Com grade pouco convencional e portas de correr, ele foi fabricado durante menos de um ano
Aos que nunca foram apresentados a ele, a primeira impressão pode causar estranheza, principalmente se encarado de frente. É que a grade no formato que é considerado de concha — mas que para nós se parece mais com um leque — soa pequena e desproporcional. Mas depois que nos familiarizamos melhor com o conjunto da obra, chegamos à conclusão de que o Kaiser Darrin é um carro belo, com design que foge ao convencional.
Ele leva o nome de seu criador, o projetista Howard “Dutch” Darrin e foi lançado em 1954, sendo fabricado durante apenas oito meses. Então, é de se supor que o número de carros fabricados foi bem limitado. E de fato foi: apenas 435.
O nascimento do Kaiser Darrin
Henry J. Kaiser e Howard Darrin
Em 1952 a Kaiser havia acabado de encerrar a parceria com a Frazer e os negócios não iam nada bem. Fabricava o Manhattan, o Virginian e o Henry J — compacto que ganhou o sugestivo apelido de “frango assado”, por causa do formato peculiar de sua traseira. Nessa época Howard Darrin era uma espécie de consultor independente da Kaiser. No passado, ele exerceu suas atividades na França e, de volta ao EUA, havia trabalhado para Packard — o Clipper é sua criação — e tinha seus atuais negócios em Los Angeles, onde criava carros exclusivos a partir de chassis de marcas conceituadas, para as estrelas de Hollywood.
“Frango assado”: o Henry J. Sim, ele tinha o nome do presidente da Kaiser. Modelo emprestou o chassi para o Darrin
Depois da II Guerra Mundial, o mercado norte-americano passou a ser disputado por modelos esportivos e conversíveis de marcas europeias, como MG, Nash-Healey, Alfa Romeo, Jaguar, entre outras. General Motors e Ford decidiram contra-atacar e já trabalhavam em seus próprios projetos desse novo segmento, com o Corvette e o Thunderbird, respectivamente.
Mas o presidente da Kaiser, Henry J. Kaiser estava cauteloso e não queria investir no desenvolvimento de modelos esportivos. Não era o que pensava Howard Darrin. Trabalhando em segredo, fora da fábrica, ele começou a desenvolver seu conversível, projetado a partir do conjunto chassi e mecânica do pouco potente Henry J. Somente quando o primeiro protótipo ficou ponto, Howard convidou o chefe para conhecer o carro. A princípio Kaiser ficou aborrecido com aquele projeto secreto e se recusou a dar seu aval para a produção. Mas foi convencido do contrário por sua jovem esposa, que simplesmente amou aquele carrinho fora do comum.
A linha de montagem na fábrica da Willys, em Toledo – Ohio.
E o protótipo de 1952, que tinha parabrisa divido ao meio e arco superior. Os faróis eram diferentes, além de não possuir lanternas
Destaques dos classificados
As características do Kaiser Darrin
Depois de algumas modificações no projeto original, o roadster Darrin começou a ser produzido em agosto de 1953 e ganhou as concessionárias da marca em janeiro do ano seguinte. A carroceria era em fibra de vidro — aliás, foi o segundo automóvel norte-americano de um grande fabricante a usar essa matéria prima. O primeiro foi o Chevrolet Corvette, lançado apenas alguns meses antes.
Além de sua curiosa frente com a pequena grade, o novo esportivo da Kaiser tinha uma característica inédita, que inclusive foi patenteada: o sistema de abertura das portas, que correm para dentro dos paralamas dianteiros. Mas o que a princípio parecia ser uma incrível inovação, demonstrou ser um dos motivos de seus problemas mercadológicos, como vamos ver mais adiante.
Na época do lançamento do Darrin, a Kaiser já detinha o controle acionário da Willys, inclusive sua linha de produção havia se mudado para a cidade de Toledo – Ohio. Por isso, na versão final do Darrin, o fraco motor do Henry J havia sido substituído pelo seis cilindros Willys Hurricane 161, que equipava as linhas Aero e Station Wagon (A Rural norte-americana). Mas, apesar de ser um carro leve (1050 kg), os 90cv não foram suficientes para seu desempenho ser considerado “esportivo”. O câmbio manual com alavanca no assoalho tinha três marchas, com Overdrive.
O Kaiser Darrin tinha acabamento de primeira, com bancos em couro, assoalho acarpetado e painel completo com velocímetro de 190 km/h, tacômetro de 6 mil rpm e medidores de pressão de óleo, nível de combustível, temperatura e amperagem. A capota era manual e quando aberta ficava escondida em um compartimento à frente do porta-malas. Tinha dois estágios, podendo ficar totalmente fechada ou semifechada.
Embora fosse um Kaiser, a plaqueta era da Willys, talvez em função do local onde era produzido
Quando foi lançado, o roadster da Kaiser custava US$ 3.668, uma verdadeira fortuna para a época. Mais caro que um Cadillac ou um Lincoln. Esse foi um dos motivos que fizeram com que as vendas fossem decepcionantes desde o início. A expectativa de vender 1.000 unidades por ano logo foi esquecida. Mas outros fatores contribuíram para o pouco sucesso comercial:
- Naquela ocasião, várias concessionárias Kaiser já haviam mudado para outras marcas, o que prejudicou a distribuição;
- As portas de correr se mostraram pouco práticas, pois além de serem consideradas apertadas para o entra-e-sai dos ocupantes, seus trilhos tinham que estar sempre perfeitamente limpos, senão elas emperravam;
- Também por causa das portas corrediças, o Kaiser Darrin não possuía vidros nas laterais. Para solucionar o problema, foram acopladas depois à capota aquelas pouco práticas e eficazes janelas plásticas;
- O Darrin era pouco potente, se comparado a outros modelos de sua categoria. A velocidade máxima era de 95 milhas (153 km/h) e ia de 0 a 60 milhas por hora em cerca de 15 segundos.
Fim da linha
Em 1955 a Kaiser saiu definitivamente do mercado de automóveis de passeio, passando a se dedicar exclusivamente à Linha Willys de utilitários. Apesar da fabricação do Darrin ter sido encerrada em setembro do ano anterior, havia ainda muitos exemplares encalhados na fábrica de Toledo. Seu próprio criador, Howard Darrin, comprou 50 deles, adaptou motores V8 da General Motors em alguns e os vendeu em Los Angeles ao longo dos meses seguintes.
Acredita-se que ainda existam hoje cerca de 300 exemplares sobreviventes. Esse amarelo de nossas fotos foi vendido nos EUA no ano passado por US$ 74.500 — valor equivalente a R$ 373 mil ao cambio atual.
Texto e edição: Fernando Barenco
Fotos e vídeo: Bring a Trailer
Veja também
CADASTRE SEU WHATSAPP PARA RECEBER.
Deixe seu comentário!