II Encontro Brasileiro de Autos Antigos – Águas de Lindóia, SP
O carisma de um evento que se (re)consolida
1.200 veículos e público estimado em 500 mil pessoas fizeram o sucesso da 2ª edição
[dropcap]D[/dropcap]esde o ano passado o nome do evento mudou e sua organização também. Mas é fato que Águas de Lindóia se re-consolidou como a ‘capital brasileira dos automóveis antigos’. Mesmo com a famigerada crise financeira e política por que passa o país, a 2ª edição do Encontro Brasileiro foi um sucesso, como provam os números: cerca de 1.200 veículos inscritos — sendo 489 em exposição e 700 a venda — e público estimado de 500 mil pessoas em 4 dias de evento, segundo dados da organização.O belíssimo final de semana prolongado — proporcionado pelo feriado de Corpus Christi — de 4 a 7 de junho, levou à estância hidromineral do interior de São Paulo antigomobilistas de todo o Brasil e também de nossos vizinhos sul-americanos.
É claro que não poderiam faltar algumas “figurinhas carimbadas” presentes todos os anos em Águas de Lindóia, como o Volkswagen Schwimmwagen 1944 de Irineu Cicarelli. O carro anfíbio da II Guerra Mundial navegou com a desenvoltura de sempre pelo lago da Praça Adhemar de Barros, para admiração do público.
Outra figura marcante é Mário Ferreti, o maior colecionador de veículos da extinta marca Studebaker em todo o Brasil. Em seu acervo particular, automóveis e pick-ups originais e também modificados.
Mais uma vez esteve presente também a caravana do Clube do Carro Antigo do Piauí, que de novo fez questão de percorrer os cerca de 3.000 quilômetros rodando, o que rendeu aos intrépidos aventureiros uma homenagem por parte da Federação Brasileira de Veículos Antigos.
Destaques dos classificados
Entre as atrações extra-exposição, uma concorrida palestra do presidente da FBVA, Roberto Suga, sobre as recentes mudanças na legislação sobre veículos de coleção, implementadas a partir da publicação da nova Carta de São Paulo, debatida em workshop de clubes realizado no ano passado. Também um bate-papo do eterno ás das pistas, Bird Clemente, conhecido principalmente como um dos principais nomes da Equipe Willys, na década de 1960.
Grande destaque para modelos do início do século XX, como o encantador francês Lê Zebre 1909 amarelo, com sua buzina em forma de serpente, faróis de carbureto e volante do lado direito. O carro que foi importado pela família de Santos Dumont. Aliás, o ‘pai da aviação’ foi o responsável pela importação do primeiro automóvel para o Brasil: um Peugeot, em 1891! Menos simpático, mas não menos importante, o Benz 1911 Landaulet (chofer separado dos passageiros) pertenceu ao Cardeal Arcoverde — primeiro cardeal latino-americano, morto em 1930, no Rio de Janeiro. E o que dizer do italiano Isotta-Franchini 1927 — premiado em Campos do Jordão, SP — exibindo seu sofisticado adorno de cristal Lalique em forma de águia sobre o radiador?
Já o Fiat 509 A Torpedo fabricado 1927 e também com volante do lado direito, está no Brasil desde zero quilômetro e permanece pouquíssimo rodado até hoje, por questões alheias à vontade de seu primeiro proprietário, um fazendeiro de Campinas. Sua odisséia foi contada aqui no Portal Maxicar, pelo fotógrafo especializado em automóveis Cláudio Larangeira. Vale a pena conferir.
Outro alvo de reportagem aqui no Portal Maxicar, o francês Talbot DC fabricado em 1923 é exemplar único aqui no Brasil. Foi adquirido em 2007 em estado deplorável em São Paulo e teve sua restauração a cargo de um brilhante profissional de São João Del Rei, MG. Acompanhamos todo o processo, concluído em 2009.
Os fãs dos ‘muscle cars’ dos anos 1960 e 70 não tiveram do que se queixar. Como já é tradição em Lindóia, havia magníficos exemplares importados, como os “Mopars’ Dodge Charger, Dodge Challenger e Plymouth GTX 440; Mustangs, Camaros e Oldsmobile Cutlass 442 Conversível. Claro que não podemos deixar de mencionar os nossos ‘muscle cars’: os Mavericks GT e os Dodges Chargers.
A marca de foras-de-série nacionais Miura esteve representada por exemplares de diversas versões. O Sport 1977 vermelho foi premiado. Trata-se de um dos primeiros Miura fabricados — o de nº 12 — e que foi o primeiro a receber placas pretas, emitidas pelo Miura Clube do Rio de Janeiro.
Apaixonado pela linha Gordini, o colecionador Artur Vidal, de São Paulo, teve a alegria de ver seu recém restaurado Renault-Willys Teimoso premiado em Águas de Lindóia. Trata-se da versão popular do Gordini, cujas vendas foram baixas e os poucos que restaram acabaram sendo equipados ao longo do tempo, o que o torna hoje muito raro nos padrões originais. O mesmo aconteceu com os populares de outras marcas: VW Fusca Pé-de-Boi; Simca Profissional; DKWs Caiçara e Pracinha. Vidal — que teve o prazer de receber o seu troféu das mãos do ex-piloto Wilson Fittipaldi — possui também sua garagem um Dalphine e um Gordini.
Águas de Lindóia se deu ao luxo de ter em exposição dois exemplares do DMC-12 DeLorean, esportivo americano de baixa produção dos anos 1980, imortalizado pela triologia ‘De Volta para o Futuro’, com Machael J. Fox. Com carroceria em aço inox, curiosamente, algumas pessoas ficam decepcionadas ao conhecerem de perto o carro e constatarem ser um carro ‘normal’, pois esperavam ver toda aquela parafernália cenográfica usada nos filmes, que transformavam o DMC-12 das telas em máquina do tempo.
Não poderiam faltar também os clássicos americanos dos ‘anos dourados’, com diversos exemplares da Cadillac, Buick, DeSoto, Mercury, Chevrolet, Dodge e Ford. Entre os utilitários, belas pick-ups norte-americanas Chevrolets 3100 e Ranchero; e Fords F1 e F100, além das Studebakers já citadas. E ainda as nacionais Dodge D100 (bastante rara), Chevrolet Brasil e C10; e Ford F100. O Furgão Chevrolet 3100 ‘Boca de Sapo’ 1951 foi restaurado com pintura idêntica à original dos veículos de entrega das batatas Fritex, antiga marca no mercado até hoje.
E o grande vencedor do prêmio The Best in Show deste ano foi o americano Cord L-29 fabricado em 1929. O modelo é menos famoso que os 810 e 812 lançados na década seguinte e que tinham como característica mais marcante os inéditos faróis escamoteáveis. Alguns exemplares destes modelos já estiveram em Águas de Lindóia em anos anteriores. No entanto, o antecessor L-29 era igualmente sofisticado e inovador. Foi, por exemplo, o primeiro automóvel americano com tração dianteira. Mas foi lançado em má hora: logo depois da famosa derrocada da Bolsa de Valores de Nova York. Por isso foram vendidos apenas cerca de 4 mil unidades, o que o torna hoje raríssimo e hipervalorizado.
Texto e edição: Fernando Barenco
Fotos: Odair Ferraz
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