Repórter Maxicar

Citroën DS: 70 anos de uma verdadeira revolução

Citroën DS

Produzido entre 1955 e 1975, com quase um milhão e meio de unidades em várias versões, o DS trouxe muitas inovações, fez sucesso no cinema e virou obra de arte

Quinta-feira, 6 de outubro de 1955. O Citroën DS 19 é apresentado no Salão do Automóvel de Paris. Sob a majestosa abóbada do Grand Palais, sua aparição suscitou simultaneamente espanto e admiração. As suas linhas, tão vanguardistas quanto elegantes, impuseram-se imediatamente como a nova referência. Os visitantes e os jornalistas ficaram fascinados. Quanto à concorrência, ela não podia deixar de saudar o gênio do recém-chegado. Reza a lenda que 12.000 DS 19 foram vendidos apenas no primeiro dia. E que, quando o salão terminou, dez dias mais tarde, tinham sido efetuadas cerca de 80.000 encomendas.

O novo Citroën causou sensação no Salão do Automóvel de Paris, em 1955

Três profissionais estiveram particularmente envolvidos na sua concepção e desenvolvimento. O primeiro, André Lefèbvre, engenheiro aeronáutico, era um fervoroso defensor da tração dianteira, bem como da aerodinâmica, da leveza e da centralização do peso. O segundo, Paul Magès, engenheiro autodidata, foi o criador do conceito hidráulico. Inventou a famosa suspensão hidropneumática, bem como a assistência hidráulica à direção, à embreagem e aos freios. Por fim, Flaminio Bertoni, um talentoso estilista, escultor e pintor, e a sua equipe de designers deram ao DS as suas linhas revolucionárias e elegantes.

A produção tem início

A fabricação do Citroën DS teve início no dia seguinte à sua apresentação no Salão do Automóvel, na fábrica de Quai de Javel, em Paris. Quando os primeiros automóveis apareceram nas ruas, foram frequentes os ajuntamentos devido ao seu caráter inovador. As suas soluções técnicas e estéticas de vanguarda suscitavam uma curiosidade incessante porque, para além de ser uma verdadeira escultura, o DS era também um concentrado de alta tecnologia. Por exemplo, a sua extraordinária suspensão hidropneumática conferia-lhe uma aderência e um conforto de estrada que nenhum outro automóvel havia oferecido até então.

O início da produção

Outro elemento de segurança sem precedentes era o seu sistema de freios hidráulicos assistidos extremamente potente, com discos dianteiros que reduziam de tal forma as distâncias de frenagem que deixavam literalmente perplexos os condutores mais experientes no seu primeiro contato com o DS.

Nos anos seguintes foram desenvolvidas várias versões do DS 19. A primeira foi a ID 19, apresentada em outubro de 1956, seguida das versões Break, Familiale e Commerciale, que surgiram em 1958, ao mesmo tempo que o DS 19 Prestige.

A station wagon Familiale

Ainda em 1958 o DS 19 também inova ao oferecer um leque de cores sem precedentes, passando de quatro para oito. As primeiras alterações estéticas seriam introduzidas no ano seguinte, com uma silhueta mais esguia, graças ao alongamento dos paralamas traseiros e à adoção de grandes saídas de ar nos paralamas dianteiros.

Desde o início, o DS 19 teve também uma carreira verdadeiramente internacional. Foi montado no Reino Unido e na Bélgica a partir de 1956, e na África do Sul a partir de 1959. Símbolo da elegância francesa e do design vanguardista, foi naturalmente exportado para toda a Europa Ocidental, os Estados Unidos, o Canadá e a Austrália.

O DS Prestige

O luxuoso interior do Prestige

No Salão do Automóvel de Paris de 1958 o DS 19 foi apresentado com uma configuração “master” que, para além da sua pintura totalmente preta, incluía uma divisória para o condutor com janela descendente e estofados cinza com bancos em couro à frente e em tecido Jersey atrás. Denominado DS 19 Prestige, foi posto à venda cinco meses mais tarde. Dotado de um conforto excepcional, ganhou uma brilhante reputação como o automóvel dos grandes dirigentes políticos e empresários.

As inovações continuam

Durante os anos 1960, o Citroën DS 19 impôs-se mais do que nunca como um grand tourer confortável, requintado e elegante. Graças a atualizações regulares, consolidou a sua supremacia diante de seus concorrentes. Em julho de 1959, por exemplo, a potência do seu motor de 1.911 cm3 foi aumentada de 75 para 78 cv, graças à adoção de uma nova cabeça de cilindro e de uma ignição modificada. Em outubro de 1960, é apresentado o famoso DS 19 Cabriolet e, em março de 1961, a sua potência é novamente aumentada para 83 cv, o que lhe confere uma velocidade máxima de 150 km/h. Em setembro seguinte recebe um novo painel de instrumentos totalmente preto, realçado por uma faixa cinzenta clara, no qual pode ser instalado um rádio, tal como no DS Prestige.

Em setembro de 1962, o DS recebeu a sua primeira modificação na parte dianteira. Perdeu as grandes grelhas de ventilação nas asas, o parachoque dianteiro recebeu duas garras de borracha em forma de ponta de seta e o parachoque traseiro foi redesenhado. Estas alterações melhoraram sua aerodinâmica, reduzindo o consumo de combustível e permitindo-lhe atingir uma velocidade máxima de 160 km/h.

Os novos faróis direcionais em ação

Em outubro de 1965, um ano após o lançamento do DS Pallas, foi lançado um novo DS com um motor ainda mais potente, de 2.175 cm3 com 109 cv e capaz de atingir 175 km/h. Para além do DS 19, disponível desde 1955 e cujo nome se deve à sua cilindrada de 1.911 cm3, o DS 21 foi acrescentado à gama.

1967 foi o ano da nova face do DS que, para além de ser um sucesso estético unanimemente aclamado, introduziu uma nova caraterística de segurança com a instalação dos famosos faróis direcionais de série nas versões top de linha, Prestige, Pallas e Cabriolet. O DS ilumina agora o interior das curvas antes mesmo de entrar nelas.

1969 o ano de uma modificação mecânica de primeira ordem. O motor de 2,175 cm3 do DS 21 foi equipado com uma injeção de combustível controlada eletronicamente, aumentando a sua potência para 139 cv e conferindo-lhe uma velocidade máxima de mais de 185 km/h.

Citroën DS Cabriolet

O lindo Cabriolet assinado por Chapron

Henri Chapron, encarregado desde outubro de 1958 de equipar o DS Prestige e de produzir, por conta própria, cabriolets com base no DS, foi responsável também pela produção do DS Cabriolet de fábrica. Após a produção de três protótipos, o conversível foi apresentado no Salão do Automóvel de Paris em outubro de 1960. O acabamento particularmente meticuloso deste elegante automóvel incluía estofados em couro e, a partir de agosto de 1964, elementos caraterísticos do DS Pallas, tais como faróis adicionais e rodas especiais. Modelo topo de linha vendido por quase o dobro do preço da Berlina DS, o Citroën DS Cabriolet continua a ser uma referência do design e do requinte do automóvel francês.

Pallas: luxo e excelência

A versão Pallas tinha interior em couro

Lançado em outubro de 1964 no Salão Automóvel de Paris, o novo DS Pallas oferecia um nível de acabamento nunca visto num automóvel de produção francês. Distingue-se dos outros automóveis DS pelo seu equipamento meticuloso e particularmente luxuoso, incluindo acabamentos em aço inoxidável e borracha, rodas especiais, lanternas traseiras especiais com frisos cromados e faróis adicionais. Os bancos são mais densos, os encostos dianteiros são mais altos e as forrações em couro estão disponíveis como opção. O DS Pallas é pintado nas mesmas cores que os outros DS, mas também pode ser fornecido com os seus próprios acabamentos de pintura metalizada, mediante pedido.

DS Présidentielle

Uma Limusine de 6,53 metros

Para substituir a limusine construída em 1955 com base no Traction Avant pelo encarroçador Franay, o Presidente Francês Charles de Gaulle encomendou um novo carro de cerimônias, que foi entregue no Palácio do Eliseu em 14 de novembro de 1968. Entre as exigências, estava a que ele devia ser mais comprido do que o Lincoln utilizado pelo Presidente dos Estados Unidos. Construído e equipado pelo construtor de carroçarias Henri Chapron, mas concebido e desenhado pelos serviços do Quai de Javel, este DS único media 6,53 metros. Tinha o equipamento mais luxuoso, incluindo uma janela divisória curva e inclinada, estofamento em couro castanho, um banco rebatível para o intérprete, vidros elétricos, ar condicionado, iluminação direta e indireta, intercomunicador e minibar integrado.

Um milhão de unidades

O carro nº 1 milhão foi sorteado

O milionésimo DS, um novo DS 21 Pallas Electronic Fuel Injection, foi produzido na fábrica do Quai de Javel, no dia 7 de outubro de 1969. Foi pintado em “Sable Métallisé” e exibido no Salão do Automóvel de Paris, sendo sorteado entre os visitantes da mostra. O ganhador foi Gilles Delègue, de 22 anos, então estudante de engenharia no segundo ano da Ecole Centrale.

Anos 1970: a chegada à maturidade

No início da nova década as alterações introduzidas no DS dizem respeito principalmente à sua transmissão. Em setembro de 1970 passou a ser equipado de série com uma caixa de câmbio manual com cinco velocidades, em vez de quatro, seguida, um ano mais tarde, por uma caixa automática Borg-Warner de três velocidades.

Antes de se retirar definitivamente em 1975, após uma carreira exemplar de 20 anos, o DS conheceu uma última evolução quando o DS 21 foi substituído pelo DS 23 em setembro de 1972. Este último modelo estava equipado com um motor de 2.347 cm3 que, com injeção eletrônica de combustível, rendia 141 cv e tinha uma velocidade máxima de quase 190 km/h.

Uma estrela de cinema

De Volta para o Futuro II e Une Parisienne, com Brigitte Bardot

O mundo do cinema confiou ao DS papéis de destaque que ainda hoje são recordados. Dos filmes noir às comédias, o DS se destacou em todos os estilos. Contracenou com Brigitte Bardot, em Une Parisienne (1957); com Alain Delon, em Le Samourai (1967); com Jean-Paul Belmondo, em Le Cerveau (1969); entre outros.

Em alguns casos, a sua tecnologia futurista foi sublimada, ou mesmo fantasiada, como em La Dixième Victime (1965), com Ursula Andress e Marcello Mastroianni, onde aparece equipado com um teto transparente azul, ou em Fantomas se Déchaîne (1965) com Jean Marais quando, equipado com duas asas, uma barbatana caudal retrátil e dois motores a jato, levanta voo como um avião. Por fim, no clássico De Volta para o Futuro 2 (1989) de Robert Zemeckis, assume a forma de um táxi de ficção científica vermelho e amarelo num futuro imaginário ambientado em 2015.

Obra de arte

Automóvel de vanguarda por excelência, o DS é considerado uma verdadeira escultura desde o seu lançamento. Em 1957, foi o único automóvel convidado para a 11ª Trienal de Milão. No Palazzo Dell’Arte al Parco, foi apresentado para a ocasião sem rodas, totalmente aerodinâmico e apoiado num suporte central a mais de um metro do chão.

Em outubro de 1962, para o Salão do Automóvel de Paris, o DS foi apresentado de uma forma original, como uma escultura. Como um míssil no seu silo de lançamento, foi instalado na vertical no fundo de um fosso circular e colocado num mecanismo motorizado que o fez rodar lentamente. O efeito nos visitantes foi inesquecível!

O derradeiro…

O último Citroën DS foi fabricado em 24 de abril de 1975. Por onde ele andará?

O último Citroën DS — exemplar nº 1.456.115 — foi produzido na fábrica do Quai de Javel, em 24 de abril de 1975 às 15h. Foi um DS 23 Pallas Electronic Injection em Azul Delta. Como indica a faixa no seu para-brisas, foi também o 1.330.755º DS montado nesta fábrica histórica. Foi então entregue a um proprietário anónimo da Gironde, fiel à marca e que anteriormente já havia tido oito automóveis DS.

Redação: Stellantis Media Europa

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