De pecinhas raras de acabamento a componentes de motores e latarias, tudo pode sair de impressoras 3D. Materiais empregados vão do plástico às mais sofisticadas ligas metálicas
Imagine a situação: num domingo ensolarado você resolve dar um passeio com aquele seu lindo clássico dos anos 1960. Numa parada para um sorvete, um motorista menos atento ao fazer uma manobra acaba esbarrando na traseira dele. Nenhum dano à lataria. Ainda bem! Mas você percebe que a lanterna ficou trincada… E agora? Onde encontrar outra?
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Peças genuínas novas — sobretudo as de acabamento — em geral são raríssimas. Só mesmo daqueles estoques antigos perdidos em depósitos. Por isso, na maioria das vezes você tem que optar pelas já usadas, que além de caras, podem não estar bem conservadas. Em outras, tem que apelar para peças paralelas de baixa qualidade. E o que é pior: dependendo do ano/modelo/origem do automóvel, a peça que você precisa simplesmente não existe mais!
Não se desespere! A impressão 3D é a solução para esse caso.
Denominada tecnicamente de “Manufatura Aditiva”, a impressão 3D vem a cada dia se tornando mais avançada e ao mesmo tempo mais acessível. É empregada hoje em inúmeras atividades: medicina, engenharia, odontologia, eletrônica, e nos mais variados ramos da indústria, inclusive a automotiva.
Frente e verso de lanternas de um clássico Renault produzidas pela empresa europeia Custom Prototypes
Tecnologia de ponta, para todos os bolsos
Essa tecnologia não é nova. Começou seu desenvolvimento nos anos 1970 e na década seguinte começaram a surgir as primeiras impressoras 3D. Hoje é possível encontrar desde equipamentos ultra sofisticados, que custam milhares de dólares, até impressoras para uso doméstico, com preços acessíveis, mas que dão conta do recado em pequenos projetos.
E dependendo do equipamento, os materiais empregados na impressão também são os mais variados: plástico, aço, alumínio, nylon, cerâmica, resina e até titânio e carbono. E alguns podem até ser misturados.
Tudo isso foi produzido em impressoras 3D
Destaques dos classificados
Quais as vantagens sobre outros métodos de fabricação?
Sabe aquela lanterna que precisa ser substituída? Através de métodos antigos seria economicamente inviável a fabricação de uma nova, pois seria necessária a fabricação dos moldes. Algo impensável para apenas uma peça, ou mesmo quantidades pequenas. Veja como a tecnologia 3D pode resolver o caso:
Não é necessário nenhum molde. A peça original é escaneada e o projeto é desenvolvido na tela do computador. Então, pode ser empregado numa única peça e em tiragens pequenas;
- Depois de projetado, o objeto pode ser impresso de minutos a algumas horas, dependendo de sua complexidade e tamanho;
- O nível de qualidade e precisão é alto, podendo a reprodução em 3D ficar tão boa quanto a peça original;
- Podem ser empregados vários materiais, conforme já comentamos acima, que são utilizados na impressora em forma de pó;
- A tecnologia permite que sejam impressas em 3D desde objetos mais simples e pequenos, até os maiores e mais complexos;
- Dependendo da complexidade do projeto e do equipamento, com algum conhecimento e prática, você pode até imprimir sua peça de reposição em casa.
Peças dos mais variados tipos
A atual tecnologia de impressão em 3D permite a fabricação dos mais variados tipos de peças. As mais usuais são as de acabamento, pequenas como botões, emblemas, tampas, frisos, suportes, garras, aros… Mas já tem empresa produzindo carros inteiros em 3D, incluindo o chassi e o bloco do motor, como você vai ver mais para frente.
Encontramos uma empresa de Manaus-AM, a JR AutoSHOP, que descobriu na impressão em 3D um filão de mercado bastante específico: os VWs “quadrados” dos anos 1980 e 90. Ela fabrica diversas peças de acabamento normalmente difíceis de encontrar para a linha Gol, Parati e Saveiro. Por exemplo: batente de parachoque, puxador de porta, lente da luz de teto. Segundo a JR, todas as peças seguem os padrões originais.
Empresa de Manaus produz peças para a linha esportiva VW dos anos 1980/90, como esse puxador de porta da linha Gol
Grandes fabricantes de automóveis como Volkswagen, Fiat e Ford já adotaram há muito tempo a impressão em 3D em seus novos projetos automotivos, na fabricação de protótipos dos mais diversos componentes. O processo reduz o tempo de desenvolvimento de novos modelos e barateia o custo de produção.
Peças originais Porsche para modelos antigos e contemporâneos
Já a Porsche abraçou essa tecnologia em outras frentes. Pela primeira vez, os pistões para o motor do 911 estão sendo produzidos em uma impressora 3D. Além de pesarem 10% menos, esses pistões possuem dutos integrados de resfriamento, algo que não seria possível ser empregado pelo sistema convencional de fabricação.
A Porsche Classic fabrica em Impressão 3D peças esgotadas no estoque
Mas a Porsche Classic, sua divisão de modelos antigos, já vem produzindo há algum tempo, através da impressão 3D, aquelas peças de reposição que não estão mais disponíveis no estoque da empresa e cuja fabricação em maior escala geraria um alto custo. É o caso de um componente da embreagem do Porsche 959, cuja produção foi de apenas 292 carros.
Jay Leno faz peças em sua oficina
Jay Leno e uma das impressoras 3D de sua oficina
O apresentador e mega colecionador americano Jay Leno tem mais de 200 carros antigos em sua coleção (sem contar as motos), alguns com mais de 100 anos. Então, às vezes fica impossível encontrar peças de reposição. Por isso ele investiu em tecnologia de impressão 3D para que sua equipe de manutenção possa produzir as peças não encontradas no mercado, além de fabricar detalhes exclusivos para os carros personalizados.
Superesportivo direto da impressora
Czinger 21C é o nome do superesportivo híbrido de US$ 1.7 milhão apresentado no ano passado na Califórnia – USA. Além de ter um motor com mais de 1.200 cv, o que ele tem de sensacional é o fato de ser todinho fabricado com tecnologia 3D. Isso mesmo! Do chassi ao motor V8, passando pela carroceria de fibra de carbono, tudo foi impresso. A produção começa para valer esse ano e serão fabricadas apenas 80 unidades, o que justifica o uso dessa tecnologia.
Com o emprego da impressão em 3D novos horizontes se abrem na restauração e manutenção de carros antigos, que antes, em alguns casos não teriam outra possibilidade, além de ficar por meses ou até anos encostados no fundo de um galpão, à espera de peças de reposição.
Texto e edição: Fernando Barenco
Fotos: Divulgação
Videos: Youtube
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