Repórter Maxicar

John Lennon e seu Rolls Royce psicodélico

Nos loucos anos 1960, o Beatle John Lennon ousou brincar com esse ícone da aristocracia britânica: o Rolls Royce

Muito mais do que apenas um meio de transporte, o automóvel sempre foi tido como um símbolo de status. E a tradicional marca britânica Rolls Royce — ao lado de umas outras poucas em todo o planeta — é considerada o símbolo máximo do luxo e da sofisticação, da sobriedade e da classe. Mas um dia alguém ousou brincar um pouco com esse ícone automotivo.

Fabricado em 1965 pela Rolls Royce LTD, o Phanton V branco, chassi número 5VD73 e série FJB111C, foi entregue ao Beatle John Lennon no dia 3 de junho daquele ano. Medindo cerca de 6 metros de comprimento e pesando 3 toneladas, a Limousine começou a receber os primeiros acessórios e modificações apenas alguns meses depois. Em dezembro foi instalado um telefone móvel via rádio. Em seguida o carro teve o assento traseiro modificado, para converter-se em cama de casal. Seguiu-se um sistema de som sob encomenda, TV e frigobar.

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A limousine, quando ainda era branca e “careta”

Em fevereiro de 1967, o Phanton já marcava cerca de 30 mil milhas em seu odômetro. Nesta época o carro já havia sido pintado de preto.

Mas Lennon ainda não estava nada satisfeito. A ideia de pintar o carro no padrão psicodélico foi dada pelo artista cigano holandês Marijke Koger. Em 1967 Koger, — que fazia parte de uma companhia de artistas chamada J.P Fallon —, estava hospedado na casa de John para pintar um piano e um vagão estilo cigano que ficava em seu jardim. John adorou a ideia de transformar o Rolls Royce em arte.

Segundo a versão original, a própria J.P. Fallon encarregou-se do trabalho, recebendo por ele £ 2.000,00. Mas de acordo com o pesquisador inglês Adam Bloomfield, sabe-se agora que Lennon realmente procurou a J.P. Fallon para a pintura, mas a empresa acabou terceirizando o serviço, contratando para o trabalho o artista local Steve Weaver que inclusive criou toda a concepção do desenho para John, a partir de sua visão. Steve recebeu pela pintura artística sobre a nova cor amarela do Rolls Royce apenas £ 290,00. Weaver já está morto, no entanto a sua filha confirmou que a concepção artística e a pintura original foi realizada para Lennon por seu pai. Para provar, ela apresentou a Bloomfield um recibo de 24 de maio de 1967 para a J.P Fallon, o desenho floral original usado como um padrão artístico para a pintura do automóvel, além do pedido de registro junto ao Instituto de Patentes, datado de 19 de junho do mesmo ano.

O carro psicodélico então recentemente pintado foi motivo de ultraje público. Conta-se que uma velha senhora atacou o carro a golpes de guarda-chuva, enquanto gritava: “Seus porcos, seus porcos! Como puderam cometer uma blasfêmia dessas contra um Rolls Royce?”. Prova da importância que a marca têm para os britânicos.

Os Beatles utilizaram bastante o Phanton psicodélico durante o auge da carreira do grupo, entre 1966 e 1969.

Lennon no RR em Nova York

Em 1970, John Lennon e Yoko Ono levaram o automóvel para Estados Unidos, para onde se mudaram. O carro foi emprestado para diversas estrelas do rock tais como Rolling Stones e Bob Dylan.

    Nesta época, Lennon e Yoko raramente utilizavam o carro. Por isso foi cogitada a possibilidade de vende-lo a um cliente americano. Porém, o negócio acabou não se concretizando e o Phanton V acabou sendo guardado em uma garagem de Nova York por um longo período.

    Então, em dezembro de 1977, Lenon se viu em apuros com a receita federal americana, decidindo então doar o carro ao Cooper-Hewitt National Design Museum em troca de um desconto de US$ 225 mil em impostos devidos.

    Entre outubro de 1978 e janeiro de 1979, o automóvel ficou em exposição pública, voltando em seguida a ser guardado em uma garagem em Silver Hill, Maryland. Lá, o carro iria permanecer, tendo exibições públicas apenas esporádicas. Isso aconteceu porque o museu não dispunha de recursos para manter um seguro que cobrisse a sua permanência em exibição por período integral.

    Em junho de 1985 o Cooper-Hewitt National Design Museum decide leiloar o Rolls Royce. Foi escolhida para a tarefa a famosa casa de leilões Sotherby’s, que estipulou um lance inicial de US$ 300.000 pelo veículo que havia pertencido ao ex-Beatle. O carro acabou sendo arrematado pela surpreendente quantia de US$ 2.299.000 por Jim Pattison, da Ripley’s International Inc., da Carolina do Sul, para exibição no Ripley’s “Believe It Or Not” Museum. Foi na ocasião o automóvel mais caro do mundo já vendido em leilão.

    O Phanton V foi emprestado à “1986 Expo” em Vancôver, cujo curador era o próprio Pattison. O automóvel então acabou sendo transferido definitivamente para o Canadá, já que Pattison possuía muitos negócios naquele país.

    Em 1987 Pattison deu o Rolls Royce de presente à Rainha Elizabeth II, da Inglaterra, mas o automóvel no entanto ficou em exposição no Museu dos Transportes da cidade de Cloverdale, na província canadense da Columbia Britânica.

    Atualmente no Museu

    Em 1993 o Phanton V foi transferido para Royal British Columbia Museum, em Victoria, também na Columbia Britânica, onde permanece em exposição até hoje. Antes de ir para o seu definitivo lar, o Rolls Royce passou pela restauração de sua pintura, que apresentava sinais de desgaste e rachaduras. Para o trabalho foi contratada a empresa canadense Briston Motors, que conseguiu reparar os danos causados pelo tempo, sem perturbar o trabalho artístico original pintado a mão.

    Atualmente o Rolls Royce de John Lennon encontra-se com cerca de 200 mil milhas rodadas, e mantém-se completamente original e em pleno funcionamento, como nos velhos tempos dos Beatles, para puro deleite dos eternos fãs.

    Texto: tradução e adaptação de Fernando Barenco
    Publicado por autorização de John Whelan, do Ottawa Beatles Site

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