Mosca Branca

Fissore, um elegante DKW exclusivo do Brasil

DKW Fissore

Com design italiano, ele foi apresentado em 1962, mas fabricado somente a partir de 1964. Um dos mais belos carros nacionais de sua época, teve vida curta e hoje é raríssimo

Em 1962 a DKW-Vemag apresentava no Salão do Automóvel um belo e sofisticado sedan batizado de Fissore, projetado no estúdio italiano Carozzeria Fissore. Foi uma das sensações do evento.

O protótipo deixava evidente que se tratava de um carro contemporâneo de estilo europeu, mas a sua construção era complexa e exigia alterações na linha de montagem. Além disso o DKW Fissore demandava bastante trabalho manual especializado, o que tornaria o ritmo de produção mais lento.

DKW Fissore
Salão do Automóvel

Além disso, naquele início dos anos 1960 o Brasil passava por uma crise política e econômica, o que acabou gerando indefinições administrativas na DKW-Vemag. Por todos esses motivos, o DKW Fissore só começou a ser efetivamente fabricado um ano e meio depois, em junho de 1964.

Muito vidro, espaço e elegância

Era um sedan de três volumes, duas portas, amplo espaço interno e muita visibilidade, graças às colunas bem estreitas e à grande área envidraçada, o que dava a ele um ar moderno. O chassi era o mesmo do Belcar e da Vemaguet.

DKW Fissore
Linha de montagem

Custava 25% a mais que um Belcar e era mais caro que o Aero, da Willys.

O espaçoso interior seguia o padrão dos demais DKW nacionais. Podia acomodar até 6 pessoas. Seu amplo porta-malas acomodava um bom volume de bagagens.

Era um automóvel pesado: 1.100 kg para um modelo de porte médio (70 Kg a mais que o Belcar). Sua produção exigia excesso de soldas de estanho e até a grande quantidade de vidros contribuía para aumento de peso, tanto que ao longo do tempo, a DKW-Vemag trabalhou para torná-los mais finos.

DKW Fissore
Porta-malas espaçoso

Como forma de contornar um pouco esse problema, o Fissore era equipado com o motor S, o mesmo três cilindros e dois tempos de 981cc dos demais DKW desde 1961, mas um pouco mais potente. Enquanto Belcar e Vemaguet tinham 50cv, o Fissore contava com 60cv, segundo o fabricante.

Quanto a isso há uma controvérsia: segundo dados técnicos, os motores S sofreram algumas melhorias para o aumento da potência, entre elas janelas de admissão, transferência e escape trabalhadas e carburador melhorado, com consequente aumento da taxa de compressão.

Mas conta a lenda que os motores S dos Fissores eram na verdade exatamente iguais aos demais motores DKW. Simplesmente eram selecionados para os Fissores aqueles que apresentassem maior potência nos testes de dinamômetro. No entanto, dificilmente eles chegavam de fato aos 60cv.

Lubrimat

O motor do Fissore era igual ao dos demais DKWs


Foi o primeiro DKW equipado com o famoso sistema Lubrimat, que dispensava a adição de óleo dois tempos diretamente no tanque de combustível cada vez que o carro era abastecido. Com o Lubrimat isso era feito a partir de um recipiente de 3,5 litros que armazenava o óleo, que ia sendo acrescentado gradativamente ao combustível. Com 1 litro de óleo podia-se rodar até 1.000 Km.

Freios a disco na dianteira e embreagem semiautomática Saxomat eram opcionais. O câmbio era manual de quatro marchas + marcha-a-ré, na coluna de direção. Media 4,48m de comprimento e 1,62m de largura.

DKW Fissore

Alterações no porta-malas e no bocal de combustível


Ao longo de sua curta vida, o DKW Fissore passou por discretas atualizações de estilo. Em 1966 a tampa do porta-malas ficou menor, abrindo acima da placa de licença, o que permitia o uso de menor quantidade de solda no painel traseiro. Isso ajudava a diminuir seu peso. O bocal de combustível foi deslocado da lateral direita para trás da placa. Os piscas dianteiros ficaram maiores e foram deslocados para as laterais. Antes ficavam abaixo dos faróis.

O painel de instrumentos recebeu saídas de ventilação nas extremidades para reduzir o tradicional embaçamento dos vidros. Os bancos ganharam nova padronagem.

Em 1967, novas lanternas traseiras…


Em 1967, as lanternas traseiras quadradas e separadas em três seções horizontais foram substituídas por lanternas retangulares com uma das laterais em formato de seta, seguindo o padrão da Vemaguet daquele ano. As molduras dos faróis foram abolidas e eles passaram a ser contornados pela própria grade. O sistema elétrico passou a ser de 12 volts, com alternador.

…. e mudanças também na frente, com faróis sem moldura e seta deslocada em novo formato


Compra pela Volkswagen

Ainda em 1964, na Europa, a Volkswagen adquiriu a Auto Union. Em consequência, a DKW e os característicos motores de 3 cilindros 2 tempos foram deixados de lado, passando a ter prioridade os veículos da marca AUDI. Como no Brasil a Vemag fabricava sob licença os veículos da Auto Union — especificamente os DKWs — e somando-se a isso as dificuldades financeiras, a Vemag passou a estudar alternativas, como a associação com outras montadoras europeias, como a Citroën e a Fiat.

No início de 1967 a Volkswagen assumiu o controle acionário da Vemag, prometendo em sua publicidade manter a fabricação da Linha DKW no Brasil. Enquanto isso surgiam notícias do lançamento de um novo carro. Um modelo de quatro portas e motor traseiro, baseado em um antigo protótipo da Volkswagen alemã.

Na propaganda, a Volkswagen prometia manter a Linha DKW em produção


No entanto, a Volkswagen foi reduzindo gradativamente a produção dos DKWs, com a consequente demissão de funcionários. Aos poucos, as instalações da DKW-Vemag foram dando lugar ao Departamento de Engenharia Experimental da VW. O Fissore foi o primeiro modelo a ter sua fabricação encerrada. Finda a produção de DKWs, o tal novo modelo envolto em mistérios foi finalmente revelado: no salão do Automóvel de 1968 era apresentado o VW 1600, modelo logo apelidado de “Zé do Caixão”, ou “Fusca de 4 Portas”.

Mas em 1968 ainda foram comercializados os 3.514 DKWs dos diversos modelos, que existiam no estoque…

Assim chegava ao fim a curta vida do DKW Fissore. Ao longo desses apenas quatro anos, foram produzidos 2.638 exemplares (algumas fontes citam 2.489). Hoje se tornou raríssimo e não é fácil encontrar um exemplar em bom estado a venda. Até mesmo nos maiores encontros de carros antigos do Brasil, a presença de algum DKW Fissore não é muito habitual.

A SW Fissore, que nunca ganhou as ruas

A princípio, o contrato entre a Carozzeria Fissore e a DKW-Vemag tinha a duração de 10 anos, terminando somente no final de 1971. Mas foi cancelado antes da hora pela nova administração Volkswagen.

 Além do nossos Sedan Fissore de duas portas, estava previsto o lançamento de um Sedan de quatro portas e de uma Station Wagon também de quatro portas, cujos protótipos chegaram a ser desenvolvidos na Itália. A perua seria apresentada com toda pompa e circunstância no Salão do Automóvel de 1967.

 Segundo o jornalista José Roberto Nasser, já falecido, a Carozzeria Fissore enviou dois protótipos da Fissore SW para o Brasil em 1962. Mas elas permaneceram em stand-by para não dividir as atenções com o Sedan mostrado no Salão do Automóvel daquele ano.

O Fissore argentino

DKW Fissore Argentina

Nossos Hermanos argentinos também tiveram o seu Fissore.  O Auto Union FS Fissore, é claro, também foi projetado pela Carozzeria Fissore e teve vida mais longa que o nosso. Produzido a conta-gotas de 1963 a 1975, este lindo coupê, porém teve tiragem bem mais modesta: apenas 700 carros.

Texto: Adriano Esteves Ferreira e Fernando Barenco


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