Fernando Barenco

Entrevista com Altair Manoel, novo presidente da FBVA

Recém empossado, ele nos conta o que o antigomobilista pode esperar da entidade pelos próximos dois anos

Paranaense hoje radicado em Florianópolis – SC, o advogado e antigomobilista veterano Altair Manoel aceitou o desafio de conduzir os rumos da Federação Brasileira de Veículos Antigos pelos próximos dois anos, em substituição a Roberto Suga, que teve seus dois mandatos marcados pela ampliação do número de clubes filiados e pela popularização do antigomobilismo.

Nessa entrevista exclusiva, Altair fala sobre que caminhos pretende seguir a entidade e as relações com o Poder Público na ‘era Bolsonaro’.


• Gostaria de começar nossa entrevista pedindo que o senhor se apresente aos antigomobilistas brasileiros.

Altair – Me chamo Altair Manoel, sou advogado, viúvo, natural de Curitiba/PR, apaixonado por veículos antigos desde 1960, quando comprei um Citroën 11 Légère, ano 1947, sem saber que um dia ele se tornaria um veículo de coleção, mas já tendo se tornado minha paixão. Dezesseis anos depois, conheci Dr. Enzo Monteiro do Nascimento, médico oriundo de um clube de Curitiba o qual não mais desejava permanecer e me convidou para formar um outro clube, que se chamaria Veteran Car Club -PR e assumindo a posição de diretor, assim comecei a minha vida de antigomobilista.

Nesta época era bem fácil adquirir veículos antigos, dessa forma construí uma expressiva coleção, mas por questões profissionais, fui transferido para o Rio de Janeiro e tive que deixar o antigomobilismo um pouco de lado. Anos depois retornei à Curitiba e logo em seguida fui finalmente transferido para Florianópolis/SC, onde resido até hoje. Chegando em Florianópolis, tive o privilégio de, com mais amigos, fundarmos o Veteran Car Club de Florianópolis, que já tem 32 anos de fundação e do qual fui presidente por vários mandatos.

Altair tomou posse em setembro

Em 2000, fui convidado pelo então, e hoje de saudosa memória, Presidente Dr. José Aurélio Afonso Filho para ser Diretor Regional da FBVA em Santa Catarina, o qual com muito orgulho desempenhei minha função até seu falecimento. Em sua substituição assumiu o Dr. Henrique Thielmann, que realizou o mesmo convite e minha permanência na diretoria se deu até 2014, quando compus a chapa que venceu as eleições sob a liderança do Dr. Roberto Suga e, assim, assumi a Vice-Presidência Financeira da FBVA. Agora como presidente eleito em setembro deste ano me sinto, aos 80 anos (bem vividos), com muita emoção, respeito e determinação para desempenhar essa árdua tarefa de representar toda a classe antigomobilista do Brasil.

• Os quatro anos de gestão de Roberto Suga foram marcados pela ampliação do número de clubes filiados à FBVA, que passou de 114 para 210. O senhor pretende manter esse ritmo de filiações de novos clubes nos próximos dois anos?

Altair – Em 2014 foi notado um universo bastante significativo de clubes antigomobilistas que não estavam filiados à FBVA, com a ampliação das diretorias regionais conseguimos nos aproximar e trazê-los para a Federação. Ainda existem muitos clubes nessa condição, contudo em menor quantidade do que havia em 2014, assim sendo talvez a FBVA não volte a dobrar seu quadro em tão curto período, mas certamente continuará crescendo.

Nos últimos quatro anos o número de clubes filiados quase dobrou

• Outra marca da administração Suga foi o grande número de viagens que ele fez por todo o Brasil, estando pessoalmente em muitas das cerimônias de filiação dos novos clubes. Às vezes participando até de dois eventos em um único final de semana. Os clubes podem esperar este mesmo ritmo frenético em sua administração?

Altair – O Suga foi um fenômeno e todos dessa atual administração, que inclusive ele faz parte como Presidente do Conselho Consultivo, têm total admiração sobre seu trabalho. A presença da FBVA nos eventos será a mesma, essa administração estimulará ainda mais as lideranças regionais e as dará bastante autonomia para representar a FBVA em todo o país. O Brasil é muito grande e a FBVA tem a missão de se espalhar por todo seu território cada vez mais, isso será impossível se eu não contar com as diretorias regionais para representar a FBVA onde quer que sua presença seja importante, assim como já acontecia na administração anterior.

• A partir de janeiro do ano que vem teremos aquela ‘dança das cadeiras’ na Administração Federal. Consequentemente teremos uma nova estrutura ministerial — com a provável extinção do Ministro das Cidades — e um novo Presidente do DENATRAN. O senhor espera que a FBVA continue avançando nas conquistas alcançadas até aqui ou pensa que será necessário um recomeço? Acha que o DENATRAN irá manter a Comissão de Veículos Antigos?

Altair – O status que FBVA alcançou depois dos mais de 30 anos de existência nos deu a respeitabilidade necessária para sermos ouvidos por qualquer que seja a linha ideológica que governe o país. Temos trânsito importante com membros de carreira do DENATRAN e isso já é meio caminho andado para que sempre sejamos ouvidos em quaisquer ações parlamentares ou governamentais que nos diga respeito e também para novas proposições de nossa parte. Quanto à Comissão de Veículos Antigos do DENATRAN, creio que será mantida sim, contudo vamos esperar a definição da nova Presidência para nos aproximar dessa nova gestão.

A FBVA tem mantido boa aproximação com o DENATRAN

• Nós que acompanhamos há vários anos a FBVA, sabemos que uma das grandes dificuldades da entidade é manter as contas em dia. As fontes de recursos são limitadas e fica quase impossível fazer frente às despesas fixas. Como ex-Vice-Presidente de finanças na gestão anterior, o senhor pretende agora como Presidente implementar alguma nova fonte de receitas para ter uma folguinha de caixa?

Altair – De fato, em 2014 assumimos a FBVA em uma situação financeira complicada e gradativamente conseguimos equacionar as contas com algumas mudanças, como o apoio na busca de patrocinadores para eventos como o CBR, assim direcionando a verba provinda dos Certificados de Originalidade para a manutenção da estrutura da FBVA. Para a próxima gestão, a ideia é expandir o incentivo privado às atividades relacionadas ao antigomobilismo, pois assim, andando com as próprias pernas, os eventos crescerão cada vez mais e, consequentemente, a FBVA se tornará cada vez mais forte.

• Com a implantação das novas placas padrão Mercosul, as famosas placas pretas deram lugar a placas com fundo branco e numerais em cinza, muito similares às placas convencionais. Isso de modo geral não agradou os colecionadores, que acham que elas não dão o devido destaque aos Veículos de Coleção. Como antigomobilista, qual a sua opinião a esse respeito?

As novas placas padrão Mercosul não agradaram os antigomobilistas

Altair – É sempre ruim quando nos acostumamos com algo e de repente isso muda sem que pudéssemos sequer ser ouvidos a respeito, isso obviamente nos chateia, contudo sabemos que essa foi uma ação em que nem mesmo o Denatran teve muito o que fazer, por se tratar de um acordo internacional que não previa fundos de cores diferentes. Com as mudanças governamentais para 2019, vamos ficar atentos caso o acordo das Placas do Mercosul entrar em pauta de reavaliação e, havendo a possibilidade, lutaremos como for possível para manter características do padrão atual, mas apesar disso, acho importante valorizar que todas as prerrogativas da categoria ‘veículo de coleção’ foram mantidas, independente da cor que a placa terá. Manter a validade da Resolução 56/98 em meio a essa mudança é uma conquista e deve ser valorizada.

• A esse respeito, temos também ouvido queixas de proprietários de antigos automóveis americanos, cujo espaço para a placa é bem limitado. A FBVA pretende tomar alguma medida junto ao DENATRAN para que seja adotado um formato de placa especial?

Altair – A FBVA já protocolou junto ao DENATRAN um pedido de opção de tamanho de placas para esses veículos, agora cabe ao representante brasileiro levar a proposta ao colegiado do Mercosul que analisará a questão, é um processo lento e burocrático, todavia o que cabia à FBVA foi feito e agora cobramos e acompanhamos.

• Ainda sobre Veículos de Coleção, tão logo tomou posse em seu primeiro mandato, Roberto Suga anunciou uma novidade que de modo geral agradou os antigomobilistas: uma certificação especial da FBVA “dada a veículos de mais alto grau de originalidade e de valor histórico significativo”. Segundo à proposta, seria concedida apenas a veículos com mais de 30 anos, aprovados num rigorosíssimo processo de avaliação. Uma espécie de placa preta paralela apenas para os realmente diferenciados. A FBVA arquivou esse projeto ou ainda pretende colocá-lo em prática?

Altair – Não digo que ele esteja arquivado, mas enquanto estamos passando por mudanças em relação ao emplacamento oficial dos veículos, achamos por bem deixar a ideia em stand by por enquanto. Antes de lançar uma ideia desse porte efetivamente precisamos estudar todos os critérios e mecânica de aplicação para que isso tenha valor efetivo.

O Car Day Brasil aconteceu em São Paulo, em 2017

• No ano passado a FBVA realizou com grande sucesso o Car Day Brasil – Concours d’Elegance, em São Paulo. Está nos planos a realização de uma segunda edição no ano que vem? Haveria a possibilidade da realização de outros eventos?

Altair – O Car Day Brasil está sim nos planos para 2019, esse evento foi idealizado pelo Presidente do Conselho Consultivo Roberto Suga e foi um verdadeiro sucesso, contando com juízes trazidos pessoalmente pelo Presidente da FIVA, Sr. Patrick Rollet. Ainda não posso dizer quando, nem onde, mas a intenção é de realiza-lo novamente. A FBVA sempre está aberta a realizar novos eventos, não há nenhuma previsão, todavia a possibilidade sempre existe.

• Como antigomobilista o senhor é favorável à exportação de clássicos brasileiros para o exterior, como tem acontecido nos últimos anos, principalmente com modelos Volkswagen refrigerados a ar, caso da Kombi, do SP2 e do Karmann Ghia TC?

Altair – Ainda que exportados, os veículos fabricados aqui sempre levarão consigo a história da indústria automotiva brasileira. O interesse do colecionador estrangeiro não pode ser visto como uma ameaça, mas sim como motivo de orgulho, pois ressalta como o veículo nacional tem seu espaço de respeito no antigomobilismo mundial. Nós nos interessamos por modelos americanos e europeus, eles se interessam pelos nossos, acho esse intercâmbio cultural salutar, e só enriquece o conhecimento dos interessados pelo antigomobilismo de todo o mundo.

Um VW SP2 em Munique, na Alemanha

• Para terminarmos, qual o senhor gostaria que fosse a principal marca de sua gestão?

Altair – Espero que tenhamos uma FBVA com forte ação regional, em que os clubes se sintam próximos da Federação, principalmente com o prestígio das diretorias regionais, que continuarão presentes e atuantes em todo o território nacional.


 

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Fernando Barenco

É editor do Portal Maxicar. Emails para essa coluna: fernando@maxicar.com.br

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