Em meio a importados, fora-de-série nacional foi uma das principais atrações
Protótipo Nº 1 do Santa Matilde 4.1 brilhou em evento bienal que teve Ferrari, Porsche, Cadillac, Mercedes-Benz e outras marcas de prestígio
Uma corrida matinal para manter a forma, um passeio com o cachorro, uma simples caminhada para respirar o ar puro… O Campus da Universidade Federal de Juiz de Fora é um “point” dos habitantes da cidade da Zona da Mata mineira, que dividem com seus cerca de 19 mil estudantes o privilégio de usufruir de seu espaço muito bem conservado e privilegiado em termos de natureza.E no último final de semana, de 04 a 06 de agosto, toda essa gente teve mais um bom motivo para dar uma chegadinha por lá. É que o Veteran Car Club do Brasil – Juiz de Fora, pela segunda vez escolheu a UFJF para sediar seu encontro bienal, que de fato levou um público bastante grande à Praça Cívica. O evento que ao longo de suas 20 edições anteriores se notabilizou pela alta qualidade dos veículos, não decepcionou em 2017, exibindo cerca 200 automóveis, pick-ups e motocicletas do eixo Rio-Belo Horizonte, e alguns também do Espírito Santo.
Outra das marcas registradas deste encontro é o destaque especial dado à marca alemã Mercedes-Benz. Este ano foram cerca de 25 exemplares dos mais variados modelos e anos, fazendo uma verdadeira ‘sopa de letrinhas e números’. A mais antiga a 220S cinza, fabricada em 1957. Apelidada de ‘Ponton’, foi tardiamente lançada como primeiro modelo pós Segunda Guerra Mundial. Já a mais moderna foi a conversível SLC 250, fabricada em 2013. Por falar em conversíveis, a 280 SL ‘pagoda’ 1969 do casal Nilson e Edenise Carratu foi eleita a melhor. Havia ainda, 280S, 500SEC, 500SEL, 350 e 500 SL…
Uma dupla de 928 — um produzido em 1979 e outro em 1987 — representou outra renomada marca alemã: a Porsche. O modelo lançado em 1977 não foi uma unanimidade entre os fãs mais puristas, já que não tinha a essência mecânica que consagrou esses esportivos ao longo das décadas: no lugar do tradicional motor boxer refrigerado a ar e instalado na traseira, o 928 era equipado com um inédito V8 refrigerado à água e na dianteira, embora a tração permanecesse traseira. Deveria aos poucos substituir o 911, mas…
Continuemos na Alemanha, com o premiado coupê esportivo BMW 3.0 CSi 1974. Muito cobiçado pelos colecionadores, o modelo é equipado com um sistema Bosch de injeção mecânica de combustível, daí o ‘i’ de seu nome. De acordo com sua 4ª via de importação afixada no parabrisa, o carro em exibição em Juiz de Fora teve como primeiro proprietário o multi-campeão de automobilismo Emerson Fittipaldi.
Claro que a Ferrari 308 GTS 1979 foi um dos carros mais clicados do evento. Afinal, ninguém resiste ao carisma desses superesportivos. Mas os conversíveis Fiat 124 Spyder 1968 e Renault Caravele 1964 também encantaram bastante. Este último está na mesma família desde zero km, ou seja, há 49 anos!
O setor de norte-americanos esbanjou motores potentes, cromados em profusão, rabos-de-peixe e muitas referências à era espacial, como era a tendência no final dos anos 1950 e início dos 60. Um bom exemplo é o Mercury Monterey 1959 de José Maria Ferreira, que estreava após um criterioso processo de restauração. Da mesma época, a dupla de Oldsmobiles, ambos pertencentes ao colecionador Gilvan Novais. O 1959 um Dynamic, o 1958 um Super 88, que não por acaso foi eleito o Melhor Importado. E Gilvan levou ao Campus da UFJF também dois Cadillacs Coupê DeVille, um 1964 e outro 1972 — este último da série limitada comemorativa dos 70 anos da Cadillac e recém adquirido por ele.
Destaques dos classificados
Outro debutante após longa jornada no ‘estaleiro’ foi o belo e raro Hudson Commodore 1948 de Murilo Chaves, do Rio de Janeiro. Enquanto isso, o Buick Eight Super Sedanet 1948 exibia orgulhoso suas marcas do tempo. Possivelmente o encontraremos daqui algum tempo, já restaurado.
Entre os nacionais um dos destaques foi a linha Ford Galaxie que está completando 50 anos de seu lançamento, fato que tem sido comemorado em vários eventos este ano. Com toda justiça, o 500 1967 preto de Roberto Ruschi, do Rio de Janeiro foi escolhido o melhor do segmento, embora houvesse vários outros merecedores entre os cerca de 15 presentes.
Rivais na categoria de luxo no Brasil dos anos 1960, flagramos um Simca Chambord e um FNM JK 2000 lado a lado. Se pudéssemos voltar no tempo, ficaríamos com o segundo, por ser mais moderno tanto em termos mecânicos, quando de design. Pumas e Opalas também estiveram em bom número.
Entre as pick-ups, a Ford F100 de Claudio Boechat — que também participava de seu primeiro evento pós-restauro — também foi premiada. O Willys Interlagos Conversível 1965 foi escolhido o melhor entre todos os nacionais. Realmente uma graça!
O Número 1
Mas outro esportivo brasileiro foi o ‘convidado de honra’. Estamos falando do primeiro protótipo do SM 4.1, ou simplesmente Santa Matilde. O projeto teve início em 1975, quando Humberto Pimentel — diretor presidente da Companhia Industrial Santa Matilde, uma fabricante de vagões ferroviários com sede em Três Rios, RJ — decidiu criar um esportivo, depois da tentativa frustrada de compra de um Puma GTB, automóvel no qual julgou haver vários erros de projeto
Mas Pimentel não ficou nada satisfeito com o resultado do projeto inicial de Renato Peixoto. Achou que havia problemas de dirigibilidade no protótipo e resolveu abandona-lo, começando de novo do zero. O carro foi abandonado nas instalações da fábrica, não tendo jamais ganhado as ruas. Nesta época trabalhavam na empresa os engenheiros — e irmãos — Flávio e Fernando Monnerat. Enfim, o Santa Matilde 4.1 foi lançado em 1978 e produzido até 1989. Foram fabricados ao todo 937 SMs, entre hatchs, coupês e conversíveis.
Em 2007, o empresário Geraldo Chapinotti e seu sócio adquiriram através de leilão as instalações e maquinário da Santa Matilde. Lá Chapinotti encontrou em lastimável estado, no meio do lixo, os ‘restos mortais’ do Protótipo Nº 1. Faltava tudo no carro: as rodas, a mecânica, o interior e até mesmo uma das portas. Antigomobilista que é, o industrial soube reconhecer o valor histórico que aquela sucata de automóvel representava e decidiu restaura-lo (ou seria reconstruí-lo?). Para a missão contratou o próprio Fernando Monnerat, que hoje trabalha na restauração de Santa Matildes e é muito conhecido entre os proprietários do modelo. O carro só ficou pronto recentemente e permanece fiel àquele pioneiro dos já longínquos anos 1970.
Na noite de sábado, organizadores, expositores, familiares, amigos e convidados reuniram-se no salão de eventos do Grand Victory Hotel para o jantar de confraternização. Foi durante a festa que aconteceu a cerimônia de premiação dos melhores veículos em exposição. Conheça os premiados a seguir:
E o “The Best” desta 21ª edição foi o Ford De Luxe Conversível Coupe 1939, de Valdir Tostes, do Rio de Janeiro. Com somente 10. 799 unidades produzidas, esta era uma das oito versões deste automóvel popular, custando US$ 790,00. Com motor V8, marcou a estreia dos freios hidráulicos pela Ford. Foi o último ano desta versão com banco único + o “banco da sogra”. Hoje, o Conversível Coupe é muito raro.
ÁLBUNS DE IMAGENS
Texto: Fernando Barenco
Fotos e edição: Fátima Barenco e Fernando Barenco
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