Fernando Barenco

Bye-bye ‘Velhas Senhoras’…

Carregamento de Kombis brasileiras chegando à Hungria

Ou a debandada de nossas Kombis para a Europa

[dropcap]H[/dropcap]á tempos que eu pensava em escrever algo a respeito desse fenômeno da exportação das Kombis brasileiras. Cheguei até a esboçar alguma coisa… Eis que surge na edição da última quarta-feira (28 de setembro) do Caderno Carro Etc…  d’O Globo, uma reportagem assinada por Jason Vogel falando justamente sobre o assunto, postada também na versão on line do jornal. Então, me animei a desengavetar o meu rascunho.

Uma de Luxo a venda em Los Angeles, EUA
Uma de Luxo a venda em Los Angeles, EUA

A reportagem mostra o panorama atual desse verdadeiro êxodo que é a venda de nossas ‘Velhas Senhoras’ para colecionadores principalmente da Europa (mas os americanos e australianos também a descobriram). Ironicamente, um dos seus principais mercados é justamente o berço da Kombi, a Alemanha. É que não sobraram muitas delas por lá. Então, está havendo o ‘repovoamento’ com as fabricadas aqui. França, Inglaterra, Holanda e até países do Leste Europeu também são bons mercados para os nossos “pães de forma”. Mas só há interesse de verdade nas ‘corujinhas’, aquelas fabricadas até 1975.

Carregamento em Barbacena, MG. Foto: Cláudio Campos
Carregamento em Barbacena, MG.      Foto: Cláudio Campos

Há alguns meses vi no Facebook uma foto tirada em Barbacena, na Zona da Mata de Minas Gerais, que mostrava um caminhão cegonha sendo carregado só de Kombis, todas em mal estado de conservação. Segundo pude apurar, foram compradas ali mesmo na região, de comerciantes, feirantes e fretistas, provavelmente a preço de banana. É que mesmo para restauração, as Kombis interessam aos gringos. Mas já existem oficinas especializadas apenas na restauração delas. Elas compram barato de proprietários mal informados, restauram e embarcam, multiplicando os lucros.

E os preços aqui, como ficaram? Dispararam, naturalmente! É possível encontrar exemplares da versão Luxo a venda até por mais de R$ 100 mil. Acredite! Antes desse fenômeno migratório, o preço médio de um exemplar impecável não passava nunca dos R$ 30 mil. Mas porque anunciar por um valor que torna o veículo quase invendável aqui? De fato, a estratégia de jogar o preço lá para cima é uma ‘armadilha’ comercial visando pegar os colecionadores estrangeiros. É comum encontrarmos no título do anúncio expressões como “T1” e “VW Bus”, que são ‘iscas’ nos mecanismos de busca como o Google, já que assim são denominadas as Kombis lá fora.

Duas a venda na Holanda. A Standard (e) por 20 mil Euros e a Seis Portas (lá chamada T1 Taxi) por 35 mil Euros
Duas a venda na Holanda. A Standard (e) por 20 mil Euros e a Seis Portas (lá chamada T1 Taxi) por 35 mil Euros

A lógica é a seguinte: anuncia-se o veículo, digamos, por R$ 50 mil. Um valor bem elevado para nós, brasileiros. Mas que equivalem a cerca de US$ 15 mil ou € 13,5 mil, que são bastante razoáveis para eles, os colecionadores estrangeiros. Lá fora os preços começam em US$ 25 mil e podem chegar a US$ 50 mil, dependendo da versão e da conservação. Só não me perguntem quais seriam os custos de importação nesses países. Será que são astronômicos como aqui?

Curiosamente, é possível encontrar em sites de venda no exterior Kombis brasileiras e ainda com placas daqui…

Secretamente, os proprietários brasileiros de Kombis que resistem à onda e não cogitam vende-las, devem estar contentes. É que quando essa onda passar, elas continuarão muito mais valorizadas que antes, devido à escassez de oferta.

Pessoalmente, acho uma grande pena que estejam levando embora nossas ‘Corujinhas’, já que fazem parte da vida de todos nós. Mas tento não achar que estão dilapidando nosso patrimônio. Seria no mínimo incoerente, já que colecionadores brasileiros também compram os clássicos fabricados em outros países. Procuro pensar também no lado bom: que essas ‘Velhas Senhoras’ estão levando o nome da indústria automobilística brasileira para o resto do mundo e que serão muito bem preservadas, não importando em que lugar estejam. É a tal da globalização!

 

 

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Fernando Barenco

É editor do Portal Maxicar. Emails para essa coluna: fernando@maxicar.com.br

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