4X4 nada convencional foi a solução da Citroën para um modelo barato, capaz de enfrentar até as areias do deserto
Esse carrinho francês por si só já é bem estranho. Adorável, mas de fato estranho! Basta olhar para ele. Imagine uma versão 4X4 com dois motores… Estamos falando do Citroën 2CV Sahara, cujas características fogem a qualquer padrão. Veja só!
No final dos anos 1950 a Citroën viu a necessidade do desenvolvimento de um automóvel que se adaptasse bem as más condições das estradas e terrenos de suas então colônias africanas — alguns desses países com paisagens dominadas pelo escaldante Saara. Eram tempos de vacas magras, então optou-se por adaptar o 2CV, um carro que já nasceu com vocação rural, sendo muito utilizado por agricultores na França (lembra da história que na época de seu desenvolvimento ficou determinado que ele deveria ser capaz de levar um cesto de ovos em caminhos esburacados, sem quebrá-los?).
O problema é que o 2CV, com seu motorzinho boxer de 2 cilindros, de 425cc que rendia parcos 12cv de potência, era muito fraco para vencer terrenos desérticos — principalmente os mais íngremes — embora pesasse somente 735 quilos. No entanto, aquele pequeno trem de força era confiável, de simples manutenção e com facilidade de peças, mesmo naqueles países-colônia da França. Além disso, a Citroën não dispunha de recursos para desenvolver um motor mais potente para o 2CV que pudesse ser acoplado a um sistema de tração integral.
Dois motores, dois tanques, duas ignições: é o Citröen 2CV Sahara
Então, algum engenheiro teve a ideia de instalar um segundo motor, gêmeo do primeiro, na traseira. E assim, nascia o Citröen 2CV Sahara, a versão 4X4. Apresentado em 1958, ele somente começou a ser vendido dois anos depois.
Visualmente, essa versão off-road tinha poucas diferenças em relação ao 2CV padrão: o estepe foi parar sobre o capô dianteiro; no traseiro foi instalada a ventoinha do 2º motor; ganhou também pequenas grades nas laterais traseiras, que ajudavam um pouco na ventilação. Mas a solução mais bizarra foi a encontrada para o combustível. Notou que há um bocal em cada porta? Acredite! O Citröen 2CV Sahara era equipado com dois tanques — um para cada motor —instalados embaixo de cada um dos bancos dianteiros!
Com novo carburador e maior taxa de compressão, cada motor ficou ligeiramente mais potente. Alguns poucos cavalinhos extras, mas suficientes para compensar o peso adicional de 170 quilos. Podia atingir os 95 km/h. Em compensação, ficou também mais barulhento. O dobro do ruído, para ser mais exato.
Em estradas pouco exigentes, o Sahara podia ser usado apenas com o motor dianteiro. Cada motor tinha sua própria ignição e sua própria caixa de câmbio. O sistema de embreagem convencional, de acionamento a cabo, foi substituído por um hidráulico. Para pôr o motor traseiro em ação, era necessário obviamente ligá-lo (havia duas chaves de ignição e dois botões de partida no painel!) e acoplar as duas transmissões através de uma alavanca, que fazia a sincronização.
Citroën 2CV Sahara: um fracasso comercial
O Citroën 2CV Sahara nem de longe foi aquele sucesso comercial inicialmente esperado. Entre 1960 e 1966 foram produzidos apenas 694 unidades e estima-se que existam atualmente menos de 30 sobreviventes, já que o uso severo contribuía para a pouca durabilidade. Isso os torna itens extremamente desejáveis de coleção e consequentemente, muito valiosos. Um exemplar acaba de ser leiloado nos Estados Unidos por US$ 128.800 (cerca de R$ 670 mil), o dobro do valor estimado inicialmente.
Redação: Fernando Barenco
Fotos: RM Sotheby’s
Video: Youtube
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