Uma paixão de criança…
*André Candreva
Amigos, minhas lembranças da infância me remetem a um passado nostálgico. Vivi momentos marcantes e felizes sem me dar conta disso. Era uma época diferente. Sem a pressa dos dias atuais. Recordo-me de uma viagem a Ouro Preto/MG feita em um Corcel marrom, duas portas, no ano de 1978 e que até hoje me lembro perfeitamente do barulho suave do motor. Das idas ao sítio de meu pai em uma Rural ou em uma C-10, ficou a imagem da aventura pelas estradas de terra. Ficava radiante ao me imaginar dirigindo um carro desses. Assim como eu, acredito que qualquer criança também imaginava a mesma coisa. E isso fica marcado na memória. E nessa fase da vida, meus brinquedos favoritos tinham rodas… claro.
Sou de uma cidade do interior de Minas Gerais, Congonhas – berço do maior conjunto arquitetônico do barroco mineiro, esculpido pelo incomparável Mestre Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Sempre residi (até me casar) próximo a estação ferroviária da cidade e passava boa parte do meu tempo contemplando as composições de trens que por ali trafegavam, transportando as mais variadas cargas. O que mais me fascinava eram os automóveis transportados em vagões “cegonhas”. Lembro-me de uma composição só de jeeps que seguia para Belo Horizonte. Mas o que mais frequentemente se via eram os Fiat 147 (curiosamente este foi meu primeiro carro) sendo transportados em direção ao Rio de Janeiro e a outros estados, naquele final da década de 1970. Debruçado na janela da minha casa eu ficava aguardando, eufórico, a passagem do próximo trem só para ver os carros nos vagões. Coisa de criança…
Sou de uma cidade do interior de Minas Gerais, Congonhas – berço do maior conjunto arquitetônico do barroco mineiro, esculpido pelo incomparável Mestre Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.
No início dos anos 1980 os trens deixaram de transportar os carros e os caminhões passaram a fazer essa função, para meu descontentamento.
O tempo passou, mas a paixão por carros manifestada na infância nunca me abandonou e o automóvel continuou a fazer parte do meu imaginário. Atento, observo todos os carros que passam nas ruas, onde quer que eu esteja, na esperança de rever aqueles automóveis que me fascinaram em meus primeiros anos de vida.
A leitura, um hábito saudável amplamente incentivado por meu pai, me ajudou muito a entender o universo do automóvel. Ainda adolescente, procurava nas bancas de jornais da cidade, revistas sobre carros ou corridas (sou apaixonado pela velocidade) e que culminou numa inevitável coleção.
Livros e manuais de automóveis também passaram a frequentar minha estante, criando um acervo diversificado sobre o assunto. E recorro-me a eles constantemente.
Destaques dos classificados
Em 2008 fui convidado a participar de um programa cultural na rádio AM local e a pauta era minha paixão pelo automóvel e o mundo da velocidade. Acho que a entrevista foi positiva, pois me rendeu dias depois um convite, que aceitei de imediato, para fazer parte da equipe de esportes dessa emissora e levar aos ouvintes todas as informações sobre automobilismo. E como uma “coisa puxa a outra”, não tardou e criaram um quadro para falar dos automóveis nacionais que marcaram época. Isso me impulsionou a criar um blog e nele reunir as histórias dos automóveis e do mundo da velocidade.
O começo foi tímido mas com o tempo fui criando meu próprio perfil no rádio e o quadro foi tomando forma. Os amigos e até mesmo pessoas que não conhecia, passaram a ouvir e a elogiar os temas abordados, seja de carros antigos, seja das competições automobilísticas.
Atento, observo todos os carros que passam nas ruas, onde quer que eu esteja, na esperança de rever aqueles automóveis que me fascinaram em meus primeiros anos de vida.
Como a rádio tem uma audiência grande na cidade e região, tornei-me de certa forma, referência quando o assunto é sobre carros antigos ou corridas. E nessa mesma direção, o blog também passou a ser acessado cada vez mais por aqueles que se identificam como o tema.
Após mais de dois anos como comentarista de rádio, especializado em automobilismo e vez ou outra falando também do automóvel antigo, acredito que foi por essa razão que acabei sendo convidado a fazer a locução do primeiro encontro de autos antigos de Congonhas, organizado pelo CAARR – Clube de Autos Antigos Rota Real, formado por antigomobilistas das cidades de Conselheiro Lafaiete, Carandaí, Ouro Preto, São Brás do Suaçuí, Ouro Branco e Congonhas. Confesso que já nutria um desejo de reunir proprietários de autos antigos em um local para uma exposição pública. O que eu não sabia é que já existia um grupo de amigos com o mesmo propósito. E o destino se encarregou de nos unir. Nessa hora é que eu vi minha paixão de criança ficar mais forte…
Foi um grande desafio pessoal. Nunca tinha frequentado um encontro de autos antigos, não sabia como seria e nem como conduzir o evento. Pedi ajuda a quem já havia participado como expositor, mas segui meu instinto. E toda a paixão pelo carro, manifestada na infância, aflorou de vez. De microfone na mão saí por entre os carros narrando para o público um pouco da história de cada um ali expostos.
As amizades foram surgindo entre uma conversa e outra. Aproveitei-me disso para deixar que alguns expositores externassem para o público suas paixões pelos automóveis. Foi uma interação muito grande entre o expositor e os admiradores daquelas maravilhas sobre rodas. Estava nítido nos olhos do antigomobilista a satisfação em ter e preservar um automóvel fabricado décadas passadas, e ainda em manter viva a sua história e sua importância no desenvolvimento do nosso país.
Enfim, tudo não passa de uma preservação de histórias que jamais devem ser esquecidas, algo que fez parte de uma época que deixou saudades e que não volta mais.
Foi um grande desafio pessoal. Nunca tinha frequentado um encontro de autos antigos, não sabia como seria e nem como conduzir o evento.
Durante o evento foram mais de uma centena de veículos expostos, de várias marcas, modelos e nacionalidades diferentes que fizeram o grande público que ali esteve viajar no tempo. Para alguns foi a primeira oportunidade de ver um autêntico motor v8 em pleno funcionamento ou um carro com mais de 5mts de comprimento. E para outros foi uma ótima oportunidade de rever essas maravilhas sobre rodas.
Pelo lado pessoal, o encontro propiciou novas amizades e a ampliação do conhecimento sobre carros. E contribuiu na realização do sonho de criança…
E sempre que houver um encontro desses, bem caloroso, prestigie. Não importa qual é o seu veículo – e nem precisa ter um, pois tenho certeza de que você sempre será tratado com carinho e respeito e fará novas amizades.
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*André Candreva – Analista de Sistemas e aficionado por carros antigos desde criança. Entusiasta e conhecedor de automóveis de produção nacional, de diferentes marcas e modelos. Apresenta o quadro “Por Dentro dos Boxes” no programa de esportes “Giro Esportivo” da Rádio Congonhas/AM 1020Khz e também o quadro “Memória do Automóvel” na mesma emissora, que relata as histórias do veículos nacionais que marcaram época. Publica no blog “Por Dentro dos Boxes” informações do mundo da velocidade e do universo dos carros antigos. [/box]
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