“É necessário incentivarmos os jovens a participar, porque isso fará criar a semente do amanhã”
[dropcap]O[/dropcap] meu último entrevistado de 2015 é natural de Congonhas, com formação técnica em mineração e empresário no ramo de locação de equipamentos pesados de atividade mineraria. Casado com Carolina e pai do Davi, hoje com 4 anos. Com muitas e muitas histórias em sua trajetória no antigomobilismo, preside há 4 anos o CAAC – Clube de Autos Antigos de Congonhas. Este mês converso com o grande amigo e presidente Robson dos Santos Elias.
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Vamos conhecer um pouco da história do Clube de Autos Antigos de Congonhas. Quantos membros possui? O que é preciso para se filiar ao clube?
Robson — O que hoje chamamos de Clube de Autos Antigos de Congonhas, teve sua origem a mais de 15 anos cujo propósito era o de somente participar de exposições e viagens. Dentre elas surgiu a viagem da fé, assim chamada por nós, cuja peregrinação com os carros antigos acontece há 11 anos, todo 1º domingo de agosto à Aparecida/SP, com a família. Esta visita começou com 03 pessoas e hoje contamos com a participação de mais de 150 devotos.
Em nenhum momento pensávamos em, de fato, criar e manter um clube de autos antigos, porém, os anos se passaram e naturalmente as cobranças aumentaram. Perguntas do tipo “Quero conhecer Congonhas; quando será o encontro de vocês?” foram se tornando frequentes.
Foi então que surgiu a necessidade de formarmos um clube que organizasse encontros de autos antigos em nossa região. Amigos e admiradores da mesma causa se uniram e em 2009 fundamos o CAARR – Clube de Autos Antigos Rota Real. Depois de quase 3 anos essa parceria não deu certo por questões meramente burocráticas – infelizmente!
Mas dessa parceira frustrada descortinou um novo propósito. Congonhas já havia decolado no seu 1º encontro em 2010 e em 2011 nasceria o CAAC – Clube de Autos Antigos de Congonhas. Passamos a fazer do nosso encontro um marco na cidade dos profetas, buscando melhorá-lo ano após ano.
Hoje o Clube de Autos Antigos de Congonhas (CAAC) possui mais de 80 filiados. Para filiar-se ao CAAC basta ser um amante do Antigomobilismo e não há pagamento de qualquer taxa ou mensalidade.
Destaques dos classificados
Que tipo de atividades o clube realiza?
Robson — O Clube de Autos Antigos de Congonhas realiza vários eventos beneficentes. O que mais se destaca é o encontro anual com a portaria revertida para doação de alimentos destinados à APAE de Congonhas. Neste ano, por exemplo, foram arrecadados e doados 1.116 toneladas de alimentos não perecíveis.
Fazemos parceria com praça de alimentação há 5 anos com Rotary Clube de Congonhas, e no ano passado dividimos com a APAE. Vários outros pequenos segmentos são beneficiados durante o evento anual, como os ambulantes de Congonhas. Apoiamos nossos artistas locais como as bandas de música, dando oportunidade de apresentação e divulgando seus trabalhos. Promovemos em parceira com o Poder Público local campanhas, como por exemplo, contra a dengue. Mantemos a parceria com a UNIARTE (União dos Artesãos de Congonhas) durante todo o ano, no encontro mensal do bate-papo dos AUTOMOBILISTAS de Congonhas e região, que acontece sempre no quarto domingo de cada mês no pátio da Estação Ferroviária da cidade. A UNIART, além de comercializar seu artesanato local, prepara e serve o tradicional ‘Tropeiro’ e outras iguarias da saborosa culinária mineira.
Realizamos ainda campanhas natalinas como a “FAÇA UMA CRIANÇA FELIZ” e neste ano apoiamos a APAE. Foram mais de 300 brinquedos doados, sempre apoiados e incentivados pelos clubes parceiros: Clube Opaleiros da Real, Clube do Quadrado, Clube do Uno de Congonhas e Lafaiete Garagem Antiga.
No mês de novembro você recebeu o título de Honra ao Mérito concedido pelo reconhecimento de seu trabalho à frente do Clube de Autos Antigos de Congonhas e JeeProfetas. Como foi para você receber esse título e como você vê esse reconhecimento dado pela Câmara Municipal ao Antigomobilismo na cidade?
Robson — Em dezembro de 2013 recebi “Moção de Aplausos” da Câmara Municipal, proposta pelo vereador Júlio César da Silva pela realização do 4º Encontro de Autos Antigos, na Romaria (espaço público que abriga eventos desse porte). Importante evento de repercussão nacional, que mantém viva a história dos automóveis e permite à população conhecer os conceitos automotivos da indústria brasileira e estrangeira.
Recentemente, fomos agraciados com o título de “Honra ao Mérito” proposto pelo Presidente da Câmara, vereador Vagner Luiz de Souza. Eu não esperava tamanha repercussão pelos trabalhados realizados à frente do CAAC e Jeeprofetas, e mantenho um desejo enorme de que as novas gerações possam continuar perpetuando esse caminho, que é cuidar da memória do antigomobilismo para refletir nas suas ações futuras.
O Clube de Autos Antigos de Congonhas, os clubes parceiros e JeeProfetas são cheios de grandes histórias e companheirismo, amizade, cumplicidade em nossas ações, uma grande família e um grande amor pela nossa Congonhas, a “Cidade dos Profetas”.
Apesar de a entrevista ser sobre o Clube de Autos Antigos de Congonhas, não poderia deixar de fora a história o JeeProfetas, o qual desde o primeiro momento tenho a honra em ser o presidente.
Na emoção das trilhas da independência, ao passar pela Estrada Real, surgiu entre amigos um comentário: “QUE LEGAL SERIA SE FIZÉSSEMOS ESTE PASSEIO DE JEEP”. Nasce neste momento a primeira chama do JeeProfetas. Entre os amigos Amantes da aventura off-road, o projeto (cujo formato é copiado por outras entidades!) foi tomando dimensões cada vez maiores com determinação e perseverança.
A princípio seria uma simples viagem, porém tomou proporções tais que transformou-se em um mega evento. Daí em diante, uma vez por ano, percorreram outros caminhos reais e os mais variados circuitos mineiros, fluminense, paulista e capixaba levando o nome de Congonhas muito além de nossas fronteiras.
O projeto JeeProfetas é 100% custeado pelos jipeiros. São 24 jipeiros distribuídos entre 12 Jeeps Willys e seus derivados e 4 veículos 4×4 de apoio com 2 tripulantes cada. Os Jeeps são adesivados em sua lataria com a figura de cada um dos profetas da cidade de Congonhas, propagando assim uma das grandes obras de arte de Aleijadinho, originando assim o nome Jeep+Profetas = JeeProfetas.
Nos seus Encontros anuais desde 2011 os troféus recebidos pelos participantes do evento são esculturas em miniatura dos Profetas de Mestre Aleijadinho, um dos principais pontos turísticos de Congonhas. Como surgiu essa ideia?
Robson — Foi tão espontâneo, aceitar esta ideia de um membro do clube, porque o objetivo era elevar o nome de nossa cidade sobre as rodas do carro antigo e JeeProfetas. Como são os 12 profetas esculpidos em pedra sabão pelo mestre Antônio Francisco Lisboa, “o Aleijadinho”, assim o faremos.
Fizemos no JeeProfetas 12 Jeep’s Willys, cada um representando um profeta (plotado em sua lataria). Serão ao longo de 12 anos as estatuetas entregues aos expositores. E a procura está a cada ano maior, pois se trata de uma peça colecionável e ninguém quer perder. São feitas artesanalmente em pedra sabão, cuja matéria-prima é abundante em nossa região, portanto, legítimas.
Como tem sido sua trajetória à frente da presidência do Clube de Autos Antigos de Congonhas? Em sua opinião, quais são as maiores dificuldades enfrentadas por um presidente de clube de automóveis antigos?
Robson — Foram muitas mudanças em tão pouco tempo. Quando o trabalho à frente do CAAC ‘decolou’, eu tinha em mente que seria muito difícil sua continuidade, mas percebi que a cada ano os eventos foram melhorando e manter essa ascensão não foi fácil. Saber ouvir as ideias e colocá-las em prática com o apoio dos membros da diretoria e dos clubes parceiros, fez com que tudo fosse fluindo naturalmente e o sucesso fosse alcançado. Delegando tarefas, dividindo as responsabilidades, mas mantendo o foco na causa antigomobilista, tornou tudo mais fácil.
Ser presidente em qualquer das situações nos exige paciência. Procuro inserir o diálogo, a disciplina, ser imparcial, conviver bem com as diferenças do grupo e ser bem quisto e parceiro ao mesmo tempo.
Como fruto de um trabalho sério à frente de um clube como o CAAC, nos permitiu ‘apadrinhar’ vários outros clubes que se espelharam em nosso trabalho e hoje realizam grandes eventos em nossa região, no qual cito o clube de Cachoeira do Campo (distrito de Ouro Preto), Cica – Clube Itabirito de Carros Antigos, o clube de Autos Antigos de Mariana e mais recentemente o Lafaiete Garagem Antiga, que nasceu de uma aspiração de várias pessoas de Conselheiro Lafaiete e região. E sem contar com os parceiros inseparáveis Opaleiros da Real, Clube do Quadrado e agora Clube do Uno, todos com suas bases em Congonhas.
Qual a visão do Antigomobilismo no Brasil? Precisamos melhorar de alguma forma, alguma sugestão?
Robson — É impressionante como vem crescendo, de algumas décadas pra cá, o movimento do Antigomobilismo no Brasil. Inúmeros clubes sendo criados, alguns com inspirações no Veteran Car Clube do Brasil. Desse movimento, por estar em ascensão, já é possível constatar que algumas datas de eventos são marcadas simultaneamente, fazendo-nos optar por qual evento participar.
A sugestão seria criar novas células estaduais e regionais, organizando-se melhor e definindo um calendário com datas fixas, o que melhoraria muito em termos de participação nos eventos. Não podemos ver os encontros como uma concorrência e sim apresentação de nossas histórias sobre rodas.
Também é visível que o segmento não é mais somente de classes de maior poder aquisitivo. Brasil à fora vemos eventos organizados com grande participação popular de todas as camadas da sociedade. Ganha o antigomobilista que escolhe onde expor sua relíquia e ganha o público que pode prestigiar e contemplar um número sem fim de raridades expostas em um mesmo lugar.
O envolvimento com carros antigos sempre está ligado a algum fato marcante na vida das pessoas que o admiram. O que o levou a ser um antigomobilista? A família já está contaminada pelo vírus da ferrugem?
Robson — Minha admiração por veículos antigos vem de longa data. As lembranças de minha infância me fazem retratar em meu dia-a-dia esta admiração. Meu saudoso pai, o Sr. Jair Elias, grande comerciante “catireiro” que durante 33 anos trabalhou na empresa CSN, transformava seus momentos de folga na oportunidade de comprar e vender carros. Sempre atento, eu ouvia suas histórias: idas e vindas para o sítio – que hoje é de minha propriedade, e também quando ele falava dos veículos “beberrões”: Cadillac, Mercury, Buick e Pontiac além dos nacionais Chevrolet, Willys, Ford, Volkswagen. Isso ficou gravado em minha memória.
Tudo nasce de uma família, se meu pai não falasse tanto de seus carros do passado, que o traziam até o sítio onde moro, talvez fosse inútil possuí-los. O que me trouxe ao Antigomobilismo foi querer experimentar as mesmas emoções do passado. Isto custa caro, mas vale a pena reviver e “Recordar é viver”. Hoje meu filho e esposa adoram participar do Clube, dos eventos e de exposições.
Sabemos que você tem uma predileção pelos carros fabricados no Brasil pela extinta Willys Overland. Tendo em sua coleção Jeep, pick-up F75, Rural e Aero Willys. Tem algum motivo especial para essa preferência? Mas sabemos que tem também modelos de outras marcas como um Bel Air 1954. Fale um pouco sobre esses outros modelos.
Robson — Falar de Willys é falar de toda minha infância. Lembro-me de uma Aero Willys 62 (bola) vinho, em que eu andava em pé no banco traseiro, olhando para aquela traseira rabo de peixe, onde no período de chuva via o movimento circular das águas. Tinha um acessório de época, 2 (duas) antenas traseiras (mesma aplicada na Simca). Jeep’s, F-75 e Rural eram os carros usados no sítio, isso quando chegou Willys na década de 60.
Em minha infância, como moro às margens da BR 040, ficava brincando de contar carros, o que hoje perderia a conta. Pelo horário sempre via passar um Aero azul claro e dizia: “quando crescer comprarei um carro desses”. Isso era no início da década de 1970. O proprietário desse Aero ficou com o veículo até falecer e sua família o vendeu. Fui atrás do carro quando soube do ocorrido, passados 5 anos. O carro veio parar na mão de um amigo que me procurou sabendo de meu interesse e fizemos o negócio. Foram 5 anos de restauração.
Dirigia muito carros Willys na minha adolescência e aprendi a dirigir em um Opala 1974 de 4 portas. O primeiro veículo que comprei foi um Fuscão 1971. Depois vieram Landau, Rural, Jeep, F-75, Bel Air 1954 (esse foi um desejo da minha esposa Carolina, que adora clássicos), Corcel GT, o Chevrolet ‘Jardineira’ 1971, Amazona 1963, Vemaguete 1967, Opala 1979, Kombi, C-10 e o Fuscão 1973.
O Chevrolet Fleetmaster 1948 era um desejo de muitos anos, e comecei a procurá-lo através de uma foto datada em 1950, que pertenceu a meu pai.
A Jardineira Chevrolet de 1971 era uma vontade dos membros do Clube em ter um ônibus antigo para viajarmos todos juntos. Foram 3 anos de procura e 1 ano e meio de restauração até ficar pronta.
O Corcel GT 1971 – que era do vice-presidente do Clube Eli Guilherme Nascimento. Eli tem no seu quintal uma dezena de carros a restaurar e no meio desses tinha este Corcel e me disse: “vou vender este Corcel para ajudar na festa de 15 anos de minha filha”. Foram 2 anos de restauração.
Já o Fuscão 1973 foi amor à primeira vista, pois, me trouxe logo a lembrança de meu tio Jose Gualberto. É um exemplar quase que único na cor original “marrom”, interior caramelo. Meu filho Davi o apelidou de marrom chocolate. Realmente a cor só saiu entre os anos de 1972 e 1973. Ele foi adquirido em uma das viagens a Águas de Lindóia/SP.
Tem sido cada vez maior a participação dos chamados “novos clássicos” nos encontros. São os automóveis fabricados nos anos 1980, 90 e até 2000. Como dirigente de clube de automóveis antigos como você vê a participação desses veículos mais modernos?
Robson — Cada vez mais jovens estão se mobilizando para formação de clubes independentes como “Clube do Quadrado”, “Opaleiros da Real”, “Clube do Omega”, “Clube do Uno”, “Clube do Escort” (como é o nosso caso aqui em Congonhas) e vários outros.
Em nenhum momento o CAAC impede a participação e incentivamos sim a criação desses clubes, pois no amanhã serão eles os sucessores no antigomobilismo. Através desse incentivo já estamos sentindo o prazer de preservar a história dessa categoria, pois será essa geração de jovens que nos representará no futuro. Os pais de muitos desses jovens possuem ou já possuíram automóveis de outras décadas. Isso é visível neste meio. É necessário criarmos espaço e incentivarmos os jovens a participar, porque isso fará criar a semente do amanhã.
Temos hoje duas situações na cidade de Congonhas: o encontro anual, que sempre é realizado no mês de junho, e o bate-papo mensal que reúne os automobilistas de Congonhas e região. No bate-papo todos os clubes tem acesso livre. No encontro anual os ‘novos clássicos’ são organizados na alameda que dá acesso à Romaria (local do evento) recepcionando os antigomobilistas, dando boas vindas aos clássicos. Há espaço para todos!
Nossa entrevista está chegando ao fim e deixamos aqui com a palavra o grande amigo e presidente Robson Elias, para que deixe uma mensagem aos antigomobilistas que prestigiam o Portal Maxicar e agradeço imensamente por podermos mostrar a cada mês um pouco sobre cada mês um pouco sobre cada clube pelo Brasil.
Robson — Primeiramente agradecer ao Portal Maxicar — Fátima e Fernando Barenco — pela oportunidade de fazer parte dessa família e também por estar sempre nos prestigiando em nossos eventos. Não tenho dúvida alguma de que o Portal Maxicar é uma grande mola propulsora do Antigomobilismo no país, pois, além de cobrir e divulgar os eventos possui um rico material para pesquisa e aprendizado em sua página eletrônica.
Não poderia também deixar de agradecer a todos os membros e clubes parceiros do CAAC que contribuem, incentivam e nos fazem crescer dia-a-dia em nosso propósito. Grande parte do sucesso de nosso clube se deve à vocês, que acreditaram em nós. E não posso deixar de ressaltar também que, como maestro desta orquestra, não seria nada se não fosse meus bons músicos! Estendo a todos os membros do CAAC, que são igualitariamente merecedores de nosso sucesso é fruto de nosso trabalho! Continuaremos nessa caminhada sempre com o propósito de contribuir para manter o universo dos autos antigos cada vez mais vivo.
Desejo a todos boas festas e que em 2016 a PAZ e a PROSPERIDADE sejam reinantes entre nós brasileiros.
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