Um grande salto de qualidade
Exposição que aconteceu no belo Golf Clube, foi muito elogiado pelo público e expositores
Desde que assumiu a organização do mais antigo encontro de carros antigos de que se tem notícia no Brasil, em 2010, o Amigos do Antigo — vem colecionando êxitos. Acontecendo sempre em um único dia, o evento se notabilizou pela grande quantidade de veículos participantes e pela presença maciça de público. E sendo realizado em espaços públicos de Teresópolis, tinha as dificuldades que os eventos de rua sempre têm, como por exemplo a falta de uma estrutura mais completa e a impossibilidade de isolar os veículos — algo sempre acaba incomodando um pouco os antigomobilistas.Até então uma confraria de jovens apaixonados por carros antigos, em 2018 a ‘brincadeira’ se tornou mais séria em todos os sentidos: Amigos do Antigo virou clube, com direito a filiação à Federação Brasileira de veículos Antigos e tudo mais, através de uma fusão com o tradicional Volks Clube.
Estava na hora de um algo a mais, de um salto de qualidade também no encontro anual. Para tanto, foi contratada uma empresa especializada em eventos. A exposição saiu do espaço público e foi para encantador Golf Clube, que com seus gramados a perder de vista, tem condições de oferecer estrutura comparável aos mais famosos encontros de carros antigos do Brasil. Em certos aspectos, até melhores. Dessa vez, foram dois dias de evento — 07 e 08 de julho, sábado e domingo — com alguns veículos já se posicionando sexta-feira. Dias lindíssimos de inverno, sem sequer uma nuvem no céu. Sol com temperatura amena durante o dia e friozinho à noite e início da manhã, como só a Serra pode oferecer.
Expositores e público responderam positivamente. Muito elogiada, essa edição contou com a participação de mais de 600 veículos inscritos e excepcional presença de público, para a alegria dos diversos quiosques e food trucks participantes.
A cerimônia de abertura aconteceu às 10 da manhã de sábado e contou com a participação do presidente da Federação Brasileira de Veículos Antigos, Roberto Suga, que literalmente ‘voou’ de Vinhedo – SP, onde acontecia o Encontro Paulista, para prestigiar a moçada de Teresópolis.
Havia automóveis dos quatro cantos do Sudeste. Diretamente do Espírito Santo, causou sensação o cavalo mecânico Mercedes Benz LP 331 cabine-leito fabricado em 1958, que transportava três alemães: VW 1303 Super Beetle, Karmann Ghia Coupê e Mercedes Benz Unimog, além de um brasileiríssimo Fiat 147. Foi necessário muito jogo de cintura para entrar e sair do local com o conjunto, que foi exaustivamente fotografado.
O empresário Marcelo Pavão não apenas levou seu conjunto composto de pick-up street Ford F100 1958 + trailer, mas aproveitou para dormir nele junto com a esposa, de sábado para domingo, para não perder nada do showzaço que aconteceu ali. No palco, nada menos que Paulo Miklos (Titans), Toni Garrido (Cidade Negra), George Israel (Kid Abelha) e Valério Araújo — um dos melhores covers de Cazuza. A festa varou a madrugada e foi outro sucesso absoluto.
Destaques dos classificados
A exposição foi dividida em setores: importados, Família Galaxie, Dodges, Mavericks, VWs refrigerados a ar, VW ‘quadrados’ e outros modelos dos anos 1980 e novos clássicos do 90, Corceis, Chevettes, Pumas… com espaço de sobra para cada um deles.
Entre os Opalas, destaque para o SS prata fabricado em 1972. Presença do Landau 1979 que serviu o Papa João Paulo II durante sua visita ao Rio de Janeiro, em 1980. Na época, o carro pertencia ao Governo do Estado e recebeu algumas melhorias para atender o Pontífice que agora foi canonizado: bancos de couro, um radiador com maior capacidade — para não haver o risco de superaquecimento do motor nas calorentas ruas cariocas — e alças e apoios para pés para os passageiros do banco traseiro. Carro de grande valor histórico, sem dúvida.
Muito raros, Santa Matilde 4.1 1988 Conversível e Puma Spyder 1972 foram as grandes atrações entre os fora-de-série nacionais. Ambos muito originais, tendo o Puma até o aerofólio traseiro.
E como ainda estamos em plena Copa do Mundo, não podemos deixar de registrar a ilustre presença de um representante da Russia. O Lada Laika 1991 foi fabricado no apagar das luzes da extinta União Soviética e permanece impecável como se ainda estivéssemos naquela época. Mantém até os adesivos da concessionária.
Mas nessa ‘guerra fria’ de automóveis, os americanos ganham de goleada. A começar pelo clássico dos clássicos ‘made in USA’, Cadillac Coupê 1959, com sua traseira interminável e o chamado ‘rabo de peixe’, que na verdade não foi inspirado em nenhum ser marinho, mas sim nos aviões caça da época. Ainda por cima, tem o mesmo tom rosa do ‘Cadi’ de Elvis Presley.
Outra modelo de luxo, o Chrysler Imperial, esteve representado por dois exemplares: um 1970 e o outro 1981. Vendo-os lado a lado, fica evidente a transformação que sofreu em apenas 10 anos.
Ford Fairlane 500 1959, Chevrolet Bel Air 1956, Pontiac Grand Prix 1976, Buick Century 1974 e Chevrolet Impala 1964 foram outros destaques americanos.
Mas o prêmio Robinson Ferreira, espécie de ‘the best’ deste evento, foi para o raríssimo e ostentoso Stutz Blackhawk 1976. Com produção de apenas cerca de 500 unidades de quatro gerações, entre 1971 e 1987, o Blackhawk foi projetado pelo ban-ban-ban do design Virgil Exner e era fabricado na Italia, apesar da nacionalidade americana. Com faróis independentes da careceria, grade vertical e estepe sobreposto na tampa do porta-malas, esse carro de luxo é mais estranho que propriamente bonito. Muitas celebridades o possuíram, eles elas Frank Sinatra, George Foreman e… Elvis Presley. Este pertence a coleção Zembrod, de Teresópolis, que possui em seu acervo outros três!
Este ano foi instituído outro prêmio especial, o Wallace Torres, em homenagem ao jovem e querido antigomobilista de Petrópolis-RJ morto há poucos dias vítima de um infarto aos 34 anos. E o veículo comtemplado foi a pick-up Ford F100 1958, já citada nesta reportagem.
Foi sorteado um Gurgel BR 800 1991 entre expositores e visitantes. O ganhador foi Paulo Roberto Saraiva, do Rio de Janeiro, que no momento do sorteio já havia ido embora.
Texto: Fernando Barenco
Fotos e edição: Fátima Barenco e Fernando Barenco
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