Um clube dedicado a um brasileiro ‘cinquentão’
Esse mês meu entrevistado é de Petrópolis, a nossa cidade. E não foi por acaso que o escolhi. Afinal em 2018 o Opala comemora 50 anos de seu lançamento.
E é ele mesmo que nos conta um pouquinho sobre sua vida: “Mecânico de profissão, sou de uma família cristã conservadora e acho que por isso estou participando de um clube que, embora não tenha preconceitos com qualquer tipo de veículos, busca sempre manter o carro o mais próximo possível do original, orientando amigos e associados nesse sentido. Particularmente tenho dois sentimentos com relação ao carro antigo: fazer amigos e manter viva as lembranças de pessoas que já estiveram dentro de um carro antigo na infância.”
Tenho a honra de bater um papo com Marcelo Ferreira da Silva, Presidente do COP, o Clube do Opala de Petrópolis.
Marcelo, quando foi fundado o Clube do Opala de Petrópolis (COP)? Conte-nos um pouco de sua história… Para quem quiser se filiar ao clube, como deve proceder?
MARCELO – O clube foi fundado em 2002 por amigos que tinham em comum o Opala. Na época, pedíamos o número do telefone de todo proprietário de Opala ou Caravan que conhecíamos, para contato posterior. Sempre expúnhamos nossas ideias com relação aos bate-papos que passaram a acontecer na Catedral São Pedro de Alcântara um domingo por mês. Em 2008, após um longo período de ‘dormência’, durante um encontro que aconteceu no Shopping Vilarejo de Itaipava, amigos resolveram que o COP renasceria das cinzas, desta vez com reuniões semanais que seriam aos domingos no posto Petrobrás na Rua Coronel Veiga, conhecido como Posto Galp. Assim começamos a segunda parte da história do clube. Mas após um longo período o posto ficou pequeno. Então, achamos melhor voltarmos às origens e mais uma vez estávamos na Catedral, só que às terças a noite e agora com o apoio de nosso associado Wesley Vieira Paz, com ótimo hambúrguer em seu trailer conhecido como “Box do Baixinho”.
Hoje o clube do Opala de Petrópolis admite amigos se associando mesmo que não tenham o carro chefe de nosso clube, que é o Opala. Visamos acima de tudo fazer novos amigos. Depois de nos afiliarmos à FBVA, temos uma missão que é a de preservar a memória dos veículos antigos, independente da marca. Somos hoje uma Associação de Veículos Antigos. Não somos um clube de veículos placa preta, mas sempre procuramos orientar os associados a manter seus veículos no melhor estado possível.
Para se filiar ao clube, em geral antes convidamos o proponente para o convívio em nosso clube por algum tempo, para nos conhecermos melhor e então no momento que ele achar oportuno poder se filiar. Normalmente é um sócio que o convida.
Que atividades o clube realiza, além de seu encontro anual? Algum momento importante para o clube que mereça destaque?
Destaques dos classificados
MARCELO – Atualmente apoiamos outros clubes e procuramos dar suporte em qualquer ajuda que pudermos oferecer. Também procuramos ajudar instituições de caridade, campanhas de doação de brinquedos, asilos e ou qualquer coisa que nos seja solicitado.
Dois dos momentos inesquecíveis para nós:
- o registro do clube em 2015 que só foi possível com ajuda e cooperação de todos associados.
- Nossa afiliação à Federação Brasileira de Veículos Antigos
Nos encontros ouvimos muitas histórias do quanto significa determinada marca de carro para uma pessoa, das lembranças de infância e de muitas outras recordações. De onde vem sua paixão pelos carros Antigos? E qual o seu xodó?
MARCELO – Me recordo quando criança que sempre pedia ao meu pai para comprar um Opala, mas na ocasião temos que concordar que Opala era um carro com custo muito alto para se manter. Nos anos 2000 foi quando adquiri meu primeiro Opala: um Comodoro 1983 azul. Não era uma ‘perola’, mas foi quando comecei a realizar um sonho de criança. Hoje meu xodó é um Opala 1978 SS, automóvel que meu irmão comprou de uma pessoa por quem temos muito carinho, o Sr. Rafael Garcia. Curiosamente, meu irmão o comprou por eu já possuir o Comodoro e só vendeu porque estava indo embora do Brasil. Por bem pouco eu quase não conseguia ficar com o carro, mas tudo deu certo.
Não podemos deixar de falar da COP BAND, que vem fazendo muito sucesso, com seu repertório de clássicos do Rock. Como surgiu essa ideia? Vocês fazem apresentações também fora do Clube?
MARCELO – A ideia da COP BAND nasceu há mais ou menos 3 anos, devido à necessidade de termos um algo a mais ligado aos carros, para diversão de amigos e família. A ideia demorou para ser concretizada, afinal todos têm suas ocupações. Mas ao juntar baterista, baixista, guitarrista e o vocalista que não sou eu (risos) a alquimia aconteceu e sinceramente eu digo que todas as vezes que assisto a banda tocar eu me emociono de ver uma ideia muito sonhada acontecendo com amigos que são parte de nossa família COP, ou COPADE, como carinhosamente nos tratamos. Com relação às apresentações, sempre que somos convidados fazemos sim, com muita satisfação de simplesmente levar divertimento às famílias, amigos e admiradores de música e carros.
Um assunto sempre na atualidade para os colecionadores. Considera importante possuir automóveis com placas pretas? Como você vê a proliferação dessas placas irregulares?
MARCELO – Realmente todo colecionador vislumbra ter um veículo com placa preta com Certificado de Originalidade emitido pela Federação Brasileira de Veículos Antigos, que automaticamente torna seu veiculo um item de coleção e com valor histórico, preservado para o antigomobilismo nacional. O problema é que existem entidades que se dizem sem fins lucrativos que literalmente vendem Certificados de Originalidade a veículos com baixa ou nenhuma qualidade banalizando a placa preta.
A FBVA e seus clubes federados possuem regras que visam elevar o nível de veículos placa preta de coleção, dando real valor aos que realmente merecem. Existe uma certa dificuldade para isso, já que o proprietário precisa estar afiliado a um clube e o veículo deve ser submetido a uma vistoria rigorosa que visa verificar o estado de originalidade e conservação do veículo antigo para emissão do certificado de originalidade.
Mas existem aquelas pessoas que visam somente o comércio e que são adeptas do ‘jeitinho’. Elas recorrem a estas instituições que se aproveitam de brechas que infelizmente existem nas regras dos órgãos nacionais que fiscalizam isto. Estas instituições não estão preocupadas com o estado do veículo ou se ele vai fazer parte de um acervo histórico. Não estão nem aí para a Resolução 56 do Denatran que diz que o carro deve manter suas características originais de fábrica para receber a almejada placa preta e não a “placa treta”, como sempre ouvimos no meio do antigomobilismo, placa esta que mancha os eventos.
O Opala está completando em 2018 50 anos de seu lançamento e foi um modelo que teve inúmeras versões, inclusive uma SW, a Caravan. De todas essas versões, qual a que você gosta mais e por que?
MARCELO – Eu particularmente gosto da versão Coupê, por inspirar uma certa esportividade.
Em poucas palavras, o que vem à sua mente:
- Andar de carro antigo… É uma terapia!
- Conseguir uma peça… É uma vitória!
- Um carro quebrado na viagem… É uma história a mais para se contar em nossos bate-papos!
- Fazer vistoria na sua cidade… É falta conhecimento de vistoriadores, mas alguns admiram o veículo a aprendem cada dia mais com os proprietários.
- Inspeção veicular… Se faz necessária, afinal são carros antigos e alguns estão bem velhos.
- Conseguir patrocínio… É difícil. Não é um meio que se possa oferecer serviços em troca de patrocínio.
Depois do Fusca, o Opala é o carro que reúne o maior número de clubes especializados em todo o Brasil. Fale um pouco sobre a importância do Opala na história da indústria automobilística brasileira.
MARCELO – A grande diferença, além do tamanho, era também o fato do Opala ser refrigerado a água, ter motor mais potente e um conforto que se comparava aos veículos americanos, que são referência no mundo. Tanto o Opala quanto o Fusca são veículos a toda prova. Por isso que estão ‘vivos’ até hoje e por isso existem tantos clubes de ambos modelos. Isso é gratificante, pois assim nosso leque de amizades cada dia está maior. Como digo às vezes, ‘o carro e só um pretexto para novas amizades’.
Uma das principais qualidades do Opala foi a sua versatilidade: viatura de Polícia, carro oficial, carro de resgate do Corpo de Bombeiros, ambulância, táxi… Na sua opinião, porque o modelo foi escolhido para usos tão diferentes?
MARCELO – Acho que o Opala chegou com a promessa de conforto, construção robusta e economia. Um carro que seria útil à família. Assim, foi um sucesso por 23 anos em todas as suas versões. Detalhe: a cada ano do Opala/Caravan tinha-se um sabor diferente ao dirigir. Tudo para atender a todos os gostos e necessidades, inclusive uma versão com muito luxo e conforto para sua época, o Diplomata, que foi muito usado pelo Governo.
Nossa entrevista está terminando e deixamos aqui com a palavra o grande amigo e presidente Marcelo, a quem agradeço imensamente pela participação e por poder mostrar a cada mês um pouco mais sobre os clubes brasileiros. O espaço é todo seu…
MARCELO – Gostaria aqui de deixar nosso agradecimento ao Maxicar, parceiro este que sempre está presente em nossas vidas nos divulgando.
Agradeço também a todos associados do Clube do Opala de Petrópolis, que mesmo com todas as tempestades que enfrentamos, nos dão força e suporte para continuarmos nossa caminhada no antigomobilismo.
Agradecemos também todos os novos associados de 2018, que graças a postura e trabalho de todos nos deram a honra de se afiliarem ao COP.
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