Ternas lembranças na bagagem
[dropcap]O[/dropcap] cheiro da “gasolina com óleo queimado” já o atraia desde muito pequeno. Em suas histórias mostra um coração carregado de saudosismo. Funcionário público, ele preside o Clube do Carro Antigo de Belo Horizonte há 5 anos. Neste mês tenho a honra de conversar com o amigo Eder Roberto Gomes.
Em primeiro lugar gostaríamos de conhecer um pouco do Clube do Carro Antigo de Bello Horizonte. Há quantos anos ele existe? Quais são as suas atividades?
“Adorava encerar aqueles pinturas e a polir os cromados, além de esfregar as bandas brancas… “
Eder – O Clube do Carro Antigo de Bello Horizonte, CCABH, existe há 9 anos. NÃO tem fins lucrativos e tem como objetivo a preservação e divulgação do automóvel antigo, colaboração com entidades afins. Promovemos encontros e passeios.
Como temos vistos em muitos eventos, não tem sido fácil conseguir apoio do poder público para sua realização; seja liberação de local, falta de interesse pelo assunto, desconhecimento do quanto gera de turismo para a cidade. Já vivenciou algum destes problemas em seu clube?
Eder – Infelizmente, sim. Aliás, o poder público em nada ajuda e, às vezes, até atrapalha a realização de eventos. O CCABH tem se valido da iniciativa privada, com sucesso.
A partir de que momento em sua vida se sentiu contaminado pelo vírus da ferrugem?
Eder – Desde os meus 3 anos. Já tive que correr várias vezes do meu pai, de saudosa memória. Eu adorava sentir aquele “ cheirinho” de gasolina com óleo quentes, além de desfrutar da maciez dos assentos… Adorava encerar aqueles pinturas e a polir os cromados, além de esfregar as bandas brancas…
Destaques dos classificados
Quem tem um carro antigo, esta sempre carregado de histórias. Qual a sua paixão sobre rodas? Nos conte algum episódio que considera inesquecível?
Eder – Gosto de todos os meus carros. Cada um tem uma história. Lembro-me como fosse hoje! Após seis meses de negociação, consegui comprar de um grande amigo, Ricardo Teixeira de Carvalho, um, Buick Super, 1946. Num sábado, 30 de dezembro de 1989, às 9:30 hs, o Teixeira me ligou e disse que me venderia o carro se fosse “agora”. Tratei de arrumar todo o dinheiro (não seria fácil num sábado penúltimo dia do ano). Providenciei tudo e às 19:35 lá estava eu, na porta da casa dele, com dinheiro em punho para buscar o Buick. Era um sonho da minha mãe e meu. O carro tinha deficiência de iluminação e os limpadores de pára brisa apenas compunham o carro. Mesmo contra a vontade do Teixeira, saí com o carro. Parei no primeiro posto e completei o tanque. Já era noite quando parei sob a janela da casa da minha mãe (ela mora no segundo andar de um prédio no centro da cidade). Quando eu toquei a buzina ela, reconhecendo o som das “Sparton”, correu até a janela. Lembro-me dos gritos de felicidade dela:“Meu filho! Meu filho! Você buscou o meu Buick!!”. Ela, com o rosto coberto de lágrimas de alegria entrou no carro demonstrando toda a alegria do mundo. E ela ainda me disse: “vou passar a noite aqui dentro”; Meu Buick, meu Buick”!!! Dali, busquei a minha namorada. Quando ela viu o carro, também desabou em prantos de alegria. Passeamos até alta madrugada, mesmo sob forte tempestade. Jamais vou me esquecer deste dia. Ficará indelével em minha memória.
O antigomobilismo não pára de crescer. A cada ano mais e mais eventos, novos colecionadores, a juventude e a família cada vez mais presentes. Como você avalia esse crescimento?
“Ela, com o rosto coberto de lágrimas de alegria entrou no carro demonstrando toda a alegria do mundo. “
Eder – De forma positiva e com muita alegria. Carro antigo rima com família. Fico me recordando do passado. Aos se aproximar das 11:00h, os pais começavam a chegar em casa para o almoço. Naquela época, isso era corriqueiro. As famílias almoçavam juntas. Agora, vejo famílias juntas em encontro de carros antigos. É “tudo de bom”.
Vamos falar de alguns assuntos do momento. Inspeção veicular. Em seu clube como tem sido a repercussão de quem já passou por ela em sua cidade?
Eder – Felizmente em meu Estado, nem se cogita isso. Falar em inspeção veicular para veículos antigos é hipocrisia; é evidente que nenhum passara, mormente pelo volume de emissão de poluentes. Todavia, não podemos apontar o carro antigo como “um monstro destruidor de oxigênio” é evidente que pelo número de veículos antigos que atualmente existe e pelo reduzidíssimo deslocamento que eles fazem, o volume de emissão torna-se insignificante, até mesmo para o mais radical de todos os que preservam a natureza.
Há cerca de um ano e meio o Museu da Tecnologia da Ulbra, no Rio Grande do Sul, teve suas atividades encerradas, agora estão querendo fechar o Museu do Automóvel de Brasília, mantido por Roberto Nasser. Como você avalia o descaso das autoridades com a preservação dos carros antigos?
Eder – Pelo que tenho de conhecimento, o problema da Ulbra é completamente diferente do Museu de Brasília. Lá é falta de vontade dos nossos “colendos” representantes que recebem remuneração “nababesca” e por nós nada de bom fazem. O meu “xará” Roberto deveria receber é ajuda, medalhas condecorações pelo trabalho prestado.
Placa Preta. Um problema ou uma solução? Qual a sua opinião sobre o assunto?
Eder – A placa preta deveria ser mais democrática, de mais fácil acesso por parte dos colecionadores. Infelizmente, não é isso que tenho visto. São tantas taxas e entraves burocráticos para obtê-la que, dependendo do modelo do seu “velhinho”, economicamente fica inviável a sua obtenção. Ressalto que é uma conquista muito importante para o colecionador. Porém, ela já está sendo vista por criminosos como “atrativo” . Assim como jóias, elas estão se tornando proibitivas de serem usadas. Coisas do meu Brasil…
E por último, uso da cadeirinha, para as crianças. Um novo problema para quem leva a família nos eventos e o carro não possui cinto adequado e nem mesmo uma cadeira apropriada. A família fica em casa? Qual a sua opinião sobre o assunto?
Eder – Talvez possa até desagradar com a minha resposta. Porém, segurança em primeiro lugar. A vida deve ser respeitada. Acho a exigência um avanço. Todavia o governo ( Ahhh… Sempre o Governo!) deveria, à exemplo do que fez com os carros “Zero Km” baixar ou mesmo isentá-las do IPI. Por que tantas pessoas circulam sem os catalisadores do sistema de descarga em seus carros ? Simples: ele é muito caro! O governo deveria pensar mais no povo, este mesmo povo que trabalha quase 50% do ano para abarrotar os bolsos dos nossos governantes de dinheiro.
Nossa entrevista está chegando ao fim e deixamos aqui com a palavra o amigo e presidente Eder Roberto Gomes, a quem agradecemos imensamente pela grande colaboração ao Portal Maxicar.
Eder – Do fundo do coração quero dizer que, se há alguém que deva agradecer alguma coisa, este alguém sou eu. Só quem conhece o casal Fátima e Fernando Barenco sabe o quanto é bom podermos desfrutar de suas companhias. O Fernando esteve ao meu lado em vários momentos, até mesmo no triste. E lembro: só os amigos ficam ao nosso lado nos momentos tristes… Ao casal e ao Maxicar, os meus agradecimentos. Que Deus nos proteja, SEMPRE. Obrigado!
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