Fruto da parceria entre Fiat, Pirelli e uma fabricante de bicicletas, a marca produziu poucos modelos ao longo de 40 anos
A criação da Autobianchi foi uma iniciativa de uma das mais antigas fabricantes de bicicletas do mundo, a Bianchi, fundada em 1885 na Itália e que sobrevive até hoje. Já em seus primeiros anos, a Bianchi aventurou-se também na fabricação de automóveis de luxo e motocicletas.
Durante a Segunda Guerra Mundial, sua fábrica na cidade de Abruzzi foi destruída por bombardeios, e a empresa voltou a dedicar-se exclusivamente às bicicletas, em uma nova fábrica em Desio.
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S5 Torpedo 1932, um dos modelos pré II Guerra Mundial da Bianchi
No entanto, o sonho de voltar a produzir automóveis permaneceu latente. Embora as condições econômicas não fossem favoráveis naquele momento, a Bianchi tinha uma vasta experiência acumulada no setor automotivo. A empresa então propôs uma parceria a dois pesos-pesados do setor: Fiat e Pirelli. Assim, em janeiro de 1955, nascia a Autobianchi, uma nova fabricante de automóveis, com cada sócia detendo 33% de participação.
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Fábrica da Autobianchi em Desio, Itália
A nova e moderna fábrica da Autobianchi, com 140 mil m², foi construída em Desio. Ficou estabelecido que cada um dos parceiros teria um papel específico: à Bianchi caberia a gestão da produção, enquanto a Fiat ficaria responsável pela elaboração dos projetos e pelo fornecimento dos componentes para a montagem dos veículos.
O interesse da Fiat no negócio era entrar no mercado de pequenos automóveis premium, com níveis de acabamento, equipamentos e conforto superiores aos de seus modelos. A Autobianchi também funcionaria como uma espécie de “laboratório” para testar novos conceitos no mercado.
Destaques dos classificados
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Bianchinas sendo embarcados em 1958
Já a Pirelli viu na parceria uma oportunidade de ampliar seu mercado, fornecendo pneus de forma exclusiva para mais um fabricante, operação conhecida como OEM (Original Equipment Manufacturer).
O primeiro Autobianchi
O pequeno Bianchina em versões Cabriolet, Panorâmica e Furgoncino
No dia 11 de setembro de 1957, saía da linha de montagem o primeiro Autobianchi. O diminuto Bianchina, em versão semi-conversível chamada de Transformabile, utilizava a plataforma e a mecânica do Fiat 500. Com 3 metros de comprimento, seu motor traseiro refrigerado a ar de 479 cc rendia apenas 15 cv. O sofisticado desenho da carroceria foi obra de Luigi Rapi, então responsável pelos projetos especiais da Fiat.
O Bianchina Transformabile permaneceu como único modelo/versão da Autobianchi até 1960, ano em que foram lançadas as versões Berlina (sedã de duas portas), Panorâmica (station wagon), Cabriolet (conversível) e Furgoncino (furgão). O modelo permaneceu em produção, com ligeiras modificações mecânicas e de design, até 1970.
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Stellina e Primula: novos modelos em 1964
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O esportivo Stellina, primeiro carro italiano com carroceria em fibra de vidro
O segundo carro da Autobianchi foi lançado em 1964. Batizado de Stellina, o conversível de estilo esportivo foi o primeiro automóvel italiano com carroceria em fibra de vidro. Seu motor traseiro de 4 cilindros e 767 cc, refrigerado a água, foi herdado do Fiat 600D e entregava 29 cv. Apesar do excelente estilo e acabamento, era caríssimo e oferecia pouco em termos de desempenho. Apenas 502 unidades foram produzidas em dois anos. Para substituí-lo, a Fiat lançou o 850 Spider, um pouco maior e mais barato.
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O Primula foi inovador e serviu de “laboratório” para futuros modelos Fiat
Já o Primula, lançado quase um ano depois do Stellina, representou uma verdadeira revolução na história da Fiat, pois foi o primeiro modelo com motor transversal, refrigerado a água e tração dianteira. Até então, os carros da Fiat possuíam tração traseira, com motor traseiro para modelos pequenos e motor dianteiro longitudinal para carros maiores. Esse novo padrão passou a ser adotado na maioria dos modelos Fiat, incluindo o nosso 147.
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Motor transversal e tração dianteira
O Autobianchi Primula estava disponível nas seguintes versões: Berlina (duas portas), Hatchback (três ou cinco portas), Sedan (quatro portas) e Coupê S (duas portas). Era equipado com motor de 1.200 cc, com exceção do Coupê S, que tinha o mais potente de 1.400 cc.
Embora tenha tido boa aceitação no mercado, o Primula foi fabricado por apenas seis anos, com 75 mil unidades produzidas. Em 1969, a Fiat lançou seu primeiro modelo com motor transversal e tração dianteira: o 128, similar ao Primula, mas mais barato.
Uma nova fase para a Autobianchi
No final dos anos 1960, a Bianchi enfrentava dificuldades financeiras devido a uma crise no mercado de bicicletas na Europa. Por isso, decidiu vender sua participação na Autobianchi para a Fiat, que se tornou sua única proprietária, já que a Pirelli também havia saído do negócio. Na mesma época, a Lancia havia se tornado parte do Grupo Fiat, e ficou decidido que a Autobianchi passaria a ser subordinada a ela.
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Em 1969, chegava ao mercado o primeiro carro dessa nova fase: o A111. Embora medisse apenas 4 metros, foi o maior modelo da Autobianchi de todos os tempos. Seu layout mecânico era o mesmo de seu antecessor. Era um sedan de quatro portas, com acabamento de primeira linha, incluindo painel de madeira, bancos dianteiros individuais reclináveis, piso totalmente acarpetado e revestimentos em couro.
No entanto, assim como aconteceu com o Primula, o A111 enfrentou a concorrência dos modelos da própria Fiat, mais simples e baratos. Assim, o último A111 saiu da linha de produção em 1972, totalizando 56.984 unidades produzidas.
O sucesso do A112
A112 da primeira primeira série e a versão apimentada Abarth
O Autobianchi A112 foi lançado quase ao mesmo tempo que o A111, mas sua trajetória foi bem diferente. Sua plataforma era baseada na do Fiat 128, só que encurtada, e seria usada posteriormente no Fiat 127, lançado em 1971 (versão italiana do 147 brasileiro). Estava disponível apenas com carroceria hatch de três portas e motor OHV de 903 cc e 42 cv.
Foi fabricado até 1986, com produção de quase 1,3 milhão de unidades, divididas em oito séries, apesar da forte concorrência na Europa com modelos como o Renault 5, o Ford Fiesta, o Peugeot 104 e o Volkswagen Polo. Teve inclusive uma versão esportiva Abarth, lançada em 1971, equipada com motor de 1.050 cc e potência de 70 cv.
O derradeiro Autobianchi
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O Y10 foi comercializado em vários países com a marca Lancia
O último carro com a marca Autobianchi foi o Y10, embora em alguns países tenha sido comercializado como Lancia Y10. Lançado em 1985, era baseado mecanicamente no Fiat Panda e estava disponível apenas com carroceria hatchback de três portas, com destaque para a aerodinâmica. O visual lembra bastante o Fiat Uno. Ao longo dos anos, sua mecânica variou de 1.000 cc a 1.500 cc, de acordo com a versão e o ano de produção. Como os demais modelos da marca, primava pelo ótimo acabamento.
No entanto, o final se aproximava. Em 1992, a fábrica da Autobianchi em Desio foi fechada, e o Y10 passou a ser fabricado em Arese. A produção do derradeiro Autobianchi totalizou aproximadamente 850 mil unidades.
Redação: Fernando Barenco
Fotos: propagandas de época e divulgação
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