“Recebemos os antigomobilistas para uma prosa… com nosso “jeitim” de ser, de mineiro do interior, uai!”
[dropcap]A[/dropcap]pesar do tempo curto à frente da presidência do clube (apenas 6 meses), sua gestão já serviu para mostrar a capacidade de unir outros clubes e os antigomobilistas da Grande Belo Horizonte. Com muita alegria, trago para mais uma de minhas entrevistas o grande amigo e Presidente do Clube de Veículos Antigos de Nova Lima, João Baptista Jorge Pinto Filho, que conta um pouco de sua vida e sua trajetória no antigomobilismo. Para nós, essa entrevista tem um gosto diferente, pois Jorge Filho — como é mais conhecido — já há anos é um grande colaborador e divulgador do Portal Maxicar, sendo o responsável por várias coberturas de encontros de Minas Gerais e por outras matérias legais que temos publicado. Então, aproveito este espaço para fazer um agradecimento especial.
Sou Oficial de Justiça Federal, nascido em Barbacena-MG. Já residi, respectivamente, em Congonhas-MG, Curvelo-MG, Guarapuava-PR, Curitiba-MG, Florianópolis-SC, Barbacena-MG e Belo Horizonte-MG, por causa das constantes transferências de meu pai, na firma onde trabalhava. Formei-me técnico em mecânica e saí do CEFET MG para a FIAT Automóveis S.A., em Betim, onde trabalhei em um dos controles de qualidade. Depois mudei radicalmente de área, cursando Direito na UFMG e especializando-me em Direito Social. Tenho um time particular de futsal, sou o goleiro e, na linha, meus quatro filhos, os atleticanos Rodrigo, João Paulo, André e Felipe..”
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Quando foi fundado o Clube de Veículos Antigos de Nova Lima? Atualmente quantos membros possue? O que é preciso para se filiar?
Há alguns anos, um grupo de amigos da cidade voltava de um encontro em Águas de Lindóia – SP a bordo de uma Chevrolet Amazona, quando o proprietário e motorista, Alexandre Santos, lançou a semente: “Porque não criamos um clube de carros antigos em Nova Lima?”. Essa semente germinou, ganhou adeptos e em 25 de abril de 2006 foi fundado oficialmente o Clube de Veículos Antigos de Nova Lima. Atualmente conta com cerca de 70 filiados, mas, tem cerca de 1000 seguidores ou simpatizantes na nossa fanpage no Facebook, espalhados por Minas Gerais. Para se filiar ao clube, basta ter um veículo em qualquer estado, com 25 anos ou mais, e ser adepto da causa antigomobilista. Aceitamos em nossos eventos, repetindo, carros em qualquer estado, porque, às vezes, um fã de carros antigos não tem como comprar um carrão impecável, mas consegue comprar um carrinho, que precisa de uma reforma geral, que será feita ao longo do tempo. O espírito dele é o mesmo de quem tem um Biarritz premiado, portanto, nós do CVANL achamos que essa pessoa não pode ficar de fora dos nossos encontros. Atualmente não há cobrança de taxas mensais nem outras de qualquer natureza para os filiados do nosso clube. Apenas, nos encontros mensais, pedimos doações de alimentos e agasalhos para a Casa Paz, que cuida de menores abandonados na nossa cidade e que o clube apadrinha.
Fale sobre as atividades do clube. Qual a sua avaliação do 1º Encontro Anual de Nova Lima, realizado em abril deste ano.
O município de Nova Lima é muito extenso, com diversos distritos e povoados espalhados nos seus 428 quilômetros quadrados. Ao longo desses nove anos de existência, o clube procurou fazer chegar a todas as áreas do município os benefícios de um encontro de carros antigos. Além do tradicional encontro mensal, no Posto Jambreiro, foram realizados eventos na Praça Bernardino de Lima, a principal da cidade, no Clube das Quintas, em São Sebastião das Águas Claras (Macacos), no Vale do Sol, no Condomínio Bosque do Jambreiro, no Condomínio Veredas das Gerais, no Museu da Mina de Morro Velho, na Vila da Serra e Vale do Sereno. Temos também um encontro anual na Igreja Anglicana de Nova Lima e outro na casa do primeiro presidente do clube, Alexandre Amarante. Este, um encontro muito especial, onde os carros participantes ficam expostos em seu campo de futebol. São abertas suas garagens e sua oficina particular para visitação. O clube também ultrapassou as fronteiras do município, ao realizar encontros no Bairro Santa Lúcia, em Belo Horizonte, em parceria com o Clube V8 Muscle Cars de Minas Gerais e na vizinha cidade de Rio Acima, a convite da Prefeitura Municipal.
Para se ter uma noção da extensão do nosso município, o 1º Encontro Anual do CVANL aconteceu no Alphaville Nova Lima, distante 39 km do Centro, sobre o qual faço uma avaliação positiva, porque foi realizado com apenas dois meses de preparo, contados da posse desta diretoria até o dia do evento, sem um centavo de patrocinadores, sem qualquer auxílio da prefeitura, onde conseguimos reunir em torno de 300 veículos vindos das mais diversas regiões do estado. Vamos aperfeiçoar nos próximos, mas o importante era quebrar o jejum e realizar o primeiro. Podemos dizer que foi um sucesso, tanto que, fomos procurados por três representantes do Alphaville, querendo que realizássemos lá nossos encontros mensais.
Destaques dos classificados
A grande dificuldade de todo clube é organizar um evento em sua cidade. Por exemplo, falta de apoio do poder público e falta de patrocínio de empresas ligadas ao automobilismo, principalmente as próprias fabricantes de automóveis. Em sua opinião o que poderia ser feito para mostrar que a cultura do antigomobilismo pode gerar renda para o turismo da cidade e a conscientização das empresas de que o antigomobilismo representa o começo de tudo na história do automóvel?
Um encontro de carros antigos leva à cidade onde chega alegria, entretenimento, diversão, história e lembranças boas do passado através dos automóveis. Veículos raros em exposição, negócios especializados e atrações culturais são garantia de sucesso de público, que somado aos antigomobilistas e suas famílias, movimentam a rede hoteleira, restaurantes e o comércio local, gerando divisas ao município. Os prefeitos que descobriram o poder que tem um encontro de carros antigos, não abrem mão de realizá-los em suas cidades e têm consciência de que o que investem nesses encontros é pouco comparado ao que a população e o município recebem em troca. Mas nem todo prefeito tem sensibilidade e interesse em descobrir isso. No setor privado, montadoras, concessionárias, firmas ligadas a peças e produtos de automóveis, talvez devessem receber um assédio mais veemente por parte de clubes e entidades que representam o antigomobilismo, com materiais, reportagens, vídeos, mostrando como é um encontro, a quantidade de pessoas que vêm o nome do patrocinador exposto e o nome da firma ligada a um evento alto astral, contagiante, que só traz benefícios e deixa marcas na memória. Além disso, essas firmas têm que saber que os proprietários de antigos são clientes constantes, que não economizam para deixarem seus carros perfeitos, sempre em condições de viagem e exposição.
Nós do Portal Maxicar, que sempre publicamos as coberturas dos encontros mensais de seu clube (cujo material, aliás, é enviado por você mesmo!) notamos que eles são sempre muito prestigiados pelos clubes da Grande Belo Horizonte e região. Me conte qual o segredo dessa mega popularidade.
Nossos clubes irmãos, da região metropolitana, são muito generosos conosco e retribuímos isso, sempre que podemos. O Clube de Veículos Antigos de Nova Lima, desde a fundação, trilhou pela simplicidade e por receber bem a todos os visitantes. Acho que recebemos os antigomobilistas para uma prosa, como se estivéssemos em casa, à beira de um fogão à lenha, tomando um café, comendo um pão de queijo, com nosso “jeitim” de ser, de mineiro do interior, uai.
Carro Antigo: Cuidar, passear, comprar uma peça, restaurar. Parar na estrada e ter por exemplo, um simples carburador para trocar e logo aparecem companheiros para ajudar. É só desfilar pelas ruas que você volta para casa com novas amizades. Nos carros de hoje é tudo tão frio. Se quebrar, chame o reboque. Nem pensar em descobrir qual foi o chip que pifou. Nem adianta empurrar que não vai pegar…. Que poder de sedução é esse que ele exerce sobre as pessoas?
Nos seis mil anos de história da civilização, nenhum invento exerceu tanta influência sobre a humanidade como o automóvel. Inventado há pouco mais de cem anos, rapidamente, tornou-se fundamental na vida de todos. Com o crescimento acelerado da população e do consumo, as fábricas precisaram otimizar e multiplicar a produção, não podendo se darem ao luxo de fabricar um veículo com o esmero de antigamente. Aí, entramos nessa história, nós, antigomobilistas, salvando e preservando os clássicos, sem medirmos esforços. Como os carros antigos são muito diferentes dos atuais — alguns se assemelham a uma obra de arte — exercem esse fascínio sobre todos, de qualquer idade, causando grande admiração e curiosidade. Você estaciona o carro e, de repente, fica rodeado de pessoas que nunca tinha visto antes, cheias de intimidade com você, querendo saber mais sobre seu veículo ou contando uma história do tipo: “Meu avô teve um igual!”. Por causa disso, um antigomobilista tem que ser muito social. Em viagens é a mesma coisa. Quando um carro novo para na estrada com problemas, ninguém liga. Pensa-se: o proprietário vai pegar o celular e resolver. Ou então: a estrada é privatizada, logo vem ajuda. Quando um carro antigo para em um acostamento, pode ser em qualquer estrada, logo se forma uma fila atrás, em solidariedade. Mesmo que ele não tenha problema algum.
Faça um balanço de sua atuação à frente da presidência e nos fale o que considera como a maior dificuldade para se manter um clube.
O presidente de um clube nada mais é que seu primeiro empregado. Por isso, sou o primeiro a chegar ao local de nossos eventos para prepará-los e o último a sair, o que apaga as luzes. Sem contar que, não raro, dias antes, vou ao local do encontro, varro, capino, podo árvores, pinto e lavo, quando isso é necessário, para receber bem a todos, em um ambiente agradável. Nesses seis meses à frente do clube, conseguimos realizar nosso 1º grande encontro anual, fomos convidados por duas multinacionais para realizarmos eventos com carros antigos, a Uber e a rede americana Sam’s Club. Fomos convidados também, pela Secretaria de Cultura de Belo Horizonte para fazermos uma exposição com carros antigos na Virada Cultural de BH 2015. Um final de semana com música, fotografia, dança, teatro, literatura, cinema, artes plásticas e intervenções urbanas culturais, uma das quais, a exposição de antigos. Quanto à maior dificuldade em se manter um clube, ela não existe no CVANL. É a divisão. Nunca aconteceu, nem acontecerá no nosso clube, porque não tomamos nenhuma medida unilateralmente. Todas as decisões são tomadas e analisadas em conjunto, em reuniões periódicas, pela diretoria coesa, fraterna, super unida, ao melhor estilo mosqueteiros: um por todos e todos por um. Por isso, permita-me colocar aqui o nome dos meus pares que administram comigo o clube e formam nossa diretoria: Alexandre Amarante, Alexandre Santos, Carlos Alysson, Evandro Kalil e Arimatéa Fernandes (todos fundadores) e ainda, Otávio Scarpelli e Henrique Nelson Filho.
Um momento marcante em seu clube que mereça destaque.
Acho que foi a realização do 1º encontro anual, anseio de todos, mas que não saía do papel. Vi nele a grande união dos clubes de Minas Gerais. Recebemos o apoio dos clubes de Congonhas, Conselheiro Lafaiete, Barbacena, Leopoldina, Itabirito, Cachoeira do Campo, Ouro Preto, Mariana, Oliveira, Pouso Alegre, Poços de Caldas, Bela Vista de Minas, Betim, Contagem, Nova Era, Raposos e Rio Acima. E ainda do Instituto Cultural Veteran Car, Clube das Vertentes, Galaxeiros das Gerais, DKWeanos das Gerais, Portal do Fusca, Opaleiros da Real, Gasolina na Veia e Ferrugem na Pele, The Bugs Brazil, Rota Real, Clube do Puma MG, Clube do Carro Antigo de Bello Horizonte e do nosso conterrâneo, Volks Clube Nova Lima. Contamos ainda com a presença de Boris Feldman e sua preciosa colaboração na divulgação do encontro. Com o apoio desse nome, qualquer evento automobilístico dá certo.
Como e quando antigomobilismo começou a fazer parte de sua vida e quais os seus xodós sobre rodas? Alguma história interessante a bordo de algum deles?
Em 1995 adquiri meu primeiro carro antigo, um Fusca 1968. De lá para cá fui tomando gosto em preservar carros e adquirindo outros. Atualmente, na garagem, cuido de uma Mercedes-Benz 280 S, de um Mercury Grand Marquis, de um Fiat Prêmio, que conquistou placas pretas há pouco tempo e de um Farus Quadro, o último fabricado, comprovado por documentos. Mas meu xodó, xodó mesmo é um Dodge, do qual não posso falar aqui porque ele não é antigo (ainda). Sou fã incondicional da sigla MOPAR.
Soube que recentemente você esteve viajando por vários países da Europa e que lá teve a oportunidade de conhecer alguns antigomobilistas. Poderia me contar com foi essa experiência?
A Europa é exemplar na preservação da história, da cultura e das artes. Isso acontece também com automóveis. É prazeroso andar pelas ruas e ver muitos carros antigos dividindo espaço com os novos, sendo usados no dia a dia. Outra coisa comum por lá são concessionárias, onde o espaço principal do salão é ocupado por um carro antigo da marca. Vi isso em concessionárias Bentley, Rolls Royce, Ferrari, Lamborghini, entre outras. Quando estava em Lisboa aconteceu sim, um fato interessante: estava com a camisa do CVANL quando um casal perguntou: “Você pertence a um clube de carros antigos?” Apresentei-me como presidente do Clube de Nova Lima e começamos a conversar. Almoçamos juntos nesse dia e à noite nos encontramos novamente para jantarmos. Era o colecionador português, Carlos Elvas, diretor técnico do Clube de Veículos Antigos de Goiás, ex-piloto de stock-car, jurado em Águas de Lindóia, e sua esposa, Célia Elvas, diretora social do mesmo clube. Quanto aprendizado! Carlos Elvas é um professor em antigomobilismo. Um conhecia os trabalhos do clube do outro através daqui, do Maxicar. A conversa, acompanhada por um saboroso alentejano tinto, só teve fim porque, distraídos, nem tínhamos percebido que o restaurante já havia fechado.
Nossa entrevista está chegando ao fim e deixo aqui com a palavra o grande amigo e presidente Jorge Filho, a quem agradeço imensamente pela grande colaboração ao nosso Portal Maxicar e a todos que nos prestigiam com suas visitas, para que possam conhecer um pouco mais sobre os clubes de carros antigos brasileiros. O espaço é todo seu!
Sou eu que agradeço a honra e a oportunidade de ser entrevistado por você, Fátima, e mostrar um pouco do nosso Clube de Veículos Antigos de Nova Lima, do qual me orgulho muito em pertencer. Você sabe que o Portal Maxicar é uma unanimidade entre os antigomobilistas? Viajo e participo de encontros por todo o Brasil. Em toda roda de conversa surge o nome Maxicar. Só para citar alguns exemplos. Estive no Amazonas, em Manaus em um encontro com o presidente Humberto Horta, do clube de lá. O Maxicar foi assunto na conversa. Estive no Rio Grande do Sul, em um encontro em Canela, com o presidente Tiago Parmegiani do Veteran Car Club Hortênsias – que engloba as cidades de Gramado e Canela. O Maxicar foi assunto na conversa. Há pouco tempo, conversando pela net com Alexander Gromow, em São Paulo, o Maxicar foi assunto na conversa. E até lá na Europa, como descrevi na resposta anterior, o Maxicar foi assunto na conversa com Carlos Elvas, diretor do Clube de Goiás. Ou seja, de norte a sul do país, o Brasil antigomobilista se encontra no Maxicar. Parabéns ao casal Fernando Barenco e Fátima Barenco, que consegue fazer deste portal um símbolo de união e de encontro dos aficionados pela preservação da história do automóvel.
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