“Que apesar das nossas diferenças, estejamos sempre unidos pelas nossas semelhanças”
[dropcap]É[/dropcap] um desafio e tanto para uma mulher, mergulhar e fazer sucesso num universo tão essencialmente masculino, como este relacionado aos automóveis. Foi o que fez Glenys Maria Bessler, ao fundar há 7 anos o Clube Feminino de Automóveis Antigos e Especiais do Paraná — mais conhecido como o Clube Elas, de Curitiba.
— Graças à paixão de meu marido, Jacobson Borowski, acabei ingressando no antigomobilismo. — Me conta ela. Talvez esteja aí a razão do engajamento da família, que junto com todas as suas diretoras e sócias, trabalha em prol das realizações deste clube que conquistou o respeito e a admiração de todo o antigomobilismo paranaense.
Como surgiu a idéia de criar um clube de carros antigos feminino? Conte-nos sua história? E quantas associadas o clube possuí atualmente?
…comecei a notar que era um universo masculino e que as mulheres dos colecionadores tinham uma postura muito secundária e pouco participativa.
Glenys – Meu marido foi fundador de um clube de carros antigos e acabei fazendo parte da sua primeira diretoria. Trabalhei muito para esse clube e comecei a notar que era um universo masculino e que as mulheres dos colecionadores tinham uma postura muito secundária e pouco participativa. Achei que era o momento de nós, mulheres, fazermos algo diferenciado. Então fundei o Clube Feminino de Automóveis Antigos e Especiais do Paraná — o Elas.
No começo alguns debochavam, mas muita gente também incentivou e agora o apoio de outros clubes é graças a Deus cada vez maior. É raro um clube importante que não participe dos nossos eventos. Acho que tenho a capacidade de agregar os diversos grupos e suas diversidades.
Hoje temos cadastradas 60 sócias entre as que possuem seus próprios carros ou usam dos namorados e maridos e até em sociedade com irmãos..
Não são muitas as mulheres a frente da presidência de um clube de carros antigos, onde a predominância é masculina. Como tem sido a sua trajetória a frente do “Elas”? Já sentiu algum tipo de descriminação? Fale-nos de suas dificuldades, alegrias, aspirações…
Glenys – As dificuldades sempre existem, pois lidamos muito com o ego das pessoas, mas aí é que entra o diferencial feminino e a nossa capacidade de administrar conflitos, que acho que não é uma característica masculina. O fator de eu estar já a tantos anos á frente do Elas faz com que eu valorize cada vez mais o nossos voluntárias(os) e colaboradoras(es). Sempre digo que ninguém faz nada sozinho. Uma grande emoção que tive acho que foi no nosso segundo evento, quando soube que o trânsito em volta do local da exposição estava totalmente congestionado e as filas para entrar eram enormes. Comecei a chorar e quando olhei em volta de mim estavam homens e mulheres chorando também e nos abraçamos com aquela sensação do valeu a pena tanto esforço. E emoção foi ainda maior quando foi contabilizado o resultado da arrecadação: 17 toneladas de alimentos que a gente distribui hoje para várias entidades assistenciais. Quando começamos, eram duas. Hoje são quase vinte.
O formato dos encontros do Elas é muito interessante: o colecionador ou expositor doa uma cesta básica e o visitante leva 2 quilos de alimentos não perecíveis.O clube não tem renda nenhuma e contamos sempre com a generosidade das pessoas. O clube possui cadeira de rodas (intinerantes) doadas pelo Sergio Líbel, um empresário e customizador de carros dos mais competentes que conheço e recebe doações de cobertores todo ano dos irmãos Domanski, proprietários de uma tradicional malharia da nossa região. No ano passado conseguimos comprar várias caixas de um leite em pó caríssimo, especial para crianças portadoras de câncer. Não é fácil, mas são essas coisas que nos fazem continuar a conviver neste universo às vezes conflitante, porém muito apaixonante.
Destaques dos classificados
Um carro antigo vem sempre acompanhado de uma história, da infância, um presente, ou um sonho… Qual o seu xodó sobre rodas e sua história?
Glenys – Meu avô era um fã do Elas e faleceu no ano passado, com seus 95 anos e super lúcido ainda. Quando mais jovem me levava passear no seu Simca 66 em direção à estação ferroviária onde ele era funcionário federal. Por isso, acho o Simca Presidence com aquele “kit continental” um arraso, o verdadeiro automóvel clássico nacional. Minha paixão aumentou quando o Jacobson me presenteou com um MP Lafer 1975 prata com o interior e a capota vermelhos. Mas meu xodó mesmo é o PAG (Project Avand Garde) NICK um mini carro bem raro, projetado pelo designer Anísio Campos que aliás me deu seu autógrafo nocertificado de propriedade do veículo. No momento o carro está todo desmontado para sua primeira reforma , pois ainda é todo original. Fui vê-lo na oficina e me deu até uma dor no coração!
Publicamos em 2009 a cobertura do Curityba Classic Cars, que foi um grande sucesso. Fale sobre os eventos realizados pelo “Elas” e quais são as expectativas para esse ano de 2010?
As dificuldades sempre existem, pois lidamos muito com o ego das pessoas, mas aí é que entra o diferencial feminino.
Glenys – O Curityba Classic Cars foi um feito arrojado, pois o Pavilhão do Parque Barigui não recebia uma exposição de carros antigos desde os anos 90. Conseguimos reunir em torno de 400 carros da maior qualidade, modéstia a parte, um ato histórico. Para 2010 estou preparando uma surpresa! Ainda não posso falar pois estamos em negociação.
Outro feito que acho inusitado foi ter realizado uma exposição de 9 dias seguidos em um shopping parceiro em Curitiba, onde eu e minhas amigas nos revezávamos para tirarmos o pó dos 300 carros presentes que também se revezaram pois havia uma lista de espera.
O lado filantrópico, é um ponto marcante no trabalho de vocês. Conte-nos sobre esses projetos.
Glenys – Buscamos sempre unir o “belo à caridade” e fazer sempre a ação social esse é o ponto marcante do nosso clube.
A maior concentração de clubes de carros antigos esta localizada no Sul e Sudeste. Como tem sido o relacionamento de vocês com os clubes das regiões próximas aí no Sul e também com a Federação Brasileira de Veículos Antigos?
Glenys – Com os clubes como já citei o relacionamento é mais que ótimo. Pela Federação temos o maior respeito e estávamos em processo de nos tornarmos federadas, mas pedimos a isenção das taxas devido a não possuirmos nenhuma arrecadação. Mas a atual diretoria achou melhor não conceder estas isenções, por isso estamos mantendo o processo de filiação por enquanto em “stand by”. Mas acho, e meu marido também acha, muito importante fazermos parte deste órgão.
Um assunto que tem causado preocupação entre os antigomobilistas é a inspeção veicular feita pelos Detrans, que inclui os testes de emissão de poluentes também para carros antigos. Como anda esta questão no Paraná?
Glenys – Estou tentando um patrocinador para um palestrante presidente de um clube de Brasília que conhecemos em Águas Lindóia. Ele tem uma tese bem focada de que se não nos mexermos logo, corremos o risco de somente podermos levar nossos carros de plataforma num futuro não tão distante.
Placa Preta: o assunto mais polêmico no meio antigomobilista. Gostaria de ouvir as suas considerações sobre o assunto.
Glenys – A banalização é um risco cada vez maior. A fiscalização deveria ser feita pelo antigomobilista comum, já que os clubes e a Federação Brasileira de Veículos Antigos não têm poder de polícia, como disse o presidente Henrique Thielmann em recente pronunciamento.
Antigomobilismo em família. Como é essa relação??
“As dificuldades sempre existem, pois lidamos muito com o ego das pessoas, mas aí é que entra o diferencial feminino.
Glenys – A relação é muito boa! Meu marido é um entusiasta e acho que também gosta do Elas. Meu filho cuida da informatização. Minha mãe, muito religiosa, sempre reza pelo sucesso dos nossos eventos.
Glenys – Agradeço ao Maxicar pela oportunidade e parabenizo pelo trabalho que o Portal realiza durante o ano todo. Uma referência, sem dúvida para o antigomobilismo.
Nossa entrevista está chegando ao fim. Com a palavra a amiga e presidente Glenys Bessler, para que deixe uma mensagem aos antigomobilista que prestigiam o Portal Maxicar. E agradeço por podermos mostrar a cada mês um pouco mais sobre os clubes de carros antigos brasileiros..
A minha mensagem é a de que apesar das nossas diferenças, estejamos sempre unidos pelas nossas semelhanças.
Saúde a todos!
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