Mosca Branca

Corona Dardo, o “Fuori Serie”

Versão brasileira do italiano Fiat X 1/9, esse belo esportivo targa foi apresentado no Salão do Automóvel de 1978 e tinha como grande diferencial o motor 1300 do 147 Rallye

Puma GT, MP Lafer, Miura Sport, Adamo… o que esses modelos têm em comum? A época em as importações de automóveis eram proibidas, foi pródiga na criação dos chamados modelos fora-de-série, de produção limitada, para preencher o nicho de mercado dos esportivos importados, que não chegavam até nós. Via de regra, além da carroceria em fibra vidro, estava a adoção da mecânica Volkswagen refrigerada ar, que embora não tivesse o desempenho como principal qualidade, era simples, robusta e de fácil manutenção.

Entre os destaques do Salão do Automóvel de 1978, a Revista 4 Rodas apresenta o novo esportivo Corona Dardo


Foi então que em meados dos anos 1970 a Corona S.A. — uma fabricante de carrocerias para caminhões pertencente ao Grupo Caloi (o das bicicletas) — foi à Itália buscar um esportivo para reproduzir aqui. Assim, era apresentado no Salão do Automóvel de São Paulo de 1978 o Corona Dardo, uma réplica autorizada do Fiat X1/9.

Projeto de Toni Bianco

“O Bruno Caloi (dono da Caloi) me levou ao salão de Turim e disse que eu poderia escolher qualquer um dos modelos esportivos expostos para o reproduzirmos no Brasil. Aí apontei para o Fiat X 1/9 e respondi: ‘quero fazer este’. Já no Brasil, encontramos um Fiat X 1/9 amassado e compramos ele. Eu consertei todas as chapas do carro e extraí o molde do Dardo sobre esta carroceria original do Fiat X 1/9. Foi assim que tudo começou”, contou em um evento o famoso projetista Toni Bianco, que além de produzir os moldes, foi o responsável também pelo desenvolvimento do chassi tubular composto de três partes unidas por uma estrutura de fibra de vidro do Corona Dardo.

Corona Dardo

Motor Fiat 1.3 central e um dos porta-malas


Para o projeto a Corona resolveu pensar fora da caixa. Embora a carroceria também fosse em fibra de vidro, como nos demais foras-de-série da época, a empresa optou por uma mecânica completamente diferente: para ficar tudo em casa, foi adotado o conjunto do Rallye, a versão mais apimentada do Fiat 147, com motor de 1300cc. Vem daí o ‘sobrenome’ F 1.3 da primeira fase do Dardo. A instalação do motor era transversal e central, com tração traseira e radiador instalado na frente.

O câmbio era de 4 marchas, com aqueles engates difíceis típicos dos 147. Os freios eram a disco nas quatro rodas. A suspensão independente McPherson dava uma ótima estabilidade, mas os 72cv não eram suficientes para um desempenho de fato esportivo, mesmo para um modelo que pesava menos de 900 kg. Ia de 0 a 100 em 18,8s, com velocidade final de 148 km/h.
De acordo com os testes da Revista 4 Rodas na época, faltavam ao Dardo F 1.3 uns 30 cavalinhos extras.

Um targa com design italiano de Bertone


O Dardo só chegou às ruas em agosto de 1979. Conversível estilo targa, moderno, com frente em forma de cunha, ótima aerodinâmica. Bem atemporal. Seu design era quase idêntico ao do esportivo italiano que o originou, — que é assinado pelo Studio Bertone — diferindo apenas nos detalhes de acabamento. O teto era rígido e removível, os faróis escamoteáveis com acionamento elétrico. As rodas eram de 13 polegadas em liga leve, com pneus 165/70 P3 da Pirelli.


Devido à posição do motor, tinha dois porta-malas, algo bem fora do comum, principalmente por se tratar de um esportivo de apenas dois lugares. Somados tinham 310 litros. Apesar disso, o estepe não ficava guardado no porta-malas, mas sim dentro do carro, atrás do banco do carona. Quando removido, o teto rígido podia ser encaixada no porta-malas dianteiro.

Corona Dardo

Porta-malas dianteiro. Ambos eram acarpetados


Apesar do uso de bons materiais — como couro nos bancos, laterais e tabelie do painel —, os acabamentos deixaram um pouco a desejar, principalmente no interior, algo bastante criticado pelas publicações especializadas da época. Aos poucos essa deficiência foi sendo sanada.

Corona Dardo

Na primeira fase o painel era o mesmo do Fiat 147. Na foto menor, painel da Variant II do carro usado no teste de lançamento da Revista Auto Esporte


Os primeiros exemplares tinham os instrumentos do painel da VW Variant II. Em seguida passaram a ser usados os instrumentos do próprio Fiat 147, um tanto pobres para o padrão do carro. Esse detalhe também foi criticado pela mídia, que achava que o Corona Dardo, um dos automóveis brasileiros mais caros da época, merecia um painel de instrumentos exclusivo.

Corona Dardo, a venda nas Concessionárias Fiat

Corona Dardo

Na propaganda (da qual “roubamos” o titulo dessa matéria) a indicação que o Corona Dardo estava a venda nas Concessionárias Fiat


Um detalhe curioso é que a própria Fiat assumiu as vendas, a garantia e a assistência técnica do Dardo em suas concessionárias. Essa iniciativa, além de facilitar a vida da Corona, dava credibilidade ao esportivo, o que impulsionou os vendas. Por esse motivo, até hoje muitas pessoas chamam o carro de “Fiat Dardo”.

Mais potência, novo visual

Corona Dardo

Em 1981, motor mais potente e uma leve reestilização. Agora o farol escamoteável ficava aparente e voltado para cima, quando apagado


O ano de 1981 foi de mudanças para o Corona Dardo. Primeiro chegou a versão movida a álcool e os instrumentos do painel passaram a ser redondos, emprestados primeiro do VW Passat e depois do Fiat Oggi.

No mesmo ano foi apresentada a versão 1500. O mesmo motor Fiasa 1300 do 147 Rallye foi apimentado a pedido da Corona pela Silpo Equipamentos Esportivos e passou a contar com 1500cc e a potência saltou para 96cv.

Diferenças entre as frentes da primeira para a segunda fase. Repare na abertura dos faróis…


A carroceria sofreu uma leve reestilização. O Dardo ganhou novos parachoques e os faróis escamoteáveis passaram a ser descobertos e voltados para cima, virando para frente quando acessos. Mesmo estilo do Porsche 928. Nessa fase o Dardo ganhou um novo “sobrenome”: F 1.5.

O Dardo teve sua produção encerrada pela Corona em 1983. Os números não são precisos, mas estima-se que tenham sido fabricados 300 exemplares neste cinco anos.

O Dardo da Grifo

Mas sua história não acaba aqui. Com o fim da produção, a Corona vendeu os moldes, projetos e direitos de fabricação a um empresário italiano radicado em Cotia-SP chamado Rosario Di Priolo. Assim nascia o Grifo Dardo, que Di Priolo pretendia exportar. Para isso contava com a assessoria técnica do pai do projeto: Toni Bianco.

Alguns carros chegaram a ser vendidos nesta nova fase, inclusive por concessionárias Fiat. Mas o projeto de exportação não deu certo e os negócios da Grifo não prosperaram. Assim, a produção foi encerrada em 1985. Mas como havia muitas carrocerias prontas, o Dardo continuou sendo vendido a conta-gotas, ao longo dos anos. Algumas fontes indicam que o último foi finalizado em 2004, informação que não podemos confirmar.


A origem do Corona Dardo: italiano Fiat X 1/9

O carro conceito Autobianchi A112 Runabout projetado pelo designer Marcello Gandini para o Studio Bertone em 1969 foi a fonte de inspiração para o Fiat X 1/9, cuja produção teve início na Itália em 1972. Assim como o Dardo, o X 1/9 no início tinha motor 1.3, herdado do Fiat 128, um pequeno modelo familiar, com versões sedan de duas e quatro portas e SW.

Sua carroceria de metal era produzida pela fábrica da Bertone em Torino e depois encaminhada à Fiat, onde o carro era montado. Tinha peso e potência equivalentes ao Dardo F 1.3. E assim como ele, teve depois uma versão 1.5.

O X 1/9 foi fabricado pela Fiat até 1982, com a expressiva produção de 140.500 carros, grande parte deles exportados para os EUA. A partir daquele ano, a própria Bertone assumiu a fabricação e produziu outras 19.500 unidades. Nessa fase, X 1/9 recebeu uma leve reestilização.

Texto e edição: Fernando Barenco
Fotos: propagandas de época, revistas 4 Rodas e Auto Esporte e grupo Dardo Corona, no Facebook


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