Era 1990, eu possuía um Chevrolet 1950 e acabei sendo parado em um blitz no bairro Sion, em Belo Horizonte. Como todos os carros antigos que tive, este era rebaixado, com rodas esportivas largas, vermelho, motorzão de Opala 6 cilindros e claro, por ser raro, chamava a atenção. Pois voltando à blitz, um guarda me pediu o documento e minha última parcela do IPVA estava atrasada. Começou o sermão, a querer rebocar o carro… quando surgiu um sargento com seus aproximadamente 40 anos. Cara grandão, voz de Tim Maia e foi chegando no meu carro e perguntando de quem era aquele Chevrolet. Eu disse que era meu. Então o guarda começou a contar ao sargento que meu IPVA estava atrasado e não sei mais o que. Entrou por um ouvido e saiu pelo outro do sargento! (risos).
O sargento parecia hipnotizado e, chegando na porta do carro, me perguntou se ele era 1951. Eu disse: “1950”. Foi então que ele me indagou: “posso sentar no seu carro?” Eu respondi: “claro que sim”.
Pois ele se sentou, segurou o volante com as duas mãos, correu o dedo pelo painel, depois deslizou o sobre o banco e o teto. Parecia ter entrado em um filme e seu pensamento parecia longe. Foi então que me contou que seu pai teve um Chevrolet praticamente igual aquele, fabricado em 1951. Ele passou sua infância andando em um carro como aquele e lhe bateu uma grande saudade daquela época e do seu pai, que já havia morrido.
Saiu do carro, me entregou o documento e pediu que eu conservasse a raridade com a voz meio embargada.
“Só não perca da sua memória as músicas que marcaram sua trajetória”
Hoje, ao lembrar desta história, me veio à cabeça como o mundo evoluiu, quanta coisa nova surgiu, mas nossa essência, nossas raízes não podem se perder. Você deve sim se emocionar, se preciso for deixar cair lágrimas relembrando tempos que marcaram sua vida.
Você pode jogar fora seus antigos discos de vinil, seus CDs ou até mesmo os pen-drives. Só não perca da sua memória as músicas que marcaram sua trajetória, aquelas que embalaram um beijo, um romance, te inspiraram a escrever um poema ou mesmo um momento de tristeza, mas que te fizeram crescer e ser o que você é hoje.
Você pode almoçar naquele famoso restaurante italiano, no bistrô francês ou naquele bar à beira da praia, mas não se esqueça da comida da sua mãe ou de sua avó, que tantas vezes mataram sua fome com aquele sabor inigualável.
Destaques dos classificados
Que bom você hoje poder comprar de uma vez dois ou três frascos de perfumes franceses. Aroma delicioso, duas borrifadas e o cheiro fica marcante. Mas como foi gostoso quando você usou aquele perfume barato e saia para encontrar a menina(o) se sentindo charmoso, atraente, mesmo usando Rastro, Alfazema, Contouré, Ma Griffe, Frenesi, Quasar, Styletto. Não importava se o perfume da menina era francês ou barato, mas ele ficava marcado cada vez que você sentia aquele cheiro.
“Mas e a sensação quando você esperava por toda semana ou mês para ver aquele novo fascículo chegar às bancas de revistas não tem comparação”
Talvez sua coleção de fascículos daquela antiga revista mensal esteja todo corroído por traças, empoeirado em um canto há anos, dentro do seu armário. Hoje o que você quer ver, basta um clique na internet e está tudo ali a sua frente. Mas e a sensação quando você esperava por toda semana ou mês para ver aquele novo fascículo chegar às bancas de revistas não tem comparação. Ou novas figurinhas do álbum que você estava colecionando, mas já tinha muita figurinha repetida e esperava novos envelopes chegarem para completar. Olhe sim para o que quiser na internet, mas tire um tempo para lembrar de como era bom ver uma nova edição da revista chegar a banca e você ver e rever de cabo a rabo.
Hoje temos celulares tão espetaculares que só faltam contar piadas. Fotos com altíssima qualidade são tiradas a torto e direito. Pode gastar a vontade afinal não tem filme para ser comprado e nem revelação para ser paga nas lojas fotográficas. Mas peraí, não foram aquelas máquinas fotográficas obsoletas, aquele filme que você colocava dentro da câmera com cuidado para ver se rendiam mais algumas fotos, que registraram sua história? Estão ali registrados aniversários, batizados, casamentos, festas, comemorações, viagens que não voltam mais e estão escritas no livro da sua vida. Pois eu acho o maior barato pegar álbuns e fotos antigas, de papel e ficar relembrando de quão boa foi minha infância e adolescência.
Hoje a criança chega numa loja de chocolates e balas e nem sabe por onde começar a pedir e comer. As opções são inúmeras, maravilhosas e deliciosas. Porém muitas destas crianças pegam seus sacos de balas e chocolates e já saem da loja com o celular, comendo e teclando sem perceber a delícia e o que representa aquele momento. Entram no carro da mãe ou do pai e não tiram o olho do celular, não conversam com os pais e comem o saco sem perceber.
Ahhh como eu tenho saudades da maria mole como se fosse uma bola de sorvete com casquinha e tudo. As poucas opções de balas e caramelos que eram Chita, Frumello, pirulitos Zorro e Campeão, Banda, Soft e poucas outras. Eu comprava 100 gramas de bala e se sentava no meio fio com amigos, dividindo com eles enquanto conversávamos e riamos de alguma coisa.
“Porém assim como aquele sargento, não se esqueça da sua infância, dos seus princípios”
O problema não está nos novos tempos, nas novas opções, na realidade virtual que chegou para sempre. A comodidade, a economia de tempo, as facilidades oferecidas são muito boas.
Você pode ter um carro super moderno que quase dirige sozinho. Que bom!
Pode almoçar cada dia em um restaurante. Que maravilha!
Pode viajar todo mês. Vá conhecer o mundo!
Deseja comprar o novo perfume da Dolce Gabanna? Compre!
Porém assim como aquele sargento, não se esqueça da sua infância, dos seus princípios, da educação que seus pais te deram. Da felicidade que momentos simples te proporcionaram. Não permita que a ambição, o desejo de sempre querer mais e o melhor, tire de você o seu melhor lado.
Não perca sua essência, pois estará perdendo também a sua história, sua referência e valores de vida.
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