Repórter Maxicar

Paixão por americanas e japonesas

Coleção de Pick-ups americanas

Visitamos a garagem de um colecionador de Cataguases-MG, que divide suas atenções entre as pick-ups clássicas e as motocicletas Honda

Coleção de Pick-ups americanas
A placa foi montada a partir de várias placas de licença
“Claudio’s Garage”. A placa criativa feita a partir do recorte e montagem de várias placas de licença californianas e cuidadosamente colocada na entrada do amplo e muitíssimo bem planejado espaço nos fundos do terreno da confortável casa da Zona da Mata de Minas Gerais, indica que há uma grande paixão envolvida em tudo aquilo. Aliás, uma característica que de modo geral está presente em projetos de antigomobilistas. Ops!, mas esse não gosta de ser chamado assim.
— Parece coisa de velho! — comenta brincando.

O piso quadriculado, os inúmeros quadros e posters vintage, um antigo calibrador automático (que ainda funciona perfeitamente!) geladeiras personalizadas, miniaturas, um gramofone e uma cadeira de barbearia são alguns dos inúmeros objetos que compõem o santuário desde capixaba.

Empresário, 54 anos, casado e pai de um casal de filhos, Boechat (o Cláudio da placa) nasceu em Vila Velha e está radicado em Cataguases há 24 anos, a cidade de 60 mil habitantes onde mantém uma concessionária de motocicletas Honda. Hoje conhecido nos encontros do Sudeste por sua coleção de pick-ups clássicas, ficamos surpresos ao saber que sua história como admirador de veículos antigos começou com as ‘duas rodas’, sendo a primeira uma CG 125 1977 comprada em Copacabana, no Rio de Janeiro. Rapidamente elas se multiplicaram e hoje são 9, todas das décadas de 1970 e 80, todas da japonesa Honda, é claro! Até pouco tempo ficavam em exposição na Concessionária, atraindo a admiração da clientela. Sua última aquisição foi uma ML 1987, com somente sete mil quilômetros rodados. E há raridades como a trail XL 250 75 e a CT 90 1974, uma motocicleta própria para uso rural que foi usada na manutenção das linhas de transmissão da Companhia Vale do Rio Doce. Com grande bagageiro para ferramentas, tem como principais características mecânicas a caixa de redução e a embreagem semiautomática.

— As motos que tenho hoje são aquelas que eu quis ter quando jovem e não tive a oportunidade — nos revelou.

A CG 125 (em primeiro plano) foi a primeira da coleção. Na foto também a rara CT90 (a terceira)

Sua história com antigos de quatro rodas só começou em 2001. Mas ainda não com uma caminhonete, mas sim com um Itamaraty 1967, carro que aliás não lhe traz boas recordações, já que modelo de luxo da extinta Willys dava muitos defeitos mecânicos.

A primeira pick-up de sua vida foi a Studebaker R6 1952, com a qual Cláudio está até hoje. Foi comprada em 2002 em Divino-MG. Pertencia a um certo Seu Ivo, que a tinha como veículo de labuta na zona rural. Passou por uma restauração completa.

Em seguida veio o Furgão Ford F1 1949, adquirido um ano depois em Campos dos Goitacazes-RJ. Também precisava de restauração e ele foi a cobaia de Cláudio e sua primeira experiência como restaurador.

Hoje eu mesmo faço boa parte da restauração dos meus veículos aqui mesmo na garagem. A única coisa que faço fora é a pintura.

De lá para cá outras pick-ups e automóveis passaram por sua vida. A Chevrolet 3100 “Marta Rocha” 1954 aparentava estar em boas condições, mas quando foi raspada revelou ter vários problemas de lataria. Foi vendida em seguida.  Já a rara Willys 1950 estava em boas condições. No entanto, se revelou ruim para guiar.

Vendo quando acho que é ruim de andar, embora em viagens mais longas não vá rodando. Fico com medo da pick-up quebrar. Nessas horas não tenho paciência. Gostaria de ter mais essa tolerância, mas não tenho não. Então prefiro levar rebocando na plataforma — nos confessou.

Ele teve ainda um Santa Matilde 4.1 Conversível — que não agradou por causa das torções da carroceria de fibra de vidro — e um Opala 1979 com muito veneno sob o capô.

A BMW Cabriolet: estranho no ninho

Hoje, único carro da coleção é o BMW 325i Cabriolet 1995, que chamou a atenção de Boechat na hora da compra por causa da configuração mecânica pouco usual, com motor de 6 cilindros e câmbio mecânico. É uma espécie de ‘estranho no ninho, já que até o seu veículo de uso diário é uma pick-up.

Além das já citadas, habitam a Cláudio’s Garage atualmente uma Dodge Job Rated ½ ton 1954 — comprada em Juiz de Fora-MG e restaurada ali mesmo — uma Chevrolet C10 1981 versão “street” e uma Ford F100 1974 — sua última aquisição, que era originalmente azul e branca e hoje é vinho e branca.

Quando não gosto da cor, consulto o catálogo de cores do modelo e troco. Foi assim também com a Dodge e o Furgão Ford.

Deixamos para o final sua pick-up preferida, a Chevrolet 3124 Cameo fabricada em 1957, um modelo de luxo raríssimo no Brasil, cuja produção naquele ano foi apenas 2.244 unidades. O próprio Boechat vai nos contar como foi a história de sua compra.

Quem me falou sobre o modelo Cameo pela primeira vez foi comprador de minha ‘Marta Rocha’. Até então nunca tinha ouvido falar. Fiquei fascinado! Em 2010 vi a foto de uma na internet. Estava com uma Lambretta sobre a caçamba, presa por cintas vermelhas. Mas não estava à venda.

Um ano depois a reencontrei no site americano de clássicos Hemmings. Era a mesma e dessa vez sim, estava à venda. Liguei para o vendedor no EUA e ele foi curto e grosso. Vender para outro país ele não queria, tinha medo. Fiquei pensando: “O que eu posso fazer para pegar liga com esse sujeito?”. Então tive uma ideia: comprei o Jornal O Estado de Minas, vesti meu uniforme da Concessionária Honda, fiz uma pose em frente à minha garagem, e pedi à minha esposa para bater fotos. Mandei para o americano por e-mail, para ele ver que eu era quem eu dizia que era. Que eu era real, que eu existia. Que não se tratava de nenhum golpe. Depois liguei para ele. Dessa vez quando ele atendeu eu já senti que alguma coisa tinha mudado. Estava azeitado! Eu tinha conseguido quebrar o gelo! Expliquei que gostaria de ficar com a pick-up e perguntei se ele fazia algum desconto. Mas ele negou. Não daria desconto nenhum. Na mesma hora pedi os dados bancários dele. Já vivi nos EUA e tenho uma tia que mora lá. Havia deixado com ela 15 mil dólares e pedi para depositar para ele como sinal. Fui até lá na semana seguinte. Era em Washington, um estado muito frio na fronteira com o Canadá. Quando cheguei, numa segunda-feira, havia uma grande nevasca e o vendedor foi me buscar no aeroporto. Levei para ele alguns presentinhos: uma caixa de bombons Garoto, duas camisas da Seleção Brasileira… Gostei de uma miniatura que ele tinha. Mas ele não quis me presentear. Paguei US$ 100 por ela. Levei o restante do dinheiro comigo, no bolso da jaqueta. Dois dias depois eu já estava em casa. Fui aos EUA só para isso.

Agora seria preciso trazer a Cameo para cá. Boechat então contratou uma empresa especializada na importação de carros antigos, que prometeu que ela estaria no Brasil em três meses. Depois de muito aborrecimento e bate-boca pelo telefone, a pick-up finalmente chegou ao Brasil seis meses depois.

Chegou a um ponto, que o tal despachante aduaneiro não atendia mais as minhas ligações. Foi uma situação muito frustrante e estressante. Mas acabou dando tudo certo. A pick-up foi entregue em São Paulo. Ao ir buscar, por precaução levei um mecânico, já que não sabia se ela iria funcionar. Bati a chave e pegou de primeira.

Essa chegou pronta, sem necessidade de restaurar. Mas Boechat é tão “chato”, que resolveu dar um banho de tinta e substituir todos os parafusos por originais com a logomarca da Chevrolet! Trocou também borrachas e instalou um ar condicionado da Vintage Air.

Foi a realização de um sonho. De algo que até então parecia impossível.

Além de sócio do Rio Minas Clube de Veículos Antigos, Cláudio Boechat é um dos coordenadores do grupo Antigomobilistas de Cataguases e criador do Pick-ups Group, que reúne via WhatsApp 50 amantes de pick-ups clássicas de todo o Brasil e cujo primeiro encontro oficial aconteceu em Raposo (distrito de Itaperuna-RJ) em junho deste ano. Já esteve nove vezes no famoso encontro de veículos clássicos Carlisle, na Pensilvânia-EUA, que anualmente reúne cerca de 2.000 automóveis e milhares de visitantes.

Projetos atuais? Sem dúvida! Duas Kombis em restauração. Uma Standard 1974 que irá se transformar em De Luxo e uma Pick-up que será no estilo “German Look”, com rodas Fucks modelo Porsche e motor potente.

Entre os desejos para o futuro duas outras pick-ups americanas: uma International e uma C10 Chayenne da década de 1970.

Quanto à garagem, essa nunca estará completamente pronta. Haverá sempre um detalhe novo, para torna-la ainda melhor.


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Reportagem e edição: Fernando Barenco
Fotos: Fernando Barenco e Fátima Barenco

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