Carro criado pelo mago da customização para o cinema e a TV tem uma história digna dos melhores roteiros de Hollywood. Barris é o responsável por lendas como o primeiro Batmóvel
Não é todo dia que se vê uma criação do icônico customizador de carros para a TV e o cinema George Barris em sites de classificados. Eis que acabamos de descobrir no portal americano de clássicos Hemmings uma de suas famosas criações: o Chevrolet Aztec 1955. Embora esse não tenha sido um carro das telas, ele ficou famoso na época, com apresentações em todo os EUA e estampando as capas de renomadas revistas. Recebeu diversos prêmios também.
E sua história daria um movimentado filme de Hollywood ou uma série de sucesso da Netflix. Veja só!
Originalmente um Chevrolet Bel Air, o “Aztec” foi comprado novinho por Bill Carr, um talentosíssimo restaurador e customizador, amigo de Barris e com quem dividia o apartamento. Bill logo resolveu fazer modificações no carro, mas seu ponto forte não era o design e sim o de colocar a “mão na massa” (ou nesse caso, “na lata”). Barris então esboçou o projeto, posto em prática por Bill, trabalho que levou dois anos, sendo concluído no final de 1957. O Chevrolet Aztec Foi então apresentado com muito sucesso em uma feira de automóveis em Portland e daí ganhou fama.
George Barris e Bill Carr e um dos muitos troféus (d) ganhos pelo Chevrolet Aztec
O bandido Bobby “Caolho”
Em 1961 Bill Carr achou que era hora de vender o Chevrolet Aztec. O comprador tinha um nome bastante sugestivo: Bobby “Caolho” Wilcoxson, que Bill veio saber depois se tratar de um tremendo malfeitor, responsável por assaltos e assassinatos. E ele tomou conhecimento disso da pior maneira: logo após à venda, Bill foi procurado pelo FBI, que queria confiscar o pagamento, já que o carro havia sido comprado com dinheiro de um assalto a banco. Mas como ele não tinha mais o dinheiro, entrou em um acordo com o FBI para ajudar na captura de Bobby “Caolho”, que a essa altura era um dos dez foras-da-lei mais procurados pelo FBI. Bill o atraiu publicando anúncios pedindo ao bandido que entrasse em contato para resolver pendências na documentação do carro. Ele caiu na armadilha e foi preso.
Bobby “Caolho” Wilcoxson no dia de sua prisão, em 1962 e suas antigas fotos nos arquivos do FBI
Bill passou então a ser ameaçado, mas “Caolho” acabou sendo condenado a morte. Antes da prisão, ele havia escondido o carro em uma garagem em Phoenix, Arizona. Descoberto seu paradeiro pelo FBI, o Chevrolet Aztec foi leiloado, sendo arrematado por uma concessionária Chevrolet de Tucson, onde o carro foi posto à venda.
Foi comprado por US$ 3.500 por um marinheiro, que o levou para o estado da Virginia, o repintou e ficou com ele por alguns anos. Em seguida o passou novamente a diante. Dessa vez o Chevrolet foi parar na Pensilvânia, onde sofreu algumas modificações.
Destaques dos classificados
O FBI e a prensa do ferro-velho
Cinco anos depois, em Nova Jersey, ganhou um novo dono, que o deixou em uma oficina para fazer uma restauração completa. Quando o carro já estava em parte desmontado — sem interior, sem grades e cromados, sem parte da mecânica — entra em cena novamente o FBI. É que a tal oficina era também um ponto de venda de drogas. Então tudo que havia lá dentro, incluindo os carros dos clientes, foi confiscado.
O então proprietário ficou um bom tempo sem saber o paradeiro do carro, que havia sido levado para um pátio de apreensão da justiça onde ficou ao relento. Quando finalmente o encontrou, o Aztec estava irreconhecível. Naturalmente desolado, ele então pediu a um ferro velho que destruísse o carro.
Mas então, a história sofreu uma reviravolta: enquanto voltava para casa foi convencido pelos filhos a resgatar o carro de seu triste fim numa prensa.
Embora em segurança, nos anos seguintes o Chevrolet Aztec permaneceu em nova Jersey, mas ainda precisava ser recuperado. É aí que aparece no roteiro o atual proprietário. Barry Mazza, o comprou em 1994 e o levou para Fort Pierce, na Flórida, onde o carro permanece até hoje. A restauração levou cinco anos e trouxe de volta todas as suas características dos anos 1950.
Agora, o Chevrolet Aztec de George Barris está à venda por US$ 250 mil (em torno de R$ 1.300.000). Descobrimos que Mazza já havia tentado vendê-lo em um leilão realizado pela Mecum no ano passado. A expectativa era que fosse arrematado por até US$ 450 mil. Mas não houve interessados.
Algumas características do Chevrolet “Aztec” de George Barris
- Vencedor do Custom Car d’Elegance, no 9º Portland Roadster Show de 1958, além de vários outros prêmios.
- Possui várias partes da carroceria em chumbo, o que o torna bastante pesado
- Paralamas traseiros rabo-de-peixe personalizados do Studebaker Hawk
- Lanternas traseiras exclusivas feitas à mão
- Aberturas de grade personalizada com bandejas Studebaker 1953 cortadas e alargadas
- Faróis e saias do para-choque adaptados do Mercury Turnpike Cruiser 1957
- Cromados personalizados e acabamento em alumínio canelado
- Tinta Honey Gold Candy criada por computador a partir de restos da tinta original encontrados no porta-luvas
- Motor V-8 de bloco pequeno. Originalmente era de 6 cilindros
- Transmissão automática
- Direção hidráulica e freios a disco
- Calotas personalizadas
Sobre George Barris
George Barris é um dos mais famosos customizadores de automóveis de todos os tempos. Se notabilizou pela criação de carros icônicos para filmes de Hollywood e séries de TV. Um de seus projetos mais conhecidos é a primeira versão do Batmóvel, da série dos anos 1960 estrelada por Adam West. O carro foi projetado a partir do carro-conceito Lincoln Futura de 1954.
Outros carros famosos de Barry são o calhambeque da “Família Monstro” e aquela medonha Station Wagon verde de oito faróis, da primeira versão do filme “Férias Frustradas”, de 1983.
Barris morreu na Califórnia em novembro de 2015, prestes a completar 90 anos. Ainda estava em plena atividade.
Texto e edição: Fernando Barenco
Fotos: divulgação
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