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Roubei meu próprio carro!

Roubei meu próprio carro!

*Antônio Carlos Piperno

[dropcap]E[/dropcap]m meados de l972, eu ainda jovem, porém já apaixonado por autos antigos, era o feliz proprietário de um SIMCA-CHAMBORD l962 saia e blusa, coral e marfim. Numa noite quente (coisa rara em São Paulo) desfilava eu pelas ruas do bairro da Mooca — bairro onde nasci — quando de repente cruzo com uma verdadeira jóia rara dos anos 50: nada mais, nada menos, que um CHEVROLET BEL AIR 1956 CONVERSÍVEL vermelho, capota e interior pretos, estava com a capota arriada, desfilando e esbanjando todo o charme e elegância que somente os importados dos anos 50 possuem. Não mais que imediatamente, fiz meia-volta e sai em perseguição do meu sonho de consumo.

Numa noite quente (coisa rara em São Paulo) desfilava eu pelas ruas do bairro da Mooca — bairro onde nasci — quando de repente cruzo com uma verdadeira jóia rara dos anos 50: nada mais, nada menos, que um CHEVROLET BEL AIR 1956 CONVERSÍVEL vermelho…

Após um ou dois quilômetros de perseguição, o jovem que o dirigia acompanhado de uma garota, estacionou em frente a uma lanchonete que era point da rapaziada que curtia automóveis e “meia-de-seda” (batida famosa na época, confeccionada com leite condensado). Estacionei o SIMCA ao lado do CHEVROLET, saltei e disse ao seu proprietário: — Que belo carro você tem!
—Você esta de gozação?, disse-me ele rindo.
—Não, não estou! Porque?
—Você chega com uma “tremenda Simca” zerada e me diz que eu tenho um belo carro? (Naquela época o Simca era ainda carro cobiçado por sua beleza).
— Você gosta tanto assim da SIMCA?, perguntei.
—Se eu tivesse condições trocava contigo agora, retrucou ele.
Joguei os documentos e as chaves da Simca no capô do Bel Air e disse-lhe: —o negócio está feito. Meia hora depois, sai com o Bel Air, todo feliz e sorridente.

Por volta de 19 e 30, chegamos à residência do sexagenário. Ele esta tomando “alguns goles”, somente para abrir o apetite, é claro! Eu já tinha tido a informação que esse era seu costume: apreciar a “pura”. Passamos, então, à execução do plano.

Passei a curtir o conversível, e a toda hora alguém fazia ofertas que eu evidentemente recusava. Porém um rapaz passou a fazer-me ofertas quase todos os dias. Era mais jovem que eu e morava nas proximidades. Um belo dia, não sei como nem porque, acabei cedendo e entreguei-lhe o carro e, pasmem, sem receber valor algum no ato da venda (alias não lembro do valor). Obviamente o sujeito, sumiu com o veiculo. Após algumas investigações particulares e meio que sem querer, descobri, através de um amigo taxista, que o Conversível encontrava-se estacionado no quintal de uma residência a apenas uns oito quilômetros de minha casa.

Depois de pensar muito bem, e ter o apoio de dois cunhados e um amigo, apanhei meu Corcel l972 – quase zero – e rumei para o referido local. Na verdade, fui lá antes, sozinho e, depois de alguns minutos de conversa com a dona da propriedade, descobri que o jovem que havia “comprado” o carro era parceiro do marido da referida senhora e os dois, juntos, faziam-se passar por pai e filho para aplicar golpes. Por volta de 19 e 30, chegamos à residência do sexagenário. Ele esta tomando “alguns goles”, somente para abrir o apetite, é claro! Eu já tinha tido a informação que esse era seu costume: apreciar a “pura”. Passamos, então, à execução do plano.

Dissemos que gostaríamos muito de comprar o Bel air. Em seguida, um dos meus cunhados — que por sinal era muito bom de papo — começou, sem muito trabalho, a embebedar ainda mais aquele senhor: sentados à mesa da cozinha, em frente ao litro da “branquinha”.

Enquanto isso, eu e outro cunhado, colocávamos no carro silenciosamente, uma bateria com carga total, que havíamos levado de casa e também dávamos um jato de gasolina (com o famoso tubo de desodorante) no carburador. Ao meu sinal, o quarto homem da operação que era um amigo, abriu o portão da garagem e em seguida dirigiu-se ao Corcel que estava estacionado bem próximo. Para nossa sorte a capota estava arriada e, o ronco do V8 foi a senha para que o cunhado que embebedava o senhor saísse feito um pé de vento, atirando-se por sobre a mala do Bel Air até alcançar o banco traseiro. Nessas alturas o senhor saiu com uma espingarda l2 nas mãos, mas para nossa sorte estava muito “alto” e não conseguiu atirar, e o velho e bom V8, roncando alto ganhava a avenida — que por sinal (sorte nossa) era bem escura — com faróis apagados já alcançando os 80 quilômetros por hora, e com cobertura do valente Corcelzinho.

Após alguns meses, fiquei sabendo que o jovem que havia “comprado” o Bel Air, era um marginal (saiu manchete nos jornais) e na tentativa de assaltar um depósito de bebidas foi metralhado por policiais.

Tenho certeza absoluta que hoje jamais eu teria coragem de tal aventura, porém naquela época, com apenas 27 anos, movido pela paixão pelo carro, arrependimento por ter “vendido” e raiva por não ter recebido… não tive duvidas e… ROUBEI MEU PRÓPRIO CARRO!

 

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Antônio Carlos Piperno, é presidente do Clube Carioca de Autos Antigos – Rio de Janeiro, RJ

clubecariocadeautosantigos.com.br[/box]

 

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