Uma visita ao Museu de Ciências de Londres
Um dos cartões postais da cidade, ele possui um salão dedicado aos veículos automotores
A primeira seção do salão, mostra alguns micro carros de sucesso. Logo após a 2ª Guerra Mundial, a Europa estava devastada, em ruínas, precisando se reconstruir completamente e no meio desse esforço surge o microcarro. Um carrinho com uma ou duas portas, três ou quatro rodas, motores de 50 a 700 cilindradas, preço acessível, mecânica fácil e muito econômico. Ali estão:
BMW ISETTA 300, 1961. Chamado pelos ingleses de ‘bubble car’, originário da Itália, começou a ser produzido em 1953. Depois foi produzido, sob licença, na Espanha, Bélgica, França, Brasil, Alemanha e Reino Unido.
MESSERSCHIMITT KR 200 DE LUXE, 1960. Foi produzido pela ex fábrica alemã de aviões de mesmo nome, a partir de 1950. As três rodas, o perfil baixo e faróis esportivos tornavam esse carro incomum até entre os microcarros. Tinha motor dois tempos, refrigerado a ar e se deu bem na Alemanha pós-guerra. Percorria 31 km com um litro de combustível.Tinha o banco do passageiro atrás do banco do motorista, assim, as pessoas ficavam como numa cabine de avião. A produção do Schimitt encerrou-se em 1964. Com o crescimento da economia alemã, cresceu junto a procura por carros maiores.
VESPA 125 SCOOTER, 1948. Produtores de motocicletas também foram obrigados a considerar novos e econômicos modelos. O mais influente, o da Vespa, reinventou o conceito de motocicleta, a tornando atraente para um público que nunca havia considerado a possibilidade de usar um transporte em duas rodas. Começou a ser fabricada em 1946 e esse modelo exposto, 1948, era um lançamento da Piaggio, com novo motor em cilindro único, de 125 cc, velocidade máxima de 70 km/h e assoalho em lugar de duas placas para os pés. Pela primeira vez, o motor e a montagem da transmissão estavam diretamente sobre a roda. O bagageiro poderia acomodar um banco para o garupa. No primeiro ano foram produzidos 19.882 unidades desse modelo que protagonizou a expansão das scooters.
Ao lado da seção dos micro carros, no centro das atenções, sobre cavaletes, um incrível Panhard 1895 (fotos acima). Não se trata de uma réplica, como se vê por aí em carros dessa idade. Foi o primeiro carro importado pela Inglaterra. Foi um parlamentar inglês que o levou para a Grã-Bretanha para o desenvolvimento e fabricação de carros na Inglaterra. Por isso, é o único carro do museu cercado por uma proteção de vidro e um segurança atento, ao lado. A Panhard era originalmente chamada de Panhard & Levassor. Um igual a esse ganhou a primeira corrida mundial de motores da França. O primeiro veículo a circular em Portugal também foi um Panhard Levassor. A Panhard usava motores Daimler, produzidos sob licença na França. Eram exemplares únicos. Não havia produção em série e faziam uso de pedais para iniciar a transmissão usando uma corrente dentada.
Destaques dos classificados
Como o pé direito do salão é muito extenso, pode-se ver ali uma cena interessante. Seis carros sobrepostos que fizeram sucesso dentro e fora dos países onde foram fabricados. São eles:
HINO MOTORS CONTESSA, 1962. O Hino Contessa foi o precursor do carro mais vendido no mundo em todos os tempos. Foi o primeiro carro produzido no Japão sob licença de um fabricante europeu, a Renault. Foi desenvolvido grande parte em cima do Renault 4 CV. Como era refrigerado a ar, não tinha grade frontal e foi fabricado de 1961 a 1967. Em 1966 a Hino Motors foi comprada pela Toyota e em 1967 tirou de linha o Contessa e em seu lugar começou a fabricar o Corolla.
SAAB 93, 1956. Com motor dois tempos, três cilindros, 748 cc e 33 cv de potência, foi o primeiro carro exportado pela Suécia. A SAAB era fabricante de aviões, mas com o final da 2ª Grande Guerra, passou a produzir automóveis. Por causa disso, já saíam modernos, com freios hidráulicos e suspensão frontal independente. 1960 foi o último ano de fabricação desse modelo.
MORRIS MINOR MM, 1950. Foi apresentado no London Motor Show de 1948 e foi considerado o carro britânico compacto de massa mais amado, tendo sido vendidos mais de um milhão e meio de unidades. Seu preço era muito competitivo. Em 1950 custava Trezentas e cinquenta libras.
CITROËN 2 CV, 1952. Foi um dos modelos mais populares da marca, produzidas mais de cinco milhões de unidades, entre 1948 e 1990, com motor bicilíndrico, refrigerado a ar, com 375 cilindradas.
VOLKSWAGEM 1300, 1965. Em 15 de agosto de 1940, o primeiro KDF Wagen deixou oficialmente a linha de produção com o nome de VW TYP1. Em 2003, o México foi o último país a fabricar o VW, que já havia saído de linha na Europa, vinte e cinco anos antes. Essa é a resumida trajetória do Fusca, como o chamamos no Brasil. Foi fabricado em vinte países e teve mais de trinta apelidos diferentes mundo afora. Em 1972, sua unidade número 15.007.034 bateu o recorde de vendas do fenômeno Ford Modelo T.
FIAT 600, 1956. Foi apresentado no Salão de Genebra de 1955, com dois volumes e motor traseiro. O 600 teve um dos mais bem executados projetos de seu segmento e foi produzido até 1969.
Seguindo-se pelo salão, ainda é possível contemplar:
TAXI ELÉTRICO BERSEY, 1897. Com velocidade máxima de 9 milhas por hora e autonomia de 30 milhas, o Bersey era conhecido como beija-flor por causa do barulho que fazia solitário nas ruas de Londres, semelhante a esse pássaro. Num total de 77 construídos, esse modelo é o único sobrevivente.
FORD MODEL T, 1916. Lançado em 1908, o Model T ganhou notoriedade quando, em 1913, Henry Ford implantou a linha de montagem e a produção em série, revolucionando a indústria automobilística. Em consequencia, o custo de produção caiu em relação aos concorrentes e a queda de preço foi constante. Em 1908 custava US$ 850 e em 1927, US$ 290. Em 1920, mais de 50% dos veículos que circulavam pelo mundo eram modelos T, o primeiro carro global. Em 1927, quando Henry Ford atingiu a marca de 15 milhões de unidades fabricadas, encerrou sua produção. Estar frente a frente com um Model T original é uma sensação diferente de estar frente a frente com um restaurado.
ROVER GAS TURBINE CAR JET 1, 1950. Este foi o primeiro carro movido a turbina a gás do mundo. Começou a ser projetado em 1946 e foi apresentado ao público em 1950. Alcançou a velocidade recorde de 244 Km/h, para carros com turbina a gás. Quando foi lançado, era símbolo de modernidade e perícia técnica britânica, no entanto, o alto consumo de combustível, a lentidão nas retomadas e o alto custo de produção fizeram-no impróprio para a produção em larga escala.
FODEN F1 DIESEL LORRY, 1931. A Foden era a maior fabricante do mundo de veículos a vapor. Em 1931, Edwin Foden e filhos se perguntaram: gasolina, diesel ou vapor? Como o motor a diesel demonstrou ser mais simples, limpo e econômico, a Foden introduziu no mercado o primeiro caminhão a diesel da Grã-Bretanha. O protótipo F1 Flat Bed Lorry foi este primeiro caminhão e está ali, ao alcance do visitante.
MINI, 1959 seccionado. Como colocar quatro pessoas com folga em um mini carro? Quando foi lançado, em 1959, esse MINI, cortado ao meio, revelava o segredo. Motor transversal de 850 cc no pequeno cofre e os outros 80% do carro, que mede 3 m x 1,2m x 1,2m, para passageiros e bagagem. É considerado um ícone britânico, fabricado inicialmente pela BMC e depois, sucessivamente, por British Leyland, Rover, Innocenti, Austin, Morris, Riley Elf e Wolseley Hornet, até o ano 2000. Foi projetado para enfrentar a escassez de combustível no Reino Unido. Inicialmente, o projeto previa rodas de 8 polegadas, mas a Dunlop, que forneceria os pneus, rejeitou essa proposta e aceitou fazer pneus para rodas de 10 polegadas.
Assim é o Salão do Motor do Museu de Ciências de Londres. Em poucos metros quadrados, muita informação e história. Além da coincidência de estarem no mesmo campo de visão do visitante, o fenômeno de vendas, Ford Model T, o VW Fusca, que quebrou seu recorde de vendas e o Hino Contessa, precursor do Corolla, atual recordista mundial . O Museu está localizado a duas quadras do Hyde Park, na Exhibition Road, South Kensington SW7 2DD, com horário de visitação de 10:00 h às 18:00 h. A entrada é gratuita, como em todos os museus de Londres.
Texto e fotos: João Baptista Jorge Pinto Filho
Edição: Fernando Barenco
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