Repórter Maxicar

Oito anos Mundo afora a bordo de um Mercedes-Benz 1957

Casal da Nova Zelândia viaja desde 2014 pelas Américas. Agora chegaram ao Brasil, onde ficarão até novembro. Depois África, Europa… numa aventura que só termina em 2022

Em maio de 2011 Fred Smits viajou da Nova Zelândia para Seattle, nos Estados Unidos. Iria participar de uma conferência internacional. O vôo fez escala em Sidney, Austrália, e para passar o tempo Fred comprou um exemplar da famosa revista britânica Classic and Sports Car, que tinha entre seus artigos, o intitulado “101 ways to life the classic dream” (101 maneiras de viver o sonho clássico), que trazia uma lista de sugestões de viagens e aventuras a bordo de um automóvel antigo. Duas delas em especial chamaram a sua atenção:
– Viajando pelos EUA de costa a costa e
– Tire uma foto do seu carro clássico em frente à Casa Branca

Ao voltar para casa, Fred falou sobre a ideia de fazer uma viagem como essa com a esposa Elisabeth, que topou na hora. Estavam decididos: iriam percorrer os Estados Unidos com seu Mercedes-Benz 220S ‘Ponton’ 1957. Começou então a fase de pesquisa. Mas, ironia do destino, ao invés de comprarem um guia de viagem da América do Norte, compraram por engano o da América do Sul. Resolveram então ampliar o roteiro pelas três Américas. Mas… porque não incluir na viagem o resto do Mundo também?

Nascidos na Holanda, Fred e Elisabeth Smits se conhecem desde a adolescência e mudaram-se para a Nova Zelandia em 1985. Ele, engenheiro, arquiteto e geólogo, tem hoje 67 anos e está aposentado. Ela, atualmente com 66 anos, é cuidadora especializada em crianças excepcionais e recreadora de idosos.  A história do casal com carros antigos começou efetivamente em 2001, quando os filhos saíram de casa. “O que vamos fazer juntos a partir de agora? Vamos comprar um carro antigo!”. Mas o famigerado ‘virus da ferrugem’, foi inoculado bem antes disso. Exatamente em 1973, quando viveram por seis meses na Inglaterra, onde foram acolhidos por uma família que possuía uma bela coleção de carros de corrida Alfa Romeo da década de 1920.

E assim, em 2002, eles compraram o primeiro clássico: um ‘calhambeque’ Willys Overland Whippet fabricado 1929, ao qual deram o apelido de Sra. Whippet. Um ano depois foi a vez de Abel (em homenagem a Abel Tasman, o primeiro europeu a chegar à Nova Zelândia, em 1642), o  heróico Mercedes-Benz protagonista dessa viagem mundo afora.

O roteiro original, agora estendido até 2022

Era chegada a hora do planejamento. Um automóvel da década de 1950 seria adequado e suficientemente resistente para a viagem?  Que precauções deveriam ser tomadas em termos mecânicos? Que peças extras levar? Que perigos poderiam enfrentar? Qual seria a estimativa de orçamento para a aventura? Onde iriam comer, dormir? Como seriam os países que iriam visitar? Que rotas seguir?

Antes da viagem, manutenção completa

Antes dessa ‘turnê mundial’, Abel passou por um check-up mecânico completo, com a assessoria de empresas e profissionais especializados na marca Mercedes-Benz. Motor, caixa de câmbio e suspensão foram retificados, o sistema elétrico foi todo renovado, a pintura foi refeita (mas note pelas fotos, que o carro era todo preto no início e depois passou a  ser preto e branco). Recebeu também alguns acessórios modernos para suprir as deficiências de um modelo com seis décadas, como cintos de segurança de três pontos, faróis auxiliares, luzes de advertência, etc…

Setembro de 2014. Recém chegados aos Estados Unidos

Depois de três anos de preparativos Fred, Elisabeth e Abel embarcaram em julho de 2014 na Nova Zelândia com destino aos Estados Unidos. No dia 04 de agosto finalmente chegaram a Los Angeles, na Califórnia. Desde então, já percorreram 94 mil dos cerca de 300 mil quilômetros programados para a viagem.  Nesses três anos conheceram Estados Unidos, Canadá, México, Belize, Guatemala, Cuba, El Salvador, Colômbia, Equador, Peru, Chile e Argentina. Depois de explorarem o Brasil, os aventureiros seguirão para África, Europa, Asia e Austrália, antes de voltarem para casa, em 2022. Isso mesmo: serão ao todo 8 anos de viagem, 32 nações!

Agora, eles estão por aqui! O casal neozelandês chegou ao Brasil no dia 26 de julho, em Cascavel-PR. Lá, concederam  três entrevistas à TVs e jornais. Fizeram uma palestra no Rotary Club Local e naturalmente conheceram os antigomobilistas da cidade.

Entramos em contato com eles, que no dia 08 de agosto, nos forneceram o roteiro atualizado da viagem pela América do Sul, incluindo a passagem pelo Brasil:

—  Estamos atualmente na praia (as praias brasileiras são lindas!). Ficaremos por cerca de 6 semanas sem fazer nada – precisamos de uma pausa! Em meados de setembro vamos viajar para o Rio de Janeiro. Pretendemos também visitar a Amazônia por uma semana. Na primeira semana de outubro estaremos em São Paulo.  Na segunda e terceira semanas de outubro viajaremos para o Uruguai, parando para encontrar vários clubes de carros em Bento Gonçalves e Porto Alegre, ambas no Rio Grande do Sul.
Novembro-Dezembro: Uruguai, Argentina. Janeiro-março de 2018: Bolívia, Peru, Equador e de volta à Colômbia para retirar nosso trailer e enviar para a Europa.   

Lugares por onde já passaram (agosto de 2017)

 Durante os últimos três anos, Fred e Elisabeth concederam inúmeras entrevistas pelos lugares por onde passaram. Segundo eles, até o momento foram: 16 artigos em revistas internacionais, incluindo a Mercedes-Benz Classic Car Magazine, da Alemanha que enviou um jornalista para acompanha-los durante seis dias pelo Mexico. E mais: 23 artigos em jornais, 8 na internet (incluindo esse do Portal Maxicar), 8 entrevistas de TV e 2 de rádio.

— Não tínhamos ideia de que nosso passeio ao redor do mundo em um Mercedes-Benz de 1957 despertaria tanto interesse nas pessoas — afirma Elisabeth.

Eles nos enviaram também uma compilação de tudo o que tiveram a oportunidade de dizer para imprensa desses 14 países por onde já passaram. Leia a seguir um resumo do que achamos mais interessante.

Relacionamento

“Nascemos no mesmo dia de outubro e, sendo do signo de Libra, temos um casamento verdadeiramente excepcional. As pessoas não acreditam nisso, mas não tivemos um único desentendimento durante a nossa viagem, apesar de estarmos juntos a cada hora do dia, sete dias por semana, 365 dias por ano. Além de sermos amantes, marido e mulher, somos amigos verdadeiros, enfrentando desafios que poucas pessoas conseguem enfrentar juntas.”

Conselhos

“Se não se sente seguro em uma área, saia. Nunca carregue objetos de valor ou joias. Procure sempre usar fotocópias de passaportes e documentos, elas são aceitas na maioria das vezes. Olhe para a cadeira que acabou de deixar para verificar que nada foi deixado para trás. Só carregue o dinheiro suficiente quando sair (nunca carregamos cartões de crédito conosco. Retiramos dinheiro de caixas eletrônicos uma vez por semana, conforme necessário). Estacionamos o Abel em uma área de estacionamento com segurança sempre possível.”

Segurança

“Quase todos os países são muitos seguros para viajar. Tomando precauções normais, não são mais perigosos que a Nova Zelândia. Inclusive nos países considerados muito perigosos — México e Colômbia — nos sentimos muito confortáveis. Havíamos planejado ficar cinco semanas no México. O deixamos um ano depois com lágrimas nos olhos.”

Estradas

“Preferimos dirigir nas estradas pavimentadas, mas também ficamos felizes em levar o Abel a estradas de cascalho e areia, observando que ele foi projetado e construído para as estradas difíceis do mundo na década de 1950.”

Popularidade

“Onde Abel chega — em postos de gasolina, centros comerciais, restaurantes, acampamentos, etc. — as pessoas se aproximam e querem saber sobre o carro, sobre nós e nossa turnê mundial. Nas estradas, as pessoas em carros e caminhões buzinam, acenam, tiram fotos. Elas estão particularmente interessadas em ver e ouvir que o carro é da Nova Zelândia.”

Diversão

“Uma vez que tivemos que deixar o trailer na Colômbia – foi muito difícil para Abel rebocar os 750 kg pelas montanhas dos Andes. No México fomos convidados a estar na “pole position honorária” da Carrera Panamericana 2015, uma das melhores corridas de estrada de todos os tempos. Outro grande evento de corrida foi o “24 horas de Daytona” na Flórida, onde o neozelandês Chris Dickson  ganhou a corrida por nós.”

Defeitos

“Como é de se esperar, dirigindo um carro sobrecarregado continuamente, de 60 anos de idade, rebocando um trailer de 750 kg, em cerca de 35.000 km/ano, sim, tivemos problemas de quebra. Mas o carro foi excepcionalmente confiável e deu poucos problemas. Os principais foram relacionados ao etanol no combustível em muitos países. Mas tivemos também um problema com o eixo traseiro de uma marca nova, que havíamos instalado na Nova Zelândia.”

Roteiros

“Algumas semanas antes de ir para um novo país, fazemos um plano para uma rota geral que detalha as coisas e lugares mais importantes que queremos ver. Mas, como sempre, a rota na maioria das vezes é diferente do plano, mudando quando estamos na estrada ou conhecemos pessoas que nos aconselham a ir e a ver algo mais.”

Corrupção

“Uma das partes mais tristes que sentimos é a corrupção da maioria dos países da América Central e do Sul. Isso resulta em algumas pessoas se tornando muito ricas à custa de muitas pessoas pobres. O fosso entre ricos e pobres é extremamente grande.”

Pobreza

“No final do dia, todos no mundo querem o mesmo: um teto acima da cabeça, comida na mesa, boa saúde e ser amado – realmente não é tão difícil, mas os sistemas mundiais não estão necessariamente trabalhando nesta lista de necessidades básicas para todos.”

Meio ambiente

“Somos pessoas muito positivas, acreditamos na bondade de quase todos, e vemos o mundo como um lugar maravilhoso para viver e desfrutar, mas temos grandes preocupações com o futuro do nosso planeta.”

Pessoas

“As pessoas são todas as mesmas pessoas em todo o mundo, não importa o que raça, cor ou religião. Acreditamos que 99% de todas as pessoas são boas pessoas.”

Aventura

“Adoramos contar a nossa história. Essa é a nossa aventura, mas o melhor é que parecemos tocar tantas pessoas ao redor do mundo. E nós adoraríamos ser lembrados como aqueles velhos e amigáveis ​​moradores daquela estranha Nova Zelândia no seu carro velho e bobo!”

Faça!

“Nós já fizemos inúmeras apresentações sobre a nossa viagem em clubes de carros antigos, escolas, acampamentos e a bordo de um navio de cruzeiro. Muitas pessoas nos dizem: ‘Eu gostaria de poder fazer isso’. O que dizemos às pessoas é que isso não importa. Apenas diga ‘Eu vou fazer isso agora!’. Não demore: todos nós estamos envelhecendo e acabaremos ficando sem tempo!”


Acompanhe essa maravilhosa odisseia de Fred, Elisabeth e Abel pelas estradas do Mundo na página do Facebook, onde você irá encontrar essas e mais duas mil outras lindíssimas imagens.


Texto edição: Fernando Barenco
Fotos: Fred e Elisabeth Smits

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