Comprado zero km em 1952 por uma família de São Paulo, ele foi vendido na década de 1980, mas nunca esquecido. Agora foi reencontrado
O Chevrolet Bel Air 1951 chegou zero km à Família Barassal no dia 9 de abril do ano seguinte. Joaquim pagou por ele CR$ 133.800, com parte do pagamento dividido em quinze prestações. Foi ‘tirado’ na Concessionária Chevrolet Lara Campos S/A, que ficava na Praça Princesa Isabel, em São Paulo, conforme mostra a nota fiscal original.
A nota fiscal, datada de 09 de abril de 1952
Comerciante, Joaquim era pai de duas filhas adolescentes: Neusa, de 14 anos e Laís, de 17 que, vítima de nefrite — uma doença renal de difícil tratamento naquela época — morreu meses após à compra do Chevrolet. O sofrimento da Família Barassal foi ainda maior, já anos antes já haviam perdido outra filha, que pegou meningite quando ainda era um bebê.
Aquele carro se tornou então muito especial para Joaquim, já que havia sido uma escolha de Laís.
Herança
Nos anos seguintes aquele Chevrolet Bel Air verde foi o carro de uso normal de Joaquim, que aos poucos foi deixando de usá-lo com a mesma regularidade devido a seu tamanho.
Eis que chega à nossa história o segundo personagem: Ricardo Barassal Panariello, o Rick. Filho de Neusa, neto primogênito de Joaquim, foi ele quem nos contou esse relato familiar.
Em 1980, quando completou 17 anos, Rick ganhou o automóvel de presente de seu avô, conforme ele tinha prometido antes. Apesar de ser um carro de praticamente três décadas, estava em bom estado, já que havia sido restaurado por seu pai, Antônio Panariello.
Placa amarela: o Chevrolet nos anos 1980
Destaques dos classificados
— Para mim aquilo foi um sonho, pois um pouco antes de 1980 foi lançado o filme Grease, com Olivia Newton-John e John Travolta. Aos sábados íamos passear na Rua Augusta com brilhantina no cabelo, jaqueta de couro, vestidos a caráter, como se estivéssemos vivendo naquela época. O Chevrolet Bel Air era como um membro da família. Como eu amava aquele carro! — conta, entusiasmado.
Mas os tempos eram difíceis e, com o consentimento do avô, o jovem Rick acabou tendo que vender o carro poucos anos depois.
— Meu grande amigo Rubens Caruso Jr., também amante de carros antigos e jornalista automobilístico, sempre me aconselhava a não vender. Mas infelizmente foi preciso. Ah, se arrependimento matasse! — lamenta.
O avô Joaquim morreu em 1989, os anos se passaram, mas aquele Chevrolet Bel Air 1951 que tantas alegrias havia trazido à Família Barassal nunca saiu de sua cabeça e principalmente de seu coração. Por onde andará? Será que ainda existe?
O achado
No ano passado, Rick publicou em um grupo de carros antigos do Facebook uma foto do carro e a nota fiscal que aparece aqui, onde consta o número do motor: JAM-492.360. Naqueles longínquos anos 1950 a identificação do automóvel era habitualmente feita pelo número do motor e não do chassi.
Como nas redes sociais as notícias costumam se espalhar depressa e pelo fato de haver um grande engajamento e intercâmbio entre os antigomobilistas, há cerca de um mês alguém tomou conhecimento da postagem e entrou em contato com o amigo Rubens, informando que o Chevrolet Bel Air está atualmente em Santa Catarina, sem dar maiores detalhes.
Quando fez 50 anos, Rick ganhou de presente do amigo Caruso uma miniatura do Chevrolet Bel Air com as mesmas cores
— Quando Rubens me falou, não pude conter as lágrimas! Muita emoção! Um carro que sequer sabíamos se existia ainda, desaparecido há quase 40 anos, de repente ressurgir assim para nós! A esperança tomou conta dos nossos corações, sabendo que poderíamos ver o tão importante e querido Chevrolet 51.
A partir daí começou a busca pelo atual proprietário. O ponto de partida foi o Veteran Car Club, mas sem resultados concretos. Quem acabou descobrindo o nome do atual proprietário e fazendo contato com ele, foi outro amigo, o João Oliveira, que mora em Joinville-SC.
— O atual proproetário ficou entusiasmado quando o João falou que conhecia o antigo dono do carro, originalmente comprado pelo seu avô Joaquim Barassal. Que alegria a minha em falar com ele. Me senti como se tivesse encontrado um animalzinho que fugiu de casa e que poderia abraçá-lo novamente! — conta Rick, animado.
Depois da troca de documentos e fotos e de bate-papos, confirmando ser aquele de fato o Chevrolet Bel Air 1951 comprado zero km pelo avô de Rick, o atual proprietário o convidou para rever e dirigir o carro em Santa Catarina. Avisou também que há a possibilidade de venda.
— Vocês têm ideia do que foi isso para mim?! Puxa, como eu gostaria de ir até lá, e quem sabe, comprá-lo novamente!
Acidente
Em 2001, quando tinha apenas 38 anos, Rick sofreu um acidente de moto que quase tirou sua vida e que trouxe diversas complicações à sua saúde. Teve que se submeter a diversas cirurgias. Hoje, com 59 anos, embora recuperado, Rick adquiriu duas deficiências físicas em consequência daquele acidente: encurtamento da perna direita e perda parcial da audição.
— Isso acabou causando um reboliço na minha vida financeira e nunca mais consegui me estabilizar profissionalmente — afirma Rick.
Com o objetivo de ter de volta aquele carro comprado zero km por seu avô Joaquim em 1952 e que tantas alegrias trouxe a ele e à sua família, Rick decidiu fazer uma campanha de arrecadação de fundos, através do site vaquinha.com.br.
— Tantas décadas depois, aquele carro continua fazendo bater forte meu coração diante de tantas lembranças.
Texto e edição: Fernando Barenco
Fotos: arquivo de família
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