Obra-prima da indústria nacional, o Landau ganhou uma série especial em 1979, em homenagem aos 60 anos da Ford no Brasil. Exemplares tinham cor exclusiva e plaqueta de identificação dourada
Primeira e única série especial do Landau — a “Edição Especial 60º Aniversário Ford” — foi apresentada no início de 1979, para celebrar as seis décadas da montadora no Brasil.
Não foi difícil escolher o modelo, já que ninguém tinha tanto prestígio quanto o “Galaxão”, ícone da classe “A” nos anos 1970 e responsável por trazer para nosso mercado o mesmo padrão de luxo e qualidade automotivo dos Estados Unidos.
Ford, 60 anos de Brasil
Instalada no Brasil em maio de 1919, a Ford, por longo tempo, se dedicou a montar carros e utilitários americanos importados, com alguns acessórios nacionalizados.
Antiga fábrica da Ford “Ipiranga” em São Paulo, com veículos da frota interna (Foto: Blog Antigos Verde Amarelo)
Porém, com o plano de Juscelino Kubistchek para criar uma indústria automobilística brasileira em 1956, a montadora foi obrigada a nacionalizar suas linhas de produção.
Após algumas hesitações, a Ford aderiu ao projeto federal e se voltou para fabricação de caminhões e pick-ups, deixando os automóveis para depois, numa estratégia análoga à da GM.
Já em 1966, a Ford apresentou o ambicioso projeto de fabricação do Galaxie 500, sedã americano, de grande porte. Um desafio, frente às condições incipientes da nossa indústria, com apenas 11 anos de idade.
Mas, graças aos investimentos estratégicos, empenho dos fornecedores e um rígido controle de qualidade, foi possível, pela primeira vez, produzir no Brasil um carro muito semelhante ao “Made in USA”.
Destaques dos classificados
Landau: o primo rico do Galaxie
A família Galaxie nacional fez sucesso desde o início (apesar das crises do petróleo em 1973 e 1979), mas, entre os diversos modelos e séries, o mais famoso era o top Landau. Ele foi apresentado em 1971 como versão da linha LTD e em 1976 se tornou linha autônoma, após uma reestilização da linha, que o deixou ainda mais luxuoso e discreto.
Foi justamente esse o modelo escolhido para brindar a Edição Especial dos 60 anos da Ford Brasil, em 1979.
O Landau 60º Aniversário da Ford
Frente com a clássica mira Ford
Com faróis duplos, setas cristal e uma imponente grade vertical de inox preto e prateado, a frente do Landau 1979 impunha respeito em meio aos carros de pequeno e médio porte no trânsito. Imagem reforçada pelos sólidos para-choques cromados, com friso de borracha fina na borda. O conjunto era identificado pela legenda FORD sobre o capô, encimado pela tradicional mira Continental, combinando com uma faixa branca pintada nas bordas do estampado central.
Estilo Lincoln
Carroceria sedã de quatro portas
A lateral de quatro portas era estilo sedã clássica, atravessada na parte de baixo, por um friso inox emborrachado, que acompanhava as bordas dos para-lamas. Com ele, um ressalto, estampado na lataria, iniciava no para lamas e terminava junto à porta traseira.
Para deixar o carro mais esguio, outra listra branca percorria a carroceria, na altura da maçaneta, criando uma ilusão ótica muito eficiente, reforçada pela baixa altura dos para-lamas. A inspiração vinha do Lincoln Continental, o “Cadillac” da Ford.
O teto era forrado em vinil preto com a pequena vigia traseira, marca registrada dos Landaus, contrastando com a ampla área de vidros verdes, nas portas.
Já os aros de 15 pol. recebiam pneus radiais faixa branca 215/70 e calotas de inox escovado – que eram compartilhadas com o próprio Lincoln.
A carroceria era pintada na cor Bordeaux Scala Metálico, desenvolvida exclusivamente para a Edição Especial e única opção de acabamento. Segundo consta, essa cor foi uma sugestão do Sr. Arno Berwanger, o “Rei do Galaxie” de Novo Hamburgo, RS.
Seis lanternas traseiras
Traseira com seis lanternas
A traseira era ocupada pela tampa do porta-malas de 400 litros, com os letreiros cromados “Ford” e “Landau” nas extremidades. Logo abaixo, havia um quadro preto fosco, com a mira cromada, ladeado por seis lanternas vermelhas, que sinalizavam as setas, freios e posição.
O para-choque traseiro, também cromado, tinha as luzes de ré embutidas e duas garras centrais, ladeando a placa de licença e substituindo o friso de borracha do para-choque dianteiro.
Abre-te sésamo!
Portas com adornos imitando jacarandá
O interior do Landau começava pelas quatro portas maciças, forradas em courvin cinza, destacado em motivos retangulares e com arabesco nas ombreiras. Ao centro, havia um aplique de plástico jacarandá, frisado em inox. Um pouco acima, a manivela do quebra-vento e abaixo, o apoia-cotovelo, junto com o trinco e a manivela dos vidros. Embaixo de tudo, havia uma espessa tarja de feltro, com as saídas de ar e os faroletes que alertavam quando a porta era aberta. Para mais requinte, as soleiras eram forradas em inox, com o logo da Ford.
Silêncio interior
Opção de forração platina esquerda ou cinza direita (Foto: Facebook Pastore)
Os bancos inteiriços, tanto na frente quanto atrás, eram cobertos de tecido Kasmann cinza claro, de alta qualidade, trabalhado em costuras verticais, com botonê e bolsas porta-documento nas costas. Eram capazes de acomodar até três pessoas, cada um.
O assoalho era forrado com felpudo carpete preto e o teto em vinil também cinza. A qualidade do acabamento empregado produzia o célebre isolamento acústico do Galaxie, que tornava quase imperceptível os ruídos do motor e do trânsito.
Opcionalmente, a forração das portas poderia vir monocromática, em courvin platina e carpete platinado, como o carro das fotos.
O painel deixa a desejar
Painel com o volante de quatro raios
O painel era um colosso retangular de plástico estofado, que fazia o volante de quatro raios Ford parecer pequeno. Mas, a apesar de todo luxo, o quadro de instrumentos era pobre, típico dos carros americanos da década de 1960. Contava apenas com marcador de gasolina e velocímetro horizontal graduado até 200km/h, alinhados com o toca-fitas Philco Ford. As demais funções eram monitorada por luzes vermelhas enfileiradas embaixo, junto com as chaves, o relógio quartzo, os comandos do ar condicionado e as novas saídas de ventilação integradas ao painel na linha 1979. A alavanca do câmbio ficava na coluna da direção, junto com a haste das setas e do farol alto.
Certidão dourada
Plaqueta dourada da Edição Especial e esboço original do protótipo. (Fotos: Pastore e historiadogalaxie.blogspot)
Um aplique de jacarandá cobria a parte inferior do painel e sobre ele, na tampa do porta-luvas, havia uma plaqueta dourada com os dizeres “Edição Especial 60° Aniversário da Ford Brasil S.A”, obra de Luiz H. Junior, desenhista de painéis da Ford.
Nem só de aparências vive o Landau
O famoso motor V8 302
O motor utilizado pelo Landau, desde 1976, era o famoso V8 302 “Windsor”, importado dos Estados Unidos. Oriundo do Ford Mustang era compartilhado também com nosso Maverick GT.
Tinha 4.950 cm2 e com auxílio da ignição eletrônica, rendia 199cv, com um caminhão de torque: 39.8 kgfm, que levava sem esforço os 1800 kg do Landau.
O câmbio poderia ser mecânico ou automático, ambos com três marchas.
Os números finais eram muito bons para um carro desse porte, já que o Galaxie acelerava aos 100 km/ h em 15,5 s e chegava a 165 km/h na caixa manual (155 km/h na automática), que o colocava na frente entre os modelos de luxo nacionais: Opala Comodoro, Dodge Magnum e Alfa Romeo 2300 TI, todos com aceleração na casa dos 14 segundos (17 para o Comodoro) e máxima 150, 155, e 160 km/h respectivamente.
Os freios, a disco e tambor eram compatíveis com o desempenho, porém os bancos lisos, a direção hidráulica e a suspensão americana clássica, pensados para o conforto, exigiam sangue frio do motorista, a partir dos 120 km/h.
Isso, somado ao consumo médio de 6 km/l de gasolina, convidava à moderação no acelerador.
Vácuo depois do fim
Na primeira foto, o Del Rey e a perua Scala, substitutos do Galaxie no topo da linha Ford. Na segunda , ao fundo o Landau presidencial, numa das últimas aparições oficiais, durante a posse do ex-presidente Fernando Collor, em março de 1990
Após a Edição Especial de 1979, o Landau continuou em produção com algumas cosméticas, enquanto as outras linhas do Galaxie acabavam. Em 1980, ganhou motorização a álcool e em 1982 se tornou a única versão disponível, até que terminou seus dias em 1983.
Foi sucedido pelo tecnológico Del Rey 1.6, mas, na prática, deixou um vácuo que jamais foi preenchido, simbolizado pelo Landau Presidencial que resistiu até 1991, no transporte do Presidente da República.
Cor futurista
Na ausência de um número oficial, acredita-se que foram produzidas 300 unidades do Landau “Edição Especial”, fabricados ao longo 1979, destaques entre os 5.400 Galaxies desse ano.
Publicidades Ford do Landau “Edição Especial” (Foto: historiadogalaxie.blogspot)
No fundo, a diferença se resumia à plaqueta e a cor. Mas, para o público privilegiado do Galaxie, o importante era ser Landau, afinal a Ford não conseguia aprimorar um carro que já era quase “perfeito”.
Algumas unidades foram repintadas, às vezes nas próprias agências, em cores mais sóbrias, já que o Bordeaux Scala parecia um roxo metálico, dependendo da incidência de luz. Efeito de estilo comum hoje, mas que não agradava a parte do público conservador da época.
Arno Berwanger junto ao Landau “Edição Especial” que ilustra essa matéria
O que não é o caso do exemplar que ilustra essa matéria. Inteiramente original, foi propriedade de Arno Berwanger “Rei do Galaxie” e integrou o acervo do legendário Museu do Galaxie, extinto em 1996.
Assim como ele, diversos exemplares do Landau Série Especial sobrevivem nas mãos de colecionadores e particulares, sempre admirados pela excelente construção e o prestígio de ser a única série especial do carro mais especial do Brasil: o Ford Landau.
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