Tio Arnoldo só comprou seu primeiro carro por volta dos 40 anos. Foi mais ou menos em 1970 e eu tinha uns 6 anos. O Fusca 66 usado, na cor Vermelho Granada — que na época chamávamos de “grená” — tinha a placa 16-60-60. Quem é da “velha guarda” ainda se lembra: era uma placa meio alaranjada, quadradona e não tinha letras, só esses três pares de números. Na traseira, havia um grande selo horizontal de metal, que era trocado a cada ano. Nessa época o estado do Rio ainda era dividido com o estado da Guanabara. Niterói era a nossa capital. A famosa ponte ainda nem existia. Faz tempo, hein!?!
Curiosamente, quando comprou o carro, Tio Arnoldo não sabia dirigir. Sua mulher, a Tia Carlota, foi a primeira a aprender na casa deles. Era uma tremenda “pé-de-chumbo” e barbeira de marca. Um verdadeiro perigo no trânsito. Arnoldo rapidinho tratou de tirar sua própria habilitação. Desde então, Carlota nunca mais pôs a mão num volante, para o bem de todos, diga-se de passagem!
Eram tios muito queridos! E de quebra, meus padrinhos também. Ele bancário, funcionário de carreira do extinto Banco do Estado de Minas Gerais – BEMGE (comprado depois pelo Itaú). Ela, dona de casa. Constantemente alegre, alto astral, amorosa, generosa, disposta a ajudar todo mundo. Eram uma espécie de segundos pais dos dez sobrinhos e sobrinhas. Sempre nos levavam para passear e viajar nas férias. Cabo Frio e a casa da família em Mauá eram os destinos mais frequentes. A casa de Mauá foi construída pelo meu avô na década de 1930 e permanece na família até hoje.
Invariavelmente o 1200 ia lotado, com seis, sete pessoas no maior aperto. Nessa época as leis de trânsito eram muito mais frouxas. Surgiam os primeiros automóveis com cintos de segurança, mas eles ficavam enrolados e presos por um acessório de plástico que era vendido nas lojas de autopeças. Ou seja: era obrigatório ter o equipamento no carro, mas não usar…
Eu, como era um dos sobrinhos mais novos, ia sempre na frente, sentado no colo da Tia Carlota. Quando passávamos por um posto da Polícia Rodoviária ou alguma blitz, meu tio pedia que eu me deitasse rapidinho no fundo do carro, para que o policial não me visse. Afinal era proibido trafegar com três pessoas no banco da frente. Nunca nos pegaram!
Posso estar enganado, mas acho que o número de acidentes era bem menor naquele tempo. Talvez porque o número de automóveis fosse menor (não era fácil comprar naquela época), ou porque as pessoas fossem menos estressadas. Sei lá! E olha que grande parte dos motoristas “comprava” a habilitação. Essa é que a verdade! Hoje em dia, com a legislação muito mais severa e com a grande maioria dos motoristas tirando a carteira “no duro”, o que tem de “braço duro” por aí… Mas isso já é assunto pra outra ocasião!
Tio Arnoldo era do tipo que ficava durante muito tempo com o mesmo carro. E um apaixonado pela marca Volkswagen. “Fusca é Fusca. Sobe até em coqueiro!” — sempre repetia. Depois do 66, veio um Fuscão 1971 branco Lotus; em seguida duas Brasílias, uma branca e uma azul marinho, 1974 e 1975 respectivamente. Essas comprou zero km. Depois a coisa ficou meio apertada ele teve que vender as duas. Regrediu. Comprou outro Fusca: um 1964 verde. Foi com esse carro que eu já adolescente tive minhas primeiras lições como motorista. Em 1979 a situação se normalizou, então ele comprou zerinho um Passat LS, do primeiro modelo de “cara quadrada”. Ficou com ele uns 10 anos. Era muito cuidadoso com seus automóveis!
No finalzinho dos anos 1980 cometeu um ato de traição, comprando seu único automóvel que não tinha o selo VW: um Monza Hatch 1982 bege, daqueles primeirões. Seu último carro foi o Gol “bolinha” 1995 prata.
Meu Tio morreu em 2005, vítima de doença renal. Tia Carlota se foi há cerca de três meses, por complicações decorrentes do Mal de Alzheimer. Ambos já estavam na casa dos 80 anos. Tenho uma tremenda saudades deles…
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18 de agosto de 2011
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