“Quanto mais clubes filiados nós tivermos, maior representatividade nós teremos”
[dropcap]N[/dropcap]o último final de semana — 13 e 14 de junho — o presidente da Federação Brasileira de Veículos Antigos (FBVA) esteve presente ao V Passeio de Veículos Antigos em Raposo – Distrito de Itaperuna, RJ. Na oportunidade, Roberto Suga ministrou uma palestra institucional para membros dos cerca de 30 clubes de autos antigos presentes — filiados a entidade ou não — dos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo.
Em sua preleção, ele fez um balanço sobre as últimas conquistas da FBVA em termos de legislação de trânsito, falou sobre a nova Carta de São Paulo, placas pretas, veículos personalizados e sobre a filiação de novos clubes. Atualmente são 140.
Aproveitamos a oportunidade para entrevista-lo, para que ele pudesse fazer um pequeno balanço de sua gestão, que em outubro completa um ano.
[divider]Uma das principais características que se observa na sua gestão é a maior aproximação com clubes não federados. Quais os argumentos que a FBVA tem usado para conquistar esses clubes e convencê-los a se filiar?
SUGA — O nosso pensamento é que se quisermos ter uma Federação realmente forte, ela tem que representar o maior número possível de clubes. E esse tipo de apresentação que fizemos aqui neste evento, que aglutina clubes dos quatro estados do Sudeste, é muito importante para mostrar o que a Federação faz, o que tem acontecido. Muitos por exemplo, na questão da originalidade, ficam presos a preciosismos da parte estética do automóvel. E eu tenho enfatizado nas minhas palestras que na época da fabricação de determinado automóvel, ele era autorizado a ser comercializado porque atendia a requisitos de segurança vigentes. Então, quando a gente certifica um automóvel, estamos dizendo que ele continua a atender aos requisitos de segurança adequados àquele momento. A placa preta surgiu porque em 1997 queriam que os carros antigos tivessem cintos de três pontos, bancos com encosto de cabeça… Ela foi uma forma de abrir uma exceção a uma lei que estava entrando em vigor. Assim, uma prova da importância da Federação está nesse fato. Na época, ela teve que se mobilizar, representando toda uma comunidade e defender os seus interesses. E um exemplo recente do trabalho da Federação, foi em relação aos veículos antigos com volante do lado direito.
Do Denatran já recebemos feedbacks do tipo: “Não é possível ficar atendendo clube por clube aqui. Seria importante que vocês como Federação fizessem um trabalho de trazer esses clubes para dentro da entidade que é representativa. Não podemos atender aos interesse de cada clube isoladamente”. Até porque nem o presidente da Denatran e nem mesmo o Ministro das Cidades tem condições de avaliar se aquilo que está sendo pleiteado é um interesse particular ou de toda a comunidade antigomobilista. Por tudo isso, acho que é importante mostrar que é a FBVA que pode representar os clubes diante das autoridades de trânsito.
Daí a importância desse tipo de apresentação?
Destaques dos classificados
SUGA — Sim. Como presidente da FBVA, eu tenho que dividir, compartilhar as coisas que acontecem, e como acontecem, com quem interessa. A gente vai a Brasília e escuta que os técnicos do Denatran não podem fugir de certos procedimentos, certas formalidades jurídicas. Por exemplo: por que vários estados exigem que na hora da transferência, o novo proprietário do veículo seja membro de um clube? Porque a legislação atual, através da Portaria nº 56 do Denatran diz que o veículo tem que “pertencer a uma coleção”. Agora, por que é que a FBVA não pode exigir que haja uma revalidação da placa preta a cada 5 anos? A resposta é: porque, ao contrário do exemplo anterior, neste caso não há respaldo jurídico. Senão, algum colecionador poderia nos questionar: “Como é que vocês estão exigindo a revistoria se a Portaria nº 56 do Denatran não determina isso?”.
O ideal seria que conseguíssemos normatizar tudo nacionalmente. Mas o próprio Denatran acha que isso é muito difícil, já que em certos assuntos administrativos os Detrans estaduais têm autonomia. Assim, a FBVA tem que fazer um trabalho de formiguinha, de estado por estado, contando com o empenho de seus diretores regionais, trabalhando forte essa relação da Federação com os órgãos de governo.
Quando se fala em veículos personalizados, nós precisamos dar respostas aos órgãos de transito. Eles estão preocupados com a questão da segurança.
Entrou em vigor em abril deste ano a nova Carta de São Paulo. Podemos dizer que ela é o resultado do consenso entre clubes federados e não-federados?
SUGA — Sim. Foi resultado da participação de mais de 150 pessoas no II Workshop Nacional, sendo mais de 40 na Comissão de Placa Preta, representantes de clubes federados ou não. Teve a participação inclusive de clubes que sempre foram muito resistentes à imagem da Federação. Veio gente de norte a sul, leste a oeste do Brasil.
Um dos pontos principais de mudança da nova Carta de São Paulo foi em relação aos critérios de vistoria para a emissão do Certificado de Originalidade. Mas não foi só isso, já que foram formadas diversas comissões. Que outras mudanças você destacaria, além desse quesito placa preta?
SUGA — Primeiro dar uma orientação e procurar ser porta-vozes da regulamentação dos veículos personalizados. Foi criada uma comissão para criar uma proposta junto ao Denatran de como regulamenta-los. Em 1999, quando se discutiu o assunto pela primeira vez, a comunidade não estava muito certa do que queria. A acho que depois de todos esses anos, pudemos amadurecer melhor as ideias a respeito. Então, quando se fala em veículos personalizados, nós precisamos dar respostas aos órgãos de transito. Eles estão preocupados com a questão da segurança. Assim, tudo que propusermos tem que estar na linha de preservar a segurança em primeiro lugar. Eu acredito que precisa sim haver uma inspeção de segurança. Dessa forma nos conseguiremos dar respostas dentro de uma linha de procedimentos que o Denatran tem. Ou seja, se não houver adequação às normas, não vamos conseguir avançar.
Quando conseguirmos determinar a regulamentação de carros antigos modificados, com a placa preta de letras amarelas, vamos poder pensar na regulamentação da importação de veículos modificados também. Hoje só se pode importar veículos com mais de 30 anos originais. Ai então quem quiser trazer prontos hot rods americanos, por exemplo, vai poder trazer. E exigir que esses veículos tenham uma certificação de segurança em seu país de origem e que aqui possa ser revalidada de acordo com a nossa legislação de trânsito.
Ainda com relação à importação, a legislação permite que sejam importados veículos originais com mais de 30 anos para restauração. Mas por uma falha dessa legislação, esses automóveis ao chegarem ao Brasil automaticamente recebem placas pretas. O Denatran já tomou alguma providência para corrigir esse problema?
SUGA — Nada mudou, porque para o entender do Denatran só existem duas categorias possíveis de veículos que podem ser importados: o veículo zero quilômetro ou o veículo de coleção. Independente do estado de conservação. Tem gente dentro da Comissão do Denatran para Veículos Antigos — que foi solicitada pelo Ministro Kassab — que tem carro antigo. E eles entendem e eles mesmos acham que isso é um problema. Em tese, um carro antigo só pode ter placas pretas se ele cumprir uma série de requisitos…
Com essa crise econômica e política que se instalou no Brasil, é de se esperar que as importações de autos antigos tenham caído bastante, graças principalmente à alta do dólar, dos juros. A FBVA dispõe de dados a respeito?
SUGA — Ano passado a FBVA emitiu 428 certificados de importação. Foi um ótimo ano. Em 2013, 350. No ano anterior, cerca de 320. Este ano estamos vendo uma queda vertiginosa na importação de automóveis antigos. Até o final de 2015 acredito que não vamos chegar a 200 processos de importação.
O Denatran criou uma Comissão de Veículos Antigos, que tem a participação da FBVA. Já ficou determinado quais serão os assuntos a serem discutidos por essa comissão?
SUGA — Sim. Por exemplo, a regulamentação da certificação para veículos de coleção a cada cinco anos e toda uma série de correções que vamos ter que fazer na Resolução Nº 56… Nós participaremos da reunião da Comissão de Veículos Antigos e a partir do resultado, vamos fazer uma pauta a ser apresentada nas reuniões das Câmaras Temáticas. Temos que regulamentar, por exemplo, um tamanho de placa de licenciamento especial para veículos antigos. Muitos carros americanos dos anos 1960 e 70 têm uma dimensão de placa pequena. Isso tem que ser padronizado em âmbito nacional. Uma vez eu questionei o Detran de São Paulo a respeito. E eles disseram: “Nós até podemos solicitar junto ao departamento jurídico uma Portaria. Mas de repente você está com um carro com as placas de dimensões apropriadas aqui em São Paulo, mas infringindo a Legislação Federal.” Se você estiver trafegando por uma Rodovia Federal, a PRF pode apreender o carro, mesmo que ele esteja licenciado daquela forma há anos e com placas pretas inclusive. Enfim, para muitas dessas coisas relacionadas à legislação, nós precisamos estar antenados, para pleitearmos as exceções para os veículos antigos.
Outro exemplo: temos que discutir a normatização de reboques. Nos já temos vários tipos de reboques com mais de 30 anos. Amanhã mudam as normas em relação a tipos de engates, etc, então um trailer dos anos 1930, 40, 50… não vai mais poder ficar circulando. Dessa forma, temos que estar sempre atentos a essas coisas, para que isso não aconteça.
Para você conseguir mobilizar pessoas abnegadas, que estão presentes nos eventos, trabalhando em prol de uma comunidade de 150 mil colecionadores de forma gratuita, você tem que conseguir motivar.
Como é que você vê a capacidade técnica dos clubes de veículos antigos de um modo geral para realizar as vistorias para a emissão do Certificado de Originalidade?
SUGA — Nem todos os clubes têm membros devidamente preparados para determinados modelos. A recomendação da FBVA aos clubes é a seguinte: se você tem uma dificuldade em avaliar um certo modelo, peça a orientação de algum clube que seja especializado naquela marca, caso haja. Uma assessoria técnica. Mas é claro que existem os casos em que é preciso vistoriar um carro de um modelo raro que ninguém conhece… A primeira providencia é pedir que o proprietário reúna tudo o que ele puder encontrar em termos de literatura sobre o carro para que sirva de referência. O clube pode também nos mandar as mais variadas fotografias, que são encaminhadas à nossa Diretoria Técnica. Assim podemos auxiliar o clube filiado a fazer o trabalho.
Há alguns meses, você nos informou que a FBVA estava implantando o processo de informatização dos processos de emissão de Certificados de Originalidade e importação de veículos com mais de 30 anos. O objetivo é agilizar e desburocratizar o processo. Isso já está funcionando?
SUGA — Pretendemos pôr isso em prática agora em julho de 2015. Estamos realizando esse trabalho com o Dodge Clube de Curitiba-PR. Eles trouxeram a experiência deles junto a seus associados. O caminho é associado – clube – FBVA – Detran – Denatran. O objetivo é realizar todo o processo de solicitação e em envio de forma eletrônica. O clube filiado faz a adesão ao sistema de automação com um pacote que dá ele os instrumentos eletrônicos de gestão. Neste ele paga R$ 1 mil. A FBVA terá um novo portal. Pelo próprio portal, o clube poderá solicitar a certificação de importação ou da placa preta. A planilha de vistoria da placa preta, por exemplo, será preenchida de forma eletrônica. A Federação recebe, passa para a Diretoria Técnica. Estando tudo ok, a Federação manda a certificação com a assinatura eletrônica. O clube repassa isso ao seu associado, ele imprime na sua casa para ter isso como seu documento. Estamos trabalhando para que no momento em que o processo esteja pronto na Federação, possa ser encaminhado diretamente ao Detran do estado correspondente. Mas isso ainda vai depender de estado para estado. Acredito que alguns vão querer receber eletronicamente e outros não. Isso é trabalho Detran/Denatran, por isso vai ser um desafio para nós.
Outra coisa que tem me trazido imensa satisfação nesses 10 meses é ver o reconhecimento da FBVA como entidade representativa da comunidade do antigomobilismo.
Seu mandato como presidente da FBVA está completando 10 meses. De tudo que você conseguiu realizar até agora, qual a que te deixa mais contente.
SUGA — Uma das coisa que me dá maior alegria é ter conseguido aumentar o número de diretores regionais. Para você conseguir mobilizar pessoas abnegadas, que estão presentes nos eventos, trabalhando em prol de uma comunidade de 150 mil colecionadores de forma gratuita, você tem que conseguir motivar. Eu entendo que hoje a Diretoria Regional está trabalhando porque a imagem da Federação mudou. As pessoas agora estão reconhecendo a FBVA como uma entidade representativa. O número de Diretores Regionais aumentou. Minas Gerais, por exemplo, tinha apenas um, agora são quatro, em função do número de clubes filiados. Se a gente consegue dar capilaridade para atender com mais proximidade os clubes, consegue atender melhor as demandas. A Federação não remunera. Nenhum de nós da Diretoria somos remunerados. Hoje a FBVA não consegue nem dar uma ajuda de custos a esses diretores para que eles possam ir aos eventos. Eles viajam pagando todas as suas próprias despesas. Qual é a motivação que eles tem? É todo esse trabalho que a gente fez de mostrar para a comunidade o trabalho da Federação, criar um documento, que é a nova Carta de São Paulo, e que todos tenham orgulho de trabalhar numa entidade que representa uma comunidade muito grande. Como presidente da Federação Brasileira de Veículos Antigos, o maior desafio que eu vejo é manter motivados mais de 40 membros de uma diretoria trabalhando de forma benemerente. Pagando para viajar, pagando para se hospedar. Eu gostaria de ter orçamento para dar uma ajuda de custo, mas nesse momento nós não temos.
Falando nisso, como andam as finanças da FBVA?
SUGA — Quando tomamos posse, em outubro passado, eram 118 clubes filiados. Agora são 140. Atualmente, cada clube filiado paga R$ 225,00 por trimestre, R$ 900,00 por ano. Com esse montante, nós só conseguimos pagar os custos fixos. E temos isso de forma transparente. Qualquer presidente de clube que entra lá na nossa área de prestação de contas vê que a cada três meses nós estamos fazendo essa prestação de contas. De mensalidade nós temos por ano R$ 900,00 X 140 (clubes), o que dá uns R$ 130 mil de orçamento. Ano passado, tivemos 428 processos de importação, a R$ 300,00 cada. O que soma R$ 120 mil. Este ano já caiu bastante, como te informei antes. Mil emissões de placas pretas por ano, que custava R$ 40,00, agora custa R$ 100,00. Então esse é nosso orçamento anual. Metade para manter a sede da Federação, o secretário executivo e mais a nossa assistente administrativa. Mudarmos a sede para São Paulo ou qualquer outra capital seria um custo maior. Então não vamos nos mudar agora. Vamos permanecer em Juiz de Fora. A outra metade do orçamento vai para as homenagens, os troféus dos eventos masters regionais, os troféus do Campeonato Brasileiro de Regularidade… Tivemos também uma despesa extra, que na verdade foi um investimento, que foi o Workshop de São Paulo. Além de um investimento de R$ 30 mil nessa plataforma de gestão.
Então estamos com o ‘cobertor curto’, puxando de um lado e puxando do outro, para ver o que conseguimos fazer.
A FBVA fez em maio em Caxias do Sul – RS um Workshop Regional de Capacitação para os clubes. Como você considera o resultado? A intenção é fazer em outras partes do Brasil?
SUGA — Foi uma ótima surpresa. Nós tivemos 70 participantes, membros de clubes federados e não federados. Parte do conteúdo foi esse, dessa palestra aqui em Raposo e mais a planilha e um conteúdo mais técnico. Fizemos também a simulação de vistoria em alguns carros de acordo com a planilha. Agora, os clubes participantes que não são filiados à FBVA estão marcando reuniões de diretoria para decidirem se vão se filiar. Então, outra coisa que tem me trazido imensa satisfação nesses 10 meses é ver o reconhecimento da FBVA como entidade representativa da comunidade do antigomobilismo. E quanto mais clubes filiados nós tivermos, maior representatividade nós teremos.
A gente que acompanha de perto o antigomobilismo, percebe a sua ativa participação em eventos por todo o Brasil. Às vezes em até mais de um num único final de semana, de forma quase ‘onipresente’. Com tem sido conciliar os compromissos como presidente da FBVA com a vida profissional e pessoal?
SUGA — Eu trabalhei na área diplomática. Trabalhei na OEA, na ONU… e agora mais recentemente estou atuando em bancos de investimento. No Brasil, o momento econômico não é o mais favorável. Então, os fundos de investimento de renda variável não conseguem dar conforto aos investidores. Com as subidas da taxa básica de juros nas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), todos correm para a renda fixa, para produtos que dão a certeza de qual vai ser a rentabilidade. Assim, nos estamos fazendo um trabalho mais de estruturação de fundos do que a busca de captação de investidores e esperar o momento mais atrativo para os investidores. E isso faz com que eu tenha viajado bastante pelo Brasil. O que eu tenho procurado é conciliar sempre que possível as agendas. Em relação à questão familiar, estar solteiro me permite uma maior flexibilidade. Há ainda a minha dedicação junto a meus pais, com quem eu tenho um convívio diário.
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