Conheça alguns modelos que prometiam sacudir o mercado, mas que acabaram não alcançando o sucesso esperado. Caso do aerodinâmico Chrysler Airflow e do Mercedes Benz 150H Sport Roadster, primeiro do mundo com motor central
Se acompanharmos com atenção a história da industria automobilística mundial, vamos perceber que praticamente durante todo o tempo os fabricantes procuram seguir as tendências vigentes em sua época, sem se arriscarem muito em termos tecnológicos e de design. Assim, o mercado de automóveis foi evoluindo gradativamente, com mudanças lentas ao longo das décadas. E que só percebemos mesmo quando comparamos o que vai sendo produzido com um interlavo mínimo de uns 10 anos.
Mais ao longo dessa trajetória, alguns resolveram arriscar, foram mais ousados e entraram para a história. E seu sucesso ditou regras e criou novas tendências. Mas outros acabaram se dando mal com esse intento…
The Reeves OctoAuto 1911
O americano Milton Reeves sempre foi muito inventivo e acabou se envolvendo na criação de automóveis. Em 1911, ele usou um Overland fabricado no ano anterior e instalou nele mais dois eixos: um na dianteira (que se movia para os lados junto com o outro) e outro na traseira. Alegava que assim o automóvel se tornaria mais seguro, confortável, sem vibrações, além da economia de pneus. Apresentou sua ideia revolucionária durante a primeira edição das 500 Milhas de Indianápolis. Mas o público não se impressionou com o mostrengo de 8 rodas, que além de feio, custava US$ 3.200, uma verdadeira fortuna na época. Mas Reeves não se deu por vencido. Criou em seguida o Sextauto, de 6 rodas e igual fracasso.
Woods Dual Power 1917
Sinônimo de modernidade, os automóveis híbridos estão se tornando a cada dia mais populares atualmente. Marcas populares como Honda, Nissan, Ford e Toyota têm investido pesado neste segmento. Mas saiba que os veículos movidos ao mesmo tempo a gasolina e eletricidade não são nenhuma novidade. Que o diga o Woods Dual Power, lançado há praticamente 100 anos! Naquela época os automóveis elétricos eram bastante comuns, mas aos poucos o mercado foi sendo dominado pelos motores a explosão. O carro criado por Clinton Edgar Woods podia atingir 32 km com o motor elétrico. Acima desta velocidade, o motor a gasolina assumia o controle, o fazendo alcançar os 56 km. Já viu algo mais moderno? A razão do insucesso foi a dificuldade de manutenção e o preço altíssimo para os padrões da época. O Dual Power permaneceu no mercado por apenas um ano.
Leyat Helica 1919
Esqueça as marchas, virabrequim, diferencial ou outras complicações mecânicas. O francês Hélica era um veículo leve e aerodinâmico movido a hélice e com layout tipo avião, com motorista (ou piloto?) e passageiro sentados um à frente do outro. Além de estranho, era um veículo perigoso, já que a hélice de madeira girava a alguns centímetros do rosto dos ocupantes. O motor de 2 cilindros refrigerado a ar o levava a uma velocidade máxima de 70 km. O controle de direção era feito a partir de cabos ligados ao eixo traseiro. O modelo inicial tinha a cabine aberta, passando a ser fechada com alumínio na versão seguinte. Dá para imaginar que tenha vendido bastante pouco.
Destaques dos classificados
Mercedes Benz 150H Sport Roadster 1934
Primeiro esportivo do mundo com motor central, o 150 H causa estranheza por seu estilo completamente diferente do que espera da tradicional marca Mercedes Benz. Olhando para ele é fácil lembrarmos do Volkswagen, embora seu motor fosse refrigerado a água. Não se sabe ao certo quantos foram vendidos, mas o número não passa de 20. Desconfia-se que o fracasso nas vendas esteja associado ao design um pouco fora do comum, com um terceiro farol, à la Tatra T87.
Chrysler Airflow 1934
O Airflow foi um projeto pioneiro em termos de aerodinâmica, numa época em que pouco se falava sobre o assunto. E talvez esteja aí a razão para seu fracasso comercial. Compare-o aos modelos de sua época! Ela foi revolucionário por privilegiar formas arredondadas, que ofereciam pouca resistência ao ar. Foi projetado até com a ajuda de túnel de vento. Mas o resultado final não agradou ao consumidor americano, que estranhou sua aparência muito diferente dos demais automóveis. Ninguém se importou com sua aerodinâmica, nem com sua melhor distribuição de peso.
Zundapp Janus 1957
Este simpático microcarro alemão foi batizado em homenagem ao deus romano que tinha duas faces, por motivos óbvios. Afinal, nunca se sabe se ele está indo ou vindo… Seu pequeno motor de dois tempos e de somente um cilindro ficava instalado no centro e rendia míseros 14 cv. Havia duas portas, uma em cada extremidade, e o banco do passageiro era de costas. Tantas características, digamos, diferentes, foram demais para os consumidores da época. Mesmo assim, o Janus chegou a vender cerca de 6 mil unidades. Hoje é extremamente valorizado por colecionadores de microcarros.
Edsel 1958
Este carro ficou famoso por ser um dos maiores fiascos da industria automobilística de todos os tempos. Mais do que um modelo, a Edsel foi criada como uma nova divisão da Ford. O nome Edsel foi uma homenagem ao filho de Henry Ford. O objetivo era concorrer com GM e Chrysler no mercado de sedans mais luxuosos. Mas os objetivos comerciais não se confirmaram e a linha composta de 4 modelos (Citation, Pacer, Corsair e Ranger) vendeu apenas 116 mil carros em três anos, condenando-a ao fim da produção. O fato é que o Edsel tinha um design muito controverso e virou piada na época por causa do formato de sua grade central, que lembrava uma vagina. Em 1960 o carro ganhou um layout inteiramente novo, mas aí o estrago já estava feito.
Studebaker Wagonaire 1963
Precisa transportar uma geladeira, troncos de árvore ou até mesmo um cavalo e não possui uma pick-up? Então esse é um desafio para essa Station Wagon lançada em 1963 cuja proposta era simples e genial: a instalação de um teto solar deslizante sobre o porta-malas, que aberto, tornava possível transportar mercadorias bem mais altas que o próprio carro. Mas, já com grandes dificuldades financeiras, a Studebaker não teve recursos para aprimorar o projeto antes de seu lançamento e a Wagonaire sofreu por problemas crônicos de vazamento de água pelo teto. Em quatro anos vendeu apenas 11 mil unidades.
Peel P50 1963
Ele obteve do Guinness Book o título de menor carro de todos os tempos. Cabia apenas uma pessoa e sua sacola de compras. Com motor de motocicleta e apenas três rodas, esse inglesinho sequer tinha a marcha-a-ré. Para manobras era necessário sair e puxa-lo por uma alça devidamente instalada com essa finalidade na traseira. Suas medidas diminutas (1,37 X 1,04m) e o baixo valor (apenas US$ 310.00) não foram argumentos de venda grandes o suficiente e o P50 vendeu apenas 47 unidades em dois anos. Hoje os remanescentes valem uma fortuna.
Linha Cadillac V8-6-4 1981
Hoje em dia é possível encontrar algumas marcas que oferecem modelos com motores V8 com sistema de desativação de cilindros, caso a situação não exija muita potência, como no meio do trânsito. Isso representa menos consumo de combustível e menos poluição. E é possível graças a toda tecnologia eletrônica empregada aos motores. Mas no início da década de 1980 a realidade era bem diferente. Mesmo assim a General Motors aceitou o desafio de criar toda uma linha de Cadillacs com um sistema batizado de V8-6-4. Ele usava ar comprimido para transformar o poderoso V8 em V6 e até em V4 e prometia uma economia de 30% de combustível. Mas sem a ajuda da informática o sistema apresentou muitos defeitos e foi um fiasco. Deixou de ser oferecido depois de somente um ano. Quem comprou seu Cadillac na época tratou logo de desativar a geringonça.
Lamborghini LM002 1986
Com jeitão de SUV e pick-up, esse disforme utilitário é revolucionário para a Lamborghini, mundialmente conhecida fabricante de superespostivos (embora suas origens estejam ligadas à produção de tratores). Evolução de um veículo militar chamado Cheetah dos anos 1970, o LM002 recebeu o sugestivo apelido de Rambo-Lambo. O motor era um V12 e vinha recheado de equipamentos sofisticados, como os melhores automóveis de luxo da época. Vendeu 301 unidades até 1993, quando a produção foi encerrada.
Cadillac Allanté 1987
Mais uma canoa furada da Cadillac. O Allanté foi uma tentativa dessa marca americana de luxo de fabricar um roadster sofisticado, para concorrer principalmente com modelos europeus, como o Mercedes-Benz SL. Foi projetado pelos famosos Studios Pininfarina. Sobre o processo de fabricação há duas versões. A primeira diz que os chassis produzidos em Detroit eram enviados para Turim, para serem encarroçados. A segunda, conta justamente o contrário: que a carroceria era fabricada na Itália e depois enviada para os EUA. Assim, o esportivo ganhou o apelido de “Cadillac Italiano”. Em dois anos vendeu apenas 21 mil unidades, menos da metade da projeção inicial.
Texto e edição: Fernando Barenco
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