SP2, Puma, Bianco e Miura: foras-de-série “made in Brazil” fazem sucesso em eventos da Flórida. Coleção pertence a um brasileiro que vive nos EUA desde os anos 1990
Em agosto desse ano o Miura Clube RJ publicou em seu perfil do Instagram um vídeo curto onde estão reunidos em uma garagem três VW SP2, dois Pumas, um Miura Sport e um Bianco S. Como fundo musical a antiga canção “Isso aqui o que é?”, de Ary Barroso, na versão dos Novos Baianos. O texto da postagem era bem sucinto: “Dá para acreditar que essa bela coleção de esportivos brasileiros está nos EUA?”.
Claro que ficamos muito curiosos! Como aqueles sete foras-de-série tupiniquins foram parar lá? Qual a história por trás daquele time de esportivos com mecânica VW refrigerada a ar?
Fim do mistério
Entramos em contato com o presidente do Miura Clube RJ, o amigo Sandro Zgur, que gentilmente nos contou alguns detalhes e nos passou o contato do Daniel, que é filho do dono da coleção e o responsável por publicações sobre ela nas redes. Através dele recebemos essas fotos incríveis e o contato de seu pai, que através de uma chamada de vídeo via WhatsApp, nos matou essa charada.
Aqui no Brasil, Carlos Alberto Bastos vivia em Santos-SP e sempre foi ligado em automóveis antigos. Surfista na juventude, na década de 1970 tinha um Ford 1933, com o qual transportava as pranchas que ele mesmo fabricava. Depois fez carreira na Coca-Cola.
Em 1997 decidiu refazer sua vida nos Estados Unidos, onde foi trabalhar com turismo. Hoje, mesmo já aposentado, continua em atividade, agora no ramo imobiliário.
Vivendo atualmente em Orlando, na Flórida, frequentador de encontros e feiras de carros clássicos, achou que seria interessante levar para os EUA os esportivos brasileiros dos anos 1970 e 80, pois eles certamente iriam chamar a atenção dos entusiastas norte-americanos.
Então, em 2017, fez sua primeira importação e optou por um modelo praticamente inexistente por lá: um Bianco S. A partir de então, sua coleção de esportivos brasileiros só fez crescer, graças a ajuda de seu cunhado, um motociclista campeão que vive aqui no Brasil e que se transformou numa espécie de avaliador, de “caçador de relíquias”, indo conhecer pessoalmente os carros que Carlos Alberto encontra a venda pela Internet.
Mas quantos carros são?
Mas, para nosso espanto, a sua coleção é bem maior do que aqueles sete exemplares que supúnhamos inicialmente. Pode multiplicar por três! Isso mesmo; atualmente essa espantosa coleção de esportivos brasileiros nos EUA conta com 21 exemplares. São seis VW SP2; seis Biancos, incluindo um Tarpan; oito Pumas, sendo três GTE “Tubarão”, um GTE fase II e quatro GTS (conversíveis); além de um Miura Sport. Alguns deles não aparacem nessas fotos.
Destaques dos classificados
Todos os carros foram escolhidos a dedo e adquiridos no estado em que se encontram hoje, já que seria complicado restaurar qualquer um deles fora do Brasil, pela maior dificuldade de encontrar peças de reposição. “Mas, quando o carro chega aqui, sempre tem alguma coisa para fazer, por melhor que seja a conservação”, nos contou Carlos Alberto.
A maioria deles tinha placas pretas aqui no Brasil. Como na Flórida a legislação exige somente a placa de licença traseira, o colecionador opta por manter a placa brasileira na frente, como forma de chamar a atenção para a origem e explicar aos antigomobilistas norte-americanos que no Brasil aqueles carros eram exemplares “de coleção”.
Além desses 21 brasileirinhos, Carlos Alberto possui ainda um inglês MG TD 1952 em padrão original e um norte-americano Ford 1933 em versão Street Rod.
A importação
Aproveitando seus antigos contatos em Santos-SP, Carlos Alberto conta com uma empresa de despachos aduaneiros, a Excel, responsável pela importação de todos os exemplares da coleção. “Como eu vivia em Santos, tenho muitos amigos na área de importação e exportação. Então contratei os serviços dessa empresa por indicação. Eu sou um cara muito ‘quadrado’. Eu gosto de fazer as coisas muito corretas. Então esse negócio de dar ‘jeitinho’ não me atrai. Se você não contrata uma empresa que faça tudo certinho, em algum momento você vai ter alguma dor de cabeça”, esclareceu.
No Brasil a legislação exige que o veículo a ser importado tenha sido produzido há pelo menos 30 anos. Nos EUA a idade cai para 25 anos. “Não é que aqui seja proibido importar carros mais modernos. Mas a burocracia é diferente. Cada categoria, dependendo da idade do carro, tem exigências diferentes”, ele nos explicou.
O sucesso dos esportivos brasileiros nos EUA
Como não poderia deixar de ser, a coleção de Carlos Alberto tem despertado muito a atenção dos norte-americanos nos eventos. “Eu já levei os SP2 em quatro eventos maiores e em três deles eles foram premiados. As pessoas comentam que já viram esse carro em fotografias na internet, mas nunca ao vivo”, nos contou Carlos Alberto.
De fato, não é de hoje que os automóveis antigos brasileiros têm despertado o interesse de colecionadores de outros países. Mas não temos conhecimento de nenhuma coleção de esportivos brasileiros que se iguale a essa — tanto em qualidade, quanto em quantidade — em solo norte-americano.
Reportagem: Fernando Barenco
Fotos: Daniel Bastos
Agradecimento: Sandro Zgur – Miura Clube RJ
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