Com visual que nos remete a um mini Maverick, modelo subcompacto norte-americano ficou famoso também pelos casos de incêndio em batidas na traseira
À primeira vista, a impressão que temos é que se trata de um Maverick que teve a traseira abruptamente decepada. Se tivesse sido produzido no Brasil, o Ford Pinto provavelmente iria disputar com o Chevrolet Chevette Hatch o carinhoso apelido dado a ele pelos Chevetteiros: “Codorna”, aquela pequena ave sem rabo.
A foto do folder de lançamento já fazia referência ao cavalo
Mas, embora seu nome em Português faça referência a outra ave com a mesma característica, o nome “pinto” foi uma homenagem a outro animal: um equino. É que a palavra “pinto” em espanhol e significa “pintado” ou “manchado” e se refere ao padrão de pelagem de cavalos que possuem grandes manchas marrons e brancas, como aqueles mustangs selvagens norte-americanos.
Então, não fique pensando bobagens! Obviamente não há também nenhuma conotação sexual no nome escolhido para esse pequeno Ford. Mas, ele certamente teria que adotar outro nome, se porventura fosse lançado em nosso país. Segundo consta, a Ford do Brasil estudou essa possibilidade.
Na traseira curta notam-se as mesmas lanternas do Maverick
Apesar do design controverso, que lembra seu concorrente direto no mercado de subcompactos — o esquisito e adorável AMC Gremlin, do qual já falamos aqui no Maxicar — o Ford Pinto foi um grande sucesso comercial, vendendo mais de 3 milhões de unidades em nove anos. Fato surpreendente, se levarmos em conta também a justificada má fama que ele ganhou por pegar fogo em caso de colisão traseira. Vamos falar sobre isso mais para frente.
Concorrentes asiáticos e europeus
Lançado em 1971 o Ford Pinto foi a resposta da Ford aos carros japoneses — Toyota, Honda, Datsun… — e Europeus (sobretudo o Volkswagen), modelos compactos, econômicos e baratos que na época passaram a disputar a tapa o mercado norte-americano com os enormes e beberrões automóveis locais.
No folder de 1972 um carro para recortar e montar
Destaques dos classificados
A primeira versão disponível foi a Sedan de duas portas, com porta-malas independente. Custava a pechincha de US$ 1.850. O motor de quatro cilindros era o Ford Kent europeu com versões 1.6 e 2.0. Meses depois nasceu a versão Runabout de três portas, cujo porta-malas se abria para dentro do carro. O sucesso do Ford Pinto foi imediato, vendendo 352.402 já em seu primeiro ano.
A terceira versão, Station Wagon, foi lançada no início de 1972. Em 1974 foi adotado o motor de quatro cilindros OHC de 2.3l. A partir do ano seguinte, um V6 passou a ser opcional.
Bobcat, a versão da Mercury
Também em 1975 foi lançada a versão Mercury do Pinto, batizada de Bobcat, que tinha nível de acabamento superior e diferenças no design externo.
Em 1977 a Linha Pinto passou por uma leve reestilização, tornando o visual bem mais agradável. Dois anos depois, veio o grande facelift e o Pinto deixou definitivamente para trás a aparência de Maverick em miniatura. Nova frente com faróis retangulares, bem ao estilo da época, novo capô, nova traseira e interior redesenhado fizeram parte do pacote.
Fim de carreira: em seu penúltimo ano, o Ford Pinto foi remodelado, perdendo o aspecto de mini Maverick
O Ford Pinto e os incêndios
“Mantenha-se longe da minha traseira. Eu sou explosivo!”
No final da década de 1960 a Ford tinha pressa! Sob a batuta do famoso Lee Iacocca, o projeto do Pinto teve início em dezembro de 1968 e dois anos depois o carro já estava pronto, sendo lançado no final de 1970, já como modelo 1971. Mas, como diz o ditado: “a pressa é inimiga da perfeição”. Além do design não ser dos mais agradáveis, o Ford Pinto apresentava uma grande falha de segurança: por ter a traseira muito curta, o tanque de combustível que foi instalado sob o porta-malas ficou bem próximo do parachoque. Por isso, em caso de uma colisão traseira, mesmo a baixas velocidades, o risco de incêndios e até explosões era grande.
Soube-se depois que a Ford já havia detectado o problema na fase de testes e decidiu deliberadamente não corrigir o problema devido ao apertado cronograma do projeto e por uma mera questão de custo/benefício. Por mais inacreditável que isso possa parecer.
A versão Runabout, de três portas, era a que apresentava o maior risco em caso de acidente, pois os gases e o fogo se espalhavam dentro do carro. Já a SW é a que oferecia menos perigo, já que a traseira era mais longa
Processos e recall
Na vida real, aqueles testes mostraram-se reveladores e o número de acidentes fatais com o Ford Pinto em seus primeiros anos foi enorme. Além de gerar inúmeros processos judiciais e muita polêmica, a grave falha na segurança do subcompacto da Ford virou tema de inúmeros artigos, livros e estudos acadêmicas sobre negligência e ética empresarial ao longo dos anos. Muitos acusando e outros defendendo a Ford.
Ficou famoso o episódio da motorista Lilly Gray que em 1972 morreu devido à explosão de seu Ford Pinto após uma leve batida traseira, condenando a Ford ao pagamento de uma indenização de US$ 3,5 milhões à sua família em 1981. O caso judicial foi publicado no site American Museum of Tort Law.
Em 1978 a Ford finalmente foi obrigada a fazer um recall em mais de 1,5 milhões de Fords Pinto, das versões Sedan e Runabout, que eram os mais sujeitos às falhas de segurança, devido ao tamanho mais curto da traseira. Foi o maior recall do mundo na época.
Redação e edição: Fernando Barenco
Fotos: Propagandas de época e Mecum.com
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