretes em forma de mísseis), faisões, pavões, cavalos, tigres pulando em cima de suas presas e belas artistas celebradas em filmes. Um favorito de todos os tempos é o cavalo alado com uma cara de mulher que representa Buraq – transporte usado pelo profeta Maomé, quando ele visitou o céu. Os artistas envolvidos nesta arte incrível quase sempre são analfabetos, sem educação formal ou formação em arte. Eles usam sua imaginação para criar suas obras de arte Os estilos variam conforme a localização geográfica de cada artista que aperfeiçoou sua arte do seu próprio modo. A herança étnica contribui para o estilo diferente da arte do caminhão em cada província. Algumas das cenas de paisagem mais populares, aquelas que representam os leões e tigres, galos e patos, cenas de caçadas ou uma donzela cheirando uma rosa, parecem cenas tiradas diretamente das pinturas Mogul.

Pintura Mogul

Pintura Mogul é um estilo particular de pintura do Sul da Ásia, geralmente confinada a miniaturas ou como ilustrações de livros ou como uma única obra a ser mantida em álbuns, estilo este que surgiu a partir da pintura em miniatura persa, com influências hindus, jainistas, budistas , e que foi desenvolvida em grande parte na corte do Império Mogul (entre os séculos 16 e 19 ), que depois se espalhou por outras cortes indianas , tanto muçulmanas, como hindus e sikhs.

Os desenhos mais intrincados são de longe aqueles feitos em Quetta (Baluquistão). A razão disto pode ser a influência iraniana. Esses caminhões são quase sempre desprovidos de figuras humanas.

Os caminhões decorados em Peshawar são uma mistura de painéis de madeira de nogueira entalhada, trabalhos de pintura e colagens.

Enquanto a maioria dos Pukhtoons (moradores da Província da Fronteira Noroeste que falam o idioma Pushto) escolhe o Marechal Ayub Khanimagem (por razões óbvias – ele era da Província da Fronteira Noroeste) para decorar o painel traseiro de seus caminhões, uma significativa proporção escolhe a imagem de uma heroína de filmes do passado com proporções muito saudáveis e generosas.

Artistas em Pir Wadahi (um subúrbio de Islamabad) e BadamiBagh (o distrito de transportadoras de Lahore) e proprietários de caminhões em Punjab preferem paisagens, formas geométricas e flores em relevo em chapa de aço inoxidável preenchidas com fita refletiva 3M , assim como retratos de estrelas de cinema.

Caminhões em Sindh, quase sempre apresentam paisagens pintadas com lagos, rios, cachoeiras, picos de montanhas cobertas de neve, flores e mesquitas.

As estradas interestaduais no Paquisão estão longe de serem boas, tampouco são iluminadas, ai a decoração com material refletivo mostra o réu valor

Os materiais escolhidos para decorar os caminhões em conjunto com o estilo geral empregado, em última análise, servem como uma representação cultural da província em questão. Através dos anos, os materiais utilizados foram evoluíndo a partir de madeira, passando para pintura, chapa metálica cromada, plástico e fita de vinil reflexivo.

As estradas intermunicipais no Paquistão não são iluminadas, de maneira que as decorações refletivas servem como uma segurança essencial. Nos últimos anos caminhões e ônibus foram decorados adicionalmente com painéis cravejados com LED’s. Os artistas competem para ver quem pode executar as obras de arte mais ousadas, coloridas, por vezes deslumbrantes, em caminhões, ônibus, navios, pick-ups Suzuki e riquixás. As cores usadas são vermelho elétrico, laranja e amarelo, rosa choque, verde e azul.

De pára-lamas dianteiros a traseiros, arcos das rodas, laterais e todas as outras áreas imagináveis pendem correntes de metal. O comprimento dessas correntes é ajustado de tal forma que pequenas peças de metal tocam a estrada no ponto mais baixo, produzindo um tilintar agradável quando os caminhões sobrecarregados balançam de um lado para outro pelas estradas, que estão longe de serem perfeitas. Pequenos sinos de bronze também são pendurados a estas correntes.

As Filipinas tem seus Jeepnies, a Tailândia tem os seus tuk-tuks (riquixás) pintados, mas em nenhum lugar do mundo os artistas automotivos vão a extremos como no Paquistão!

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Um Jeepney das Filipinas (e), que é um derivado do Jeep. Estes são taxis Tuk-tuks da Tailândia (d), triciclos motorizados

Nasir Shaikh, um paquistanês, decidiu incrementar o seu Fusca 1960, cujo apelido é Billo, com uma decoração típica de seu país. O trabalho foi feito em 2006 na cidade de Rawalpindi que fica junto à capital Islamabad. Neste caso o material usado foram fitas de vinil refletivo da 3M. O trabalho começou pelas calotas e foi se alastrando por outras partes do carro até um ponto que o Nasir achou suficiente para que o carro refletisse a cultura típica dos caminhões paquistaneses. Todos os desenhos foram meticulosamente recortados e colados em camadas de maneira a formar a delicada decoração do Fusca, algo realmente impressionante quando se observam os detalhes. Nada como dar uma olhada nos detalhes desta transformação:

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A foto seguinte serve muito bem para demonstrar que o trabalho todo foi feito em material refletivo, ela foi tirada dento de um ferryboat já no Canadá.


Hoje ele mora no Canadá para onde emigrou, não se esquecendo de levar o seu Fusca para a nova pátria. Na foto que se segue estão o Billo e o Nasir às margens do Lago Ontário, do lado canadense.

Colaboração: Nasir Shaikh
Imagens: Nasir Shaikh e pesquisa na Internet

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Alexander Gromow

Ex-Presidente do Fusca Clube do Brasil. Autor do livro EU AMO FUSCA e compilador do livro EU AMO FUSCA II. Autor de artigos sobre o assunto publicados em boletins de clubes e na imprensa nacional e internacional. Participou do lançamento do Dia Nacional do Fusca e apresentou o projeto que motivou a aprovação do Dia Municipal do Fusca em São Paulo. Lançou o Dia Mundial do Fusca em Bad Camberg, na Alemanha. Historiador amador reconhecido a nível mundial e ativista de movimentos que visam à preservação do Fusca e de carros antigos em geral. Participou de vários programas de TV e rádio sobre o assunto. É palestrante sobre o assunto VW com ênfase para os resfriados a ar. Foi eleito “Antigomobilista do Ano de 2012” no concurso realizado pelo VI ABC Old Cars.

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