‘Romaria’ de clássicos na terra dos Profetas
Evento beneficente levou antigomobilistas de diversas cidades de Minas Gerais e Rio de Janeiro à Congonhas
Jeremias, Isaías, Daniel, Ezequiel, Oséias… A obra do imortal Mestre Aleijadinho — criada há mais de 200 anos e composta pelos 12 profetas em pedra sabão, guardiões do Santuário de Bom Jesus de Matozinhos — é um dos maiores atrativos para os turistas do Brasil e outros países que visitam Congonhas, cidade histórica mineira, distante cerca de 80 quilômetros da Capital.
Contudo neste fim se semana, 10 e 11 de junho — como acontece há 8 anos — a cidade recebeu um outro tipo de visitante, interessado em outro estilo de atração, não tão antiga, é verdade, mas igualmente cativante. É que acontecia bem pertinho do principal monumento da cidade e do recém-inaugurado Museu de Congonhas, mais uma edição do Encontro de Autos Antigos. A Romaria, local onde o evento acontece desde a sua primeira edição, em 2010, teve seu entorno reurbanizado, tornando o acesso para o evento pela alameda ainda mais bonito.
O variado plantel de automóveis da cidade esteve muito presente, ao lado de exemplares pertencentes a antigomobilistas de muitas cidades de Minas Gerais e também do Rio de Janeiro. A presença dos clubes amigos foi bastante grande esse ano. Alguns inclusive vieram em caravana, como o Fiat 147 Car Club de Belo Horizonte, que foi o principal responsável por um bom número de exemplares desse simpático compacto que marcou a estreia da marca italiana no Brasil, em 1976 e que era produzido em Betim, ali bem pertinho de BH.
Também vindos de Belo Horizonte, os amigos Dimas Antônio e Cláudio Lott exibiam orgulhosos seus belos Simcas Chambord vermelhos, fabricados respectivamente em 1965 e 1966. A de Lott já pertence a ele há alguns anos. Aliás, ele é um dos maiores especialistas da marca em todo o Brasil. Já a de Dimas saiu de um longo processo de restauração recentemente. Ficou realmente demais!
Os utilitários da Chevrolet contaram um pouco da história da marca no Brasil nos anos 1950 e 60. Em 1959, foi lançada a versão brasileira da pick-up 3100, logo apelidada de “Brasil” e a Chevrolet não tardou a criar sua versão perua, batizada de Amazona, que tinha a curiosa configuração de 3 portas. Em 1964 nascia a C-14 (depois rebatizada de C-10) e também sua versão Perua, a famosa Veraneio (que nasceu C-1416). Em Congonhas, foi possível ver de perto a Amazona, com dois exemplares; a C-10, com diversos exemplares e a Veraneio, também com dois exemplares.
Entre os esportivos brasileiros havia Pumas, três Corcéis GT — incluindo um lindíssimo XP azul e preto fabricado em 1971 — e um SP2. Morador de Lavras-MG, Wanderlei Gualberto nos mostrou um detalhe muito especial de seu impecável e raro Miura Sport 1980: a assinatura na coluna da porta de Itelmar Gobbi, um dos criadores do Miura, hoje com idade bastante avançada. O feito foi possível durante o 2º Encontro dos Amigos do Miura, que aconteceu no mês passado no interior de São Paulo.
— Perguntei a ele se poderia autografar o meu carro. Como ele tem dificuldades de locomoção, me propus a levar o carro onde ele estava naquele momento. Mas ele fez questão de ir até lá caminhando. Então ajoelhou e deixou sua assinatura. Para mim, isso tem mais valor que qualquer prêmio. — comemorou Wanderlei.
Vicente Magalhães, de Conselheiro Lafaiete-MG, já é um velho conhecido dos leitores do Maxicar, pois já tivemos a oportunidade de falar de sua coleção de Volkswagens em outras oportunidades. Dessa vez ele nos mostrou em detalhes seu 1959. Este ano é emblemático na história da VW no Brasil, já que marcou o início da produção do Fusca brasileiro. Assim, é possível encontrar o nacional e o alemão, que ainda era importado naquele ano, caso do carro de Vicente. Entre as sutis diferenças para o ‘made in Brazil’ estão a maçaneta da porta (modelo ‘porta de geladeira’), o parasol (que é único para o motorista, menor e feito em acrílico), o volante e o sistema de partida (é necessário virar a chave e apertar um botão). Externamente, o emblema no capô traz o ‘lobinho’ de Wolfsburg, cidade-sede da VW na Alemanha.
Destaques dos classificados
Outros nacionais chamaram a atenção pelo excepcional estado de conservação, como por exemplo o Passat azul 1975, o Belcar verde 1967, o Del Rey vermelho 1991, o Opala Gran Luxo marrom 1974, o Corcel II verde 1984, a Caravan dourada 1978, o Dodge Dart prata 1971, o Chevette Marrom 1982 e a Marajó verde 1986. Mas inúmeros modelos brasileiros das décadas de 1960 a 90 estiveram lá representados.
Em 1948 nem Chevrolet (do Grupo GM), nem Mercury (do Grupo Ford), haviam ainda apresentado seus novos modelos, com design pós II Guerra Mundial. Isso só iria acontecer no ano seguinte. Então, foi curioso ver em Congonhas lado a lado um exemplar de cada marca, ambos fabricados naquele ano e que marcam o fim de uma era. O Chevy, um Fleetmaster Sedan, o Mercury, um Eight também Sedan.
Outro Mercury, mas esse bem mais moderno, esteve representando a categoria dos novos clássicos, que são aqueles automóveis que ainda não completaram seus 30 anos, mas que por serem raros já aparecem nos encontros. No caso, o Grand Marquis 1992 pertencente a nosso habitual colaborador Jorge Filho, de Belo Horizonte.
Entre os importados customizados, uma pick-up Willys americana 1952, modelo apelidado aqui de ‘Bicudinha’, e um Chevrolet Town Sedan 1938.
Como em edições anteriores, o grande ponto de encontro dos antigomobilistas foi a Praça de Alimentação, que com sua grande tenda acolheu a todos, com barracas de refeições e lanches variados, preços convidativos e toda a renda destinada a entidades assistenciais da cidade: Rotary Club e Paróquia São José Operário. Já os alimentos arrecadados com as inscrições dos veículos, foram destinados à APAE.
E nos dois dias de evento passaram por ali atrações musicais variadas como a Banda Sinfônica Projeto Arte na Escola, Corporação Musical Senhor Bom Jesus, Kleiber Tarcísio, a dupla Warley e Wanderley — que esticou sua apresentação até às 8 da noite de sábado — e o Grupo Samba de Casa — que fechou o evento organizado pelo Clube de Autos Antigos de Congonhas na tarde de domingo, após a cerimônia de encerramento, que contou com a presença do Prefeito de Congonhas, José de Freitas Cordeiro e de sua Secretária de Cultura, Miriam Palhares.
Naum foi o profeta escolhido para ser o tema do troféu de participação deste ano. Esculpida a mão, a estatueta em pedra sabão reproduz a famosa obra de Aleijadinho.
ÁLBUNS DE IMAGENS
Texto: Fernando Barenco
Fotos e edição: Fátima Barenco e Fernando Barenco
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