Apesar dos pesares, um belo evento!
Mais de 700 veículos em exposição, na maior edição da “nova versão” de Águas de Lindóia
Você deve estar se preguntando: “Por que o ‘apesar dos pesares’ do título dessa reportagem?”. Nada a ver diretamente com essa magnífica festa do interior de São Paulo, que adequadamente hoje tem “brasileiro” em seu nome. É que tivemos alguns probleminhas para realizar essa cobertura, o que nos obrigou a publicar — antes mesmo da própria reportagem — essa NOTA DE DESAGRAVO. Leia e você irá entender!Por isso, antes de começarmos, queremos pedir desculpas. É que este ano, como forma de protesto, não vamos fazer nenhum comentário, nem publicar fotos (até porque não as temos mesmo!) a respeito da Cerimônia de Premiação. O evento que teve início no dia 20 de abril – quinta-feira —, terminou oficialmente mais cedo para nós: às 5 da tarde de sábado (22).
Mas vamos ao que interessa, que são os nossos queridos carros antigos, afinal Águas de Lindóia é patrimônio de todos nós: colecionadores que expõem com orgulho suas máquinas do tempo; os que partem de todos os cantos do Brasil para não perder um segundo da festa; os nossos heróis nordestinos — que rodaram 3 mil quilômetros ou mais; nossos queridos vendedores de peças e acessórios (o que seria de você sem eles?), e até mesmo nós da “Imprensa Especializada” que nos esforçamos pra caramba pra levar um pouquinho de evento a você que não foi e belas recordações a quem teve a felicidade de estar lá mais uma vez.
Este ano o evento bateu recordes. Recorde de veículos inscritos para a exposição, com o mais do que respeitável número 750 e uma igual quantidade de veículos destinados a venda. Não temos os números oficiais, mas parece que a feira de peças deu uma crescida também, se é que isso ainda é possível.
Recorde também de público, fazendo com que, na tarde de sábado (22), a Praça Ademar de Barros parecesse mais a Rua 25 de Março — em São Paulo, ou a Rua da Alfândega — no Rio, às vésperas do Natal. Fato que para a maioria dos antigomobilistas não chega a ser algo bom, já que é sempre bom um pouco de sossego para poder verdadeiramente admirar os automóveis e observar cada detalhe.
Chevy Show
Os mais atentos perceberam que o número de Cadillacs foi bem menor do que o normal, mas sem problemas: a marca GM deu um show com uma turma de Chevrolets que formava um círculo na parte central do gramado. Foram sete exemplares da era de ouro dos Bel Air e Impala, com carros dos anos de 1955, 56, 58, 59 e 61, versões Sedan e Conversível. São esses que aparecem em nossa foto principal. Do ano de 1960 não havia nenhum inscrito, mas poderiam quase completar o time deslocando para o grupo a SW 210 (versão básica) 1957, que esteva estacionada bem pertinho dali, às margens do lago.
Destaques dos classificados
Um passado de luxo
Suprindo a falta dos Cadillacs na categoria americanos de luxo, havia Buick Cabriolet 1939, Packard Clipper 1947, Lincoln Continental 1941 e Packard Pacific Hardtop 1947. Surpreendemos Marcus Vinícius Meduri dando as últimas espanadas em seu raro Marmon Sedan 1929, veículo já premiado em Araxá – MG. Colecionador especializado em automóveis fabricados no início do século XX, ele tratou de pegar a “cereja do bolo” antes do nosso click: o precioso ornamento de radiador Lalique Eagle em cristal.
E não é que até o polêmico e excêntrico Donald Trump estava em Águas de Lindóia este ano? O presidente americano ficou o tempo todo sentado no banco traseiro do enorme Chrysler Imperial 1959 do colecionador Wander Cunha, que pediu licença ao nobre estadista para uma foto bem rapidinha a seu lado. E Tramp não se importou. Continuou tranquilamente bebendo sua Bud bem geladinha
Mais uma vez o Museu Jorm de Paulo ‘Loco’, se encarregou de levar os mais raros e antigos exemplares — sendo o mais ‘moderno’ com apenas 116 anos de idade: De Dion 1902, Hupmobile 1909 e Hupmobile 1911. Merecidamente os três permaneceram reunidos em local de destaque, na concha acústica, pertinho do Alfa Romeo 6C 2500 Boneschi 1950, que foi o “The Best” do ano passado.
Mr. Studebaker
Quem frequenta esse evento certamente conhece Mário Ferreti. Seus Studebakers têm até uma esquina cativa na Praça Adhemar de Barros desde os tempos do Encontro Paulista. Este simpático empresário é simplesmente o maior colecionador de automóveis dessa extinta marca que incomodou bastante as três gigantes americanas — Chevrolet, Ford e Chrysler — no final dos anos 1940, pois saiu na frente das demais, lançando os primeiros modelos “três volumes” do pós-II Guerra Mundial. Atualmente Ferreti tem em sua coleção 13 Studs, entre automóveis e pick-ups. 10 modificados e três originais.
Ele nos mostrou sua última criação: a caminhonete laranja, cuja mecânica e chassi foram herdados de uma Ford Ranger. Mas há também as montadas sobre Ford F4000 — com direito inclusive a rodado duplo — e até com mecânica V8 do Corvette. Este ano, Ferreti levou oito veículos. Detalhe: todos chegaram ali rodando.
Luxo inglês? Claro que tinha também! E quem melhor para representar que a aristocrática Rolls Royce? Havia modelos das décadas de 1960, 70 e 80.
Um japa camuflado
A pouco conhecida Allard esteve presente com seu Roadster K1 de 1948. Apesar de britânico, ele era equipado de fábrica com o motor americano V8 da Ford. A marca de esportivos foi criada em 1945 e resistiu somente até a década seguinte, o que obviamente faz dos Allard verdadeiras figurinhas carimbadas.
Falando em esportivos, como não curtir um setor inteiro de pequenos conversíveis europeus: Triumph Spitfire 1968, Triumph TR4A 1966, MG TD 1953, MGA 1959 e MGB 1978. Um pouquinho mais avantajado, um valioso Mercedes Benz 250 SL “Pagoda” 1967. Enquanto isso, o formosinho Datsun Fairlady 1969 não deu a menor bola ao fato de ser japonês e ficou ali quietinho no meio dos demais. É que ele tem aparência e nome de carro britânico. Então, engana direitinho!
Mopars
Mopar. Uma palavrinha mágica que designa modelos Chrysler e que é música para os ouvidos de quem gosta de potência e velocidade. E eles estiveram lá em um bom número, com os exemplares importados e nacionais juntos e misturados. Assim, ficou fácil observar que a linha Chrysler brasileira – produzida entre 1969 e 1982 — nunca deixou a desejar em beleza ou qualidade para os modelos da matriz norte-americana.
Mesmo ao lado de dois ícones da categoria — Plymouth Road Runner (Bip-bip!!!) e Dodge Super Bee (Bzzzzzz!!!), o Hurst 300 conseguiu se destacar. Produzido apenas em 1970, com 501 unidades (sendo uma delas conversível) estava disponível apenas nessa padronização de cores. Não duvidaria se me dissessem que este é o único do Brasil.
Pequeninas, mas resolvem
2017 foi um ano especial para as pick-ups e outros utilitários. Contamos mais de 40 só entre as originais (exceto por uma Chevrolet hot rod com placa preta irregular), que permaneceram reunidas no mesmo espaço. Entre as nacionais, duas foram as que mais chamaram a atenção: a pick-up Ford F100 1973 e a Veraneio do mesmo ano. Ambos veículos em estado de zero km!
Já as norte-americanas estavam lá representadas por aqueles modelos populares que não podem faltar: Fords F1 e F100, Chevrolet 3800 nas versões “Boca de Sapo” e “Boca de Bagre”, Dodge Job Rated. Havia ainda as baseadas em automóveis, com as Chevrolets El Camino e Ford Ranchero. Mas, nos desculpem as demais. Quem roubou a cena mesmo foram duas picapinhas europeias, ambas também derivadas de automóveis: a inglesinha Austin A 40 1948 e a alemã Borgward Hansa 1500. Impossível apontar qual a mais apaixonante.
Uma data especial
Orgulhosamente, nosso Ford Galaxie está completando Bodas de Ouro de seu lançamento. Claro que data tão expressiva não poderia passar em brancas nuvens. O eterno top de linha nacional com suas diversas versões — Galaxie 500, LTD, LTD Landau e Landau — relembrou esses 50 anos com nada menos que 37 exemplares, desde os primeiros, produzidos ainda na década de 1960 até um exemplar do último ano, 1983, pertencente à Coleção Automóveis do Brasil, do falecido colecionador Fábio Steinbruch. Detalhe: o carro é zero km. Havia ainda o Galaxie Ambulância, peça única criada pela própria Ford como um protótipo de Station Wagon, mas que depois de ter seu projeto reprovado, serviu como ambulância dentro da própria fábrica.
De acordo com Portuga Tavares, atual presidente do Galaxie Clube do Brasil, o número de Galaxies reunidos em Águas de Lindóia foi um recorde nacional em eventos não exclusivos do modelo.
Nos tempos da brilhantina
Outro veículo que comemora uma data para lá de especial e que também não foi esquecida é a Lambretta. E lá se vão 70 anos desde o seu lançamento. Por isso, foi montada uma mostra especial com a linha do tempo das versões, começando pela italiana Modelo I 1947 com Sidecar, passando pela LI 1955 — primeira produzida aqui e com uma profusão de acessórios — até chegar à Xispa dos anos 1970. Havia ainda triciclos baseados na motoneta que deste sempre divide paixões com outra famosa italiana: a Vespa. Uma dica de segurança: jamais ouse confundi-las. Os entusiastas viram umas feras.
Heróis
Tivemos a felicidade de encontrar um dos três grupos de heróis nordestinos, que na raça e na coragem venceram os 3.505 quilômetros desde Eusébio, no Ceará para participar dessa confraternização nacional de antigomobilistas. Vieram a bordo de 2 Opalas, uma pick-up Ford F1000 e até uma motocicleta Honda Shadow dos anos 1990. Havia ainda caravanas do Piauí e Maranhão. Nossa reverência a todos eles!
Fibra
Foi muito variado o leque de foras-de-série nacionais. Entre os modelos mais famosos, um raríssimo Puma GTi Exportação 1981, cujo design de cara avisa tratar-se de algo fora do usual, como se pode observar pela foto.
O especialista e mais do que entusiasta dos Santa Matildes Benny Binhas expos três dos seus sete exemplares, fabricados em 1982, 1984 e 1986. Em sua garagem, bem guardadinhos ainda restaram o 1980/81/87/89. Mas ele já avisa que em breve o plantel vai crescer ainda mais.
Monarca
Monarca 1954. Provavelmente o primeiro capítulo da história dos fora-de-série brasileiros. As informações sobre o projeto não são muito precisas. Fabricado pela Monarca Carrocerias, de São Paulo, este exemplar possui chassi Volkswagen e componentes de um Porsche 356, com carroceria em metal. Teve Anísio Campos — na época um jovem em início de carreira — como um de seus projetistas. É o único remanescente de uma leva de 10 automóveis, todos de modelos distintos, fabricados sob encomenda.
Apartamento sobre rodas
Embora não parecesse à primeira vista, uma Kombi cinza e branca também era uma peça única. Transformada em 1960 pela própria Volkswagen em versão camper em parceria com uma empresa chamada Carbruno, ela foi apresenta ao público no Salão do Automóvel daquele ano. A intenção era conseguir encomendas de pessoas de espírito aventureiro. Mas parece que algo deu errado na empreitada e a Kombi batizada de Turismo, acabou sendo vendida para a família de José Ricardo de Oliveira, na qual incrivelmente permanece até hoje. O veículo foi recentemente restaurado, preservando todos os equipamentos e detalhes originais. Chegou a ser capa da Revista 4 Rodas de fevereiro de 1961 e foi anunciada como um “apartamento sobre rodas”.
Dupla motorização
Entre os veículos militares, o mais curioso foi sem dúvida alguma o Tempo Vidal G 1200. Viatura para o transporte de passageiros, foi fabricado em número de exatas 1335 unidades na Alemanha ainda nos tempos da II Guerra Mundial. Possui duas particularidades verdadeiramente sui generis: dois motores e dois eixos articuláveis tracionados por eles. Os motores de 2 tempos e 2 cilindros refrigerados a água podiam funcionar juntos ou separados. Na época alguns exemplares foram importados pelo Exército Brasileiro. Não sabemos se o exemplar em Águas de Lindoia seria um deles.
Outros brasileiros
A variedade de outros modelos brasileiros foi grande. Gostamos muito do par de Simcas Esplanada 1968 (já de fabricação Chrysler), do Dauphine 1962, dos Interlagos Conversíveis e Berlinetas, do Fusca ‘Pé de Boi’, de diversos exemplares do Opala, e dos Mavericks, que apesar de estarem em bem menor número que no ano passado, tinham excelente qualidade.
Muita criatividade
Em menor número também a exposição de caminhões e cavalos mecânicos que tradicionalmente dão as boas-vindas aos visitantes, na rampa de acesso.
O espaço reservado aos hot rods era via de regra sempre um dos mais lotados. Também pudera! Cada projeto mais louco e bem executado que o outro. O que mais curtimos foi o cavalo mecânico Scania Vabis versão rat rod. Com carroceria enferrujada e suspensão para lá de rebaixada, o veículo é ao mesmo tempo fascinante e assustador, como aqueles de filmes de veículos assassinos dos anos 1970, como “Encurralado”, lembra?
Ídolos de sempre
Bird Clemente e Wilson Fittipaldi Jr. repetiram a dose da edição 2016. É sempre uma delícia ouvir aquelas memoráveis histórias de nosso automobilismo histórico, contadas por dois dos maiores ídolos daquela época. Equipes DKW e Willys; Carcará, o recordista brasileiro de velocidade; Fitti-Volks, o inusitado e competitivo Fusca de 2 motores que teve vida curta; e Equipe Coppersucar foram alguns dos instigantes assuntos do bate-papo com os antigomobilistas.
Palestra
Destinada principalmente aos membros de clubes filiados e àqueles que desejam se filiar à Federação Brasileira de Veículos Antigos (FBVA), a palestra do presidente da entidade, Roberto Suga, foi um apanhado do que tem acontecido em termos da legislação que afeta diretamente o antigomobilista, e um balanço das ações e conquistas da FBVA em benefício dos clubes filiados, que hoje são 191, concentrados sobretudo no Sudeste e Sul do Brasil.
Terminamos nossa cobertura com uma foto que para nós diz muito de como o antigomobilismo é — ou pelo deveria ser: jovens reunidos no gramado, ao lado do Fusca, sem cerimônias, sem vaidades, sem egos inflados, sem nenhum interesse além de o de curtir cada momento.
Texto: Fernando Barenco
Fotos e edição: Fernando Barenco e Fátima Barenco
ÁLBUNS DE IMAGENS
Exposição Momentos Panorâmicas Coquetel Bird Clemente e Wilsinho Palestra FBVA Feira de Peças
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