No ritmo afinado de antigos motores
[dropcap]M[/dropcap]eu entrevistado deste mês é um dos fundadores de um simpático clube que acaba de nascer. Pianista clássico, pesquisador e professor universitário, Dib Santigo Franciss é o primeiro presidente do Clube do Fordeco de Brasília, criado em 2009 e que reúne apaixonados pelo Modelo A, fabricado pela Ford somente entre 1928 e 1931, com a difícil missão de substituir o Ford Modelo T. Mas deixemos que o próprio Dib se apresente:
— Nasci em São Luis-MA, cidade histórica, tombada pela UNESCO. Também conhecida como a “Atenas Brasileira” essa ilha é um museu a céu aberto. Meu gosto por antigüidades nasceu em criança, e os carros antigos acabaram sendo uma extensão natural desse tipo de paixão. Agradeço muito aos meus pais e irmãos pelo incentivo e constante torcida. Em 1989 mudei-me para Brasília para estudar na Universidade de Brasília – UnB, onde cursei “Bacharelado em Piano” e “Licenciatura em Música”. Lá também obtive o título de “Mestre em Musicologia”. Atualmente sou Diretor Social do Veteran Car Clube de Brasília – VCC e Vice-Presidente da Academia de Letras e Música do Brasil – ALMUB.
Há exatos vinte e um anos cheguei a Brasília cheio de sonhos e esperanças. Recentemente fui surpreendido com a honrosa notícia de que meu nome e perfil estarão no “LIVRO DE OURO DE BRASÍLIA – 50 ANOS”. O histórico tomo será lançado em abril próximo, no Salão Nobre do Congresso Nacional.
Acompanhando o seu trabalho, vemos que você possui duas grandes paixões: música e carros antigos. E a união de ambos foi o tema de uma exposição no Museu do Automóvel de Brasília, que aconteceu em 2008. Fale um pouco sobre o assunto.
Durante o tempo que passei restaurando o meu fordeco, todas as vezes que encontrava um proprietário daquele carro eu anotava nome e telefone. O resultado disso é que por iniciativa própria acabei criando um “cadastro geral” dos fordecos do Distrito Federal.
Dib – Pois é, me considero um felizardo, pois trabalho com algo que amo que é a Música, tenho um hobby apaixonante (carros antigos), porém além disso, consegui uni-los nessa pesquisa inédita. A pesquisa ainda está em andamento e nela tratamos eu e a pianista Profª Drª Jaci Toffano da inter-relação nunca antes explorada entre esses dois assuntos. Essa investigação científica recebeu o título de “MUSIC & AUTOMOBILE: uma interface possível.”. Num árduo trabalho reunimos centenas de partituras (1816-1972) e gravações originais (muitas delas remasterizadas a partir de cilindros de fonógrafo de 1909), todas relacionadas aos temas: “carruagem” e “automóvel. Com o apoio do Prof. José Walter, do NECOIM (Núcleo de Estudos da Cultura, Oralidade, Imagem e Memória); da Profª Ana Maria Nogales do CEAM (Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares); e do Dr. Roberto Nasser, realizamos uma Exposição-Concerto no Museu do Automóvel de Brasília. Naquele concerto apresentamos junto com vários músicos da cidade algumas dessas raras partituras. Estávamos todos trajados de acordo com a época de ouro do automóvel, o que deu um encanto especial ao evento. Recebemos uma atenção grande da imprensa o que nos garantiu um público expressivo. Gostaria de ressaltar que dada o ineditismo da pesquisa, recebemos o prestigioso convite da AACA (Antique Automobile Club of America), para publicá-la brevemente naquele portal.
Você é o presidente do recém fundado Clube do Fordeco de Brasília. Como surgiu a idéia de fundar esse clube?
Dib – O Clube do Fordeco de Brasília é uma confraria informal de colecionadores apaixonados pelo Ford Modelo A. Durante o tempo que passei restaurando o meu fordeco, todas as vezes que encontrava um proprietário daquele carro eu anotava nome e telefone. O resultado disso é que por iniciativa própria acabei criando um “cadastro geral” dos fordecos do Distrito Federal. Quando me dei conta a lista já contava mais de quarenta carros… algo surpreendente para uma cidade nova como Brasília. E foi assim que tudo surgiu.
No ano de 2009 organizamos o 1º Encontro e Passeio de Fordecos da Capital Federal, que foi um sucesso total, inclusive noticiado por esse maravilhoso site, MAXICAR.
Como foi a receptividade do clube perante outras entidades ligadas aos automóveis antigos na Capital Federal?
Dib – Total! A coisa parecia que já estava sendo esperada. Todos os grupos mais representativos de Brasília nos deram apoio, como o Veteran Car Club de Brasília, o Museu do Automóvel, Fundação Memória dos Transportes, Clube do Puma, Nação DKWeana, só para citar alguns. O fordeco é um símbolo no antigomobilismo em qualquer lugar do mundo. Por onde passa encanta a todos. E para nós, o contraste do seu desenho clássico com as formas modernas e atemporais de Brasília é algo que cativa a atenção de todos por onde passamos.
Destaques dos classificados
Seu clube tem uma característica nostálgica, que é a de sempre se vestirem a caráter em seus passeios. Como vocês adquirem esses trajes de época?
Dib – Eu sou um anacrônico incurável…(risos). Esse detalhe nos apaixona como colecionadores e também ao público que vai aos nossos encontros. É como se convidássemos a todos a entrar na máquina do tempo conosco, sem falar que é uma maneira bem humorada de brincarmos com o imaginário das pessoas. O público adora e a imprensa mais ainda! Se pensarmos bem, vamos lembrar de muitos encontros de carros antigos mundo afora que exploram esse componente de glamour. Citaria o de Pebble Beach (EUA) dentre outros. No Brasil, apesar de ser um país tão ensolarado e tropical, as pessoas ainda se mostram tímidas e por essa razão temos ainda poucos grupos que topam essa gostosa brincadeira. Tomara que com o tempo as coisas mudem. Como eu falei anteriormente, a imprensa adora esse tipo de detalhe, que junto com a beleza dos nossos carros acaba por colaborar para que o movimento antigomobilista tenha mais espaço nos meios de comunicação como TV e jornais…
Conte um episódio interessante que tenha acontecido num desses passeios.
Estamos nos programando para participar das festividades dos “50 Anos de Brasília” e também da “CARAVANA DA INTEGRAÇÃO NACIONAL”, organizada pelo Museu do Automóvel, pelo Dr. Roberto Nasser.
Dib – Certa vez passeavamos com os fordecos pelas ruas de Brasília e um menino de uns seis anos estava na calçada e quando viu aquele espetáculo inacreditável de tantos fordecos, nos acenou com a mão e falou de maneira muito entusiasmada: “Tio, tio… pára, pára…pára aí… me fala que ‘espécie’ de carro é esse…”. Foi uma gargalhada geral…!
Quais são as atividades programadas pelo Clube do Fordeco para 2010?
Dib – Temos alguns passeios agendados e temos feito parcerias com restaurantes e lugares pitorescos da cidade onde há grande passagem de pessoas. Além disso, estamos nos programando também para participar das festividades dos “50 Anos de Brasília” e também da “CARAVANA DA INTEGRAÇÃO NACIONAL”, organizada pelo Museu do Automóvel, pelo Dr. Roberto Nasser. Esse evento reuniu veículos brasileiros, saindo de Belém, de São Paulo e Rio de Janeiro em 1960, e aqui em Brasília se encontraram em pioneira carreata. Marcavam simbolicamente e como efeito-demonstração, a implantação da indústria automobilística nacional e a criação da capital que integraria todo o país.
Nem é preciso dizer que seu xodó sobre rodas é o Ford Modelo A. De onde vem essa paixão? E mais uma curiosidade: quando criança você era conhecido como “Dib, o velho”. Conte-nos o porquê?
Dib – Exatamente! Minha paixão é por carros da década de 1920, e o fordeco é o meu favorito. Por volta dos meus dez anos, um amigo do meu pai passou em nossa casa dirigindo um Ford 1929. Ele tinha concluído sua restauração naquela época de maneira que o carro era um espetáculo de ser visto, ainda mais por um menino que adorava coisas antigas. Aquela cena nunca me saiu da cabeça e eu sempre alimentei o desejo de comprar um fordeco, que acabou acontecendo.
O apelido DIB “O Velho” (risos) me acompanhou por toda a infância. Eu era aquele menino que ao invés de ir jogar bola ou brincar de skate na rua, passava tardes inteiras nos museus, ou escutando música clássica no meu gramofone. DIB “O Velho” foi um só dos apelidos engraçados que tive … (risos).
Antes do Modelo A, a Ford fabricou durante 20 anos o famoso Modelo T, eleito o “Carro do Século XX”. Este carro também é admirado em seu clube?
Dib – Sem dúvida. Adoramos esse carrinho, porém no momento somente o Dr. Roberto Nasser, Presidente do Museu do Automóvel, possui alguns exemplares desse importante carro..
Um tema em voga: inspeção veicular. Qual a sua opinião sobre o assunto, quando se fala em carros da década de 20. Você tem conhecimento se o Detran de Brasília já esta realizando este procedimento?
O que todos fundalmentalmente esperamos enquanto antigomobilistas é que as entidades representativas, lideradas pela FNVA, estabeleçam um diálogo mais próximo com o DENATRAN
Dib – Os Detrans de todo o Brasil estão ficando cada vez mais complicados, e o de Brasília infelizmente não foge a essa infausta regra. O que fundamentalmente todos esperamos enquanto antigomobilistas é que as entidades representativas, lideradas pela FNVA, estabeleçam um diálogo mais próximo com o DENATRAN, já que os todos os Detrans estão subordinados a esse órgão maior.
Nossa entrevista está chegando ao fim e deixamos aqui com a palavra o presidente Dib Franciss, com quem tive a honra de conversar, para que deixe uma mensagem aos antigomobilistas que prestigiam o Portal Maxicar e agradeço por podermos mostrar a cada mês um pouco mais sobre os clubes de carros antigos no Brasil.
Dib – Fátima, a honra e o prazer foram meus em receber seu convite e do Fernando para participar dessa coluna. O Portal MAXICAR é um dos que reputo como sendo dos mais sérios e importantes no nosso meio. Atualizado e completo em todos os aspectos, traz ótimas notícias e novidades, artigos, calendário de eventos, classificados, mas acima de tudo, cria um clima de proximidade fraterna entre nós. Impossível não visitá-lo diariamente. Mais uma vez, obrigado por sempre abrir espaço para nós de Brasília.
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