Arthur, um antigomobilista, herói de uma nação
*Henrique Moraes
Já muito tempo tenho me esmerado em realizar esta matéria, já esbocei algumas linhas, fiz diversos contatos, mas sinceramente falando, queria coroar minhas humildes e respeitosas palavras com um texto digno de um profissional, de um jornalista. Posso dizer que fui muito além das minhas fantasias, pois do tamanho de um cisco, me transformei num gigante, na dimensão da maior torcida de futebol deste Brasil. A torcida do Flamengo. Com todo respeito, peço desculpas aos torcedores de outras equipes, mas o título deste texto só poderia ter como tema dois personagens que se misturam e fazem parte de uma única e irretocável história. Como primeiro personagem, falo do senhor Arthur Antunes Coimbra, o brasileiro Zico. O segundo é o carro Toyota Celica 1982, um dos troféus ganhos pelo Zico, no ato da conquista do título de Campeão Mundial Interclubes, no ano de 1981, dia 13 de dezembro, madrugada no Brasil.
Zico, profissional dedicadíssimo, nascido no bairro denominado Quintino, Rio de Janeiro, em 03 de março de 1953, filho de senhor Antunes (i.m.) e da Dona Mathilde (i.m.), pai do Júnior, Bruno e Thiago, marido da senhora Sandra, avô de cinco netos, irmão do Edu, Antunes (i.m.), Tunico, Nando e Zezé, carinhosamente assim chamados por ele. Homem exemplar, conhecido e idolatrado por todos os brasileiros, independente de torcida. Quem nunca ouviu falar em D. Sandra, Senhor Antunes, D. Mathilde, “Só no Sapatinho”, enfim, a família que ele tanto ama e enaltece?
Podemos achar algumas reportagens sobre este carro, principalmente no ano de 2011, quando a conquista completou trinta anos. Um dia, elaborando alguns dos meus textos tive a inspiração e boa vontade de pensar mais profundamente sobre este carro e pelos preceitos do que denomino antigomobilismo, digo que devemos considerá-lo como o carro antigo mais querido do Brasil. Isto mesmo! BATIZO este carro como O CARRO ANTIGO MAIS QUERIDO DO BRASIL. Ou seja, uma designação única, inexplicavelmente inédita. Um carro com mais de trinta anos, original, mantido como peça de coleção. Uma raridade que por muito pouco não existiu. Naquela época, importar um carro era complicado. As leis de importação para carros eram burocráticas e Zico só conseguiu desembarcar o carro neste País no início de 1983. Por isto que o carro foi fabricado em 1982, ou seja, se não fosse o esforço do Zico, o carro seria convertido em papel moeda e, certamente, não existiria esta linda história, destas que os antigomobilistas adoram. Os jogadores do Flamengo resolveram antes da partida que qualquer premiação individual conquistada seria rateada em frações iguais. Zico ganhou o Celica como melhor jogador em campo e Nunes, outro ídolo rubro-negro, ganhou uma Toyota Carina como artilheiro em campo.
O Flamengo venceu o Liverpool por 3 a 0, precisando apenas dos primeiros 45 minutos, um verdadeiro “chocolate”, dois gols do Nunes e um do Adílio, craque da Cruzada São Sebastião. Os dois jogadores, após um acordo com o grupo, ficaram com os carros. O jogo foi realizado no Estádio Nacional em Tóquio, Japão, que naquela época realizava as finais anuais do então denominado Mundial Interclubes. A montadora Toyota era a patrocinadora master da partida, inclusive chamavam o Mundial de Copa Toyota. O Flamengo se habilitou para este jogo conquistando a Copa Libertadores e o Liverpool, a Liga dos Campeões da UEFA. Bem amigos, Zico continua com o carro e Nunes vendeu o seu. Parece que o carro do Nunes felizmente ainda existe.
O Toyota Celica, modelo GT é do ano de 1982, motor 2.0, completo, menos direção hidráulica. Tem a cor prata, com pintura, mecânica e interior impecáveis, tratado de forma adequada pelo “Galinho”. Zico nos confessou que pouco pôde aproveitar quando o carro desembarcou, pois naquele momento ele estava sendo transferido para Údine – Itália, especificamente para jogar na Udinese Cálcio. Quem andou muito no carro foi o seu irmão Edu. Na época era muito difícil arrumar peças para o carro, principalmente de acabamento, tais como, lanterna, farol, retrovisor, etc., portanto, dirigi-lo era “andar sobre ovos”. Hoje, ele tem um colaborador que faz a manutenção periódica, que é pouca, considerada normal. Lembra-se de há pouco tempo ter trocado a bateria. Segundo Zico, este carro jamais será vendido por ele. Faz parte da sua história. Particularmente acredito que será peça eterna de algum museu, provavelmente do Flamengo ou do próprio Zico.
Estive pessoalmente com o Galinho, após ter marcado um provável encontro. Mais uma vez me surpreendi, pois contava com qualquer possível desencontro, que seria compreensível. Neste momento, Zico vem trabalhando muito, seja como comentarista, como apresentador de programa, enfim, colocando o seu nome a serviço do futebol. Estávamos lá, eu, meu irmão, meus filhos e meu sobrinho, afilhado. A responsabilidade era enorme, pois “paramos” nossas vidas por tão arriscado “encontro”. O senhor Edu, irmão do Zico, estava lá e estávamos naquela famosa roda de pessoas, falando sobre futebol e suas histórias. Ressalto aqui a simpatia e enorme camaradagem do senhor Edu. Coisa de família e seus princípios. Nota-se que o futebol de craque, a educação e a humildade estão no sangue dos Antunes Coimbra.
Em seguida, sentimos algo diferente acontecendo, pois o Zico estava chegando. Posso garantir que tudo pára e modifica. Incrível! Tremi, pois não era um autógrafo ou uma foto. Era a apresentação, a autorização para este texto, a presença dos “bobos” (fãs boquiabertos) que levei, enfim. “Caiu a ficha”! Caramba! E agora? Gol de placa! Ficamos por quase duas horas envolvidos por aquela aura. Cada palavra deste texto passou pela vista daquele profissional, que se preocupa com sua imagem. Mais um exemplo do que é ser profissional. Acredito que uma leitura de dez a quinze minutos. Pequenas correções, mas importantes, do tipo: Mathilde com h e Tunico com u, erros da internet e da digitação, respectivamente. No final, com lágrimas nos olhos ouço: “Parabéns e obrigado pelas palavras.” Tudo isto traduzido na dedicatória e assinatura no texto original.
Destaques dos classificados
Perguntei ao nosso craque qual foi o carro que mais lhe marcou na vida, evidentemente, excluindo O CARRO ANTIGO MAIS QUERIDO DO BRASIL:
— Foi um Corcel 1972 GT verde, meu primeiro carro. Lembro que meu pai vendeu um Aero Willys para dar de entrada no Corcel. Este o motivo da recordação e apreço.
Ah Zico! Como foi difícil escrever este texto. Quando poderia imaginar, mesmo sendo uma eterna criança sonhadora, que o meu ídolo, seria tema para desenvolver minhas palavras. Como seria bom fazer brotar em você um milésimo de emoção que você já me fez sentir. Lembro que na minha infância, eu e meu irmão tínhamos o uniforme completo do Flamengo. Tempos difíceis! Os uniformes tinham o número 10, o mesmo que o Zico carregava. O número 10 do short era pintado com tinta para tecido e a numeração da camisa, comprada em lojas de materiais esportivos, tinha que ser costurada. Pobre da minha mãe que vivia costurando e lavando estes uniformes. Mas, como mãe vive para ver os filhos felizes, feliz da minha mãe. Lembro que nossos gols eram narrados por nós mesmos e a voz que saía, imitava Jorge Cury e o Waldir Amaral: “Toma posição Zico. Correu, atirou é gol! Golaço! Aço, aço! ZIIIIIICÃO, o craque da camisa número 10, quando eram decorridos…” Ah meu Deus! Eu juro, nós pensávamos que éramos o Zico. O meu irmão, mais baixo, mais branquinho e, que raiva, mais habilidoso, achava que era o Zico e eu, bem moreno, também. Eu era o Zico! Nós sentíamos a dor que o Zico sentia. Até mancávamos. Quando o Zico levou aquela entrada desleal, nós queríamos bater no infeliz, depois perdoamos. Ele deu o aval. Lembro que quando meu filho mais velho nasceu, o fiz flamenguista, mas de forma coerente e inteligente (teoria do escudo – logo à frente), o fiz amante do Zico e continuei dizendo ser um craque. Eu era o Zico! Mostrava os vídeos do Zico e dizia que eu era como ele. Como novo pai, queria que meu filho sentisse orgulho de mim e, magicamente, se eu significasse uma pequena fração desta idolatria, seria um excelente começo, mesmo que depois… Vocês sabem a história do Papai Noel. Em agosto de 2000 fomos até o Centro de Futebol Zico (CFZ) ver um treino de uma seleção master do Brasil, que faria um amistoso contra a seleção master da Argentina. Era um jogo para a campanha contra o cigarro. Disse ao meu filho, na época com pouco mais de dois anos, que veríamos o Zico e aquilo foi uma “lavagem cerebral”. Ao término do treino, o Galinho, muito solícito, como sempre, colocou o hoje, futuro engenheiro civil, no colo para fazermos uma foto (confesso que fiquei envergonhado, mas queria tirar foto também. Na verdade, eu queria carregá-lo nos braços). Aí o moleque começa a perguntar insistentemente: pai cadê o Zico? Ele estava no colo do Zico perguntando onde o nosso ídolo estava. Eu fui o culpado, pois para ele o Zico, lógico, deveria parecer comigo, seu pai. Eu até hoje ainda acho que sou o Zico! Eu sou o Zico! Quando brinco de futebol com meus filhos, Riquinho e Lucas, posiciono-me como o Galinho e com a voz para dentro, lógico, narro da mesma forma: “Toma posição…” Pena que os anos não me perdoaram e a bola, na maioria das vezes…, vai no ângulo é claro. ZICO! ZICO! Imagino-me no maracanã com 150.000 pessoas. Não sei o que é melhor, este momento ou escrever.
Será que o Galinho sabe o seu significado real para os flamenguistas e amantes de futebol do Brasil e do mundo? Por mais emotivo, humilde e sábio que ele seja, penso que ele nunca conseguirá entender. “Nós” (que somos e pensamos ser o Zico) sabemos o que é ser o Zico, mas não tem jeito, nunca sentiremos o que significa ser fã do Zico. É muito difícil explicar. Eu vou aproveitar a oportunidade e confessar para minha esposa e meus filhos: Todas as vezes que os levei para ver o Zico, 10% eram para alegria de vocês, pois o restante era por mim. (Teoria do escudo – tática avançada).
Na Copa do Mundo de 2014 fui agraciado por um amigo (Guilherme) e estive presente no jogo Rússia x Bélgica, dia 22 de junho, no maracanã. Fiquei no camarote de uma empresa com cerca de outros vinte convidados. Padrão ZICO no que diz respeito à organização do espetáculo. Tudo maravilhoso e tranquilo até o momento que avistei no camarote acima o Arthur. Pronto! Não vi mais nada, Courtois, Shatov, Samedov, Koslov, Lukaku, Hazard, Fellaini, Fábio Capello, enfim, foram vistos até aquele exato momento. Não sosseguei até ir lá, falar com ele e fazer uma foto. Verdadeiramente como ninja cheguei ao seu camarote e, muito educadamente, pedi que fizesse uma foto comigo no intervalo do jogo. Inclusive, falei sobre a intenção de fazer este texto com o mesmo. Como fãs, sei que muitos já experimentaram a sensação de um autógrafo, de uma foto, uma selfie, mas conversar com o ídolo é participar do seu pensamento, da sua vida. Assim eu me senti. Fiquei louco para reencontrar meus filhos, esposa, irmão, pai, mãe, cachorro, papagaio, amigos, “inimigos” e contar tal proeza. Já me disseram que sou um caçador de emoções e digo: Eu sou o Zico!
Ás vezes eu fico muito preocupado com Zico, pois sinceramente achamos que ídolos não erram. Peço a Deus que o ilumine e guarde de todos os percalços e armadilhas desta vida, pois a sua responsabilidade perante as crianças e fãs é muito grande. Torço muito para que suas empreitadas como homem e profissional sejam sempre acertadas e vitoriosas. A verdade é que não podemos nos calar e tão pouco aceitar o “silêncio dos bons”. E assim, Zico tem feito. Zico não se furta a responsabilidade como cidadão. Sempre colocou sua fama e sabedoria a serviço dos brasileiros.
Obrigado papai Waldir por me fazer fã. Obrigado meus filhos por serem meus escudos (teoria do escudo) e acreditarem na minha epopéia. Obrigado por me darem espaço na escrita e assim me fazerem feliz. Obrigado ZICO, galinho de Quintino, maior ídolo da história do Clube de Regatas Flamengo, por me fazer mais feliz. Acredite que Henrique Moraes, Cláudio Moraes, Riquinho, Lucas, Waldir, Rosilene, Vânia, José Caetano, Maria Eduarda, Bruno Moraes, Daniele, Luiza, Sueli, “Joões e Marias”, todos somos ZICO, ou melhor, somos honrados em te conhecer e gratos por tantos anos de felicidade e dedicação.
A vocês, “Zicos” deste imenso Brasil, que quiserem conhecer o Galinho, visitem o Centro de Futebol Zico (CFZ), Av. Miguel Antônio Fernandes, 700, Recreio dos Bandeirantes – Rio de Janeiro. Garanto que as portas estarão sempre abertas, de coração, conforme seu idealizador. Quem sabe ele não estará lá! Considero como sorte a competência de conciliar o preparo pessoal com a oportunidade do momento. Lá escutei a seguinte frase: “O camarada tem uma presença diferente. Onde ele está, fica iluminado, principalmente por sua humildade e genialidade”. Quem falou é FERA!
Quanto ao CARRO ANTIGO MAIS QUERIDO DO BRASIL, ele está lá, reluzente, estrela de uma galáxia, uma peça sem valor monetário atribuído, patrimônio histórico de uma Nação. Uma Nação apaixonada, superior aos 33 milhões de flamenguistas e, certamente simpático aos aproximados 200 milhões de brasileiros. E se quiserem mais, pensem na Itália, cheguem até o Japão, fabricante deste carro e onde o Galinho fez o futebol acontecer, onde é idolatrado como se japonês fosse. Mas eu, ou melhor, o Zico, somos brasileiros! O Zico é único e de verdade. Mas aqueles meninos continuam achando…
Saudações a todos!
*Henrique Moraes é empresário da construção civil e um antigomobilista apaixonado pelos Passats. Vive em Teresópolis, RJ
Agradecimentos especiais aos senhores José Matos, Wenderson Rosa, Edu Coimbra, Dr. Antônio Ricardo, Artur “fera” e ao rei Arthur Antunes Coimbra “Zico”.
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