Piloto e projetista italiano foi um dos responsáveis pela chegada da Fiat ao Brasil e acumulou vários títulos ao longo da carreira, na Itália e aqui
Um senhor grisalho, de pouco fala e hábitos simples passa quase despercebido por onde anda, mas a importância dele para o automobilismo mundial e brasileiro é ímpar. É muita história dentro do automobilismo de criação e dentro do automobilismo de competição. Vamos narrar ambas separadamente.Por trás das fotos de seu acervo pessoal, com os três primeiros protótipos de Fiat 147 que chegaram ao Brasil, tem a incrível história daquela que é a segunda maior montadora de automóveis do mundo nos dias atuais. Ele é Giuseppe Marinelli, ou Giuseppino ou ainda como ficou consagrado, Pino Marinelli.
O piloto italiano, colecionador de títulos na Europa e no Brasil, começou sua carreira como projetista de carros nos Estúdios Abarth em Turim. A Fiat sediada na mesma cidade logo viu o talento daquele ‘menino’ e o contratou. Na Fiat italiana seu primeiro trabalho foi desenvolver um dos carros de maior vendagem da história em todo o mundo, o Fiat 125, que chegou ao Brasil como Lada Laika, pois foi fabricado sob licença na Rússia e em muitos outros países com diferentes nomes.
A chegada da Fiat ao Brasil
Na década de 1970 a Fiat o envolveu na difícil missão de produzir carros no Brasil, com todas as dificuldades que poderiam existir, mas ele topou e nos conta agora essa história.
“Para começar, a Fiat, contrariando o caminho natural que seria produzir carros em São Paulo, escolheu Minas Gerais. São Paulo já tinha 11 fábricas de automóveis e quase toda a produção de autopeças no país. Então, foi tudo muito difícil. A fábrica estava nos alicerces em Betim-MG quando chegamos. Usamos como base a fábrica de tratores Fiat Allis na cidade de Contagem-MG. Queríamos produzir um veículo para tentar concorrer com o campeão de vendas, o Fusca. Então trouxemos alguns modelos de Fiat 127, sucesso desde 1971 na Europa e rodamos com eles 150 mil km em seis meses em testes no Brasil, mas logo vimos que o carro tinha que ser mais resistente para suportar o calor brasileiro, terra, lama, estradas esburacadas e terrenos íngremes. As estradas brasileiras eram péssimas na época.
Depois dessa dura prova, levamos os 127 para a Itália. Acompanhei toda a desmontagem dos veículos e a partir daí fomos fazendo as adaptações necessárias. Desenvolvemos uma nova suspensão e o motor de 800 cilindradas foi substituído por um com 1050 cilindradas para ganhar torque. Iniciamos novos testes com esse novo motor e essa nova suspensão. Primeiro na Itália onde rodamos com eles durante 8 meses antes de trazê-los para o Brasil. Depois viemos para cá com esses mesmos três protótipos e rodamos mais 110 mil km por todo o país, como mostram as fotos tiradas em Bertioga-SP em setembro de 1974.
Como eram muitas as estradas de terra e não estávamos acostumados com isso na Europa, a poeira penetrava no motor e no interior dos carros. Fomos obrigados a reforçar toda a vedação. A fábrica em Turim queria manter os pneus 135/70 R13 do 127, mas sugeri à matriz que deveríamos usar pneus radiais no 147, o que foi feito. Antes dele, no Brasil, só o FNM 2000 saiu de fábrica com pneus radiais. Depois de muitos testes, ajustes e adaptações, o Fiat 147 estava pronto para ser produzido.
Destaques dos classificados
Em 9 de julho de 1976 o presidente Ernesto Geisel inaugurou a fábrica. Em setembro do mesmo ano, o carro foi apresentado à imprensa em Ouro Preto-MG com a presença do meu amigo Emerson Fittipaldi e em outubro foi apresentado ao público no Salão do Automóvel de São Paulo.
Nossa fábrica sofria com a dependência das peças vindas de São Paulo, até que, outro amigo, Cledorvino Belili, um visionário, que em 1987 era diretor de compras da Fiat, iniciou o processo de ‘mineirização’ da fabricação de autopeças, trazendo os fabricantes para o entorno da fábrica. Esse visionário facilitou nossa produção e se tornaria mais tarde presidente da Fiat do Brasil, superintendente da Fiat para a América Latina e um dos grandes responsáveis pela compra da Chrysler pela Fiat.
Orgulho-me em ter sido o primeiro engenheiro-chefe da Fiat brasileira.”
Um campeão também nas pistas
No automobilismo de competição, o versátil Pino Marinelli é um fenômeno. Foi campeão em todas as categorias que disputou, seja como piloto, chefe de equipe ou conceituado preparador de carros como Ferraris, Masseratis, Alfas e Protótipos da Abarth. No nosso país demonstrou seu talento logo que chegou, sendo campeão brasileiro de marcas com o carro que acabara de lançar, o Fiat 147, fazendo dupla com Toninho da Matta, desbancando os carrões da época.
Repetiu a façanha sendo campeão brasileiro com o Uno no ano de seu lançamento. Foi ainda campeão brasileiro de rally com o Palio da Marinelli Team.
Onde tem velocidade, aí está Pino Marinelli. Lembram-se do ex-presidente Collor pilotando uma Ferrari F 40 a 180 km/h pelas ruas de Brasília? Foi Marinelli o autor dessa empreitada, cedendo o bólido ao destemido chefe da Nação à época.
Na Itália: no parreiral, com o neto em frente à estátua de Domênico Modugno e com a neta (amplie!)
Hoje, Pino Marinelli está aposentado e divide seu tempo entre o sítio nos arredores de Belo Horizonte, seu apartamento na capital mineira, temporadas em sua casa de verão na Itália, na belíssima Sammichele di Bari, sua cidade natal na Puglia — onde o pai cultivava uvas, produzia vinho e azeite de oliva — e ainda sobra tempo para períodos em São Paulo onde reside uma das filhas.
Com um carrinho e pódio da Maranelli Team
Como a velocidade está no sangue, já ensina os primeiros caminhos aos netos produzindo para eles carrinhos de competição, sendo que o vovô é cuidadoso com a segurança dos pequenos, pois, desenvolveu um freio especial só para eles. Esse caminho da velocidade já havia ensinado à filha e ao genro, um foi campeão e o outro vice-campeão de rally com a Marinelli Team. Entre a produção de um carrinho e outro, prepara pratos especiais para a família, já que, é também um expert na culinária italiana.
Pino Marinelli foi sondado por um escritor e uma editora que querem publicar sua biografia, mas concedeu essa entrevista exclusiva e o leitor do Portal Maxicar de Veículos Antigos tem o privilégio de conhecer antecipadamente essa fantástica trajetória e ter acesso a fotos pessoais nunca antes publicadas.
Congratulazioni al campione sulle piste e nella vita! Successo sempre Pino Marinelli!
Texto: João Baptista Jorge Pinto Filho
Fotos: arquivo pessoal de Pino Marinelli
Edição: Fernando Barenco
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