No Brasil dos anos 1960 a compra de um carro zero km era um luxo para bem poucos. Os salários em geral eram muito baixos e mal dava para sobreviver.
O Governo Militar então criou uma linha de crédito via Caixa Econômica Federal, com juros subsidiados, que permitiria aos menos abastados a realização desse sonho com prestações a perder de vista.
As fabricantes deveriam criar novos modelos, bem acessíveis. Mas não havia tempo nem recursos para novos projetos. A solução encontrada foi desenvolver versões ultra populares dos carros que já existiam.
Algo parecido com o que aconteceu no início dos anos 1990, quando foram lançados os improvisados de 1.000 cc: VW Gol 1000, Fiat Uno Mille, Chevrolet Chevette Júnior e Ford Escort Hobby. Lembra?
Mas no caso dos anos 1960, ao invés de diminuírem a potência do motor, os fabricantes optaram pelas versões “bem despojadas”. Para reduzir custos, tudo que era considerado ‘desnecessário’ foi eliminado, restando muito pouco além do mínimo.
Cromados foram abolidos, a qualidade dos materiais empregados caiu ao extremo, tampas, forros, tapetes e até mesmo lanternas desapareceram.
E foi assim que Volkswagen, DKW-Vemag, Willys e Simca apresentaram seus modelos ‘peladões’. Veja só!
Lançado em 1965, estava disponível somente nas cores cinza prata e azul pastel. Externamente não possuía um cromado ou friso sequer. Todos os detalhes de acabamento eram pintados de branco, como os aros dos faróis, as calotas e os parachoques de lâmina única.
Volkswagen Fusca Pé-de-Boi
O escapamento tinha apenas uma saída. Forrações de porta eram feitas de Eucatex, bancos finos, forração do teto apenas parcial. Nada de tampa no porta-luvas. Painel liso, não havia tapeçaria e nem mesmo marcador de gasolina!
Volkswagen Fusca Pé-de-Boi
Duas versões básicas da Vemaguet. A Caiçara foi uma iniciativa da própria DKW-Vemag, lançada no final de 1962, antes mesmo do programa de incentivos do Governo. Disponível apenas em duas cores: bege e azul ‘bebê’.
DKWs Caiçara e Pracinha
Na Caiçara, cromados apenas nos aros dos faróis. Grade, parachoques e outros detalhes de acabamento externo eram da cor do carro. As calotas eram pretas.
DKWs Caiçara e Pracinha
O interior era vermelho, com bancos lisos e de material de baixa qualidade. Na parte de trás e porta-malas, tudo direto na lata. Quebra sol só do lado do motorista. No painel velocímetro/odômetro e marcador de combustível e temperatura.
DKWs Caiçara e Pracinha
A Pracinha foi lançada em 1964 e era igual à sua antecessora, exceto pelo sentido de abertura das portas e pelo desenho da tampa do porta-malas. Foram fabricadas 1.170 Caiçaras e 6.750 Pracinhas.
DKWs Caiçara e Pracinha
A Simca seguiu a mesma receita da DKW-Vemag, lançando duas versões de seu modelo ultra popular. O primeiro foi o Alvorada, em 1963. Era uma versão simplificada da Chambord, mas não chegava a extremos quanto à falta de equipamentos.
Simcas Alvorada e Profissional
Estava disponível em apenas duas cores, sem opção de pintura bicolor. Mantinha boa parte dos cromados, como nos parachoques. As calotas cromadas eram menores. Forrações dos bancos e laterais tinham material inferior. O painel foi simplificado. Foram vendidos menos de 400 Alvorada.
Simcas Alvorada e Profissional
Em 1965 uma nova tentativa, desta vez mais radical. O mercado alvo era o de ‘carros de praça’. E foi batizado de acordo com essa proposta: Profissional. Esse sim, um legítimo pé-de-boi.
Simcas Alvorada e Profissional
Parachoques cinza de lâmina única, assim como a grade e as calotas. Nenhum cromado. Bancos de plástico e forrações laterais de Eucatex. Painel ainda mais simples, porta-luvas sem tampa, porta-malas sem forrações.
Simcas Alvorada e Profissional
Este é de todos o mais depenado. Acredite! Não sobraram nem mesmo as lanternas dianteiras e traseiras (iluminação, luz de freio e pisca-piscas), substituídas por uma lanterninha vermelha única, acima da placa de licença.
Willys Teimoso
Disponível em três cores, o Teimoso foi lançado em 1964 e a lista de itens faltantes é bem grande: sem frisos, calotas ou cromados; interior sem nenhuma forração; bancos apenas com almofada na parte de cima; limpador de parabrisa único; sem retrovisor externo.
Willys Teimoso
A tentativa do Governo de tonar o automóvel mais acessível fracassou e esses populares venderam muito pouco. E quem optava por comprar um desses carros pelados, tratava de equipá-lo. Por isso, hoje em dia é bem difícil encontrar qualquer um deles em estado original.