Após 20 anos parado em uma garagem, ele foi restaurado. Conheça a incrível história do carro que ficou famoso por sua participação no filme brasileiro que ganhou o Oscar
Renascido da ferrugem para viver dias de glória. Antes de ser alçado a estrela mundial de cinema, o Kadett Opel B 1968 usado no filme “Ainda Estou Aqui” ficou por mais de 20 anos parado em uma garagem de São Paulo, até ser comprado por um colecionador gaúcho.

Numa cena de “Ainda Estou Aqui” com Selton Melo, que viveu Rubens Paiva
Sua cor original também não era a vermelha, e sim a amarela, com teto preto em vinil. Depois de restaurado, ganhou até prêmio na Expoclassic, maior mostra de veículos antigos em área coberta do Brasil, realizada em Novo Hamburgo (RS). No último dia 2, a conquista do Oscar de Melhor Filme Internacional pelo longa-metragem brasileiro coroou de vez a trajetória deste Opel Kadett B. Apenas 5 dias depois, na sexta-feira passada o exemplar chegou ao Dream Car Museum, de São Roque – SP, onde permanecerá exposto somente até o dia 17 de março, pois no dia 22 irá a leilão.
Confira a incrível história do Opel Kadett B que ficou famoso

Em São Paulo, antes da restauração
Estima-se que este o Opel Kadett B 1968 tenha sido importado da Alemanha para o Brasil ainda zero-quilômetro. Certo dia, na década de 1990, o colecionador Ricardo Antônio Amoedo, conhecido no meio do antigomobilismo como Ricardo Jacó, andava pela rua no bairro de Pirituba, na capital paulista, quando viu o carro parado na rua. “Gostei do modelo, perguntei de quem era e fiz a proposta. Comprei de um barbeiro, bem barato, por cerca de R$ 1.500. Depois, busquei no Uruguai e nos Estados Unidos algumas peças que estavam faltando. Mas o usei durante um tempo e depois deixei ele parado. Porque eu tenho essa mania”, observa Jacó.
Durante os cerca de 20 anos em que ficou estacionado na garagem em São Paulo, o coupê sofreu com a umidade e a poeira. Àquela altura da vida merecia, sem dúvida, uma aposentadoria mais digna. Mas um revés estava por acontecer…

O carro foi vendido para o RS, onde foi restaurado pelo novo proprietário, Alexandre Gireli Colcete
Destaques dos classificados
Quis o destino que, em 2015, um colecionador da cidade de Carazinho, no Rio Grande do Sul, visitasse o galpão e o tirasse daquela situação. Já em solo gaúcho, três meses depois foi adquirido pelo vice-presidente Financeiro do Veteran Car Club Novo Hamburgo, o médico Alexandre Gireli Colcete. “O veículo tinha muita ferrugem e precisou ser restaurado, recebendo nova pintura. Além de retificar o motor, fizemos toda a suspensão e uma revisão geral. Já o interior estava em ótimo estado e foi mantido todo original”, relembra Alexandre.
Graças à sua traseira fastback, o Opel Kadett B possui um grande porta-malas. O interior é básico
De volta à velha forma
Depois de um ano de muito trabalho, o Opel estava de volta à velha forma. Só que o desempenho proporcionado pelo motor 1.1 de 4 cilindros, com seus 60 cv de potência e 8,6 kgfm de torque, não entusiasmava muito. “O carro é bom de dirigir, apesar de ser um pouco lento, tornando-se ideal apenas para pequenos deslocamentos. Entretanto, na época dele, no final dos anos 1960, era o que tínhamos à disposição no mercado”, recorda o antigo proprietário.

Fábio Costa Martins e o filho Gabriel
A carreira de “ator” deste veículo começou a ser trilhada em 2023, quando o empresário paulistano Fábio Costa Martins recebeu o pedido para que arranjasse um Opel Kadett B vermelho para ser usado na produção do filme. Fábio é dono da empresa Veículos de Cena, especializada no aluguel de modelos para emissoras de TV e produtoras de cinema do Brasil e exterior. Após muita negociação, através do intermédio de Ricardo Jacó — o antigo dono paulista — Fábio e o filho Gabriel compraram o veículo do gaúcho Alexandre Gireli.

Mas o pedido da produção do filme era bem específico: o Opel tinha que ser vermelho. Sem problemas para Fábio, apelidado por alguns de McGyver, já que para ele não há problema insolúvel. “Tudo foi feito em um prazo recorde: em apenas 5 dias, desmontamos, preparamos, pintamos e montamos novamente o veículo. Antes de entregar à equipe do filme, ainda eliminamos vários ruídos do modelo, pois sei que o diretor Walter Salles é extremamente exigente”, relembra Fábio.
Gravações no Rio de Janeiro

Dois momentos das filmagens
As gravações do filme “Ainda Estou Aqui” começaram em junho de 2023 no Rio de Janeiro e o carro ficou à disposição da equipe durante 7 meses. O modelo aparece em diversas cenas, inclusive no emblemático momento em que o ex-deputado Rubens Paiva, interpretado por Selton Mello, sai para dirigir o carro pela última vez. Na trama, também é guiado por Fernanda Torres, que interpreta Eunice Paiva. Após o encerramento das gravações, a equipe ainda precisou de uma sessão extra, pois havia esquecido de captar diversos sons imprescindíveis à edição, como o do motor ligando e do abrir e fechar de portas, por exemplo.
O médico gaúcho ficou surpreso ao constatar que aquele era o mesmo carro que havia lhe pertencido por 8 anos. “Falaram apenas que o veículo seria usado em um filme sobre um político brasileiro. Eu me sinto gratificado pelo fato de um carro que restaurei e ajudei a conservar tenha sido utilizado nas gravações de uma obra com grande importância histórica, ganhadora de um Oscar”, resume Alexandre Gireli.
Opel Kadett B ocupa a ilha principal do Dream Car Museum

Até 17 de março, num lugar de destaque no Dream Car Museum, em São Roque -SP
O exemplar agora está exposto na ilha principal do Dream Car Museum, de São Roque, distante 60 km da capital paulista. Ocupa lugar de honra: a plataforma central rotativa, permitindo que os fãs fotografem e filmem à vontade. No espaço temático de cinema também podem ser contemplados 4 batmóveis e tributos dos veículos usados nos filmes “Carros” e “Speed Racer”.
Porém, o Opel Kadett B permanecerá em exposição somente até o próximo dia 17, pois será leiloado no dia 22 de março. Com o passe supervalorizado, a expectativa é que alcance valores estratosféricos, provavelmente passando de R$ 300 mil. Um desfecho surpreendente para um veículo que estava fadado à ferrugem.
Informações adicionais sobre a exposição podem ser obtidas pelo WhatsApp (11) 3090-9147 ou site www.dreamcarmuseu.com.br.
Sobre o Opel Kadett B

O Opel Kadett de “Ainda Estou Aqui” é da segunda geração, denominada B. Foi produzida na Alemanha de 1965 a 1973. A primeira geração (A), foi lançada em 1962.
Embora as duas primeiras gerações não sejam familiares aos brasileiros, o Opel Kadett guarda uma estreita relação com o Brasil. É que a terceira geração (C), foi lançada aqui em 1973 com outro nome. Estamos falando do nosso bom e velho Chevrolet Chevette.
E o Opel Kadett voltaria mais uma vez ao Brasil, desta vez na quinta geração (E), sendo produzido aqui também com grande sucesso a partir de 1989, sendo dessa vez chamado também de Kadett, mas com a marca Chevrolet.
Redação e fotos: Assessoria de Imprensa do Complexo Dream Car
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